A temporada de premiações já está acontecendo. Os olhos estão voltados para Hollywood e seus artistas. Os canais de entretenimento também ficam mais atentos ao que acontece, principalmente quando o assunto é o Oscar, maior premiação do cinema e, no meio do assunto, vem outro tema: a presença feminina entre os indicados.
(Adoráveis Mulheres foi o único filme dirigido por uma mulher indicado na categoria de Melhor Filme | IMDb)
O tema precisa ser abordado, porque todo mundo sabe que, o que eles menos querem, é que falem sobre isso. Eles sabem que estão errados. Sabem que as mulheres merecem muito mais destaque nas premiações e a dúvida que permanece é: por quê? Por que excluem tantos talentos assim? Será que um dia isso vai mudar?
Para vocês terem uma noção, são 92 anos de Oscar. Não temos dúvida que realmente é uma cerimônia aclamadíssima, mas, já se passaram 92 anos e até hoje, apenas CINCO mulheres foram indicadas ao prêmio de Melhor Direção. Não é absurdo ler um dado como esse? Em tempos em que filmes dirigidos por mulheres têm aumentado em Hollywood, com bom desempenho de críticas e de público, e apesar das premiações, em GERAL, tentarem melhorar essa discriminação, o cenário permanece praticamente o mesmo. Não é possível que tenhamos que aceitar um descaso como esse de uma sociedade MACHISTA – a gente aceita não aceitando. Por isso escrevemos e falamos.
As justificativas não são suficientes. Ao comentar sobre os prêmios recentes, Greta Gerwig (Ladybird e Little Women), diz que ‘’existe um impulso de contratar mais mulheres e colocar seus filmes no centro da conversa. Mas eu também diria que, para os estudos, é como comer verdura”, ou seja, é muito mais uma desculpa para dizer que estão tentando mudar o cenário que outra coisa. Há também a falta de investimentos, já que para produzir qualquer tipo de filme, doc ou curta, é preciso ter dinheiro, nos menores detalhes. No fim, o que importa é gerar dinheiro e Greta também comenta sobre isso: “Hollywood não se importa de onde vem o dinheiro, desde que venha. Eles perceberam que os filmes dirigidos por mulheres como ‘Mulher Maravilha’ ou ‘As Golpistas’ funcionam financeiramente” – entrevista para o jornal El País.
(Greta se tornou um símbolo da mulher nas premiações | Deadline)
Na história do cinema, são inúmeras mulheres diretoras que tiveram sucesso suficiente para levarem um Oscar para casa, mas, muitas vezes, nem sequer foram indicadas. Das que foram, apenas Kathryn Bigelow se tornou a única mulher a ganhar o Oscar de direção até hoje.
Para ser mais específica, ao pesquisar pra escrever esse texto, achei um dado bem interessante no site Mulher no Cinema, em que elas comentam todas as diretoras que já receberam um Oscar: Lina Wertmüller, por Pasqualino Sete Belezas (1975); Jane Campion, por O Piano (1993); Sofia Coppola, por Encontros e Desencontros (2003); Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror (2008) – a primeira e única vencedora; e Greta Gerwig, por Lady Bird (2018). É uma lista muito curta pra tanto tempo de premiação e por tantos anos de luta contra o machismo.
Outro ponto negativo nessa história, foi a baixíssima participação da mulher negra nos indicados desse ano: apenas Cynthia Erivo foi indicada dentre as quatro categorias de atuação. Ela concorre como Melhor Atriz, por seu trabalho em Harriet.
(Cynthia Erivo em Harriet | IMDb)
Em relação aos indicados ao Oscar de 2020, o que podemos “salvar”, é a indicação ao Oscar de Melhor FILME para ‘Adoráveis Mulheres’, de Greta Gerwig, que, por sinal, é o ÚNICO longa dirigido por uma mulher entre os indicados de MELHOR FILME, o único protagonizado por mulheres e o único que tem apenas mulheres na produção e no roteiro. Quer mais Girl Power? – Ainda bem que tem mais.
Petra Costa, diretora brasileira, foi muito bem presenteada com a indicação de Melhor Documentário por seu trabalho em Democracia em Vertigem, que conta a história do impeachment de Dilma Rouseff. Essa indicação é um orgulho nacional e nós esperamos que a academia internacional possa, cada vez mais, voltar seus olhos para as produções brasileiras, tão ricas em roteiro, direção e produção. Ah, um dos concorrentes de Petra também vem de uma mulher: Honeyland, representando a Macedônia do Norte, foi dirigido por Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, sendo também o único longa com direção feminina na categoria de Filme em Língua Estrangeira. Esse sim é um parágrafo que nos dá muito orgulho.
(Petra Costa durante as filmagens de seu documentário | Twitter @petracostal)
Apesar de todos esses dados, as mulheres tiveram uma presença marcante nas indicações de documentários em 2020. Isso já é um avanço. As indicações para mulheres também aumentaram. Segundo o site Mulher no Cinema, são 66 indicações contra 63, contando repetições para uma mesma artista. O que isso nos mostra? Que apesar das indicações não serem justas como deveriam ser, o quadro geral caminha para um resultado mais positivo, a passos lentos.
Hollywood (e a sociedade) gostam de histórias em que o homem sofre com as mudanças em seu meio. As frustações, erros e decepções masculinas são “importantes”. Um exemplo, é o exagero em filmes que falam sobre guerra. E não é que a maioria é indicado? Para a sociedade, é necessário manter o homem como o líder e, apesar de o ano de 2019 ter sido SIM um ano favorável às produções assinadas por mulheres, mudar esse cenário de líder masculino para feminino, ainda não “rola”.
E como será em 2020? Será que a composição da academia será menos desigual? Será que as talentosas diretoras espalhadas por todo o mundo terão seus trabalhos reconhecidos? É decepcionante ter apenas uma ou duas nos representando, enquanto os homens lideram categorias inteiras.
Creio que tudo isso serve para mostrar que: a batalha SEMPRE será dura para nós mulheres, mas nós não podemos JAMAIS desistir dela, porque, o que será das próximas gerações de mulheres, em que surgirão outras diretoras, roteiristas, figurinistas e tantas outras profissões que MERECEM ser reconhecidas? E não se trata apenas de profissões ligadas ao cinema. TODAS as mulheres merecem ser reconhecidas e TODAS nós sabemos que cada dia de nossas vidas é uma luta diferente. Se a gente não abrir a boca para comentar, se não lutarmos contra toda uma sociedade machista e egoísta, o que sobrará para os próximos anos?
(Cena de Adoráveis Mulheres | IMDb)
Essa matéria foi escrita com base nos dados dos sites Mulher no Cinema, Nexo e El País, os quais temos o prazer de citar como importantes fontes.
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