Entrevista | Kayden Phoenix fala sobre universo e personagens dos quadrinhos de A La Brava

Kayden Phoenix, que participou da SDCC 2021, traz um universo de super-heroínas latinas que prometem conquistar qualquer um

Conversamos com a criadora e escritora dos quadrinhos do Universe of Latina Superheroes, Kayden Phoenix e ela nos mostrou o quão importante é o seu trabalho no que diz respeito à representatividade e imposição a favor das causas que ela acredita.

O universo de A La Brava tem cinco super-heroínas que você com certeza vai amar. Jalisco, Santa, Loquita, Ruca e Bandita tem seus próprios livros e logo irão se juntar em um livro do grupo, chamado A La Brava.

Kayden Phoenix na SDCC

A autora esteve presente na edição virtual do evento deste ano, no painel Abolishing Traditional Ideas of Latinas through Latina Superheroes (Abolindo as ideias tradicionais das latinas por meio de super-heroínas latinas, em tradução livre). O painel, que segundo Kayden foi um pouco mais acadêmico, abordou as questões de preconceito contra o povo latino, especialmente às mulheres latinas.

Ela fala sobre o percurso da conversa e a visão das mulheres latinas no entretenimento:

Nós começamos com o passado, como nós somos vistas não só como mulheres no geral, mas mulheres e latinas, como somos vistas nos quadrinhos, na verdade não como somos vistas em quadrinhos, porque não somos vistas em quadrinhos. E como quebramos a imagem da empregada, o objeto sexual, o apenas o muito básico, o Chola [latina que usa determinado estilo e cultura que lida com violência] ou o gângster, como quebramos isso porque é esse tipo de coisa que vemos na tv, assim como nos filmes e nos quadrinhos.”

Kayden Phoenix na SDCC
Foto: Captura de tela

Quando questionada sobre o porquê de fazer heroínas, Kayden Phoenix explica:

Super-heróis tem sua própria autonomia, são independentes. Como se não importasse o gênero ou a raça. Quando você pensa em super-heróis, você pensa em grandeza. Você pensa que eles vão te proteger, não importa o que eles vão proteger, a cidade, o mundo ou o universo […] Então temos as super heroínas latinas e elas vão te proteger não importa o que aconteça. […] E é assim que você quebra os estereótipos […]. Minha mãe é minha super heroína e ela não é nada dessas coisas. Na minha família, cada latina que eu conheço, não são esse estereótipo.”

A importância de A La Brava

Na vida de Kayden, A La Brava é extremamente importante, pois ela fez a criação e a publicação das edições sozinha, pagando por tudo de seu bolso. Além disso, A La Brava é sobre representação de pessoas latinas, que são marginalizadas pela sociedade. 

Além de mostrar o que os latinos realmente são, Kayden mostra que é necessário que as crianças tenham bons exemplos para se inspirarem:

“É importante porque é sobre representação. E também é sobre influenciar muitas crianças pequenas e particularmente crianças latinas pequenas. E eu sou muito honrada e sortuda por isso. […] Eu consegui porque algumas garotas ficam ‘Eu sou uma super-heroína’. E é isso. […] É importante ver você mesma como uma heroína, porque nós somos heroínas. […] Minha mãe é minha heroína, minha bisavó era minha heroína e isso é algo com que eu cresci. Por isso eu sou muito mais forte, por causa da minha mãe, da minha bisavó, da minha tia. E eu honestamente quero isso para todo mundo.”

Super-heroínas latinas

É claro que não íamos ficar sem perguntar para ela sobre as heroínas Jalisco, Santa, Loquita, Ruca e Bandita. Segundo a descrição da própria autora, elas são todas justiceiras sociais. E o mais incrível sobre o time de A La Brava, é que a maioria delas estão nos Estados Unidos, mas cada uma tem uma descendência latina diferente. Jalisco é a única que é de um país latino: o México.

Todas elas têm descendências diferentes. Na verdade eu gosto dessa ideia, obviamente. Ela [Jalisco] é minha mexicana, mas o resto delas estão nos Estados Unidos e têm descendências diferentes. Isso é muito importante, porque os Estados Unidos é uma mistura de todo mundo. E é verdade, você vai lá fora e você vê descendências diferentes, você vê raças completamente diferentes e isso nos faz ser ótimos. Então isso é importante.”, relata Kayden sobre a origem das protagonistas.

Jalisco, Santa, Loquita, Ruca e Bandita, respectivamente:

Arte: Divulgação/Entretetizei

Jalisco é uma espadachim, dançarina folclórica, mexicana e com uma história incrível, porém é uma história um pouco mais pesada. “Ela é folclórica e lâminas corticais saem do seu vestido de forma lenta. Então, quando ela dança, ela pode desviar das balas ou ela atira, da mesma forma. Ela tem que lidar com o feminicídio. […] Sua mãe é roubada e ela quer salvar sua mãe. Ela não sabe que a mãe dela foi roubada pela pessoa que está no comando dos feminicídios”, comenta Kayden.

Santa, segundo a autora, é uma brigona que vem dos arredores de uma cidade do Texas, que acaba com os centros de detenção do ICE: “Ela vai contra o ICE e o ICE é Illena Chavez-Estevez, que para nós é Lá Migra [imigração]. […]. Está ocorrendo uma corrida em tempo de eleição na cidade e ela se junta ao lado democrático, aprendendo sobre o patriotismo, sobre si mesma, sobre o passado militar de sua mãe e ela aprende seus poderes. Ela tem força divina. Ela sempre sobrevive às lutas, ela pode arremessar uma pessoa a longas distâncias e tudo mais. Nessa cidade, ou você é um lutador ou você é um zika. Então cada metade das pessoas são lutadores e a outra metade não é. E, assim, se torna uma causa política. Então eu coloquei um pouco mais de comédia nesse sentido, mas penso que ela acaba com ICE está pegando pessoas e colocando-as no centro de detenção.”

Loquita, a dona do último livro lançado, é uma detetive adolescente no mundo sobrenatural, de Miami, na Flórida. Sobre ela, Kayden diz: “Ela é minha boricua [descendente de Porto-Rico] cubana e é a minha mais jovem, que cursa o ensino médio. Ela vai à escola, está entrando na fase adulta e começa a ver o sobrenatural, então ela vê demônios e fantasmas. Essa é Vica, a vilã principal. Mas ela (Santa) começa a ver demônios, fantasmas e goblins e fica muito assustada porque ela não sabe o que está acontecendo com ela, claro, e ninguém conta a ela porque ninguém vê. Então eles começam a achar que ela está louca, porque ela está pirando e começa a dizer ‘está ali’ e eventualmente ela começa a lutar com demônios, ela encontra coragem. Ela é a mais fofa, como eu a chamo.”

Ruca é uma vigilante justiceira e mexicana. “Ela acaba derrubando um ciclo de tráfico, porque todas as crianças estão sendo roubadas da vizinhança.”, diz a autora sobre a história da personagem.

Bandita, dominicana, é uma pistoleira de Nova York dos dias modernos. Kayden descreve as habilidades dela com uma pistola: “Ela pode fazer qualquer coisa com uma bala. Isso significa até ricochetear, ela pode apontar […] para a parede e a bala bate, dá a volta e acerta o pescoço da pessoa que está atrás e esses são os poderes dela.”

Futuro dos quadrinhos

Após o lançamento de Loquita, Ruca é a próxima a ser lançada no final deste ano. A próxima da lista é Bandita, que deve sair no início de 2022. E então uma novidade: o sexto livro do universo, que se chamará A La Brava e será com as cinco super-heroínas, deve sair na primavera estadunidense, entre os meses de março e maio. Confira o que Kayden já nos adiantou sobre o livro:

O sexto livro vem no ano que vem. Está sendo trabalhado neste exato momento e elas se conhecem, lutam, confrontam e algo acontece, e elas ficam juntas e se tornam um time, como era para ser, e é assim que se origina a história de toda equipe de super-heróis.” 

Sobre a história, ela revela: “as minhas personagens são muito profundas. Nenhuma delas voa ou faz algo muito louco. Elas apenas são diferentes, mas você sabe que é algo profundo porque essas coisas que elas estão encontrando são coisas também muito profundas, os problemas de justiças sociais delas são de uma importância muito grande para mim. […] A La Brava luta contra… eu não posso te contar ainda, mas elas lutam sobre um problema que também é bastante feminino e sempre será pela igualdade. Em um futuro, eu não sei necessariamente contra o que elas estão lutando. […] Eu apenas penso naquilo que me deixa mais triste ou brava e aí escrevo sobre. […] O que gostaria de salvar? O feminicídio foi o meu primeiro, pois é muito importante para mim. […] O que você poderia salvar se tivesse o poder para salvar algo, ou alguém? Eu pego problemas maiores ao contrário de salvar apenas Gotham, Metropolis ou o mundo. O que é bom também, mas não é aquilo, nada… Nós já vimos isso um milhão de vezes. Então esse é um novo ângulo, vamos salvar uma causa.”

Além disso, ela revela o segundo volume de todos os livros solos: “E depois vamos fazer o segundo volume de todas elas. […] Então o segundo volume de Santa e Loquita estão sendo trabalhados nesse momento. […] E eu vou escrever a de Jalisco.”

A La Brava no Brasil?

Figura: Divulgação/Phoenix Studios

Não tem como não se apaixonar pela história do time de A La Brava. Então não vemos a hora de poder ler os livros em português, porém isso, infelizmente, não está tão próximo de acontecer. Perguntamos a Kayden Phoenix se ela pretende trazer os livros de A La Brava para o Brasil

Eu quero! Eu realmente preciso preparar a tradução para o português, realmente quero. Apenas não estou lá ainda. Eu teria de contratar alguém e pagar pela tradução e pagar, eu suponho, para imprimir e eu não sei sobre essas coisas internacionais. […] Eu não estou nesse ponto ainda [na minha carreira], justamente porque tudo ainda sai do meu bolso. Boa parte do meu dinheiro está indo para Ruca, eu estou pagando por A La Brava, Bandita. […] Mas sim, eu quero, é a minha resposta. Eles estão disponíveis em inglês e se você for na Amazon, você pode conseguir, para o mundo todo.” Então, por enquanto, nada de A La Brava em português.

Mensagem especial

Por fim, Kayden terminou a entrevista com uma mensagem super especial e inspiradora: “Eu espero que isso inspire você, […] eu faço essa inspiração e vocês sabem que vocês podem ir e fazer o que quiserem. Eu sou o primeiro Universe of Latina Superheroes e espero não ser o último universo. Eu não sou a primeira super heroína latina, nem de longe, mas eu sou a primeira em universo. E então, se eu posso fazer isso, você pode fazer isso. E não somente nos quadrinhos, literalmente em qualquer coisa na vida. Apenas saiba que você tem a capacidade de ir e fazer tudo que você desejar fazer.”

A entrevista completa com Kayden Phoenix pode ser assistida no nosso canal do YouTube ou no vídeo abaixo: 

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/Phoenix Studios

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