O Entretetizei bateu um papo com a empresária Kamilla Fialho, confira
Nascida no Rio de Janeiro, Kamilla Fialho, de 40 anos, conquistou seu espaço no mundo da música. O sucesso impressionante não veio do modo convencional, por meio de lançamentos de hits e álbuns, mas sim, nos bastidores da carreira musical de muitos artistas do mainstream brasileiro, como Kevin O Chris. Atualmente, Kamilla é uma das indicadas ao Women ‘s Music Event (WME) Awards, administra sua consultoria de talentos, a K2L, e ministra um curso para interessados em trabalhar de forma séria com a música.
Diante do impacto de redes sociais, como o TikTok, na divulgação de novas músicas e das consequências da pandemia da Covid-19, Fialho conta como equilibra sua vida profissional, pessoal e fala sobre sua trajetória em um meio no qual a criatividade e dedicação são requisitos obrigatórios.
Confira nosso papo na íntegra:
Entretetizei: Sendo mulher, você entende a dificuldade de conquistar o respeito em diversas áreas. Como foi o início da sua carreira, em relação a essas questões decorrentes do machismo?
Kamilla Fialho: Como mulher, é sempre mais difícil conquistar espaços, a batalha é diferente, o posicionamento tem que ser mais firme, porque se sentem algum tipo de fraqueza em você, já te diminuem. O funk sempre foi um meio masculino, e eu já tive que engolir muito sapo, tinha que fingir que gostava de ser seduzida em reuniões para ser respeitada.. Até que eu comecei a falar grosso, na língua deles, e fui conquistando o meu espaço. Sempre fui julgada pelas minhas fotos de biquíni, mas hoje, depois de quase 20 anos, sou respeitada, e ninguém questiona o que eu falo e faço.
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E: E como você entrou no mundo da música?
KF: Entrei no mundo do empreendedorismo depois que acabou meu contrato na Furacão 2000. Eu engravidei e fui colocada na geladeira porque eu trabalhava na frente das câmeras. Meu objetivo sempre foi empreender, fazer dinheiro e criar algo novo. A primeira oportunidade que eu tive foi de empresariar o MC Sapão, aos 22 anos, grávida e completamente perdida. Quando o Dennis [DJ] me sugeriu isso, relutei, porque nunca tinha feito nada parecido. Mas como eu já tinha sido vendedora, ele me incentivou, e disse que empresariar era vender pessoas, e que eu ia conseguir. Na época, o funk não era tão respeitado, e aos poucos eu fui amadurecendo e desenvolvendo meu talento.
E: Em relação ao funk, você acha que, mesmo com todo o sucesso, o gênero ainda sofre preconceito?
KF: Ainda sofre um pouco, principalmente porque as letras são sobre o que os artistas veem dentro da favela. E muita gente não quer enxergar essa realidade. Mas dentro do mundo da música essa barreira já foi ultrapassada e hoje, o funk é um dos gêneros musicais mais ouvidos do Brasil, perdendo só para o sertanejo.
E: Recentemente, você foi indicada ao WME Awards, certo? Você vê isso como uma consequência de todo o seu trabalho?
KF: Claro. Sempre batalhei muito e dei muito de mim para conquistar tudo que tenho hoje, uma empresa reconhecida no segmento da música urbana. Eu invisto muito na minha carreira e na dos meus artistas, e esse reconhecimento me deixa muito feliz e realizada, principalmente por ser uma premiação tão necessária, que exalta o trabalho das mulheres na indústria musical. Ser indicada ao lado de profissionais inspiradoras e incríveis, é uma verdadeira honra.
E: Pensando nessa indicação, qual a sua maior realização profissional?
KF: Acho que a minha maior realização profissional até hoje foi ter passado pelo período mais crítico da pandemia e saído com quase o dobro da quantidade de colaboradores que eu tinha antes disso tudo começar. Também acabei virando sócia de outras três empresas. Hoje todas elas estão concentradas em uma casa enorme, que recebeu o nome de Lab 360. É um ambiente de trabalho completamente diferenciado, inovador e é gratificante demais pra mim ver pessoas por todos os lados trabalhando lá e fazendo tudo acontecer.
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E: Então a pandemia teve impacto direto no seu trabalho e na K2L?
KF: Teve um impacto muito forte. A gente precisou se reinventar e pensar em formas de explodir os artistas sem a realização de shows. Parecia impossível. Foi quando começamos a usar o mercado digital ao nosso favor, mais do que nunca. O mercado teve que encontrar uma solução do dia para a noite, as adaptações como as lives, por exemplo, foram muito rápidas. O TikTok teve muita relevância, tivemos que acompanhar o que o público estava consumindo naquele momento, principalmente no início da pandemia, e fizemos acontecer. A publicidade virou a principal fonte de renda e nós entramos nessa de cabeça também. Expandimos nosso núcleo people, de influenciadores digitais, investimos bastante nessa área e deu pra gente se estruturar novamente.
E: Atualmente, redes sociais tipo o TikTok são grandes ditadores da música. Como você trabalha essa questão? Costuma usar essas plataformas como pesquisa de mercado ou feedback de algum hit ou artista?
KF: Temos que usar o TikTok a nosso favor. No início da pandemia eu percebi que não passaria rápido, então comecei a pensar em formas de emplacar meus artistas usando o mercado digital, como o TikTok. Uso o Kevin como exemplo, para a música Tipo gin eu fechei uma parceria com um grupo de criadores de dancinhas, o Nice House, e o Kevin escreveu a letra pensando na plataforma. O resultado todo mundo viu, né? Não podemos ignorar as novas redes sociais ou novas tendências, temos que trazer para perto e tirar o melhor delas.
E: Existe algum artista atual que você desejaria agenciar e que acredita no sucesso da pessoa?
KF: Claro! Vários. Tenho vontade de trabalhar com muita gente. Mas hoje olho muito pra cena do trap e do rap. Inclusive, vejo que se alguém der a esses gêneros a estrutura que eu me predispus a dar pro funk há uns 20 anos atrás, a música urbana vai se fortalecer bastante.
E: A sua filha, Tília, vem trabalhando no seu primeiro EP e acabou de realizar o primeiro show de uma carreira em ascensão. Como mãe, como é ver o início da carreira de Tília e qual conselho você costuma dar para ela lidar com toda exposição?
KF: A Tília tem uma cabeça muito boa, e ela sabe muito o que quer. Eu sempre quis que ela assumisse a K2L, e o pai queria que ela fosse DJ e produtora musical. Mas ela é determinada, decidiu ser cantora e está agarrando a oportunidade com unhas e dentes. Fico muito orgulhosa de ver como ela está batalhando, porque nunca dei a carreira de mão beijada, ela fez e faz todo o processo como qualquer artista da empresa.
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KF: Não é bem um conselho, mas uma prática que eu sempre valorizei, tanto pra mim quanto pros artistas com quem eu trabalho, é terapia. Considero esse acompanhamento profissional imprescindível para qualquer um que atue direta ou indiretamente no meio artístico.
E: O seu curso, Como Viver da Música, é baseado em experiências suas, certo? Qual a principal lição que você pretende passar aos seus alunos? Conte um pouco mais sobre esse projeto e qual é o público alvo.
KF: O público alvo são artistas e empresários que querem iniciar uma carreira organizada e sólida. O objetivo é compartilhar, de forma prática, as estratégias que eu uso para alcançar os resultados para os meus artistas e como profissional. São 20 anos de trabalho e experiência sobre como se destacar no mercado da música.
E: Para finalizar, quais são as perspectivas do funk para o futuro, principalmente no que tange as artistas e produtoras femininas?
KF: As perspectivas são bem positivas. As coisas nesse sentido estão mudando (bem mais lentamente do que eu gostaria, aliás) mas estamos conseguindo de pouquinho em pouquinho determinar o nosso espaço. Não somente em relação às mulheres, mas considerando um panorama mais geral mesmo, as minhas expectativas são sempre de uma maior diversidade dentro do segmento. Já existem vários tipos de funk nascendo em diversos cantos do país. Vejo isso tudo como uma movimentação extremamente positiva e capaz de levar o gênero para lugares antes inimagináveis.
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*Créditos da foto de destaque: Divulgação