A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais revelam, respectivamente, as versões de Daniel Cravinhos e Suzane von Richthofen sobre o assassinato da família Richthofen
Era 2002 quando o Brasil inteiro se chocava com o Caso Richthofen. Marísia e Manfred von Richthofen, um casal de classe média alta paulistana, foram mortos enquanto dormiam. O casal de namorados Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos surpreendentemente se declararam culpados pelo brutal assassinato dos pais de Suzane, mas apresentando versões distintas à polícia e à justiça.
Essas duas versões originaram os dois longas que, após dois anos da data de lançamento prevista, foram lançados ontem (24) no Amazon Prime Video.
O diferencial aqui, é trazer dois longas sobre uma mesma narrativa, com a intenção de fazer o público tirar suas próprias conclusões, como nunca antes no gênero. O roteiro foi feito a partir dos depoimentos de Suzane e Daniel prestados à polícia na época.
Autora de Casos de Família: Arquivos Richthofen (2016), a criminóloga Ilana Casoy, acompanhou pessoalmente o caso e foi responsável pela criação dos roteiros, ao lado de Raphael Montes. O principal objetivo do roteiro era deixar uma linha do tempo clara ao público, além de elucidar todos os fatos fundamentais para a resolução do caso.
Porém, diferente do que muitos esperavam, estes dois filmes não falam apenas sobre o crime. Divididos em três atos, trazem os assassinatos de Marísia (Vera Zimmermann) e Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros) apenas no último. E mesmo assim, ficam de fora a investigação, o julgamento em si e todo o processo que levou à prisão dos réus. O que importa aqui, é o que antecedeu todos esses acontecimentos, e a forma como o relacionamento de Suzane e Daniel evoluiu para uma cumplicidade fatal.
O Menino que Matou Meus Pais
Em O Menino que Matou Meus Pais, vemos a versão detalhada contada por Suzane von Richthofen (Carla Diaz). O filme intercala cenas da vida dos personagens com as imagens do depoimento cedido por eles durante toda a narrativa. Aqui, ela se mostra uma garota dedicada, estudiosa e extremamente próxima da família. A medida que o relacionamento com Daniel (Leonardo Bittencourt) avança, ela pouco a pouco cede aos caprichos do namorado, em diversos aspectos. Daniel se mostra um cara extrovertido, capcioso, sempre muito interessado nos bens da família von Richthofen, além de discordar das condições impostas aos dois pelos pais de Suzane, que reprovaram o namoro desde o início.
A família de Daniel tornou-se o maior refúgio para o casal, que escondidos, viajavam e passavam muito tempo juntos. O Menino que Matou Meus Pais mostra um relacionamento com muita dependência emocional, de ambas as partes.
A Menina que Matou os Pais
No entanto, A Menina que Matou os Pais mostra uma perspectiva completamente diferente. Novamente, o filme intercala cenas da vida dos personagens com as cenas do depoimento prestado à justiça, anos depois. Sob o ponto de vista de Daniel, Suzane era explosiva e muito manipuladora. Sempre odiou a forma como era controlada pelos pais.
Essa versão dos acontecimentos é mais parecida com a que foi amplamente divulgada pela mídia e pela polícia. Portanto, pode soar mais familiar ou verdadeira para quem está assistindo. Mas nestes filmes, é importante manter-se aberto para ouvir e analisar as duas narrativas. Afinal, a direção de Maurício Eça não impõe juízo de valor ou pontos que guiam o telespectador para um culpado, sendo assim, os protagonistas possuem a mesma estética e o mesmo tratamento em suas respectivas versões.
A construção dos filmes
Cada detalhe dos longas é um presente aos perfeccionistas. Um elemento de cena, um olhar, um gesto. Tudo é repleto de significado. Nada foi posto por acaso, muito pelo contrário. A reconstrução das cenas é impecável, com detalhes minuciosos que só um grande fã de true crime sabe reconhecer. As armas utilizadas no crime, a posição na qual os corpos foram encontrados. O jogo do Corinthians, assistido pelo porteiro, que ajudou a polícia a determinar a hora exata dos acontecimentos. Tudo está presente, de forma minuciosa.
Ambos possuem elementos em comum, chamados de “Cenas Pilar”, cujos acontecimentos eram contados por Suzane e Daniel de forma parecida nos depoimentos cedidos à polícia. Essas cenas servem para que o público se localize na narrativa e são fundamentais para que as obras se complementem.
Enquanto isso, as cenas chamadas “Espelho”, são eventos que coincidem, porém contados de formas opostas ou muito conflitantes. É através delas que as narrativas se desenvolvem separadamente, explanando de fato o que era importante para cada um dos réus. É possível perceber que muito do que era relevante para Suzane, não era para Daniel e vice-versa. Os filmes deixam isso claro ao mostrar, por exemplo, Suzane detalhando o relacionamento deles de forma aprofundada, enquanto Daniel se preocupa mais em expor o que conheceu da família von Richthofen.
Em qual ordem assistir aos filmes?
A direção não estabelece uma ordem em que se deve assistir aos filmes do Caso Richthofen. Mas é impossível negar que isso faz toda a diferença na percepção das narrativas. Particularmente, recomendo que se assista aos filmes na mesma ordem desta resenha: O Menino que Matou Meus Pais primeiro, e A Menina que Matou os Pais em seguida. O diretor Maurício Eça já declarou em entrevistas que também prefere a narrativa nesta ordem, apesar de já ter assistido às duas possibilidades.
É extremamente necessário destacar a atuação BRI-LHAN-TE de Carla Diaz nos filmes do Caso Richthofen. Leonardo Bittencourt também faz um excelente trabalho, mas inevitavelmente não tiramos os olhos de Suzane em ambas as versões. Os atores principais interpretam papéis distintos em cada filme. Isso porque em cada versão o comportamento de Suzane e Daniel eram completamente diferentes, assim como na vida real.
Por fim, no que você prefere acreditar? Existe uma verdade absoluta ou ambas as versões podem se complementar em diversos aspectos?
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/AdoroCinema