Mulheres de Conforto

Mulheres de Conforto: conheça a história das mulheres citadas no K-drama Tomorrow

Episódio 13 do k-drama da Netflix aborda a história das Mulheres de Conforto, considerada um tabu por alguns, e motivo de luta e busca por justiça para muitos 

 

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Se você, assim como eu, é fã de doramas, com certeza já conferiu um dos maiores lançamentos da Netflix do último ano, Tomorrow. O drama conta a história de ceifadores que tem como objetivo evitar que as pessoas cometam suicídio, e em cada episódio nos deparamos com histórias diferentes de pessoas que estão pensando em desistir de suas vidas.

Intitulado Primavera, o 13º episódio do dorama aborda a história das Mulheres de Conforto que, apesar de ser uma história antiga, ainda é pouco conhecida fora do continente asiático. Em homenagem ao Dia da Mulher, o Entretê preparou um especial em lembrança das mulheres que sofreram, e as que ainda lutam por justiça. Confira:

A história 

Mulheres de Confortou (ou Mulheres de Alívio), foi o nome erroneamente dado às mulheres escravizadas sexualmente pelo exército Japonês durante a Segunda Guerra Militar. Para quem não sabe, no período da Primeira e Segunda Guerra, o Japão ocupou, de forma violenta e mortal, a Coreia, o que começou em 1876 após a assinatura do Tratado de Ganghwa, que integrou a política japonesa ao Império Coreano. 

Com a ocupação, diversos coreanos foram jogados em campos de trabalho forçado, sendo obrigados a viverem de forma precária e praticamente sem comida. E assim foi durante trinta anos quando, no meio da Segunda Guerra, o Exército Japonês, vendo a vulnerabilidades das famílias asiáticas, decidiu anunciar vagas de emprego para mulheres a partir dos 10 anos de idade, onde muitas foram atrás em busca de uma renda para ajudar a família que, por muitas vezes, já não tinha mais um homem ‘cuidando da casa’. 

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/bbc

Infelizmente, as vagas de emprego eram, na verdade, um meio de atrair mulheres e crianças para a armadilha da estação de conforto, onde seriam vítimas da escravização sexual. Além das promessas de trabalho, diversas mulheres eram sequestradas diariamente nas ruas.

Estima-se que 50 a 200 mil mulheres tenham sido obrigadas à prostituição pelo governo japonês, sendo elas da Coreia, China, Taiwan, Filipinas e até mesmo do próprio Japão. Segundo os 23 documentos reunidos pela Secretaria do Gabinete do Japão entre abril de 2017 e março de 2019, o Exército Japonês solicitava, naquela época, uma escrava sexual para cada 70 soldados.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/History

A ideia terrível do tráfico sexual forçado de mulheres surgiu para impedir a propagação de doenças sexuais entre os soldados japoneses durante o período de confronto, além da intenção de estimular os soldados a continuarem na guerra. Por conta disso, mulheres – adultas e crianças-  foram estupradas, torturadas, brutalmente assassinadas e algumas nunca voltaram para as suas famílias.

Kim Hak-sun (김학순), a primeira Mulher de Conforto 

Em 1991, Kim Hak-sun, foi a primeira Mulher de Conforto a quebrar o silêncio sobre os crimes e exploração feminina feitos pelo exército imperial japonês. 

Ao quebrar o silêncio, a vítima incentivou diversas sobreviventes a contarem suas experiências como escravas sexuais. Sua coragem foi fundamental para trazer o assunto à tona, a ponto de virar uma discussão pública a respeito dos crimes de guerra, do feminicídio e dos direitos das mulheres.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/medium

Kim Hak-sun morreu em 2017, aos 73 anos. E lutou por justiça até seus últimos dias.

As Mulheres

Com o assunto vindo à tona, diversas mulheres tiveram coragem de irem à justiça contar o seu lado da história sendo uma Mulher de Conforto. Muitas das sobreviventes nunca tiveram coragem de contar para a família sobre o que tinham passado, outras não voltaram para a casa depois do fim da Segunda Guerra. Ainda não se sabe onde estão todas essas mulheres que foram escravizadas, e nem mesmo quantas ainda estão vivas.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/bbc

Lee Ok-seon, é uma das pessoas que, após o final da Segunda Guerra, não voltou para casa. Mas, em 2000, voltou para a Coreia do Sul pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial, e contou toda a sua história. Lee, foi raptada em uma das ruas de Busan, quando tinha 14 anos, e foi levada para um dos bordéis, onde foi violada todos os dias durante três anos, até o fim da guerra.

Em uma entrevista dada ao Made for Minds, ela explicou que muitas jovens com quem viveu cometeram suicídio: “umas afogavam-se, outras enforcavam-se. Eu mesma pensei nisso muitas vezes, mas uma coisa é pensar em morrer…outra é realmente me matar”. Ok-Seon, nunca voltou pra casa, por vergonha: “Tinha escrito na minha testa que eu era uma dessas mulheres, como é que eu seria capaz de olhar a minha mãe nos olhos?”. Muito disso se deve à cultura extremamente conservadora da época.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/O Globo

Na sua volta para a Coreia no início dos anos 2000, Lee encontrou o seu irmão mais novo, que ainda era vivo, e contou toda a história de terror que viveu durante os três anos em cativeiro e, infelizmente, seu medo se concretizou : “ele tinha vergonha de ser irmão de uma ex-mulher de conforto”.  

Busca pela justiça

A existência de mulheres de conforto foi considerada um crime de guerra, e é ainda um dos maiores constrangimentos nas relações diplomáticas entre o Japão e a Coreia. Em 1993, o governo japonês admitiu, pela primeira vez, a existência desse crime, mas nunca houve uma admissão de culpa. Recentemente, algumas dessas mulheres receberam algum tipo de apoio financeiro.

Mas, antes das coisas serem minimamente resolvidas, houve muito burburinho e declarações extremamente infelizes. Em 2007, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe disse não haver “provas de que estas mulheres tenham sido forçadas” a trabalhar nos bordéis. Em 2013, o governador de Osaka, Toru Hashimoto, explicou numa conferência de imprensa que “estas casas eram necessárias para manter a disciplina dos soldados”.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/bbc

Para Lee, sobrevivente desse crime terrível, essas declarações são absurdas: “Não consigo entender como é que alguém consegue dizer algo deste gênero. Quem se recusa a acreditar no que os japoneses fizeram, simplesmente, não é um ser humano”.

O pedido de desculpas formal do Japão chegou só em 2015, após um acordo bilateral entre os dois países, o que não agradou muito a população sul-coreana, que achou pouco a indenização, cerca de 1 bilhão de reais, para dividir entre as mais de 200 mil vítimas. Além disso, duas estátuas em homenagem às vítimas foram encomendadas.

Mulheres de Conforto
Foto: reprodução/NME

Ainda hoje, as milhares de  vítimas e seus descendentes se juntam na frente da embaixada japonesa na Coreia do Sul, em forma de protesto, mesmo 70 anos depois do ocorrido.

E, mesmo com imagens, relatos e depoimentos, o Japão continua se esforçando em negar a história, dificultando o acesso à documentos da época. Mas nós jamais esqueceremos. 

Obras para você conhecer mais sobre as Mulheres de Conforto:

  • Shusenjo: The Main Battleground of the Comfort Women Issue – documentário;
  • My name is Kim Bok-dong – documentário;
  • Meninas de Joseon: sobre as “mulheres de conforto” da península coreana – livro;
  • I Can Speak – filme
  • Tomorrow, ep 13 – K-drama 

 

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*Créditos da foto de destaque: reprodução/Entretetizei 

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