Encontro de Coqueiras enaltece o coco de roda em evento online
Reprodução: Divulgação

Entrevista | Encontro de Coqueiras enaltece o coco de roda em evento online

Entrevistamos Rafa Ella Nepomuceno, idealizadora do Encontro de Coqueiras, que será transmitido virtualmente pela primeira vez em sua sétima edição

 

O coco de roda, expressão artística nascida na região nordeste do país, une dança, música, poesia e performance corporal. Usualmente reproduzido em formato circular, as pessoas cantam e dançam de maneira hipnótica, girando em “umbigadas” e entoando as cantigas características dessa linguagem. Nada é por acaso: as letras carregam muita resistência em si. As influências indígenas e africanas se misturam em um movimento coletivo de fortalecimento e perpetuação cultural que atravessa séculos, desde o seu surgimento até os dias de hoje. 

 

Não à toa, atualmente, diversas mulheres são adeptas da linguagem do coco e a utilizam como uma maneira de conexão e união feminina. Percussionistas, cantoras, poetisas, artistas: elas se impõem de forma memorável e reivindicam seu lugar ao sol. 


É neste cenário que surge a iniciativa do Encontro de Coqueiras, evento gratuito e virtual que tem como objetivo aproximar diferentes vertentes e grupos de mulheres atuantes no coco de roda. Produzido pela Dente de Leão Cultural, o evento ocorre do dia 25 a 28 de março e contará com rodas de conversa, oficinas, shows ao vivo e, é claro, muito ritmo e dança. Essa é a sétima edição do encontro, mas é a primeira vez que ele acontecerá online, devido à pandemia. Reunindo figuras importantes no coco, como As Três Marias, o Sol e a Lua; Coco das Águas Doces; Cocomelo Coletivo; Aurinha do Coco; Martinha do Coco, Renata Rosa e outros grandes nomes, o evento visa, também, contribuir com as celebrações acerca do
mês da mulher

 

ncontro de Coqueiras enaltece o coco de roda em evento online
Encontro de Coqueiras. Reprodução: Douglas de Campos

 

A idealizadora do encontro, Rafa Ella Nepomuceno, topou conversar com o Entretetizei para falar mais sobre o Encontro de Coqueiras, sobre o coco de roda em si e o que representa ser uma mulher que trabalha com essa linguagem cultural tão rica. Rafa é fundadora do grupo Coco de Oyá e do bloco carnavalesco feminista Eu Acho é Coco!

 

Confira a entrevista a seguir:

 

Entretetizei: O coco de roda faz parte da história brasileira e se destaca justamente por ser tão rico em referências culturais. Qual foi seu primeiro contato com ele e o que fez com que você se apaixonasse?

Rafa: Nem sei dizer qual foi o meu primeiro contato com o coco em si, porque eu vim de uma família de músicos paraibanos, e sempre que nos juntávamos se cantava muito forró e cocos tradicionais. Tenho muita lembrança das rodas de coco dessa época. Mas foi a Dona Selma do Coco (cantora e compositora pernambucana, falecida em 2015) quem mais me marcou quando vi cantando coco. Uma mestra, uma senhora com uma voz com a qual eu me identifiquei muito. Os cocos de Dona Selma eram muito divertidos. A partir daí eu comecei a cantar, e foi cantando coco que eu comecei a soltar a minha voz, mais ou menos em 1998 e, desde então, nunca mais parei. 

 

E: O Encontro de Coqueiras está na sua sétima edição, e, pela primeira vez, ocorrerá de maneira virtual. Qual é a sua expectativa para o evento?

R: Muito alta! Finalmente a gente conseguiu fazer uma edição, mesmo que seja virtual, com verba, podendo contemplar os grupos, as mestras, palestrantes e oficineiras. Desta forma, estamos fazendo uma versão mais ampla. As edições anteriores, realizadas em São Paulo, foram encontros apenas de grupos da cidade, pois não tínhamos verba para trazer mestras e grupos de fora. Agora conseguimos acessar algumas mestras, mesmo sendo uma quantidade ainda pequena, e enriquecemos muito a programação com rodas de conversa, oficinas… Espero que seja uma troca intensa e uma porta para novas edições, e que a gente consiga mapear e acessar todas as mulheres que estão dentro da cultura popular, tocando coco no Brasil. Quem sabe até no mundo! Vai que tem coqueira lá fora e eu não sei? (risos)

 

Encontro de Coqueiras enaltece o coco de roda em evento online
Rafa Ella Nepomuceno. Reprodução: Divulgação

 

E: Na sua opinião, como a dança ajuda a unir e fortalecer mulheres, de maneira coletiva? De que forma suas vivências se misturam com tantas referências culturais, de diferentes lugares e sotaques?

R: O coco é uma dança circular, e a dança circular em si já gera uma energia, um poder de cura, uma vibração muito forte. Por serem mulheres, acredito que essa força se intensifica muito mais. A questão de estarmos em São Paulo, em um centro urbano, em uma praça onde nos reunimos… eu vi a necessidade de estar em contato com essas mulheres que querem aprender ou que já praticam essa linguagem. E é daí que veio a riqueza, a pluralidade de mulheres nas rodas, de gente de São Paulo, Amazonas, vários lugares. Mulheres incríveis, com suas histórias e vivências. No repertório, procuramos trazer músicas que enaltecem o poder da mulher e, quando eu me refiro à mulher, quero dizer mulher independente de ter um útero. Se a pessoa se coloca como mulher, estamos aqui para acolhê-la

 

E: Existe uma força muito grande na poesia feita por mulheres. Para você, como ela se alia às expressões corporais nos grupos de dança de coco de roda?

R: A dança no coco de roda é muito tradicional: as variações e sotaques existem, mas não estão muito ligados à poesia. O coco é uma mistura do preto, do branco excluído e do índio, então são vários signos e elementos. Dentro desse universo, existem diversos tipos de passos e estilos. Alguns evoluíram mais em função da rítmica, não da poesia. É um universo muito rico. Agora, conectado com a poesia feita por mulheres, como ela se alia à expressão corporal, eu não identifico. No caso do Eu Acho é Coco! (bloco criado por Rafa em 2018), existe uma certa diversidade e pluralidade, por estarmos em um meio urbano, e não no interior. Temos mulheres de diversas localidades, com diversas informações e um repertório que não é só de coco tradicional: pegamos canções com as quais a gente se identifica, de cantoras e compositoras contemporâneas, e tocamos no ritmo do coco. Mas dançamos o coco tradicional, de umbigada. Acredito que tenha essa variante do olhar, do mover dos braços, de se expressar de uma forma diferente dos grupos tradicionais.

 

Encontro de Coqueiras enaltece o coco de roda em evento online
Luana Flores. Reprodução: Divulgação

 

E: Para encerrar, qual é a sua mensagem (ou sugestão) para as meninas e mulheres que se interessarem em conhecer a fundo o coco? Qual é a melhor forma de começar?

R: A melhor forma de começar é vir tocar com a gente no Eu Acho é Coco!. Nossos encontros estão sendo virtuais no momento, e podem ser acessados de qualquer lugar do planeta! São oficinas que eu ofereço gratuitamente aos sábados, através do Google Meet (o link é disponibilizado no instagram do grupo: @euachoecoco). A outra maneira é aguardar a pandemia terminar e viajar para o Nordeste, conhecer as mestras, ver os shows, se jogar! Escute, pesquise no Spotify… se interesse, veja se essa música te toca assim como me tocou. Para mim, foi uma febre de coco e não quero me curar. Após a pandemia, vamos retomar os nossos encontros presenciais na Praça da Nascente (em São Paulo), aos domingos, das 15h às 17h,gratuitamente. Esperamos vocês lá!

Confira, abaixo, a programação completa do evento:

 

25/03 (quinta-feira)

20h: Abertura – Show Coco de Oyá (SP) + As Três Marias, o Sol e a Lua (SP)

 

26/03 (sexta-feira)

16h: Oficina “Passo Marcado” com Rafa Ella Nepomuceno (SP)

18h: Roda de Conversa “A história do Coco e sua atuação no estado de São Paulo” Convidadas: Renata Rosa (SP) , Lucila Pop (SP), Joice Temple (SP) e Nega Deza (SP) 

20h: Show Bloco Eu Acho é Coco! (SP) + Coco das Águas Doces (SP) + Renata Rosa (SP)

 

27/03 (sábado)

16h: Oficina “Na Linha de Zambi” com Mônica Santos (SP)

18h: Roda de Conversa “O papel da mulher na Cultura Popular”

Convidadas: Clarisse Kubrusly (RJ), Renata Amaral (SP), Sandra Maria Luciano (SP) e Beth de Oxum (PE)

20h: Show Juremas (SP) + Aurinha do Coco (PE) e Semente Crioula (SP)

 

28/03 (domingo)

14h: Oficina de confecção de instrumentos com materiais recicláveis, com Sandra Luciano e

Lucila Poppi (SP)

16h: Roda de Conversa “A cultura popular: o pós pandemia”

Convidadas: Luana Flores (SP), Monica Santos (SP) , Karina Mitiko (SP) e Marileide Alves (SP)

18h: Encerramento – Show Rachada do Coco (SP) + Cocomelo Coletivo (SP) + Martinha do Coco (GO)

 

O Encontro de Coqueiras é uma realização: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Economia e Cultura Criativa, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo, ProAC, Governo Federal, Lei Audir Blanc e Dente de Leão Cultural. Acesse as redes sociais do evento no Youtube, Instagram e Facebook

 

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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