Apresentadas em diversos k-dramas, as Haenyeo são mulheres incríveis que, com seu fôlego sem igual, cultivam uma história cheia de cultura e preservação
Se você já assistiu a algum k-drama ambientado no litoral ou ilhas sul-coreanas, com certeza já deve ter visto as Haenyeos, famosas senhoras que mergulham no mar somente com o ar de seus pulmões, roupa e óculos de mergulho, e que são conhecidas por conseguirem se manter debaixo d’água por muito tempo e sem nenhum equipamento mecânico.
As haenyeo trabalham no mar e em uma área de pesca comum, chamada de fazenda marinha. Em função da origem vulcânica da ilha, Jeju tem pouca terra disponível para a agricultura, e a população usa o mar como lugar de cultivo. As haenyeo ganham a vida com a coleta de abalones, conchas, pepinos-do-mar e hijiki do oceano. Na ilha, elas também são conhecidas como jamsu ou jamnyeo. A vida dessas mulheres é uma parte fundamental da história de Jeju, tendo início lá no ano de 434 d.C. Há, ainda, registros das mergulhadoras em obras como os Anais da Dinastia Joseon, Jiyoungrok, de Lee Il Tae, e Jonjaejeonseo, de We Baek Gue.
Originalmente as pescas, sem nenhum equipamento, eram feitas por homens, mas, com o passar do tempo, a troca de papéis foi ficando cada vez mais comum, também ao fato de que, biologicamente, o corpo feminino contém uma maior gordura subcutânea, e um limite de tremor muito mais alto do que os homens, fazendo com que elas estejam mais aptas e suportarem melhor a imersão em águas com temperaturas mais baixas.
As sereias de Jeju
Jeju é a maior ilha do extremo sul da Coreia, conhecida muito por ser um local onde diversos k-dramas são gravados, e o ponto turístico queridinho dos casais apaixonados. A natureza local é tão exuberante que é considerada um Patrimônio Mundial Natural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o que acaba atraindo muitos turistas à ilha.
Consideradas as lendas vidas de Jeju, as haenyeos são, hoje, um Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade – de acordo com a UNESCO. As mulheres lutam para manter a tradição circular, que vem perdendo o interesse das mulheres da nova geração, devido ao avanço da tecnologia, e contam com a ajuda dos apoios governamentais para que a cultura não se perca com o passar dos anos.
Técnica muljil
O trabalho das haenyeo, no mar, é chamado de muljil. A técnica muljil é desenvolvida com muito tempo de treinamento e experiência. As haenyeo da área próxima ao mar aprenderam a nadar e a mergulhar, no raso, aos 8 anos, tornando-se haenyeo iniciantes aos 15. Essa habilidade, considerada super-humana, é desenvolvida ao trabalhar por longos períodos abaixo da superfície. Elas só podem lidar com isso se forem capazes de controlar o tempo do mergulho, sentir a pressão da água e a quantidade de oxigênio, além de estimar a distância até a superfície.
Há três métodos para realizar o muljil: o gotmuljil (entrar no mar pela costa), o baetmuljil (entrar no mar por barco) e o nabar.
- O termo gotmuljil se refere a nadar da costa até o local do mergulho, na área de pesca, já que ele é próximo ao povoado. As haenyeo jovens ou veteranas entravam no mar de acordo com o próprio nível de habilidade.
- O baetmulji se refere a ir até o mar aberto de barco.
Sumbisori
Sumbisori é o som de assobio que as haenyeo fazem quando chegam à superfície. Com isso, elas inspiram o oxigênio e expiram o dióxido de carbono, formado após ficarem submersas por 1 a 2 minutos. O sumbisori fornece ar fresco às haenyeo e permite que trabalhem por longos períodos com pouco tempo de descanso. Capacidade pulmonar, resistência à pressão e capacidade de se adaptar à água gelada são condições físicas essenciais. Também é preciso tranquilidade ao nadar perto dos peixes grandes que encontram no mar. Para melhorar o domínio da técnica, as haenyeo de Jeju aprendem sobre o oceano e o uso eficiente da força física – com as veteranas – no bulteok (espécie de vestiário rudimentar à beira do mar).
Com que idade elas começam?
Diferente da personagem Young-Ok, do K-drama Our Blues (Netflix), para se tornar uma haenyeo é preciso começar a treinar bem cedo, em torno dos 11 aos 15 anos, idade em que as meninas são autorizadas a realizarem o treinamento nas águas rasas por um curto período de tempo. No total, são cerca de 7 anos para se tornar uma haenyeo. A maioria delas começa aos 15 anos e continua a mergulhar até os 70 ou 80.
O premiado fotógrafo brasileiro Luciano Candisani teve a honra de acompanhá-las, em seu dia a dia, durante a gravação de um documentário para a National Geographic Brasil. No documentário, o fotógrafo diz que “Algumas mergulhadoras têm mais de 90 anos de idade”, e concluiu dizendo: “Ao mergulhar com elas, senti que a força necessária para esse trabalho não vem dos seus corpos frágeis, mas de um conhecimento lapidado por gerações”.
A união das haenyeo
Há um forte espírito de comunidade no mergulho. As haenyeo devem seguir os regulamentos e a legislação, e não é permitido mergulhar sozinhas. O trabalho em grupo ajuda a evitar situações perigosas, e não existe haenyeo que mergulhe por conta própria. A fazenda marinha, o local de trabalho delas, é operada por uma Eochongye, uma cooperativa de haenyeo.
Na Ilha de Jeju, há, aproximadamente, cem dessas organizações – uma para cada povoado costeiro. Elas têm os próprios regulamentos sobre os limites da área de pesca, as qualificações para a coleta de frutos do mar, e os períodos e métodos de coleta, que são seguidos de forma rigorosa; é um compromisso de preservar e conviver com o ecossistema do oceano. Essa comunidade de haenyeo tem um tipo de reunião pública, pois quando enfrentam algum problema, elas se reúnem e tomam decisões por meio de livre debate, até que todas entendam e concordem. As haenyeo são divididas em três níveis, sang-gun, jung-gun e ha-gun – de acordo com a experiência e a habilidade. As haenyeo com sabedoria e virtude excepcionais são chamadas de dae-sanggun, e lideram a comunidade em prol da segurança e da harmonia.
O valor das haenyeo
As haenyeo de Jeju não veem a natureza somente como a fonte do material que coletam. Elas ensinam às próximas gerações como preservar e conviver com o meio ambiente, como verdadeiras defensoras da ecologia. Elas também são especialistas no oceano, com todo o conhecimento acumulado sobre o mar e o mergulho, conforme se ajustam ao ambiente marinho e dominam a geografia dele. Além disso, são modelos de igualdade de gênero por desempenharem um papel independente na sociedade e na economia doméstica ao lado dos homens. Muito girl power!
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*Crédito da foto de destaque: reprodução/Entretetizei