Um dos maiores rappers brasileiros da história, Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage, completaria 50 anos em 2023, no dia 3 de abril.
O álbum intitulado Sabotage — 50 anos foi desenvolvido pela filha do artista, Tamires Rocha, com o apoio do irmão, Wanderson dos Santos, o Sabotinha.
A homenagem em forma de álbum, lançado pela Som Livre em parceria com a família do Maestro do Rap, conta com nove faixas e traz participações de grandes nomes da cena do rap, como Filipe Ret, Djonga, Luedji Luna, Don L, Sant, Kamau, entre outros.
O disco é parte uma série de comemorações do cinquentenário do rapper, que se iniciou em 2023, que contará com a publicação de um livro em agosto, assim como uma exposição em novembro e filme em 2025.
Após um ano de comemorações, o álbum póstumo do Maestro do Canão — comunidade já extinta na zona sul da capital paulista, onde viveu Sabotage — traz homenagens que alcançam outros ritmos e gerações.
O projeto foi encabeçado por Zegon e Tejo Damasceno, produtores e amigos de Sabotage.
O rap é compromisso, nós somos seus discípulos
A faixa principal escolhida foi No Brooklin, que conta com Bivolt, Xis e Nave em sua nova versão, rimando ao lado de Sabotage.
As outras seis faixas são igualmente clássicas da carreira de Sabotage, cada uma em seu contexto e mensagem.
Kamau, rapper, compositor e beatmaker, veterano do hip-hop brasileiro, soma com os versos de Sabotage em Respeito é Lei, enquanto Rap é Compromisso, traz Sant, visto por muitos como um dos melhores da atual cena do hip-hop nacional.
Maloca é Maré, traz versos entoados por Yago Opropio, enquanto Dama Tereza conjuga as vozes do norte e Nordeste com Don L e Luedji Luna, cantora que está na lista das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo.
Cantando pro Santo vem com as rimas de Filipe Ret e Djonga combinando-se à icônica colaboração de Sabotage e Chorão.
Sabotage 50 se encerra com a poderosa mensagem de Aracnídeo, onde a famosa frase “O rap é compromisso, não é viagem” ressoa com a mesma relevância de sempre.
Vinte anos depois das palavras de Sabotage, a composição de Vandal, Russo Passapuso, do BaianaSystem, mantém viva a crítica e a essência do Maestro do Hip-Hop.
“Meu maestro, te peço desculpa/ não existe mais rap, acabou a verdade, agora é só trap/ é topa tudo por dinheiro, se contar ‘cê não acredita/ o trap fecha com a polícia, fecha com a milícia/ eu não fecho com eles, maestro, se não desanda”. — Recita Vandal em sua rima da música, trazendo com sua homenagem um pedido de perdão com uma pitada de revolta.
Com a direção musical de dois renomados produtores da cena urbana, Tejo Damasceno e Zegon, ambos colaboradores de Sabotage em vida, o álbum teve sua estreia marcada pelo lançamento da nova versão de Respeito É Pra Quem Tem.
Essa faixa foi escolhida para iniciar uma série de colaborações inéditas entre o Maestro do Canão e a nova geração da música. Nesse projeto, versos originais do rapper paulista foram combinados com rimas de N.I.N.A do Porte.
Em seguida, Rincon Sapiência e BK participaram da reinterpretação de Mun Rá, agora com uma sonoridade afrobeats e versos inéditos que se integraram harmoniosamente às rimas originais de Sabotage.
Essa faixa é uma das mais reconhecidas do repertório do artista, especialmente composta para o filme O Invasor (2002), no qual Sabotage também atuou.
“Nesse novo álbum, a gente traz uma cara nova. Eles escrevem hoje porque foram inspirados por alguém, e esse alguém foi Sabotage” — disse Tamires.
Respeito é pra quem tem
Para muitos, Sabotage foi a ponte que ligou vários mundos e realidades através da música e de seu genial jeito de fazer e viver o rap.
Sua presença transcendia barreiras, conectando pessoas de diferentes origens e contextos por meio de sua arte.
Nascido em São Paulo em 3 de abril de 1973, filho de Júlio Alves dos Santos e Ivonete Mateus de Melo, Mauro cresceu na extinta Favela do Canão, localizada na zona sul da capital paulista, no bairro do Brooklin.
Assim como muitas crianças brasileiras, ele foi criado apenas pela mãe, juntamente com seus dois irmãos. Devido às dificuldades financeiras, Sabotage ingressou no mundo do tráfico ainda na infância, buscando ajudar em casa.
Por envolver-se em atividades ilegais, Mauro passou alguns anos na Febem, Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor, ganhando o apelido de Sabotage, dado por seu irmão Deda, que o acusava de sabotar tudo.
Ele conheceu de perto a violência e a morte desde cedo, perdendo seu irmão em um assassinato brutal pouco após a instituição tê-lo liberado.
Suas letras refletiam suas próprias experiências, abordando temas como desigualdade social, fome e pobreza.
Com isso, Sabotage tornou-se presença constante nos shows de rap que frequentava.
Rapidamente, estabeleceu amizade com o cantor e produtor Rappin’ Hood, apresentando-o a grandes nomes da cena musical urbana da época, como Mano Brown, dos Racionais MC’s, e Sandrão e Negra Li, do grupo RZO.
“Sabotage uma homenagem é o mínimo/ Segue vivo nos corações/ Daqueles que sabem que seus raps são bem mais que clássicos, são orações” — canta Fabio Brazza em música do seu álbum Colírio de Cólera.
O legado de Sabotage continua a ecoar através das batidas e rimas que marcaram gerações. O álbum Sabotage 50 celebra não apenas o artista, mas também a sua influência duradoura no cenário musical brasileiro.
Que sua voz continue a inspirar e desafiar, lembrando-nos sempre da importância de resistir e sonhar!
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Texto revisado por Doralice Silva