Resenha | Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela: filosófico, crítico e francês

Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela, dirigido por Jean-Luc Godard (1930 – ), tem roteiro inspirado em artigo sobre donas de casa

Ora narrado aos sussurros ora quebrando a quarta parede para que o próprio elenco fale com o público, Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela teve inspiração em um artigo que falava sobre as donas de casa francesas que se prostituíam para ganharem um dinheiro extra, fosse para manterem seus luxos ou para sustentar seus filhos e a si mesmas.

Com um roteiro que tem  muito a oferecer, com cortes entre as cenas que nos faz encarar palavras coloridas retiradas de revistas, o filme questiona, muito ao fundo, a razão de elas fazerem esse tipo de trabalho.

Vietnã

Foto: Divulgação

O filme fala sobre a Guerra do Vietnã (1955 – 1975), e sobre como os europeus, a França em especial, reagiam ao que acontecia lá. A crítica tendo foco em como um povo inteiro sofria, enquanto outros povos pareciam se vendar perante as atrocidades.

A Paris de 1960 não se importava com os vietnamitas que morriam… Será esse um prenúncio atemporal sobre o Ocidente perante os recentes acontecimentos no Afeganistão?

Liberdade sexual ou insatisfação conjugal?

Foto: Divulgação

A dona do título é Juliette (Marina Vlady), uma dona de casa que não deixa muito claras as suas razões para estar se prostituindo. Deduzindo, inicialmente, que a causa seja sua vontade de poder bancar luxos que seu marido não pode pagar, como um vestido novo, por exemplo, julgamos a situação de uma forma. No decorrer do filme, com as cenas onde seu marido aparece e interage com ela,  julgamos a situação de forma diferente.

Juliette queria luxos ou queria se sentir desejada? Era feliz sexualmente em seu casamento? Como abrir mão de segurança, com dois filhos para sustentar, no meio da Paris de 1960, por insatisfação conjugal?

Será mesmo que a liberdade sexual feminina que estava ganhando forma nas ruas e na juventude, alcançava as mulheres mais velhas e casadas?

Um espetáculo de críticas

Foto: Divulgação

Na abordagem direta, o diretor critica o público pela falta de percepção sobre as mulheres casadas e sem opção, infelizes em seus casamentos e em uma época onde se divorciar era um risco óbvio de prostituição pela sobrevivência das crianças vindas da relação desfeita. Assim,  Godard faz questão de criar uma narrativa que faça o público acreditar que está vendo um artigo de jornal.

A narração sussurrada nos faz pensar em um pai amoroso, de algum seriado estadunidense, que lê as notícias do dia no jornal. É surreal e criativo!

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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