Em sua primeira entrevista ao Brasil, o grupo de k-pop formado por membros deficientes auditivos falou sobre os obstáculos que enfrentaram no início de sua carreira
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O k-pop cada dia nos surpreende mais! Neste mês, o Big O!cean, primeiro grupo de k-pop formado por membros com deficiência auditiva, lançou o seu debut. Formado por Kim Ji Seok, Park Hyun Jin e Lee Chan Yeon, o grupo escolheu lançar um remake de Hope, sucesso originalmente lançado pelo H.O.T em 1998.
O grupo, que utilizará em suas performances três línguas diferentes, sendo elas a Língua de Sinais Americana (ASL), Língua de Sinais Internacional (ISL), e a Língua de Sinais Coreana (SUO) conversou exclusivamente com o Entretê sobre sua história, debut e seus próximos passos. Confira:
Entretetizei: Vocês poderiam se apresentar, um por um, aos fãs brasileiros e falar um pouco sobre vocês?
Big O!cean: Olá, queridos fãs brasileiros! Estamos muito felizes por ter a oportunidade de nos apresentar a vocês. Eu sou Chan Yeon, o rapper da Big Ocean. Com minha presença enérgica e carismática, pretendo elevar nossas apresentações e me conectar com nosso público em um nível mais profundo.
Em seguida, deixe-me apresentá-lo a Hyun Jin, nosso principal vocalista. Hyun Jin tem uma capacidade única de transmitir emoções por meio de seu canto cheio de alma. Sua voz ressoa com sinceridade e paixão, acrescentando profundidade à nossa música.
Por fim, temos Ji Seok, o dançarino do grupo. Os movimentos dinâmicos e as habilidades de contar histórias de Ji Seok aprimoram nossa coreografia, cativando o público com seu estilo de performance expressivo.
E: Gostaríamos de saber um pouco mais sobre a perda auditiva de vocês. Vocês três utilizam um implante coclear? Contem-nos um pouco sobre isso.
BO: A gravidade da deficiência auditiva de cada membro varia. Ji Seok usa aparelhos auditivos, Hyun Jin é usuário de implante coclear e também de aparelhos auditivos, enquanto Chan Yeon fez implante coclear nos dois ouvidos. Todos nós nos tornamos hábeis na leitura labial para nos comunicarmos e treinamos muito quando jovens para falar com vozes claras e distintas. Além disso, nós três aprendemos a linguagem coreana de sinais (KSL).
E: Antes de pensarem em debutar no k-pop, vocês faziam outras atividades, certo? Quais eram elas?
BO: Antes de nos aventurarmos no mundo do K-pop, estávamos envolvidos em diversas atividades. Chan Yeon seguiu a carreira de audiologista, Hyun Jin se concentrou em aumentar a conscientização sobre deficiências por meio de seu canal no YouTube e Ji Seok estava imerso no mundo dos esportes como atleta de esqui, representando a equipe da cidade de Seul.
E: Qual é a história da Big O!cean e como surgiu a ideia de criar um grupo? Vocês se inspiraram em algum grupo?
BO: Nossa empresa, a Parastar Entertainment, está incentivando talentos da TV com deficiências, e mais de 40 artistas estão participando. Como nossa empresa tem o objetivo de criar superestrelas, o CEO pensou em maneiras de fazer isso acontecer. Foi o projeto Big Ocean. Hyun Jin era originalmente o membro da Parastar, então ele se juntou ao primeiro grupo e, mais tarde, foi realizada uma audição oficial para colocar os membros em um grupo.
E: Por quanto tempo vocês treinaram para se tornarem ídolos?
BO: Hyun Jin já tinha assinado contrato com a Parastar desde 2020, mas todos os três membros treinaram por um ano e meio. O período de treinamento para se tornarem ídolos variou para cada um de nós. Envolveu um rigoroso treinamento vocal e de dança, aulas de atuação, além de aulas de linguagem de sinais e treinamento pessoal para esportes. Por meio de dedicação e trabalho árduo, aprimoramos nossos talentos e nos preparamos para a estreia.
E: Quais foram os primeiros obstáculos que você teve de enfrentar quando decidiu entrar no mercado de k-pop? Vocês sofreram algum tipo de preconceito?
BO: Como novatos no setor de K-pop, enfrentamos vários obstáculos, inclusive ceticismo e preconceito devido à nossa deficiência auditiva. No início, foi difícil para nossa equipe atrair investimentos, porque muitos eram céticos quanto à possibilidade de um artista deficiente ser idolatrado. Mas, com o orçamento apertado, permanecemos resistentes e concentrados em mostrar nossas habilidades, esforçando-nos para desafiar os estereótipos e provar nosso valor como artistas.
E: No Brasil, 5% da nossa população é composta por pessoas com deficiência auditiva, e conheci algumas dessas pessoas que também são fãs de K-Pop. Quando vocês decidiram que iriam debutar na indústria, imaginaram como seria importante para outras pessoas também terem essa representação em um gênero de que gostam tanto?
BO: Quando decidimos estrear no setor, reconhecemos a importância de representar pessoas com deficiência em um gênero amado por fãs do mundo todo. Esperávamos inspirar outras pessoas e promover maior inclusão e aceitação na comunidade do K-pop. E, quando estreamos, pudemos sentir que muitos estavam torcendo por nossa estreia, pois éramos vistos como uma experiência social.
E: Falando em estreia, no sábado (20) vocês lançaram seu primeiro single, GLOW. Como foi o processo de criação? Há algo especial sobre o single que você queira compartilhar com seus fãs?
BO: O lançamento do nosso primeiro single, Glow, foi um processo colaborativo e estimulante. Nosso objetivo era dar à música nosso estilo e mensagem únicos e, ao mesmo tempo, homenagear o lendário grupo de K-pop H.O.T. É uma música cheia de esperança e positividade, refletindo nossa jornada como grupo.
Ao criar a música, descobrimos que nossa voz cantada estava errando as notas e desafinando. Então, procuramos uma solução de conversão de voz por IA. Ela aprendeu profundamente nossa voz e a clonou para produzir um som melhor. Esperamos poder cantar com nossa própria voz em um futuro muito próximo.
E: Agora que lançaram GLOW, vocês pretendem trabalhar em um álbum completo ou em uma mixtape? Há algo em andamento?
BO: Após o lançamento de Glow, estamos explorando a possibilidade de trabalhar em um álbum completo ou em uma mixtape. Pelo menos mais dois singles digitais estão planejados para maio e junho deste ano. Estamos animados com a perspectiva de criar mais músicas e compartilhar nossas histórias com os fãs por meio de futuros lançamentos.
E: Você viu a reação do público ao lançamento do single? Se sim, o que você achou do feedback? Todo mundo que ouvi foi super positivo. Os kpoppers brasileiros adoraram!
BO: Ficamos impressionados com a reação positiva ao nosso single de estreia dos fãs do mundo todo, incluindo os do Brasil. Especialmente porque estamos transmitindo ao vivo pelo canal do Tiktok por mais de 5 horas por dia, percebemos que há muitos fãs brasileiros presentes, nos apoiando. Sempre que vemos as bandeiras do Brasil nos comentários, nos sentimos muito felizes.
Estamos conferindo quase todos os vídeos de reação carregados nos vários canais de mídia social e também somos gratos pelas fotos nossas carregadas e pelos presentes enviados ao nosso escritório. Por último, mas não menos importante, é incrivelmente gratificante ver nossa música repercutir entre pessoas de diversas origens, e somos gratos pelo amor e apoio que recebemos.
E: Qual foi a sensação de saber que sua música está alcançando fãs do outro lado do mundo?
BO: Saber que nossa música está alcançando fãs do outro lado do mundo nos enche de imensa alegria e gratidão. É uma prova do poder da música de transcender as barreiras culturais e linguísticas, unindo as pessoas por meio de emoções e experiências compartilhadas.
E: Vocês tiveram algum contato com a cultura brasileira? Vocês sabem falar algo em português ou já viram como é a Libras (língua brasileira de sinais)?
BO: Embora não tenhamos tido contato direto com a cultura brasileira, apreciamos a rica diversidade e a energia vibrante da música e do entretenimento brasileiros. Estamos ansiosos para aprender mais sobre a cultura brasileira, incluindo português e Libras, à medida que continuamos a nos conectar com os fãs em todo o mundo. Brasil! Eu te amo!
E: Voltando à estreia, você já sabe qual será o nome do fandom? Vocês pretendem criar um lightstick?
BO: Quanto ao nome do fandom e ao lightstick, ainda estamos no processo de planejamento e considerando várias opções. Inicialmente, pensamos no nome Wave, pois ele ficou em primeiro lugar na votação do nome do nosso fandom, mas depois descobrimos que ele combinava com o nome de outro fandom. Então, estamos pensando em mudá-lo para Pado, que é a palavra coreana para Wave. E Pado venceu em outra rodada de votação recente. Queremos envolver nossos fãs no processo de tomada de decisões e criar símbolos significativos que representem nosso vínculo como grupo.
E: Vocês planejam fazer uma turnê no futuro?
BO: A turnê está definitivamente em nosso radar para o futuro. Estamos animados com a oportunidade de conhecer nossos fãs pessoalmente, compartilhar momentos inesquecíveis juntos e mostrar nossa música e nossas apresentações em um palco global.
E: Quais são os próximos passos do grupo?
BO: Nossos próximos passos como grupo envolvem continuar a criar músicas significativas, ultrapassar limites e defender a diversidade e a inclusão no setor musical. Temos o compromisso de inspirar outras pessoas e causar um impacto positivo por meio de nossa música e ações. Para isso, estamos abertos a vários trabalhos de colaboração com organizações internacionais, empresas de marca e muito mais.
E: Gostaria de deixar uma mensagem para seus fãs brasileiros?
BO: Aos nossos fãs brasileiros, queremos expressar nossa sincera gratidão por seu apoio e entusiasmo inabaláveis. Seu amor e incentivo significam muito para nós, e estamos empolgados em embarcar nessa jornada junto com vocês. Fique ligado para mais atualizações e músicas empolgantes da Big Ocean!
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Texto revisado por Luiza Carvalho