Cecília Meireles foi folclorista, poeta, professora e cheia de perdas, além de dona de nossos corações incansáveis
Cecília Meireles é um nome familiar que surge quando falamos de tempos de escola e recobramos as obras que tivemos que ler. Ela foi autora de poemas e viveu como folclorista e professora.
Hoje o Latinizei abre as portas para uma das mulheres mais incríveis da história brasileira, e abraça com toda força essa genialidade, para te ajudar a entender a importância dela para o Brasil.
Nascimento de uma dama da literatura
Nascida Cecília Benevides de Carvalho Meirelles, ela veio ao mundo na Zona Norte do Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901.
O pai de Cecília Meireles era funcionário do Banco do Brasil e sua mãe era professora da escola primária, ambos descendentes de portugueses, mas o contato familiar foi pouco. Antes de nascer, Cecília perdeu três irmãos mais velhos e o pai, que faleceu 3 meses antes de seu nascimento.
A mãe partiu quando a filha tinha apenas três anos, e toda essa coleção de perdas fizeram com que Cecília Meireles fosse criada pela avó materna que era católica e tinha vindo de Portugal, mais especificamente da Ilha dos Açores.
Na fase adulta, Cecília abriu mão de um L em seu sobrenome, seguindo a indicação de uma vidente, que alegou que isso a ajudaria a seguir uma vida mais tranquila.
Ainda pequena teve contato com o poeta Olavo Bilac, que trabalhava como inspetor escolar na escola onde Cecília Meireles estudava. Recebeu dele uma medalha de honra por ter terminado o ensino primário com distinção e louvor.
Cecília Meireles também aprendeu a tocar violino e a cantar, como as damas do século XIX eram ensinadas, mas sua predileção se voltou para a escrita, que era sua atividade preferida.
Fernando Correia Dias
Cecília Meireles, como a dama que tinha sido criada para ser, se casou cedo, aos 20 anos de idade, com o pintor e desenhista Fernando Correia Dias.
Foi então que Cecília Meireles experimentou a maternidade que um dia tinha sido tirada dela, dando a luz a três filhas (o sangue feminino fervendo e levando a arte para frente).
As três filhas receberam o nome de Maria, mas com composições distintas. Maria Elvira nasceu em 1923, apenas um ano depois do casamento dos pais. Em seguida nasceram Maria Matilde, em 1924, e Maria Fernanda, em 1928.
As três herdeiras do sobrenome Meireles estão vivas, e desfrutam hoje do auge de seus noventa e poucos anos de idade. A caçula, Maria Fernanda, foi um destaque das novelas da Globo na década de 70.
Apesar do relacionamento sem grandes polêmicas, Fernando Correia Dias se matou durante uma crise profunda de depressão, deixando Cecília Meireles lidar com mais uma perda trágica.
Cinco anos depois, ela tenta de novo no amor, e se casa com Heitor Grilo, engenheiro agrônomo e professor. Foi Grilo o responsável por trazer paz ao coração de Cecília Meireles que já sofria com as inúmeras perdas familiares.
Profissional incansável
Aos 18 anos de idade, Cecília Meireles publicou sua primeira obra, o livro Espectros.
Apesar de ter pegado a época do movimento modernista, não se rendeu ao estilo padrão de arte da sua época e seguiu escrevendo livros líricos, além dos didáticos.
Criança, Meu Amor, seu primeiro livro didático, foi aceito muito bem e logo foi inserido na aprendizagem da rede pública de ensino, tanto no Rio de Janeiro quanto no Nordeste do país.
Os critérios de exigência de defesa do ensino que Cecília Meireles tinha era que o ensino público deveria ser laico e com alta qualidade, para que preparasse os alunos para a vida que teriam pela frente.
Cecília Meireles foi autora de prosas, poemas, contos, crônicas e histórias infantis, e foi responsável por organizar a primeira Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro, em 1934. Além disso, trabalhou como tradutora e redatora de alguns artigos, os quais publicou em alguns jornais menores.
Também foi a primeira mulher a ser premiada pela Academia Brasileira de Letras.
Fora isso, Cecília Meireles era uma apaixonada por história, e passava horas pesquisando e lendo, sempre enriquecendo seu currículo intelectual.
Romanceira do Brasil
Como educadora e pesquisadora de história, Cecília Meireles era apaixonada pela história do Brasil, e em 1953 publicou o seu livro mais popular, Romanceiro da Inconfidência.
A obra é sobre o movimento mineiro que aconteceu no século XVIII.
Com essa obra, Cecília Meireles ganhou ainda mais o coração do público, e teve o livro considerado uma das mais importantes obras da literatura brasileira.
Cecília Meireles era uma ativista pela educação brasileira, e corria o mundo com suas conferências sobre folclore, educação e literatura, além de participar e ser responsável de algumas reformas dos sistemas educacionais brasileiros.
Poetisa incansável, Cecília Meireles era fascinada por etimologia (o estudo da origem das palavras), e com isso resgatava as mais diversas palavras e nomes arcaicos de objetos comuns. Tal como conhecia alguns idiomas e os admirava e usava em suas traduções.
Foi Cecília Meireles a responsável por traduzir a obra do poeta Tagore. Além de Tagore, ela traduziu Charles Dickens, Aleksandr Pushkin, Rainer Maria Rilke e Virginia Woolf.
1964
Foi em novembro de 1964 que Cecília Meireles faleceu.
Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, assim como Manuel Bandeira, eram admiradores fervorosos de Cecília Meireles e sua obra, mas não eram os únicos.
Cecília Meireles foi um fenômeno inominável, ganhadora de diversos prêmios em vida, e homenagens em morte. Por ser múltipla, ganha os corações de milhares de pessoas ainda hoje, e valida a capacidade feminina em ser multifacetada e indispensável para a criação de uma sociedade melhor.
A gente sabe que você leu Cecília Meireles na época escolar (ou que talvez ainda vai ler), então quisemos te ajudar a compor o cenário visual da obra e da vida dessa mulher irresistível. Agora te esperamos lá nas redes sociais – Twitter, Insta e Face – para conversar mais um pouco sobre essa figura tão múltipla.
*Crédito da foto de destaque: divulgação