Resenha | A Última Noite: um terror natalino que causa pesadelos conscienciosos

A Última Noite é um terror que nos causa culpa social e que se passa no natal

ALERTA DE GATILHO: SUICIDIO EM MASSA

O filme A Última Noite será lançado no dia 23 de dezembro, mas o Entretê já assistiu e adianta: o roteiro não veio para brincar.

Recomendamos novamente: o alerta de gatilho dessa vez não é só isso. A Última Noite é um filme realmente pesado e precisa de um psicológico saudável para ser assistido.

Com um clima inicialmente bem natalino, a história começa mostrando a casa da de uma família inglesa, composta por Nell (Keira Knightley), Simon (Matthew Goode) e seus três filhos, Art (Roman Griffin Davis) e os gêmeos Hardy (Hardy Griffin Davis) e Thomas (Gilby Griffin Davis). Eles estão reunidos na casa de campo da família de Nell e estão prestes a receber seus amigos de escola: o casal Sandra (Annabelle Wallis), seu marido Tony (Rufus Jones) e sua filha Kitty (Davida McKenzie); o casal formado por Bella (Lucy Punch) e Alex (Kirby Howell-Baptiste); e o casal James (Sope Dirisu) e sua parceira Sophie (Lily-Rose Depp).

Quando todos chegam, carregados de presentes e com muita alegria, a festa de natal começa em um clima de nostalgia e segredos escondidos entre todos eles.

Com o decorrer do filme, vamos entendendo que aquela não é apenas uma festa de natal, mas sim a última festa de natal de todos eles. A Inglaterra parece ser um dos últimos países que está enfrentando uma nuvem química causada pelas mudanças climáticas e lixos excessivos.

Roteiro e gatilhos

Foto: divulgação

Com um peso forte demais e o debate sempre presente de: “o que vamos fazer agora?”, o roteiro oferece duas escolhas aos seus personagens. Ou eles se suicidam com uma pílula oferecida pelo governo, ou aguentam a intoxicação causada pela nuvem e enfrentam convulsões dolorosas, derrames sangrentos e aflição para os familiares.

Todos na casa de Nell escolheram seguir as recomendações do governo e fizeram um pacto para se suicidarem juntos, então eles celebram o natal com muita festa e verdades sendo reveladas e cobradas,  para então tomarem as suas pílulas.

No decorrer da trama, descobrimos que nem todos eles estão dispostos a ingerir a pílula, especialmente Sophie e o jovem Art, que vem acumulando estresse com relação a situação atual do planeta.

A Última Noite critica com muita força a passividade humana sobre as mudanças climáticas, toca no nome de Greta Thunberg e desafia o público a pensar nas consequências finais: se fôssemos nós, tomaríamos a pílula ou escolheríamos a morte trágica que a nuvem tóxica promete?

Questões políticas e familiares

Foto: divulgação

Entre todas as coisas que A Última Noite questiona, as relações familiares são as mais óbvias e complexas, mas precisamos falar sobre o humor ácido que o filme usa para debater política.

Em determinado momento, a localização da Rainha é questionada, e em uma resposta rude, alguém na mesa a acusa de estar em um bunker, bem protegida e com estoques infinitos de comida de cachorro, então Nell questiona no calor do momento: “imagine comer comida de cachorro? Deve ser ruim”. Na mesma hora alguém a corrige e diz que isso deve ser para os cachorros da Rainha, então ela ri e o clima muda novamente.

O filme veio em boa hora para questionar as posições políticas e a relação do povo com esses sistemas, especialmente porque Art vive questionando o pai sobre as pessoas em condição de rua ou imigrantes ilegais, indignado por essas pessoas não terem recebido as pílulas, e ainda mais abismado quando seu pai alega que o governo diz que essas pessoas não existem de verdade. Mas nós estamos assim tão longe da realidade do filme? Será mesmo que não nos calamos para as mesmas coisas que Art estava tão empenhado em criticar?

A pandemia e suas vítimas podem confirmar que sim, estamos todos como os personagens de A Última Noite, e nossos governos são como a Rainha: seguros e cheios de comida de cachorro.

Voltando um pouco, vemos relações familiares sendo jogadas contra as relações políticas. Sandra e Tony disseram para a filha que são os Russos tentando invadir a Inglaterra, e também são eles os exibicionistas de seu dinheiro. Nell e Simon são mais realistas e diretos com seus filhos e, por consequência, são os mais racionais sobre a situação mundial e a posição do governo. Tudo isso cria um clima ainda mais questionador sobre até onde vamos em nossas próprias famílias também.

Clima natalino

Foto: divulgação

As nossas considerações finais ficam por conta do clima natalino.

Apesar de o filme acontecer nessa época do ano e a festa de natal ser realmente algo divertido para todos que se reuniram na casa de Nell e Simon, a verdade é que a mão do roteiro foi pesada demais.

A Última Noite promete ser um filme de comédia ácida, mas suicídio em massa não tem a mínima graça e, por mais drástico que seja esse humor, é um tanto quanto cruel usarem as festividades natalinas como o tema de algo tão terrível quanto a morte de toda a população mundial. Lançar o filme nas vésperas da comemoração real só nos dá ainda mais aflição.

Obviamente que isso não quer dizer que o filme seja ruim, porque ele não é. A Última Noite lava muita roupa suja, faz chamados importantes sobre a sociedade, questiona relações de todos os tipos e deixa claro que nem todas as confraternizações são verdadeiras, a menos que o fim de algo esteja próximo. Também debate sobre ideais e realizações, esperanças e medos, e explora todos os tipos de casais e suas realidades, tal como a maternidade em todas as suas formas e escolhas.

De certa forma, o roteiro até nos lembra que talvez esse seja mesmo o espírito natalino: união, independente da situação. Estar com quem se ama parece ser um chamado perfeito para lembrarmos de quem somos e de como devemos seguir dentro de nossos círculos sociais, especialmente nesta época do ano.

Mas vamos deixar bem claro: A Última Noite não te deseja um feliz natal.

Nossa opinião sobre o filme pode até parecer um pouco ácida, mas estamos dispostas a saber se você quer assistir ele mesmo assim… Vem contar pra gente nas nossas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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