Capa do álbum Higher Than Heaven, da Ellie Goulding

Entrevista | Ellie Goulding conta sobre produção de Higher Than Heaven

A cantora e compositora inglesa dividiu o que pensa sobre desafios, surpresas, curiosidades, inspirações e maternidade

Nascida na Inglaterra, a cantora e compositora Ellie Goulding ganhou reconhecimento ao chegar no topo do BBC Sound of 2010, que tem como missão encontrar os talentos musicais mais promissores, e receber o Critics Choice Award no BRIT Awards 2010. A artista é bastante conhecida pelas suas músicas que fazem parte de filmes, especialmente Love Me Like You Do, presente na trilha sonora de Cinquenta Tons de Cinza (2015).

Nesta sexta (7), Goulding comemorou a estreia do seu mais recente álbum de estúdio, com os singles Easy Lover, que tem a participação de Big Sean, e Let It Die. Para a produção do disco, a cantora sentiu uma espécie de conexão com a natureza durante o confinamento, além de dar à luz o seu primeiro filho. Higher Than Heaven é sobre se mover, cantar, se divertir mais do que o normal e escapar através da dança.

Confira a entrevista que Ellie Goulding concedeu ao Entretetizei, contando um pouco sobre os desafios, as surpresas, curiosidades exclusivas, inspirações mais marcantes e os efeitos que a maternidade trouxe ao seu trabalho:

Entretetizei: Higher Than Heaven é cheio de hits incríveis que destacam seus vocais e a produção é pop music com melodias eufóricas. Gostaria de saber se você tem uma curiosidade sobre o processo de criação do álbum, sobre os bastidores, para dividir com a gente.

Ellie Goulding: Bem, acho que era apenas uma questão de escapar da tristeza e da melancolia do confinamento, da solidão e de ser forçada a não ver as pessoas, não dançar, não sair para comer, não socializar. Nós estávamos todos bastante ansiosos para escrever músicas muito enérgicas e positivas. Não havia, você sabe… Não queríamos, nem por um segundo, começar a escrever algo profundo, simplesmente não queria que ninguém quisesse entrar nisso, era apenas diversão e exatamente o que precisávamos. Às vezes é uma sensação tão incrível estar no estúdio com pessoas que você ama, pessoas com quem você tem ótimas conversas e, às vezes, eu acho que a principal coisa que estávamos ansiosos para fazer era ver uns aos outros, sabe? Já fazia tanto tempo…

Eu também estava grávida, então estava lidando com uma espécie de surrealismo, meio que tentando chegar a um acordo com isso, então acho que provavelmente, em minha mente, eu estava escapando um pouquinho disso também, e eu certamente não queria escrever sobre gravidez, não queria escrever sobre ser mãe, simplesmente não estava sentindo isso na época, acho que isso poderá se tornar uma coisa em um momento no futuro. Mas, sim, naquele momento, nós realmente só queríamos dançar, sermos bobos, nos divertir e nos colocar em um mundo de amor e desfrute e paixão e sexo, e acho que conseguimos.

E: Seu mais recente álbum conta com muitas colaborações, além de ser uma obra de arte bastante experimental. Quais foram os maiores desafios e surpresas que esta criação trouxe a você?

EG: Eu acho que simplesmente a minha, não sei, capacidade de apreciar a música pelo que ela era, sem pensar muito nela. Eu realmente amo escrever música que é tirada dos meus mais profundos medos, desejos e pensamentos, e então só me permitir imergir no pop e na dança. Foi perfeitamente harmonioso e os versos eram muito universais. Para mim, eu meio que me surpreendi com isso porque, como eu falei uma vez, Delirium, meu terceiro álbum de estúdio, parecia um ótimo álbum pop, mas não parecia ser meu, sabe? Eu me senti um pouco como outra pessoa quando estava cantando aquelas músicas.

Quando eu assisto às apresentações é como se eu não soubesse nem quem é aquela pessoa, e isso não é uma coisa ruim, só acho que a dimensão dos meus dois primeiros álbuns, a turnê e os personagens em torno deles, acho que no terceiro álbum eu estava bem cansada e perdida, e acabei provavelmente assumindo um personagem completamente diferente. Acho que essas músicas vieram com isso. Mas também foi emocionante estar em Los Angeles e trabalhar com Max Martin e Ryan Tedder, acho que eu me entusiasmei com isso. Mas essas músicas, eu sinto que elas são um exemplo da minha escrita, é o mais pop que eu consigo seguir, e eu não acho que isso é uma coisa ruim.

E: Ellie, agora eu queria perguntar sobre suas maiores inspirações para Higher Than Heaven. Pessoas, lugares, sentimentos, tudo.

EG: Eu digo que foi mais inspirado pela ideia de estar em um festival, em um clube, em outro mundo, em outro planeta, sabe? Eu sou fascinada pelo espaço, fascinada pelo desconhecido, e eu sempre escrevi canções que eu sinto que conseguem levar as pessoas para outro universo, e eu acho que essa realmente era a principal coisa. Durante o confinamento, eu li muitos livros, toquei bastante violão e assei muitos bolos, mas eu sempre mergulhei na natureza, que sempre foi uma inspiração constante. 

E sempre gostei de caminhar e de estar em florestas e montanhas, então eu acho que isso sempre vai ser, sabe, uma coisa que definitivamente respira vida em mim e me faz ser a melhor compositora que eu poderia ser. Estou tentando pensar em outra coisa, meu cérebro não está realmente funcionando… Está bem, minha inspiração, como minhas influências, se diversificam entre muitos artistas diferentes, como Björk, Imogen Heap, Francis and the Lights, Bon Iver, The Weeknd, Lauryn Hill, Taylor Swift, como tantos artistas, então a lista segue para sempre.

E: Quais são as barreiras que você gostaria que fossem quebradas com o seu trabalho?

EG: Eu adoraria que tivesse menos sexismo no meu trabalho. E digo isso porque realmente influencia em tudo o que faço, como a minha síndrome do impostora que desfavorece as minhas performances, a minha escrita, às vezes, dependendo de com quem estou no estúdio, manipula as séries de TV que eu gosto, as oportunidades que recebo. Então eu gostaria muito que essa barreira fosse quebrada, que fosse, sabe, abordada abertamente outra vez. O movimento Me Too definitivamente assustou muitas pessoas e mudanças foram feitas, mas acho que, no fundo, ainda está enraizado em quase tudo na indústria da música, então eu gostaria de seguir a conversa.

No meu mundo ideal, eu adoraria poder explorar diversas áreas cantando, produzindo, escrevendo. Eu amo música clássica, eu amaria sentir que ainda consigo fazer o que faço e explorar outros gêneros, outros tipos de música, sabe? Acho que tem muita coisa que eu gostaria de fazer em tão pouco tempo, mas acho que, como eu falei antes, mudanças definitivamente ainda devem ser feitas. Recentemente, eu li um artigo em que as pessoas não estavam respeitando artistas femininas mais velhas, como com mais de 30 anos, o que é uma maluquice. Eu me sinto uma pessoa muito jovem, e vou continuar fazendo isso por bastante tempo. Eu sinto que ainda existe um pouco de preconceito com idade, sexismo, coisas que precisam ser abordadas em todas as indústrias, para ser honesta. Mas a música seria um bom início, a música é para todos e realmente deveria ter mais igualdade. Mas, sim, de qualquer forma, é o que eu penso.

E: Vivemos todos os dias o desafio de ser mulher em um mundo feito de patriarcado. Você tem uma dica para artistas mulheres que sonham em trabalhar na indústria da música?

EG: Sim! Não guarde remorsos, não aceite ser tratada mal pelas pessoas, seja assertiva, gentil e tenha a mente aberta, mas seja sempre confiante, siga sempre os seus instintos. Se você se sentir desconfortável, tenha sempre alguém com você, especialmente se você for uma jovem artista feminina ou não-binárie, tenha sempre alguém com você, alguém em quem você confie, um amigo… Eu acho que, para mim, o instinto é a coisa mais importante, intuição sobre o que você quer fazer.

E, em especial, não deixe um homem te indicar em que direção você deveria seguir se você acha que deve ser diferente. Mas acho que a coisa de não guardar remorsos é muito importante, porque eu sinto que teve tantas situações em que estive, onde senti que o homem tinha a melhor opinião, que ele provavelmente estava certo e que eu deveria ignorar a minha própria, e eu acho que, desde o início, você só tem que esmagar isso. E não é ser uma diva, não é ser difícil, é somente chegar a um lugar onde você está fazendo a melhor arte possível e, ao mesmo tempo, tenta esmagar o sexismo, que ainda existe muito aqui, ainda é um problema. Então, sim, acho que essa é provavelmente a melhor dica que consigo dar no momento.

E: Ellie, a maternidade é uma parte muito importante na vida das mulheres que escolhem vivenciá-la. Você acredita que isso mudou a forma como você faz música?

EG: Até agora, não, mas alguém me falou recentemente que acha que mudou a maneira como escrevo. Acho que as coisas me afetam de forma diferente agora, como poemas sobre suas filhas e seus filhos, poemas sobre ser mãe ou pai, canções que antigamente eu não apreciava realmente mas aprecio agora, porque estou em uma posição onde consigo saber por mim mesma, minha própria história, e antigamente eu simplesmente não sabia.

Mas essa é uma daquelas coisas que se você não sabe, você não sabe, e não vai te perturbar. Mas, então, quando perturba, você sabe que não tem nada que possa ser feito sobre isso e pensa que é uma jornada incrível para quem deseja. Eu acho impossível não ser profundamente mudada ao se tornar mãe: as suas prioridades, a forma como você gasta o seu tempo, sua paciência, bondade, sua curiosidade, todas essas coisas são fortalecidas por meio da sua criança e, eu não sei, definitivamente me mudou como pessoa, então acho que naturalmente vai me mudar como compositora. Definitivamente, sou uma pessoa muito mais ansiosa e medrosa agora, então acho que isso provavelmente encontrará seu caminho na minha música.

Assista à entrevista na íntegra, em vídeo, no canal do Entretetizei no YouTube:

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*Crédito da foto de destaque: reprodução/Universal Music

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