Love in the Time of Corona nos cobra sobre responsabilidade afetiva em momentos de crise e fala sobre envelhecer e amar
Love in the Time of Corona está disponível no Star+, é uma minissérie com quatro episódios de meia hora e é irresistível e apaixonante. Falando sobre crises fortes e com o cenário focado na pandemia atual, causada pelo alto grau de contaminação do vírus da Covid-19.
Entre o discurso da pandemia e do medo da contaminação, a série debate sobre quatro contextos familiares que se misturam e se encontram, e em todas essas pequenas relações familiares complexas vemos os impactos de todos os tipos de amores e de como o primeiro amor pode ser devastador e de como o último amor pode ser desafiador.
Com um roteiro cheio de originalidade e com clichês dignos de suspiros, Love in the Time of Corona nos conquista desde o primeiro momento.
Geracional
A minissérie aborda alguns tipos de amores, como o fraternal e o parental, mas o destaque é para as relações românticas e a forma com que gerações diferentes lidam com esse tipo de amor.
Com Sophie (Ava Emanuelle Bellows), que é a personagem mais jovem a aparecer em cena, um dos primeiros amores ainda está em curso e lidar com a quebra desse sentimento a deixa frustrada. Com jovens adultos, como Oscar (Tommy Dorfman) e Elle (Rainey Qualley), o amor é complexo demais e existem mil coisas além dele, como a irmandade e a paixão platônica, além do discurso familiar um tanto homofóbico da família do Oscar, e tudo isso enquanto eles tentam encontrar seus amores ideais.
Adultos mas ainda jovens na vida de casados, Sade (Nicolette Robinson) e James (Leslie Odom Jr.) convivem com o problema de uma comunicação complicada pelo distanciamento do trabalho e o momento de criar os filhos. Já com Paul (Gil Bellows) e Sarah (Rya Kihlstedt) o problema é lidar com o divórcio dentro de uma relação familiar saudável até demais.
Fechando o ciclo geracional temos Nanda (L. Scott Caldwell), que está em um casamento de 50 anos, e está vendo seu marido perder a memória enquanto tenta se recuperar de uma pneumonia. Para lidar com a solidão que a internação dele causa, Nanda se ocupa com a casa e com o filho que ainda não conseguiu se estabelecer na vida.
Vemos o foco de diversos tipos de relações amorosas sendo debatidos em pontos geracionais, e com isso aprendemos sobre nós e sobre a vida ao nosso redor, além de refletirmos sobre o peso das relações afetivas depois do início da pandemia.
2020
A escolha do elenco foi feita de forma cuidadosa e algumas das famílias são reais, como o casal Paul e Sarah e o casal Sade e James, que são casados de verdade fora da tela.
O impacto de ter relações reais sendo expostas ali (porque é inevitável ver cumplicidade e amor nos olhares trocados por eles) é ainda maior levando em conta o cenário da série.
2020 foi o ano do início da pandemia e consequentemente pesou várias relações, estourando com amores problemáticos e também exibindo a base sólida de outras relações. Esse também foi o ano de separar fisicamente famílias inteiras, enquanto unia outros contextos completamente diferentes.
E como amar em 2020? E como descobrir o amor na pandemia? Ou: como não deixar que o amor morra nessa época? O roteiro apresenta a resposta para essas perguntas e para muitas outras.
A discussão sobre a gravidade do vírus foi esquecida um pouco em cena, e coisas mais sutis foram o foco da narrativa, o que por si só já é extremamente inovador, levando em conta o peso e o impacto que a cultura sofreu com o corte abrupto por causa dos altos níveis de contaminação. Quem lembra do tanto de conteúdo sobre o vírus que surgiu logo no começo da quarentena?
Love in the Time of Corona é uma série que aquece corações e que foge da tristeza que foi viver os primeiros meses de pandemia sem saber como agir e o que fazer, e prova que podemos usar esse tempo trancados para falar sobre amor.
Outras narrativas
Apesar de ser focada em amores e relações complexas em um cenário tão cruel, Love in the Time of Corona aborda muito além da narrativa do romance e do amor.
Por acontecer no ano de 2020, a discussão sexual é bem abordada, e usa o personagem Oscar para fazer uma revelação importante sobre a comunidade LGBTQIA+, informando que crescer em uma família masculina pode ser um problema ainda maior do que ter receio de ser quem se é. Quando ele conta para o seu novo amor, via chamada de vídeo, sobre a sua infância, sentimos todo o peso emocional de ele não poder ser honesto dentro da sua própria família e, toda aquela evolução que achamos que já conquistamos, some diante de nossos olhos.
Em contraponto, seu par romântico assume que seus pais são legais e que sua família o acolhe bem, e isso gera um quente no coração, alimentando a esperança de que talvez a família do novo amor de Oscar possa ser a realidade da maioria em breve.
Os acontecimentos que geraram os protestos do Black Lives Matter no ano passado também não foram esquecidos… Apesar de não tocarem no nome de George Floyd, os personagens lidam com um vídeo de um rapaz perdendo a vida por culpa do racismo.
A delicadeza com que o tema foi abordado foi incrível, foi bonita e também discutiu bem a questão de diferentes bolhas sociais sendo afetadas por esse racismo assassino. Enquanto os personagens brancos não tocam no assunto, porque aquilo não os afeta diretamente, os pretos se revoltam e debatem sobre problemas cotidianos em suas narrativas pessoais, como o fato de colocar uma criança nesse mundo tão perigoso, por exemplo.
Love in the Time of Corona é uma minissérie sobre resistir!
Agora que você já tem a dica do que assistir no Star+ em uma única noite, conta pra gente se você gosta da proposta de uma minissérie romântica em tempos de pandemia. Estamos te esperando lá nas redes sociais: Twitter, Insta e Face.
*Crédito da foto de destaque: divulgação