Ex-participante do The Voice Brasil conversou, em entrevista com o Entretetizei, sobre feminismo e o papel das artistas no movimento
Na quinta-feira passada (18), o Entretetizei teve a oportunidade de bater um papo com a cantora Isadora, revelação do R&B nacional, em uma entrevista exclusiva. A cantora recebeu ao longo de sua vida inúmeras influências de diferentes gêneros musicais e tem formação em canto erudito. Esse contexto deu origem à artista que é hoje em dia, unindo R&B, Soul e Pop em uma voz potente, com um de seus maiores sucessos sendo a música Sun Goes Down, em parceria com Bruno Martini.
Em seus projetos, Isadora aborda pautas de extrema importância como a representatividade e o feminismo. Sendo assim, no Dia Internacional da Mulher, lançou a faixa Mulher 21, na qual fala sobre o que é ser mulher nos dias de hoje.
O Entretetizei, sendo formado apenas por mulheres, não podia perder a chance de bater um papinho com ela, né? Confira a entrevista na íntegra a seguir e os melhores momentos no vídeo no nosso canal do YouTube.
Entretetizei: Seu lançamento mais recente foi a música Mulher 21, lançada no Dia da Mulher. O que te inspirou a escrevê-la? Teve alguma experiência específica ou foi a vida como mulher no geral que te inspirou?
Isadora: Na verdade, eu acho que como uma mulher na indústria sempre trabalhando e vendo também o pouco espaço que a mulher tem ainda não só dentro da indústria fonográfica, mas do meu meio, eu vi essa diferença muito nítida. Há poucas produtoras musicais mulheres e, dentro do conteúdo todo audiovisual também realmente bem enfraquecido, há poucas oportunidades para a mulher. Eu comecei a refletir mais ainda sobre esses assuntos. Comecei a trazer esse assunto em pauta com compositoras que estavam escrevendo esse projeto comigo. O projeto foi desenvolvido todo na base do feminino, para enaltecer sim a mulher, e essa música também não deixa de trazer uma mensagem positiva para nós. Mas de fato, ela fala dessa mulher multifacetada, dessa mulher contemporânea do século XXI de 2021, que, mesmo diante de todas as dificuldades de pandemia que a gente está passando, a gente tem que fazer o nosso corre. Mesmo antes da pandemia a mulher tem uma função de estar sempre à frente de tudo, seja do trabalho, seja do lar para cuidar da sua família se ela optar por ter uma família. Então, de fato, essa mulher vira uma “equilibrista”, uma “malabarista”, então eu acho importante a gente enaltecer, de fato, né. Usei a mesma palavra de novo, mas é porque é justamente isso: colocar a mulher de fato nesse pedestal porque ela merece ser homenageada todos os dias, não só no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Foi um privilégio muito grande para mim como artista, como mulher, poder lançar a minha música que fala justamente sobre essa temática nesse dia especial, importante e de batalha e de luta para nós. Na verdade, essa música foi inspirada numa canção da Destiny’s Child que se chama Independent Woman (Mulher Independente) e é isso, ela retrata essa mulher que estuda, trabalha e faz um pouco de tudo, se vira nos 30 (risos). Essa mulher do dia a dia.
E: Eu queria saber como foi esse seu processo como feminista, porque, na minha opinião, a mulher nasce feminista, mas se descobre depois, quando é apresentada ao movimento. Queria saber como foi sua introdução ao movimento e toda a sua trajetória até chegar a esse processo de composição atual.
I: Bem, eu acho que a gente não nasce feminista, mas a gente nasce como mulher e ao longo dos anos vamos compreendendo como é difícil ser mulher dentro da sociedade. Então, de fato, é algo que merece atenção e eu, como artista, me vejo muito num lugar fundamental de porta-voz para mulheres que também, como eu, sempre tiveram certas dificuldades, enfrentaram dificuldades tanto na área profissional como em tudo. Ter porta-vozes mulheres que podem representar tudo aquilo que seja o que elas de fato sentem, eu acho importante. Eu acho que é meu papel como artista me manter atualizada, ler bastante sobre o assunto e, de alguma forma, tentar propagar essa mensagem e informar de fato. É claro que eu acho que existem algumas vertentes para o feminismo, mas eu acho que todas nós temos algo em comum: a gente quer respeito. É muito doido, a gente começa a pensar sobre esses assuntos e tem diversas interpretações, a gente pode ir para vários lados, mas eu acho que, como artista, como cantora, eu me vejo nesse lugar, sabe? Tipo, preciso levantar tudo isso, porque é o que eu sinto, é minha verdade como mulher, como artista na indústria, contar um pouco a minha trajetória assim como ouvir, porque é muito importante que a gente ouça as histórias de outras mulheres e que essas mulheres tenham a oportunidade de compartilhar suas histórias. Eu comecei a pegar compositoras mulheres para a gente tentar não só falar de uma só história, mas falar do sentimento de cada uma diante de toda essa situação e aí a gente começou a trabalhar nesse projeto. Esse projeto é composto por versões de compositoras e artistas mulheres já renomadas do passado, como a Rita Lee, que é uma grande ativista, uma grande porta-voz para a mulheres, para o movimento.
E: Ela ajudou a trazer luz para esse movimento no Brasil, né?
I: Exatamente. Mas uma coisa que eu percebi também pesquisando e entrando mais a fundo nesse universo – principalmente musical, para a gente começar a interpretar as letras e tudo mais, porque às vezes a gente escuta, mas não capta tanto a mensagem, que às vezes pode ser uma mensagem subliminar (tem umas que são muito explícitas, né) – é que é bacana trazer isso à tona de novo, fazer esse resgate, mas eu acho um pouco triste a gente perceber que nos anos 60 ou nos anos 70 elas estavam reivindicando uma coisa que a gente ainda está tentando. É claro que existiram avanços, mas a gente sabe que ainda é um caminho longo a ser percorrido, então é complicado. Então, ao mesmo tempo em que eu fico muito feliz de estar resgatando isso, de enaltecer essas artistas mulheres como a Anitta, como a Mart’nália, entre outras, eu começo a pensar “putz, parece que estagnou um pouco nesse sentido, porque o discurso ainda é o mesmo. Caraca, em pleno século XXI.”. Mas é isso, eu acho que de alguma forma eu estou tentando fazer o meu papel de artista e de ser humano, sabe?
E: É interessante você tocar nesse assunto do papel do artista, porque, por exemplo, o meu processo de começar a entender o feminismo foi mais ou menos na época que a Emma Watson começou aquele projeto do He For She. Então, eu olhei ela falando aquelas coisas e achei aquilo incrível, eu era bem novinha. Então, é muito importante, porque você apresenta às outras mulheres esse movimento.
I: Exatamente, você começa a apresentar, tanto que a Emma Watson tem uma plataforma, tem um público já muito grande que vai ouvir, então é muito importante mesmo. Às vezes até quanto maior você seja como artista, você realmente usufrua muito bem disso para espalhar as mensagens que você acredita e para informar as outras pessoas também. Então eu acho que a Emma Watson é uma grande porta-voz disso tudo aí também, graças a Deus, que ela é maravilhosa (risos).
E: Bom, falando sobre nosso processo como feministas e nos entendendo como mulheres na sociedade, o que você diria para a menina que você era mais nova? Não só como pessoa no geral, mas como uma pessoa do gênero feminino.
I: Eu acho que a gente tem que ter muita calma dentro desses processos de se autoconhecer. A gente de fato vai enfrentar situações muito difíceis ao longo da nossa vida por causa das nossas escolhas, mas eu acho que a adolescente geralmente tem uma certa ansiedade: “nossa, o que que vai acontecer depois?” e, assim, na real, acredito que nós somos todas uma só, entende? Então a gente precisa ter uma solidariedade para unir o problema do outro, não só o nosso, entendeu? E que a mulher de fato, ela não pode se limitar, né? Eu acho que eu diria muito isso para mim, porque, obviamente que, quando mais nova, tentando de alguma forma expressar esse meu sentimento de “quero ser uma cantora, quero estar à disposição” houve um processo de um certo preconceito. Eu comecei a cantar na noite com 18 anos, então, quando eu estava no palco, eu sentia que muitas pessoas não entendiam muito bem aquilo como minha profissão e sim como uma diversão. Alguns assédios verbais no palco, às vezes o cara bebe e fica mais agressivo, realmente sem noção. Então, eu diria assim para mim: “tenha calma, você vai ter que saber dominar essa situação e isso vem com o tempo mesmo”, sabe? Porque não tem como a gente pular etapa, mas eu acho que todas as mulheres passam por diversas situações difíceis – e eu não estou querendo comparar o que é mais difícil ou não é -, mas eu acho que a gente tem que, de alguma forma de unir e segurar a mão de uma a outra e falar “não, vamos em frente e dividir todas essas nossas angústias e todos esses desafios que a gente tem que encarar vida afora”.
IsAdora Papo Reto
quantas vezes você, mulher, já deixou de sair com a roupa que gostaria só pra evitar certos comentários machistas? isso precisa mudar, nós queremos respeito!
assédio não tem graça#mulher21 pic.twitter.com/V3mid5iP1r
— ADORA (@adoraadora) March 23, 2021
E: E é muito importante mesmo essa união, porque dentro dessas minorias tem outras minorias, sabe? No clipe de Mulher 21 eu senti que tinha uma representatividade lésbica lá e eu achei muito interessante, porque o feminismo é composto por pessoas diversas, então a gente tem mulheres com deficiências, mulheres LGBTs, mulheres negras… Muita gente não entende muito isso e fala “não, mas é um movimento só”, mas não, né? Tem essas especificidades de cada pessoa, então é importante isso que você falou de dar voz.
I: É, trazer essa diversidade é essencial, é muito importante que, de fato, como você falou, que as pessoas entendam que existem grupos envolvidos. Assim, eu acho até um pouco polêmico a gente trazer uma mulher trans nesse clipe, porque tem algumas pessoas (que não é o meu caso) que interpretam que a mulher trans não faz parte desse grupo. Ao meu ver, ela está ali porque faz parte dessa comunidade e eu acho que é importante a gente ouvir a causa do outro.
E: Tudo o que é visto como feminino na sociedade é visto como frágil, inferior. Então, é por isso que eu acho que mulheres trans também se beneficiam do feminismo, né?
I: Exatamente. Eu acho que essa questão da fragilidade está muito inserida justamente com essa imagem que foi passada da mulher de dona do lar, de o homem que sustenta. Vejo que as pessoas estão tentando reformular esse conceito, mas sempre vem à tona. E eu acho que as pessoas também esquecem de relembrar que a fragilidade está presente em todo mundo. Nós estamos passando agora na pandemia por um momento de extrema fragilidade, seja você homem, seja você mulher. Então, a fragilidade nada mais é do que você seguir e você ter coragem de mostrar a sua vulnerabilidade para o mundo. Então não tem nada a ver em ser mulher, ser homem e isso foi muito inserido dentro do vocabulário do ser humano. As meninas aprenderam na escola que tinham que brincar de panelinha e ter bonequinhas e os garotos podiam estar lá fora jogando futebol e brincando de luta, né. Mas a gente entende que isso é um conceito super ultrapassado e hoje não faz muito sentido a gente ficar martelando nesse assunto com nossos filhos ou com crianças. Eu acho que eles estão sendo, espero, pelo que eu converso com meus afilhados, com meus primos, educados de uma forma um pouco mais livre, sabe? E isso é muito bom, é muito positivo para a geração que vem, mas a luta continua também, né, porque há muito preconceito inserido ali, enraizado. E difícil tirar, eliminar isso. Ainda mais com um presidente desse aí no poder, né, que prega muita coisa que acaba enfatizando mais a cabeça dessas pessoas, dando mais corda para que o ser humano seja mais preconceituoso e violento.
E: Essa questão que você falou da fragilidade me lembrou muito um livro que eu estou lendo agora. Se chama A Coragem de Ser Imperfeito da Brené Brown. Você já leu esse livro?
I: Não, nunca li.
E: Ela fala, literalmente, o que você falou. Ser vulnerável e se colocar na vida, se colocar à mercê de erros é na verdade um ato de coragem e te permite ser muito mais livre. Engraçado, eu jurava que você tinha lido esse livro, porque é exatamente o que você falou (risos).
I: Não, mas eu faço terapia (risos), então assim, na terapia a gente se vê num lugar extremo de vulnerabilidade porque a gente expõe muito o que a gente está pensando, os nossos anseios, as nossas angústias, então você começa a criar mais força para encarar essas coisas, sabe? Então eu acho ótimo. Mas eu vou comprar esse livro sim, com certeza (risos).
E: A gente se tranca muito no dia a dia, né? A gente termina não se expressando, porque eu também comecei terapia recentemente e, cada vez, percebo mais que o ser humano só quer ser aceito, com seus defeitos e tudo.
I: Mas o ser humano tem que entender que a gente vive por aprovação, né? É contraditório, porque o que a gente mais quer é ser aceito, mas o que o ser humano mais faz é apontar, então é muito complicado isso porque a gente vive nesse ciclo vicioso de “preciso de uma aprovação”. É bobo o que eu vou falar, mas quando a gente vê um Big Brother da vida, é justamente essa situação. A pessoa está ali tendo que constantemente provar algo, né? E a gente tem que pegar aquilo ali e “ah, pera aí, deixa eu ver quem que eu vou eliminar” e na nossa vida é assim. Sabe? Dentro do mercado profissional, dentro da nossa família (se a gente vai ter aprovação das nossas escolhas ou não)…Então é realmente muito difícil a gente lidar com isso, por isso que eu sou super a favor da terapia (risos). Mas, a vida adulta é isso: é saber lidar com crítica e tornar essa crítica de alguma forma positiva e construtiva na sua vida. Não que aquilo te coloque para baixo, que no momento é muito difícil você lidar com isso de uma forma positiva dependendo do que for, claro, de quem vier a crítica, mas eu acho que no fundo isso pode mais para a frente te fortalecer de alguma forma, te fazer refletir.
E: A crítica é importante porque a gente toma muito uma posição de querer ser completamente perfeito, não ter erro nenhum. E a gente erra, então vão acontecer críticas por conta disso e elas não são necessariamente algo ruim. Temos que entender que não ser perfeito não quer dizer que a gente não é válido, ou importante, ou amado. Bom, quanto a esse assunto de autores e tudo mais. Você tem alguma indicação de autora ou artista para a gente ler/escutar?
I: Bem, primeiramente vou falar sobre artistas que são de fato referências e que me inspiram. Não que as atuais não sejam, mas a gente cresceu às vezes ouvindo tal artista que nos abriu os olhos e nos atentou cada vez mais a falar sobre esse assunto, a querer escrever um pouco mais sobre isso. A Elza Soares é uma artista que além de ser feminista tem uma fala, um lugar de vida, de história, que é absurdo, né, o que essa mulher já passou. Ela está ali como uma porta-voz da mulher negra que de fato é muito bonito de se ver, sabe? Esse espaço que ela ganhou para falar sobre esses assuntos, sobre a violência doméstica e falando sobre a posição dela na indústria, assim como a Rita, que eu já citei. A Beyoncé, que é uma super ativista também, já tem diversos trabalhos falando sobre a posição da mulher negra, a história dessa mulher, a batalha que ela teve que percorrer para conquistar um espaço hoje. A Nina Simone para mim também é uma grande referência. Ela tem uma música chamada For Women (Para Mulheres) que é uma música super pesada se a gente for analisar a letra. Ela fala sobre quatro cores de mulheres negras diferentes e são quatro nomes aleatórios e ela fala que esse último nome é a b*ceta e acabou (risos). Então ela começa a falar sobre essa dificuldade da mulher, dessa hiperssexualização do corpo da mulher negra e aí cada mulher negra tem sua questão, tem o seu problema, tem a sua dificuldade que ela teve que encarar e aí no final ela solta “mas olha, todas nós temos a b*ceta” que é a última, né. Então, assim, é muito forte. Para mim, foram artistas assim que eu ouvi e me despertaram, sabe? E hoje a gente tem algumas artistas do meio do rap, por exemplo, a Drik Barbosa; a Tássia Reis do R&B; temos a Budah também que é uma grande artista. Enfim, por aí vai, sabe? Várias mulheres incríveis trilhando seu rumo, seu caminho, cantando muito e falando sobre esses assuntos fundamentais. Tem bastante gente no mercado com muito talento e muita coisa a se dizer. Essas meninas chamam muito a minha atenção. São artistas excelentes, muito bacanas e nacionais. É importante a gente valorizar o que a gente tem aqui também. Claro, Elza e Rita são já patrimônios, né, mas é bom a gente falar sobre artistas novas também, sobre essa mulheres que estão aí fazendo trabalhos incríveis.
E: Bom, você citou mulheres de vários gêneros musicais diferentes e eu vi também que você é formada em canto erudito. O que te levou a ir para esse lado do gênero mais Pop, R&B e Soul?
I: Então, o canto lírico entrou muito cedo na minha vida, sabe? Eu tive contato com a música clássica com uns sete anos de idade, porque eu entrei num coral no Rio, o da UFRJ e fiquei até os onze. Depois, eu fui embora do Brasil. Mas, nesse coral, a gente fazia apresentações no Teatro Municipal, na Casa Cecília Meireles, então eu acabei me inserindo muito cedo no mundo da música e, graças a Deus, sempre muito incentivada pelos meus pais, sempre tive todo o apoio. E aí segui, fiz o coral. Depois, na Europa, eles acabam valorizando mais, dando mais atenção à arte na escola de uma forma geral, eu sinto isso. Pelo menos do que eu conversei já e já entendi do sistema educacional do Brasil eu vejo que lá fora a gente tem esse leque de opções, sabe, de poder fazer um curso teatro na escola, temos aula de coral, temos aula de música, temos aula de culinária, temos aula disso, aula daquilo, coisas que eu vejo com mais dificuldade aqui, e principalmente eu estou falando de uma coisa de 10, 15 anos atrás, quando eu tinha 11, 12 anos. Lá na Europa, eles acabam tendo muita influência do canto erudito, do clássico. Eu lembro que eu tinha apresentações na escola mais voltadas para o clássico, eu lembro que também comecei a ter professoras de canto que tinham essa base e também nos passeios da escola eles levavam a gente a óperas e a consertos, então não tinha muito como fugir. Só que tem uma certa idade que você fala “não, eu estou ouvindo isso aqui por conta da escola, por um lado mais acadêmico, mas eu quero me inserir dentro do que está acontecendo na rádio”. É meio inevitável que isso aconteça, né? Então eu comecei a ouvir Pop, mas a minha família sempre teve uma base muito eclética. Meu pai começou a consumir muita coisa da época dele, dos anos 70, 80; então o rock clássico, disco music, soul; e minha mãe para um lado mais Soul Brasil, bem nacional. Então eu comecei a ouvir aquilo tudo e falei: “Opa, pera aí. Deixa eu agora escolher o que que a Isadora vai ouvir”, mas a Isadora ouviu a Diana Ross, que está aqui (apontando para o quadro da cantora), o Stevie Wonder, que está aqui. E aí, dentro desse universo ainda muito voltado ao Soul, ao Black Music e o Pop. E aí, quando eu vim para o Brasil, eu falei “cara, eu vou começar a estudar música, vou me especializar nisso, quero me aprofundar nesse universo que é o que eu quero para mim”. Então eu tive a oportunidade de fazer faculdade de música – canto erudito-, me formei. Para mim até que foi muito legal, mas assim, eu digo que a gente que faz a nossa faculdade e essa faculdade especificamente a gente precisa vivenciar muito fora e eu comecei a trabalhar cedo na noite e dentro da noite, eu falei “Tá, eu vou me inserir numa banda Pop que tem que cantar Bruno Mars, que é um Pop mais vintage, mais Soul” e aí por aí começou essa minha busca, essa minha trajetória pelo R&B, pelo Pop e tudo mais. Então, eu cresci ouvindo muita coisa diferente, e aí o R&B não deixa de ser uma mistura dessas sonoridades e o R&B está se tornando um pouco mais comercial hoje aqui no Brasil e lá nos Estados Unidos ele já é bem comercial.
E: A Ariana Grande, por exemplo, puxa bastante para esse lado.
I: Totalmente influenciada pelo R&B. Produção, aquelas aberturas de vozes, a composição… E isso, de fato, é muito radiofônico lá, mas lá já começou a ser radiofônico no final da década de 90, 2000 e algumas coisas começaram a vir para cá em 2000, tanto que a gente vê Usher, a própria Beyoncé com o Destiny’s Child antes de virar a Beyoncé solo, então isso começou a se projetar muito aqui, mas só agora que isso está ganhando uma dimensão um pouco maior.
E: Você planeja algum dia voltar às suas bases, voltar às suas raízes, para um lado erudito, um lado mais clássico? Ou você vai só vai seguindo e vendo no que vai dar?
I: Eu acho que o mercado lírico, para eu me inserir nisso, tem que haver um estudo constante, sabe? Eu não deixei de estudar, mas hoje estou mais focada no Pop, no autoral, composição, etc. Então, para seguir isso à risca e voltar a isso, eu teria que me dedicar muito para conseguir chegar num lugar que me desse, talvez, uma certa exposição e isso no Brasil é muito difícil. É um caminho que, obviamente, pode acontecer com todo o esforço e dedicação, mas eu sinto que preciso optar. Mas as minhas raízes estão de alguma forma inseridas dentro do meu canto, dentro do meu estudo… Então, é tentar manter isso em paralelo – obviamente não vai estar tão evidente -, mas quem me conhece pode falar “putz, esse agudinho aqui é da Isadora, porque ela estudou canto lírico”, como a maioria dos alunos que teve uma formação clássica e até hoje quando você ouve, é uma voz que tem um agudo, um controle, talvez, porque o lírico te dá esse controle melhor, essa técnica melhor, esse embasamento todo do canto.
E: Sim, dizem que o canto lírico é a base para os outros gêneros que nem dizem que o ballet é a base de todos os tipos de dança.
I: É tipo isso, você pode fazer o ballet e depois se inserir no Jazz ou na dança contemporânea. Mas, de fato, o ballet serve como uma base. O lírico também, de uma certa forma. Mas existem pontos de estudo, tipo “vou focar nisso aqui meu estudo de canto”. Porque o canto não é como a dança que você pode ficar horas treinando – até a dança, talvez, seu corpo acorde muito cansado -, mas para o canto o indicado é que você treine de 15 a 30 minutos por dia e não passe muito disso, porque pode causar uma fadiga vocal, você começa a ficar um pouco cansado, porque é um músculo difícil de ser trabalhado tipo um piano que você pode ficar horas tocando. Enfim, e aí, você tem que ter foco.
E: Para encerrar esse papo ótimo, eu queria que você passasse uma mensagem para as meninas e mulheres que têm um sonho.
I: Cara, eu acho que as mulheres têm sempre que se autoafirmarem. Como a sociedade sempre aponta, como a gente estava falando antes, a gente tem que falar uma para a outra isso, a gente têm que falar isso em voz alta para a gente acreditar que é possível alcancar o que a gente deseja, conquistar os nossos sonhos, por mais que tenha obstáculos, por mais que seja um caminho longo com altos e baixos. Eu acho que a pessoa não pode se limitar de forma alguma, porque essa Mulher 21, essa mulher contemporânea, ela vem para mostrar o quanto a mulher é forte sim, existe uma vulnerabilidade em todos e não só na mulher e a gente tem que sonhar alto mesmo, batalhar pelos nossos desejos e podemos ser quem a gente quiser. Temos várias mulheres dentro de uma só, então eu acho muito importante a gente sempre falar abertamente sobre o assunto de violência doméstica, o assunto do aborto, qualquer pauta feminina que for necessária, colocar mais mulheres na política. É muito importante que a gente pesquise e vote nas nossas candidatas porque elas vão ter papel de nos representar também. E é isso, vamos em frente, vamos seguir, porque a próxima geração está vindo também, espero que com uma cabeća cada vez mais aberta, cada vez mais aceitando e respeitando a posição e o lugar do outro.
E você? Se pudesse mandar uma mensagem para as mulheres, o que diria? Conta para a gente no Twitter, Face e Insta do Entretetizei. <3
*Créditos da foto de destaque: Tamara Cristina