Livro de autor brasileiro traz um mergulho no horror e folclore nacional
Quando pensamos em literatura de terror, referências internacionais dominam o imaginário coletivo, como Stephen King e Edgar Allan Poe. Já quando falamos sobre folclore, livros baseados em lendas gregas, mitologia nórdica ou contos japoneses são amplamente difundidos e explorados no entretenimento, mas aonde fica a mitologia brasileira nisso?
O Brasil possui um vasto repertório folclórico repleto de histórias macabras, muitas das quais ainda não receberam a devida atenção na literatura de horror. O Escravo de Capela, de Marcos DeBrito, surge como um resgate desse medo perdido, recriando uma das lendas mais icônicas do nosso folclore com uma abordagem sombria e realista.
Uma nova roupagem para uma lenda conhecida
A trama se passa no Brasil Colônia, um período marcado pela brutalidade do sistema escravocrata. O autor utiliza registros históricos para construir um cenário visceral e cruel, onde o horror não é apenas sobrenatural, mas também profundamente humano.
A narrativa segue o escravo Sabola Citiwala que, após sofrer atrocidades inimagináveis, retorna do mundo dos mortos em busca de vingança. O diferencial do livro é a maneira como Marcos DeBrito reconstrói a origem do Saci-Pererê, removendo a versão infantilizada da lenda que conhecemos através do Sítio Do Pica-Pau Amarelo e trazendo um ser vingativo, nascido da dor e do sofrimento.
Ao invés do tradicional gorro vermelho, aqui temos um cadáver encoberto por um sudário ensanguentado, carregando consigo a carga de sua morte violenta. O resultado é uma obra impactante, que transforma um dos mitos mais conhecidos do Brasil em algo verdadeiramente aterrorizante.
Terror brasileiro: um gênero subestimado

Diferente de outras culturas que promovem suas lendas em best-sellers e adaptações cinematográficas, o terror brasileiro ainda luta por espaço. Muitas das nossas lendas foram suavizadas ao longo dos anos, perdendo sua essência assustadora. O Escravo de Capela resgata essa força ao apresentar uma história adulta e visceral, mostrando que o folclore nacional pode sim ser tão assustador quanto qualquer conto de horror estrangeiro.
A narrativa de DeBrito não apenas assombra, mas também incomoda ao relembrar os horrores reais da escravidão. Algumas passagens são difíceis de ler, pois retratam a brutalidade sofrida pelos negros escravizados com detalhes perturbadores. Esse choque, no entanto, é essencial para a imersão e para o impacto da história, tornando a experiência de leitura intensa e inesquecível.
Para os fãs de terror e thriller, O Escravo de Capela é um livro imperdível. Ele traz um equilíbrio perfeito entre o sobrenatural e o real, com uma narrativa fluida e envolvente. No entanto, para quem está começando no gênero, algumas passagens podem ser impactantes demais.
E se outras lendas fossem exploradas?
O Brasil tem um folclore rico e cheio de figuras que poderiam render histórias assustadoras. Vimos isso com a série na Netflix, Cidade Invisível, que conseguiu abordar diversas lendas brasileiras, mas que acabou se perdendo na segunda temporada e finalizando com um gosto agridoce.
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Texto revisado por Laura Maria Fernandes de Carvalho