Atriz e jornalista Clarissa Pinheiro em colagem feita por Agata Bueno
Imagem: Renata Duarte/Entretetizei

Entrevista | Clarissa Pinheiro entre os encontros e as criações da arte

Entre gravações e estreias em palcos pelo Brasil, a atriz falou com o Entretê sobre a carreira, ideias e o futuro

 

Atriz e jornalista, Clarissa Pinheiro tem acumulado papéis emocionantes no  currículo. A pernambucana conquistou seu  primeiro destaque em 2014, com a  produção nacional Casa Grande, mas foi só em 2019 que a atriz ganhou mais reconhecimento. Na pele de Penha, empregada doméstica que se tornou uma das grandes vilãs do elenco de Amor de Mãe, a artista marcou milhares de espectadores com o arco eletrizante da personagem.

No portfólio da atriz constam a novela Mar do Sertão (2022) e as séries Onde Nascem os Fortes (2018), Justiça (2016) e Sob Pressão (2017), da Globo. Pinheiro também trabalhou em Procurando Casseta & Planeta (2018) e fez parte do elenco da série O Grande Gonzalez (2015), produzida pelo Porta dos Fundos. No cinema, atuou em vários filmes, como Aquarius (2016) e Aos Teus Olhos (2017), e esteve em cartaz com vários espetáculos, como Ignorância e A Gaivota.

A atriz e jornalista Clarissa Pinheiro em ensaio fotográfico.
Foto: Renata Duarte/divulgação

Clarissa atua no filme Um dia antes de todos os outros (2024),  que aborda temas sensíveis e atuais e esteve no Festival Internacional de Curitiba. Ela em breve poderá ser vista no filme O rei da feira, também estrelado por Leandro Hassum, e nas séries Dias Perfeitos e Pablo e Luisão, ambas no Globoplay. Entre os encontros e as criações das artes, Clarissa Pinheiro tirou um tempo para conversar com o Entretetizei. Vem conferir!

 

Entretetizei: Se você pudesse definir sua carreira como atriz, em uma palavra, qual seria? Por quê?

Clarissa Pinheiro: A palavra seria encontro, em todos os sentidos. Foi aos 28 anos que eu e arte definitivamente nos encontramos. Até então, eu não havia achado aquilo que me fazia vibrar por dentro. Formada em jornalismo, trabalhando como editora de vídeo, foi quando cheguei no Rio de Janeiro para estudar direção cinematográfica que percebi onde eu verdadeiramente gostava de estar: atuando. E isso só se deu graças a muitos encontros importantes durante esse processo. Porque a arte é feita disto: belos e ricos encontros.

 

E: Seu primeiro trabalho de destaque nacional foi o filme Casa Grande; como foi que você chegou até essa produção?

CP: Meu encontro com Fellipe Barbosa, diretor do filme, foi o primeiro grande marco na minha carreira de atriz. Eu estudava Direção, na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, e era aluna dele. Enquanto me descobria atriz, durante esse curso Fellipe estava para rodar seu primeiro longa de ficção, Casa Grande, e me chamou para fazer um teste para interpretar a personagem Rita. Desse encontro, com o resultado positivo do teste, realizei meu primeiro trabalho como atriz. O filme abriu portas para mim, e sempre digo que o Fellipe é meu padrinho nessa carreira

 

A atriz e jornalista Clarissa Pinheiro em ensaio fotográfico.
Foto: Renata Duarte/divulgação

 

E: Além de atriz, você é jornalista – o que do jornalismo você trouxe para a atuação?

CP: O que percebo ter capturado do meu percurso enquanto jornalista foi a capacidade de colher boas histórias e as repassar, seja de maneira escrita ou em formato audiovisual. Sempre gostei de observar as pessoas, seus trejeitos e atitudes. Essa qualidade de observação é uma ferramenta preciosa para o ator. Acredito que ter editado muitos vídeos durante a carreira jornalística também me ampliou a visão daquilo que é impresso na tela e sua realização por trás. É muito legal entender o todo.

 

E: O seu maior destaque até agora foi a Penha, em Amor de Mãe; e um de seus trabalhos mais recentes é a personagem Marli, em Um dia antes de todos os outros. Como foi interpretar essas personagens tão distintas?

CP: É engraçado, porque quando observo as duas, penso que a Marli tem bastante da Penha do início da novela. A Penha mais submissa, insegura, dependente das relações. Ao longo do folhetim, vimos a Penha ganhar força, autoconfiança e, assim, passar a agir de maneira combativa, ousada e até mesmo libertária, quando se permite apaixonar por uma mulher. 

Marli é a Penha antes dessa revolução interna. Uma mulher com sonhos e desejos, precisando de uma provocação da vida para aflorar. Mas ambas guardam características parecidas. São mulheres dedicadas, que cuidam dos seus. Minha pesquisa foi mais em cima desses afetos, para construção da Marli.

 

E: Ainda sobre Um dia antes de todos os outros: como você enxerga a importância dessa temática ser retratada nos cinemas?

CP: O filme percorre temas como racismo, fluxo migratório, terceirização do cuidado e relações de afeto. A autopercepção da personagem Sofia enquanto mulher negra, não apreendida pela própria mãe (Marli) é um assunto caro para muitas famílias: a violência sutil do racismo dentro de casa. 

O longa também traz à tona a dinâmica problemática existente na relação do trabalho doméstico, quando direitos e deveres se misturam a afetos e necessidades pessoais. Assim como fala de ausência familiar, quando assistimos à distante relação entre Bernardo e sua mãe, Dona Iara, suprida pela dedicada atenção vinda de sua funcionária Marli. Esta, que emprestou vinte anos de sua vida ao trabalho e que, só agora, vê seu sonho de voltar para cidade natal se aproximar. 

Eu acho que os conflitos tratados no filme são uma oportunidade de, através do afeto, transformar percepções.

 

E: Entre tantos papéis na teledramaturgia, se você pudesse repetir um personagem, qual seria? E por quê?

CP: Olha, reviver uma personagem é algo que eu gostaria de fazer, talvez daqui a uns bons anos. Por enquanto, tenho sede de novidade, experimentos diferentes, sair da zona de conforto. Me vejo ainda num estágio inicial da carreira, criando bagagem, adquirindo novas percepções. 

Claro que tenho um carinho imenso por cada personagem que já vivi. A ideia de repetir uma delas poderia ser interessante num contexto de aprofundamento de reflexões. Uma Penha ou Teresa de um futuro próximo, como seria? Me divirto ao imaginar. Se um dia tiver essa chance, com certeza, e todo prazer, vou mergulhar de cabeça.

 

A atriz e jornalista Clarissa Pinheiro em ensaio fotográfico.
Foto: Renata Duarte/divulgação

 

E: Além das séries, novelas e filmes, você também atuou no teatro; existe uma diferença entre a Clarissa da televisão e dos filmes e, claro, a Clarissa do teatro?

CP: Ambas me desafiam. No audiovisual, talvez por ter sido um lugar de mais convivência, seja como editora de vídeo e, agora, como atriz, sinto que a linguagem me é mais familiar. Eu visualizo a cena enquanto atuo, quase como uma editora, também. Lógico que o momento da “ação” gera o mesmo frio na barriga do abrir das cortinas; mas acredito que o fato de ter o corte, de ir para tantas outras mãos, traz um sentimento de proteção, não sei, diferente da sensação de estar no palco

Ali é um abismo completo, é a realização através da respiração coletiva do momento. A atenção e escuta são redobradas e, por ser uma encenação que ocorre repetidas vezes durante um determinado tempo, é possível desenvolver e aprofundar ainda mais aquele processo. Mas a verdade é que, no palco ou no set, eu me sinto a pessoa mais realizada do mundo. Cada uma com sua demanda, mas todas desenvolvidas através da troca com o outro. Isso é o que me encanta na arte.

 

E: Sobre o futuro: além de Um Dia Antes de Todos os Outros (2024), você também vai estrelar O Rei da Feira, Dias Perfeitos e Pablo e Luisão Consegue nos contar um pouquinho sobre seus papéis nessas produções?

CP: Em O Rei da Feira, apesar de ser uma comédia,  minha personagem — Francisca — carrega um drama em sua trajetória, o que me deu a chance de gravar uma cena comovente com o divertido Leandro Hassum. Foi bem legal.

Já em Dias Perfeitos, embora seja uma série de suspense com uma atmosfera densa, minha personagem, a Marli, é talvez a pessoa com a energia mais leve na trama. Vizinha da Patrícia (Débora Bloch), ela é uma pessoa presente e atenta, que se preocupa com o bem-estar da amiga, devido à relação de Patrícia com seu filho, o estranho Téo (Jaffa Bambirra). Foi bem legal fazer parte dessa história. Adoro a escrita do Raphael Montes, e já era louca para trabalhar com a Joana Jabace.

Em Pablo e Luisão, eu interpreto uma dançarina de um parque de diversões que se transforma na Monga, a mulher-macaco. Ela se envolve numa confusão criada pelo Luisão (Ailton Graça), enciumado pela paixão do amigo Pablo (Otávio Muller) pela mulher do circo. Foram dias divertidos de gravação.

 

E: Existe algo que você ainda não fez durante a sua carreira, e que gostaria de realizar? O que podemos esperar em relação ao seu futuro profissional?

CP: São tantas as coisas que eu quero realizar nessa carreira. Gosto de desafios e espero ter bons encontros com profissionais, roteiros e histórias. Adoro um drama, mas gosto de me desafiar na comédia. Interpretar outras vidas me dá prazer, seja ela qual for. 

Confesso que quando vejo um filme de ação, cheio de efeitos especiais e heroínas voando pelos ares, lutando contra os inimigos num verdadeiro balé, fico por vezes me imaginando lá, vivendo essa experiência. Deve ser legal. Quem sabe um dia? 

Mas a verdade é que estou aberta a desafios, seja no audiovisual ou no palco. O prazer angustiante da criação me move. 

 

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Texto revisado por Jamille Penha.

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