Agora a atriz embarca em seu novo desafio, dar vida a Adrian Pennino em Rocky – O Musical
Lola Fanucchi construiu uma carreira marcada pelo talento e pela coragem de se reinventar. Nome conhecido nos palcos do teatro musical e no audiovisual brasileiro, a atriz participa de um dos papéis mais desafiadores de sua carreira: dar vida à icônica Adrian Pennino em Rocky – O Musical, que estreou no dia 14 de março no Teatro Santander, em São Paulo. Lola mergulhou na complexidade da personagem, trazendo uma interpretação que conversa com a versão original, mas carrega também suas próprias vivências.
Sua paixão pelos palcos começou cedo, mas a caminhada até o reconhecimento não foi fácil. Após passar por empregos fora do ramo artístico, optou por seguir sua vocação e se formou no Instituto de Artes da Unicamp. Desde então, participou de produções como In the Heights, Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812 e As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão.
Além do teatro, Lola também conquistou espaço no audiovisual. Sua estreia veio com a personagem Muna, na premiada novela Órfãos da Terra (2019). O sucesso na TV abriu portas para novos trabalhos, incluindo seu primeiro longa-metragem, Tudo Bem no Natal que Vem (2021), da Netflix, que alcançou milhões de espectadores ao redor do mundo.
Agora, a atriz encara um novo desafio com Rocky – O Musical, obra que celebra a resiliência das relações humanas. Entre ensaios e uma imersão na trajetória de Adrian, Lola emociona o público e reafirma seu compromisso com a arte. O entretê conversou com ela sobre sua trajetória, os desafios dessa nova personagem e os próximos passos de sua carreira. Confira:
Entretetizei: Lola, você tem uma trajetória que vai do teatro musical ao audiovisual, com personagens como Adrian, em Rocky – O Musical, e Muna, em Órfãos da Terra. Como você descreveria a transição entre essas duas formas de arte, e quais os maiores desafios e aprendizados que cada uma delas trouxe para sua carreira?
Lola Fanucchi: Acho que a base do trabalho do ator para mim é a mesma e está muito conectada à verdade. Encontrar a verdade daquela personagem, da circunstância, da troca genuína com os parceiros de cena. Isso é imperativo para mim e eu mantenho independente se o trabalho é nos palcos ou nas telas. Mas claro que cada meio tem seus desafios e pede alguns ajustes técnicos para que a história funcione melhor ali. A novela especificamente tem um tempo muito ágil. Não existe quase tempo de preparação. É um trabalho insano de todas as áreas.
Ao mesmo tempo, é muito prazeroso se manter tantos meses investigando e descobrindo uma personagem, com novas cenas que você ainda não leu, viradas surpreendentes. Existe um frescor para o público e também para nós intérpretes. Já o teatro proporciona um aprofundamento que o ensaio e a repetição trazem. Isso é incrivelmente desafiador também, porque temos que buscar a sensação de viver aquela cena pela primeira vez, mesmo já tendo repetido muitas vezes. Encontrar a verdade em todo momento cênico como se fosse a primeira vez é um desafio que sempre me mantém focada.

E: Adrian Pennino é uma personagem icônica, e sua interpretação traz novas nuances para essa figura tão conhecida. Como foi o processo de construção dessa personagem, e quais elementos você buscou para diferenciá-la da versão cinematográfica de Talia Shire?
LF: Eu amo esse processo da criação. Tenho muitas inspirações e busco misturá-las para criar algo interessante e não apenas uma cópia. Com certeza eu olho com muito respeito para a interpretação da Talia Shire. Acho que ela eternizou a personagem no filme e parte do meu trabalho é levar essa essência para os fãs da obra. Mas também busquei explorar outras referências, até porque nossos contextos são completamente distintos. Nossa produção foge do usual.
Estamos num espaço imersivo, com um palco estilo arena. Existe uma proximidade grande com o público. Tudo isso pede que seja criada uma nova versão da personagem até para a história manter seu impacto original que tocou tantos corações pelo mundo. Espero que o público goste dessa combinação de referências que vão desde patinadoras da época do filme, como Dorothy Hamill, até memórias mais pessoais minhas com minha mãe. Faço com muito amor e espero que a história da Adrian toque o público.
E: Sua trajetória pessoal é marcada por superação e coragem, e você já mencionou que se identifica com a força de Adrian. Como essa identificação pessoal influenciou sua atuação, e de que forma você acredita que sua história pode inspirar outras pessoas?
LF: Acho que existe um senso de empatia e profunda compreensão entre atriz e personagem. Não acho, de forma alguma, que é imperativo que o ator passe pelas mesmas situações que a personagem, mas algumas histórias ressoam mais que outras dentro de nós, né? Eu definitivamente não vivi as violências que Adrian experimentou na infância, mas acho que me conecto com ela na sensação de que podemos sempre construir um futuro inspirador, independente das dificuldades do nosso passado. Muitas vezes não controlamos as surpresas que a vida coloca no nosso caminho. Eu, por exemplo, perdi minha mãe muito cedo e não tive uma figura paterna presente. Mas, diante de situações desafiadoras, podemos tentar reagir da melhor forma, mantendo em mente a vida que desejamos construir para nós. Acho que se eu puder inspirar alguém nesse sentido, já ganhei muito. E acho que Adrian descobre exatamente isso durante a história que contamos.
E: Rocky – O Musical é uma obra que celebra a resiliência e a autodescoberta. Em um momento em que tantas pessoas buscam força e esperança, qual a mensagem mais importante que você acredita que o público pode levar dessa produção?
LF: Acho que justamente é uma história que nos motiva a ter a coragem de ousar ir atrás da vida que nos inspira e não desistir dela jamais! Seja através de um sonho como o boxe, seja se permitindo viver um grande amor e construir uma nova noção de pertencimento no mundo. Não desista dessa vida que você sonha para você.
E: Você já trabalhou em projetos de grande sucesso, como Tudo Bem no Natal que Vem, da Netflix. Como é para você ver seu trabalho alcançar milhões de pessoas ao redor do mundo, e quais os próximos passos que você almeja em sua carreira no audiovisual?
LF: Sabe que até hoje eu não tenho muita compreensão do alcance? Rs! Acho que como vim do teatro e normalmente nosso público está no nosso campo de visão, é quase inimaginável para mim pensar que no mês de lançamento do filme ele foi visto por 26 milhões de pessoas. Que lá na Suíça alguém deu risada com a gente! Eu AMO fazer comédia. Gostaria muito de explorar mais esse gênero no audiovisual. Talvez uma personagem mais cômica em uma novela. Adoraria criar nesse campo enquanto estamos no ar porque a resposta do público é sempre muito imediata. Deve ser um trabalho muito prazeroso e, como ainda não experimentei, definitivamente está na lista das vontades futuras!

E: Lola, acompanhamos a intensa mobilização do público brasileiro torcendo por Fernanda Torres no Oscar e o filme Ainda Estou Aqui (2024). Como artista, como você avalia esse movimento? Acredita que ele reflete uma mudança na forma como o público se conecta com o cinema nacional e seus artistas?
LF: Fico extremamente emocionada de ver essa “torcida” e mobilização se voltando também para o campo das artes. Normalmente vemos esse tipo de sentimento muito presente nos esportes, né? Mas só mostra que, como brasileiros, temos dentro de nós esse orgulho da nossa cultura! Isso é muito bonito, muito precioso. Para além das enxurradas de comentários em redes sociais apoiando a campanha do filme, o brasileiro encheu as salas dos cinemas. Prestigiou uma obra importantíssima que fala sobre um passado da nossa história. Acho muito emblemático e torço sim para que seja uma situação mais recorrente, porque quem ganha, no fim, é a cultura do país.
E: Lola, em Órfãos da Terra você interpretou Muna, uma personagem que fazia parte do núcleo de refugiados sírios. A novela abordou um tema sensível e de grande relevância global. Como foi para você dar vida a esse personagem e representar essa realidade? Quais foram os seus principais aprendizados e desafios ao mergulhar em uma cultura tão diferente da sua, e como essa experiência impactou a sua visão sobre a questão dos refugiados?
LF: Olha, não é sempre na nossa carreira que conseguimos estar em projetos que trazem reflexões importantes e que casam com nossos valores pessoais. Então, quando me encontrei colaborando em algo como Órfãos da Terra, eu sabia que estava vivendo um momento especial da minha carreira. Além de ter sido minha estreia nas novelas, onde aprendi demais sobre o dia a dia num set, foi realmente uma obra desenvolvida com um cuidado absoluto. A Muna, na trama, não era uma refugiada, mas todos nós do elenco estávamos imersos no estudo desse tema e suas implicações.
Ninguém que está em situação de refúgio deseja passar por aquilo. É uma realidade extremamente dura e traumática. Conversamos com muitos refugiados, tivemos a sorte de muitos colaborarem com suas histórias no processo da novela. Me sinto até hoje privilegiada por poder ter participado de um projeto que levou luz a esse tema com o alcance da TV aberta. Acho que a TV Globo foi muito corajosa em apostar naquela história e o reconhecimento veio com a boa aceitação do público e crítica.
E: “Meu maior sonho é continuar”, você declarou recentemente. Olhando para trás, para sua trajetória, e para frente, para os projetos que ainda virão, qual o papel da arte na sua vida, e como você espera que ela continue a te transformar?
LF: A arte é o que trouxe sentido à minha vida. Digo isso como “consumidora” e também atriz. Foi nela e através dela que me entendi no mundo, escolhi minhas pessoas, refleti sobre quem sou e o que busco. Eu nem sei ser diferente, porque quando tentei não fez sentido. Rs! Com respeito, digo que os anos que passei trabalhando no corporativo foram para entender que a gente consegue calar o coração apenas por certo tempo. E o meu coração realmente pulsa arte. Nos dias felizes geralmente é ela que me faz sorrir e nos dias tristes é ela que me acolhe também. É difícil de explicar, soa intenso, e acho que (ainda bem) é. E que assim continue sendo! Rs!
Perguntas por: Sussuca Alencar
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Texto revisado por Laura Maria Fernandes de Carvalho