Resenha | Valéria

Sexy sem ser vulgar, a série espanhola é leve e traz questões sociais importantes

 

Atenção: contém spoilers 

Baseada nos livros da autora Elizabeth Benavent, a série Valéria produzida pela Netflix se define como uma comédia romântica, com dramas e acontecimentos cotidianos. Considerada muito parecida com Sex and the City, a produção espanhola tem sua própria identidade e revela temas importantes que devem ser discutidos.

A trama gira em torno da protagonista que leva o mesmo nome da série, Valéria, interpretada por Diana Gómez. Uma mulher de quase 30 anos que se sente presa em vários aspectos da vida. Casada com Ádrian (Ibrahim Al Shami J.), ela se percebe em um relacionamento que não lhe faz mais sentido. Além disso, se vê perdida na sua carreira como escritora, em um momento de bloqueio e não consegue finalizar seu livro. 

Apesar da série mostrar muito o lado e os problemas de vida de Valéria, a produção tem um enredo muito valioso que ressalta a amizade entre quatro mulheres nos seus vinte e poucos anos. Valeria, Lola, Nerea e Carmen formam um grupo de amigas que são totalmente diferentes e, em meio a todos os dramas da vida e as brigas, fazem da amizade um lugar transformador.

Foto: Divulgação Netflix

A protagonista

Como mencionado, a série gira em torno da história de Valéria que se sente perdida, tanto no trabalho quanto no casamento. Todos esses problemas se juntam e formam uma bola de neve, transmitindo bem a realidade de um relacionamento e as dificuldades da vida adulta. A falta de dinheiro e o desespero fazem com que ela busque empregos que não lhe agradam nem um pouco. Por um acaso, seu marido Ádrian, um fotógrafo frustrado, também não está feliz em sua carreira. E todas essas dificuldades se refletem no casamento e Valéria sente um afastamento do companheiro, além da falta de apoio em sua carreira de escritora. Essas questões fazem com que a bola de neve esfrie a relação, criando dúvidas sobre seus sentimentos por Ádrian.

Foto: Divulgação Netflix

Como toda trama, algo de emocionante tinha que acontecer, o que não é diferente com a série. Através de sua amiga Lola, Valéria conhece Víctor (Maxis Iglesias), um empresário que começa a mexer com os sentimentos da protagonista. Além do estilo provocador e sedutor, Víctor faz de tudo para ficar com Valéria. E é o que acontece, a personagem se rende e, no começo, ela topa se aventurar por prazer. Sim, Valéria trai seu marido, mas não vou julgá-la, o que não quer dizer que concorde com sua atitude. O que vale ser analisado é como um relacionamento é complexo e a série retrata muito bem o lado da mulher que não está bem, se sente sozinha e desesperada, em vários sentidos da vida.

Outra questão é: durante e após o envolvimento com Víctor, Valéria finalmente consegue escrever seu livro que fala da sua própria vida, suas frustrações, suas aventuras prazerosas e sexuais com o amante. No final da primeira temporada tudo parece se encaixar na vida profissional da escritora. E é aí que um tema importante é discutido na série. Ao procurar uma editora, Valéria recebe uma proposta para publicar seu livro, o problema é que ela deveria publicá-lo com um pseudônimo masculino, escondendo sua identidade. Infelizmente, isso acontece não só na ficção. Valéria agora possui dois questionamentos, aceitar a proposta e pegar o dinheiro ou se posicionar por meio de seus princípios como mulher e escritora, mas continuar com dificuldades financeiras.

Foto: Divulgação Netflix

O quarteto de amigas

Na primeira temporada, a série demora a desenvolver as questões relacionadas a vida das personagens amigas de Valéria. É claro que a produção tem o objetivo principal de falar sobre a protagonista, mas durante a temporada os episódios deixam brechas sobre os problemas das amigas que fazem a gente se interessar por essas histórias.

Lola, interpretada por Silma López, possui traumas familiares relacionados à sua mãe, que foi embora de casa para seguir sua carreira como música, deixando os filhos sob os cuidados do pai. Essa ausência materna fez com que Lola sentisse muita raiva e mágoa da mãe, a culpando por várias situações da vida, inclusive por ser uma pessoa fria que tem dificuldades em ter relacionamentos mais sérios ou também por sempre estar em relacionamentos problemáticos. Como filha mais velha, Lola passou a ter um papel de mãe, cuidando de seu irmão.

Foto: Bastidores Valéria / Maria Heres

Um outro assunto também discutido na série causado por problemas familiares é sobre Nerea (Teresa Riott), ao se descobrir homossexual, a personagem que mora com os pais tem receio e medo de ser descoberta, já que possui uma família muito conservadora. Além disso, ela se sente mal por cursar direito e trabalhar no escritório da família, algo que ela nunca teve vontade de fazer. Temos aí um assunto bem pertinente em várias famílias, para seguir o caminho dos pais e os ver felizes e confortáveis.

Por muito tempo, Nerea se viu com medo e teve dificuldades em se aceitar, quando seus pais descobrem sua orientação sexual, ela vê sua vida mudar completamente. Sem emprego e apoio financeiro da família, a personagem precisa finalmente correr atrás do que ela ama, mas, o que ela gosta de fazer? Nerea nunca teve a liberdade de seguir suas vontades, o que acaba a deixando confusa e perdida. Além disso, ela não consegue se envolver profundamente nos relacionamentos, mesmo que  queira, Nerea reage aos envolvimentos com frieza e sempre se afasta das pessoas quando sente algo especial.

Foto: Felipe Hernández / Divulgação Netflix

Já dá para perceber que relacionamento, tanto familiares quanto românticos fazem parte da série, e isso é o que movimenta a trama. Mesmo que na primeira temporada não vemos essas questões se destacarem quando falamos das amigas de Valéria, a segunda temporada retoma essas questões e traz à tona as interrogações deixadas de lado. É o que acontece com Carmen (Paula Malia). A personagem, caracterizada por ser desastrada, se apaixona pelo colega de trabalho. A insegurança toma conta de Carmen, que além de não se impor sobre suas vontades na relação, também deixa de tomar decisões no trabalho, com medo da reação do parceiro. Sabe quando a mulher se sente inferior ao homem em âmbitos profissionais? É exatamente o que acontece com a personagem. A série, por sua vez, traz questionamentos interessantes sobre essas situações e o que nos faz refletir muito sobre questões comuns que não deveriam ser consideradas normais.

Foto: Divulgação Netflix

Assuntos discutidos na série

Valéria não mostra somente problemas no casamento, na família ou namoro, a série é leve e tem um pouco de comédia, mas traz sempre falas e cenas que nos deixam refletir sobre comportamentos que muitas mulheres passam ou que nós mesmas fazemos. 

Principalmente quando o assunto é liberdade e fazer aquilo que temos vontade, seja ao se colocar como submissa em um relacionamento, se sentir inferior ao colega e mal por demonstrar o seu melhor, seja se prender em um relacionamento que não faz bem por medo das consequências e da carência afetiva. A primeira temporada não consegue colocar esses assuntos em pauta e faz com que a personagem Valéria seja o foco, junto ao Ádrian e Victor, o triângulo amoroso. Talvez isso torne a trama um pouco mais quente e menos problematizadora. Podemos ver a partir da segunda temporada um reviravolta em questão de roteiro, não que ela não seja quente haha, mas a série traz um conteúdo diferente sem perder a essência inicial.

Foto: Divulgação Netflix

Valéria é leve e ótima não só para mulheres, é necessário rever algumas atitudes e a série nos faz ter outras perspectivas sobre as vontades e prazeres femininos. Olhar sem as amarras do conservadorismo, ver com os olhos das personagens e entender que essas questões são muito importantes e devem ser, sim, discutidas em qualquer tipo de relacionamento.   

Assista ao trailer aqui

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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