Uma conversa sobre feminismo, violência contra a mulher e resistência, temas abordados na série que ainda são realidade no mundo
Alerta de gatilho: violência e abusos
Marcada com cenas fortes e um suspense de tirar o fôlego, a série Señorita 89, original da Starzsplay já está disponível e com certeza nos faz refletir sobre a cultura do padrão da mulher perfeita.
Em uma entrevista com a atriz Leidi Gutierrez, que interpreta Jocelyn na série, conversamos sobre o enredo de Señorita 89, além dos desafios enfrentados pela atriz e a vida da personagem.
Sobre a série
Señorita 89 se passa no México, entre as décadas 1980 e 1990. A série acompanha a vida de mulheres que se inscrevem para um concurso de beleza, o qual durante três meses, 32 finalistas ficam confinadas em uma fazenda, La Encantada. As mulheres sofrem atrocidades, e passam inclusive por cirurgias plásticas a fim de se tornarem a mulher perfeita para o Miss México.
Mas não é apenas isso, o suspense revela segredos sombrios e muito preocupantes que fazem as participantes se unirem para saírem vivas do concurso.
A diretora, Lucia Puenzo expõe o que as mulheres viviam nas décadas de 80 e que infelizmente, ainda é visto na sociedade: “Nesses anos, víamos na televisão, homens deixando mulheres sem roupa, e a família toda ria. Não era algo que se escondia. Esse ‘abrir os olhos’ que as novas gerações desenvolveram nas últimas décadas é muito importante, conta com coisas que não podem mais ocorrer.”, em entrevista ao Notícias da TV.
A série ainda conta com a produção do indicado ao Oscar Pablo Larraín (Jackie) e um elenco incrível de atores e atrizes latines.
Quem é Leidi Gutierrez?
Diretamente do México, Leidi Gutierrez começou sua carreira aos 17 anos em um projeto chamado Las Elegidas de David Pablos. Além de Señorita 89, a atriz também já participou de outras produções conhecidas na América Latina, como Chicuarotes, que tem direção de Gael García Bernal.
A personagem Jocelyn
Começamos a entrevista ao perguntar sobre sua personagem em Señorita 89. Cada mulher participante do concurso possui uma história muito particular, e para Jocelyn não é diferente, criada nas grandes cidades da fronteira do México com os Estados Unidos, a personagem enfrentou dificuldades: desde pequena trabalhou um uma fábrica de costura para ajudar a família e após o desaparecimento da irmã, ela teve a necessidade de encontrar respostas.
“E é uma menina muito apegada à sua religião, suas crenças. Acho que esse também foi um dos maiores desafios para eu criar esta personagem, porque eu não sou uma pessoa tão religiosa … Jocelyn é a cara de muitas mulheres que foram violentadas, que sofreram, que perderam familiares. Acho que as pessoas vão entender um pouco mais, se identificar com ela, porque é algo que acontece muito em nosso país (México) e no mundo.”,contou a atriz.
Leidi completa dizendo que a série traz problemáticas bastante vivas em nossa realidade, mesmo que a série se passe nos anos 80, temas como violência contra a mulher, abusos e discriminação ainda são constantes.
“…infelizmente, em todo o país tem esse sentimento que sabe que vai sair para trabalhar, ir à escola, visitar alguém, mas ninguém está segura sobre o destino ou que vai voltar para casa. Então acredito que para mim é muito importante falar sobre esse temas e Señorita 89 me deu o espaço perfeito para isso.”
Assista a entrevista aqui
Padrões de beleza fora e dentro da série
Apesar da série ser um suspense e ficção, Señorita 89 expõe os horrores vividos pelas participantes baseados em concursos de beleza. Violência de gênero, feminicídios e desigualdade são alguns dos temas do enredo. Está muito claro que a direção tem o objetivo de nos fazer refletir sobre como a sociedade caminha quando o assunto é se tornar a mulher perfeita para os olhos do mundo, sem ao menos saber o que se passa por trás da vida das personagens e também de muitas mulheres reais que sofrem atrocidades e crimes durante a vida.
“32 ou 33 anos depois seguimos com essas situações, seguimos sofrendo de discriminação de maternidade, violência de gênero, feminicídios… Então acredito que a série toda carrega algo grande. Acredito que se ao menos uma ou duas pessoas forem mais empáticas com as situações que refletem na história, acredito que já é um ganho.”,contou Leidi.
E é claro que os concursos de beleza continuam Estão a todo momento nas telas da TV e plataformas de streaming. Você com certeza já viu mulheres magras, altas, sem manchas ou estrias, desfilando para pessoas que iriam julgar seus corpos e ao final decidir a “mais bela” de todas, ou programas de televisão que expunham corpos femininos sem roupas somente para alegrarem homens e telespectadores.
Felizmente, a indústria da televisão e dos concursos podem ser parecidas, contudo, há poucos anos começamos a filtrar produções como essas.
Perguntamos a Leidi se há uma comparação entres esses dois mundos e ela concorda que a indústria pode ser difícil quando você é mulher: “Acredito que se nota que estamos falando sobre um tema, que estamos falando sobre um contexto, mas, na realidade, esses tipos de situações acontecem dia a dia, na escola, em casa, ou seja, serem violentadas, serem maltratadas, abusadas. …eu acredito se tem algo a ver, e se há coisas que acontecem nos concursos, nesta indústria, estão falando mais, abrindo brechas, tanto na televisão como no cinema, como na música…”
Uma direção de mulheres
Muitas vezes quando assistimos grandes produções que falam sobre vidas femininas, percebemos que os diretores e produtores são compostos por homens. Não é o que acontece em Señorita 89, que é comandada por grandes mulheres: Lucía Puenzo, Sílvia Quer e Jimena Montemayor.
Perguntamos a Leidise há diferenças em participar de uma produção tão importante que possui temas relacionados às mulheres e tem uma direção feminina:
“De repente que cheguei com uma diretora que conhece, e que deixa bem claro seu trabalho, e compartilha o que sente como mulher, ser violentada, ser discriminada, ou seja, é como ter um tratamento diferente. Além disso, eu me sinto muito feliz e muito orgulhosa com todas as minhas companheiras e minhas diretoras.”
Em oito episódios, Señorita 89 deixa de ser apenas uma série intrigante e thriller, e acaba atingindo objetivos maiores quando fala sobre padrões de beleza e Miss México. Não se trata apenas de um país, mas a produção deixa claro os problemas socioculturais e econômicos de toda a América Latina.
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/Instagram @leidileidileidi