Entrevista | Rosana Puccia: uma inspiração nos dias de hoje

Rosana Puccia fala sobre seu estilo musical, inspirações e parceria musical com David Pasqua

Rosana Puccia é cantora e biomédica, tem uma das vozes mais charmosas dos nossos tempos e não tem limitações musicais.

Divulgando seu clipe mais recente, Right Away, Rosana Puccia aceitou falar com o Entretetizei sobre sua carreira e inspirações, e ainda contou sobre a sua parceria de uma década com David Pasqua e trabalhos dos próximos meses.

Agora que você já conferiu o clipe, vem conhecer a graciosidade de Rosana e saber mais sobre sua carreira.

Entretetizei: Você já tem uma carreira longa e sabemos que o público tem deixado de lado as músicas mais melodiosas, e há anos os principais nomes do gosto popular são de músicas POP ou com fundo eletrônico, e mais recentemente com batidas mais fortes. O quanto isso muda no cenário musical em que você começou e no de agora? Dificultou a chegada de conteúdos de jazz e os demais estilos que você faz para todos os cenários?

Rosana Puccia: Infelizmente, eu não tenho flexibilidade para me adaptar ao cenário musical quando ele não me atrai. Não tenho compromisso com esse cenário. Meu compromisso é com a qualidade e com o que eu consiga fazer bem, com alegria e espontaneidade. Só assim eu vou conseguir transmitir uma verdade. A ideia é achar o meu público ou atrair público novo para  o meu tipo de trabalho.

Foto: Antonio Borduque

E: O que torna fácil o mercado musical hoje e que na época em que você começou era uma dificuldade?

RP: Creio que os meios de registrar as músicas, fazer gravações de qualidade, enfim, a tecnologia, estão muito mais fáceis atualmente. Além disso, divulgar amplamente o material musical é muito fácil, o mercado está aberto e com novas plataformas de divulgação, como as playlists, podcasts e audiovisuais, temos muitas maneiras novas de divulgação e este crescimento constante é sempre bom.

E: Ouvir suas músicas realmente me transportou para as tardes na casa da minha avó, quando meu tio escutava músicas da década de 30, com orquestras e vozes que escorriam nas notas musicais, então associar seu canto aos clássicos de jazz dos anos 30 não foi difícil… Que artista você acha que mais te inspirou a chegar em um nível vocal tão elevado assim?

RP: Eu cresci ouvindo clássicos de jazz, ao mesmo tempo que ouvia samba, MPB, bossa nova, pop e até rock, mas sempre com cantores de altíssimo nível técnico, de expressividade aguçada, com fraseado interessante, divisão de bom gosto. Sou uma ouvinte exigente porque me acostumei com a alta qualidade no vocal, nas músicas e nos arranjos. Sempre fui muito atenta aos detalhes e às letras das músicas. Eu tenho afinidade com quem canta as letras, vestindo o personagem musicalmente, e com quem canta com a liberdade do jazz. Aprendi com todos os cantores de jazz, e com pessoas como Ray Charles, Freddy Mercury, Elza Soares, Leny Andrade, Elis Regina, Cássia Eller (o repertório não rock), a precisão de Mônica Salmaso. Ter um timbre eventualmente bonito é apenas o começo. Transmitir uma verdade de sentimento utilizando os recursos possíveis com espontaneidade…aí sim, é a glória! Mas essa glória somente se completa se o ouvinte se emocionar junto: alegria, tristeza, raiva…seja lá o que for.

E: Eu li na sua biografia que o dr. Luiz R. Travassos foi seu mentor. Você chegou a ter trocas musicais com ele, além das acadêmicas?

RP: Sempre! O Professor Travassos era pianista e compositor, além de cientista, porém apenas apreciava música clássica. Aliás, era um profundo conhecedor de música clássica e amava discutir sobre, ensinar, aconselhar, presentear com CDs e livros. Encontrando algum interesse de alunos e colegas, o assunto corria solto. Era uma pessoa cultíssima e generosamente compartilhava seus conhecimentos não apenas na ciência, como em outras áreas.

E: Aliás, eu tenho que perguntar… Com a música Dança da vacinação, eu imagino que a repercussão tenha atingido mais do que o lado bom das coisas. Estamos vivendo um momento caótico para a ciência aqui no Brasil, e nem sempre os fatos e as soluções são encarados como deveriam, assim como se torna comum a cada dia que passa, cientistas e artistas engajados na causa da vacinação serem questionados ou bombardeados por suas escolhas educacionais. Houve algum tipo de repercussão negativa com o lançamento da música?

RP: Felizmente houve mínimos comentários desagradáveis nas postagens. A resposta que tivemos foi avassaladoramente positiva. Que alívio, não? Creio que o bom gosto na escolha da música e na letra da paródia pelo Dr. Daniel Bargieri, aliados à minha interpretação, que tem sido elogiada, contribuíram para agradar a todos.

E: Além disso, eu sei que essa não foi a única vez que você uniu a ciência à música. Como tem sido manter as duas carreiras em paralelo e ainda ter meios de unir as duas paixões?

RP: A carreira acadêmica e a ciência demandam muito do nosso tempo e a música também! Conclusão: sobra pouco tempo para outras coisas. Mas me sinto satisfeita em poder dar minha atenção e tempo para minha carreira acadêmica e minha carreira musical. Ambas são muito importantes para mim e tento lidar com as duas com o mesmo cuidado e afeição.

E: Houve algum momento definitivo na sua vida em relação a esse tema? Algum ponto em que você se viu obrigada a abdicar da música pela carreira acadêmica ou vice-versa?

RP: A música sempre foi assunto seríssimo para mim, mas somente passei a encará-la profissionalmente na última década…

Foto: Antonio Borduque

E: Também li sobre a sua parceria de longa data com o compositor David Pasqua. Você pode contar um pouco sobre isso? Como começou e o que a manteve tão viva ao longo de todos esses anos?

RP: Conheci David Pasqua há dez anos e esse foi o divisor de águas na minha vida musical (aliás, na vida musical de muitos cantores que ele produz). Na época, eu fazia aulas de técnica vocal há dez anos com Sonia Polonca e com ela desenvolvia um repertório que eu apresentava em shows ocasionais em bares e em vários eventos científicos, como congressos, e acadêmicos. Rapidamente me interessei em conhecer as composições de David Pasqua e a afinidade musical foi imediata. Em contrapartida, ele se interessou pelas minhas interpretações e comecei a gravar uma música inédita atrás da outra. Ser a primeira a gravar uma música me interessava demais! Foi um desafio e mostrou que não preciso de modelos. Foi sensacional. E David me deu essa oportunidade. Meu objetivo passou a ser gravar e divulgar suas músicas. Gravei 13 delas entre 2012 e 2013 e lançamos o CD Cadê? com 12 de suas parcerias. Depois disso, continuamos a divulgar suas novas parcerias em clipes do YouTube, até que, a partir de 2015, eu mesma me tornei parceira letrista. Hoje temos umas 25 músicas com letras originais minhas (algumas em inglês), mais inúmeras versões de suas músicas para outras línguas, principalmente o inglês. E também tenho cinco letras para outros melodistas. Ou seja, virei letrista mesmo, sob a supervisão do David. Adoro! 14 das nossas parcerias já estão nas plataformas digitais nos EPs Pra Agradar Você vol. 1 e 2, lançados em setembro de 2020 e setembro de 2021, respectivamente. Além disso, fizemos muitos shows em bares, eventos e, na pandemia, as lives. Em 2019, a maioria dos shows foi autoral, mas normalmente apresentamos músicas de David Pasqua e de outros compositores de bossa, samba e jazz do século passado.

E: E para os próximos meses? Quais são os planos e as novidades? O que o público pode esperar do seu trabalho?

RP: Vamos subir agorinha para as plataformas digitais um EP com seis músicas com inspiração em crianças e pets que ganharam trilha sonora com letra e melodia minhas, que nasceram do nada. David Pasqua me ajudou a acertar as melodias, já que não toco instrumentos, fez as harmonias e toda a produção, como sempre. Decidimos os arranjos e as músicas ficaram uma delícia! Os temas são infantis, mas as músicas, bem, nem tanto…O lançamento será no Dia das Crianças. Fora isso, são tantas músicas na fila para produzir! Temos músicas novas de David Pasqua & Rosana Puccia, músicas de outras parcerias do David e minhas para produzir, as músicas infantis dele…Breve teremos um clipe com uma dessas músicas. O objetivo é produzir todas as músicas autorais de David Pasqua, nossas e minhas com outros parceiros, com qualidade de arranjo e som para serem divulgadas nas plataformas digitais. Eu canto o que gosto e o que acredito ser de qualidade. Faço questão que a obra esteja registrada e acessível para ser apreciada por quem se interessar. A criatividade é um bem maior, um dom que deve ser praticado e estar a serviço dos demais.

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*Crédito da foto de destaque: Antonio Borduque

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