Entrevista | Tiago Barbosa conta como é ser ator de musicais

O artista revela como foi o início da carreira, como se prepara para viver os personagens e muito mais

Tiago Barbosa tem uma longa carreira no mundo dos musicais. Há oito anos vivendo na Espanha, está de passagem pelo Brasil para uma temporada da produção Iron – O Homem da Máscara de Ferro, em cartaz no 033 Rooftop, do Teatro Santander. Na peça, ele interpreta os gêmeos Luís e Philippe.

Sua carreira começou ao interpretar o protagonista Simba na primeira montagem brasileira de O Rei Leão. No currículo, ainda conta com as produções Mudança de Hábito, Cinderela, Wicked, Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem e Kinky Boots

Ao Entretetizei, ele revela como foi o início da carreira, como é trabalhar nesse universo e muito mais. Confira!

Como foi o começo da sua carreira no mundo dos musicais? Quais foram os desafios iniciais que enfrentou?

“Eu comecei no mundo dos musicais há mais ou menos 15 anos, quando eu resolvi ir morar lá no Vidigal e fazer parte do grupo Nós do Morro, no espetáculo Bandeiras de Retalhos, dirigido pelo Guti Fraga e com a direção do maestro Sérgio Ricardo. E ali eu fui inserido na companhia onde eu era preparador vocal de todas as obras do grupo. Não foi fácil entrar desse mercado, nem do Rio de Janeiro tampouco em São Paulo.”

Entre os projetos em que você já atuou, poderia destacar um ou dois que considera os mais importantes para o seu desenvolvimento artístico? Por quê?

“Com certeza foi o Kinky Boots na Espanha. Eu acho que vivi dois grandes desafios, de grau de dificuldades diferentes. Mas o Kinky Boots ele vai estar em primeiro lugar, porque era a primeira vez que eu estava dando cara a tapa na Europa, abordando um tema que era super complexo e cheio de desdobramentos sociais, raciais e culturais. Fazer um texto muito grande.”

“O número dois vai ser o Milton Nascimento, no Clube da Esquina. Já tinha seis anos que eu estava na Espanha. Seis anos sem tocar num texto em português e eu não estava falando bem em português. Então voltar pro Brasil no desafio de fazer o Milton Nascimento, vivendo seus oitenta anos no show de despedida, o foco no Brasil artisticamente estava em cima do Milton Nascimento.”

“Foi um processo muito intenso, eu tive perda capilar. Eu li muito, tive que ler muito da história desse homem.”

Atuar em musicais muitas vezes requer uma grande transformação para se encaixar no personagem. Como você se prepara para incorporar diferentes papéis de forma convincente?

“Bom, a primeira coisa que eu começo a fazer é tentar ler muito. E depois buscar vídeo referência. Faço uma lista desse ser que eu estou querendo começar a construir, começo a buscar sinônimos dentro do próprio texto ou música dele.”

“Se for um personagem novo, eu começo a tentar dar face, dar cara a essa pessoa, a esse personagem. Aí eu faço uma montagem no Pinterest, vou ouvir muito meu diretor, e vou buscar músicas que tem a ver com esse personagem, videos que tem a ver com esse personagem, eu vou buscar o cheiro desse personagem. E isso me ajuda muito.”

“Por exemplo, nessa montagem do Iron, o personagem pra mim que foi mais difícil de montar foi o Philippe. O Philippe tem pouquíssimas referências. Então eu comecei a buscar referências sobre o cheiro da bastilha. Através do cheiro eu achei o olhar, a fisicalidade. É um lugar sensorial.”

Fale um pouco sobre o seu trabalho mais recente. O que o atraiu para esse projeto específico?

“Eu e o Ulysses [diretor de Iron] nós nos devíamos essa oportunidade de fazermos um trabalho juntos. Nós tivemos uma oportunidade há sete anos, num determinado espetáculo, só que não conseguimos prosseguir. Nós nos enamoramos naquela época, artisticamente falando.”

“E ele sempre falava, ‘você é meu príncipe’, em todos os lugares. Eu estava fazendo o Milton em dezembro, quando ele veio com essa ideia do homem da máscara de ferro. Disse que era pra eu voltar pra casa, pra Espanha, pra eu pensar, ele ia mandar o texto e ver se valia a pena. Só nisso ele já ganha todo o meu coração, porque você vê um diretor que respeita o ator.”

Você teve a oportunidade de se apresentar em outros países. Quais são algumas das principais diferenças que você notou no público e na recepção dos musicais em comparação com o Brasil?

“Bem, eu não posso dizer que o que é melhor o que é pior, né? Lógico, no meu primeiro ano no Rei Leão na Espanha eu tinha muito sotaque, logo as minhas primeiras palavras precisavam ser muito certeiras, já que o país estava de olho naquele protagonista que tinha um sotaque.”

“Então tinha a princípio um lugar de aprovação. No início foi muito difícil, mas depois tão gostosa a receptividade, a resposta, o amor, o carinho que recebi daquele público, eles foram tão calorosos. Tanto que na minha última apresentação eu recebi um aplauso que eu nunca recebi, nem no Brasil. Foi praticamente um minuto de aplausos.”

A jornada de um ator é cheia de momentos memoráveis. Você poderia compartilhar uma história engraçada ou emocionante que aconteceu nos bastidores de alguma das suas produções?

“Nossa, eu tenho de tudo, né? (risos) Mas eu acho que uma das mais emocionantes, foi a primeira vez que os meus pais vieram me assistir. Isso foi sem dúvidas um marco na minha história.”

“Outro momento foi a minha estreia na Espanha, sem família, sem amigos, começando uma carreira do zero em outro país. Neste dia outros colegas estavam estreando também. Eu vi a família de todo mundo lá, mas eu não tinha família ali, minha família estava do outro lado do continente. Então o que que eu fiz? Eu me auto enviei flores. Eu escrevi uma carta para que as pessoas não pensassem que eu estava sozinho. As flores chegaram no meu camarim e eu fiz a maior alegria fingindo que era de alguém. É lógico que eu me emocionei, mas me emocionei porque eu não tinha com quem compartilhar aquela alegria.”

“No Milton Nascimento ocorreu uma situação engraçada: eu tive caganeira no meio do palco (risos). Teve um momento de discussão entre os personagens e a minha calça era branca. Então eu tinha que ir pro piano para poder cantar e eu fui caminhando bem devagarzinho porque eu sabia que eu estava todo borrado!”

Os musicais têm a capacidade única de unir música, dança e drama. Como você encontra o equilíbrio entre esses elementos para criar uma performance envolvente?

“Bem, eu posso estar falando uma bobagem, mas pra mim quando eu estou no palco tudo isso faz parte de uma única coisa. A paixão em comunicar. A comunicação. Porque eu não posso estar preso à frase, eu preciso estar preso à palavra, ao poder da palavra. Comunicar a palavra. Como cantor também, para dançar a mesma coisa. Então eu acho que é isso. É a arte da comunicação, através do texto, através da música, através da dança.”

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*Crédito da foto de destaque: Adasat Barroso

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