Tendo como tema central relacionamentos tóxicos e abusivos, a HQ possui uma linguagem simples, ilustrações incríveis e lições importantes
AVISO DE GATILHO: RELACIONAMENTO ABUSIVO
[Contém spoiler]
Laura Dean Vive Terminando Comigo é uma história em quadrinhos – ou como alguns preferem chamar, uma graphic novel – da autora de quadrinhos canadense Mariko Tamaki e da ilustradora e quadrinista estadunidense, Rosemary Valero-O’Connell, publicada no Brasil pela editora Intrínseca. A HQ conta a história de Freddy Riley, uma adolescente que está perdidamente apaixonada por Laura Dean, uma garota linda e popular, que vive terminando com ela.
A história
Quando as duas começaram a namorar, Freddy se sentiu única e especial, mas, com o passar do tempo, Laura Dean começou a ignorá-la, desaparecer por dias sem dar notícias, traí-la, esnobar suas amizades… E por aí vai. Assim, Laura iniciou um ciclo, ou uma ciranda (uma metáfora incrível que a história traz, pela forma como as duas se conheceram), de términos sem qualquer explicação. Mas sempre que Freddy começa a enfrentar o luto pelo fim do relacionamento, Laura reaparece e as duas acabam juntas novamente.
Os amigos de Freddy também eram constantemente afetados por essa sequência de idas e vindas do relacionamento das duas. Toda vez que elas voltavam, Freddy acabava por deixar os amigos de lado, perdendo coisas importantes da vida deles e colocando Laura sempre em primeiro lugar. Afinal, nessa ciranda, só tinha espaço para duas e a escolhida sempre acabava sendo Laura Dean.
A ciranda do relacionamento abusivo
Quem já viveu um relacionamento abusivo sabe como é e vai se identificar muito com as situações enfrentadas por Freddy. No começo tudo parece tão incrível, você se sente especial, se sente amada. Com o passar do tempo, você acaba ficando em segundo plano, não apenas na vida da outra pessoa, mas na sua também. Tudo acontece muito rápido e, em muitas situações, quem está dentro da ciranda não consegue perceber o que está acontecendo. Acredita que é normal, que é assim que as coisas devem ser, que você deve aceitar e perdoar o que a sua parceira ou parceiro faz, mesmo que aquilo seja extremamente doloroso para você, porque, afinal, vocês se amam e você não consegue se imaginar vivendo sem aquela pessoa.
Porém, a verdade – que a HQ mostra incrivelmente bem – é que você não precisa da outra pessoa para sobreviver. Por mais doloroso que seja, é necessário interromper o ciclo, ser você a tomar as rédeas da situação. Na história, Freddy recebeu esse conselho de uma vidente que visitou com sua amiga Doodle, mas assim como na vida real, o processo de interromper essa dança, de colocar um fim nessa sequência, foi difícil e angustiante, cheio de altos e baixos, com recaídas e sentimentos controversos.
Impressões
A narrativa, feita em primeira pessoa, é cativante e a leitura é incrivelmente fluida. É Freddy quem apresenta a sua história, enquanto escreve um e-mail/carta para a escritora e conselheira amorosa, Anna Vice. Além disso, as ilustrações são lindíssimas e a linguagem é de fácil compreensão, o que envolve os leitores e possibilita que a história seja lida em pouco tempo. Mesmo se tratando de um tema tão sério, a narração é divertida e uma verdadeira lição sobre a dificuldade de se reconhecer como parte de um relacionamento tóxico, sobre a importância da amizade e sobre aceitação.
Uma das coisas que eu mais amei na história, é o fato de o relacionamento principal ser um relacionamento LGBTQIA+, mas esse não ser o foco da narrativa. A história trata com naturalidade o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, tanto para quem lê, quanto com relação à visão dos demais personagens, como os próprios pais de Freddy, sobre o namoro das duas. O ponto central é a relação abusiva e suas consequências para quem a enfrenta, independente de ser um relacionamento heterossexual ou não.
Para mim, a HQ peca em apenas um quesito: o desenvolvimento dos personagens secundários, como a família e os amigos de Freddy. Mas que não é nada que comprometa a narrativa em si. Mesmo assim, são aspectos que, talvez em uma continuação, possam ser melhor explorados pelas autoras.
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/Intrínseca