Crie de Manhã, Administre à Tarde é a mais recente publicação do artista brasileiro
Conhecido principalmente pelo seu trabalho como quadrinista, Mauricio de Sousa acaba de revelar um novo lado: o de empreendedor. No livro Crie de Manhã, Administre à Tarde, publicado em novembro de 2023 pela editora Maquinaria, ele apresenta justamente os bastidores da sua carreira empresarial.
O artista, hoje com 88 anos, dedicou mais de 60 ao ofício de cartunista. Todos conhecem o Mauricio criativo, que idealizou a Turma da Mônica. Mas além de ter criado personagens inesquecíveis, ele ainda comanda um grupo corporativo responsável pela gestão de quadrinhos, livros, filmes e muito mais.
Na verdade, a obra é uma peça realizada a oito mãos. Com a ajuda dos jornalistas Guther Faggion e Renata Sturm, Sousa contou a sua história de erros e acertos até chegar ao profissional de sucesso de hoje.
Em conversa com o Entretetizei, ele revelou os motivos que o levaram a escrever o novo livro. Além disso, também discorreu sobre as diferenças geracionais de leitores e como os quadrinhos são importantes para o desenvolvimento da educação. Confira!
Entretetizei: Qual foi a inspiração principal para escrever Crie de Manhã, Administre à Tarde?
Mauricio de Sousa: Foi um convite que a Editora Maquinaria me fez. Os editores, Renata e Guther, me convenceram de que eu ainda não havia passado as dicas de como consegui chegar ao sucesso atual sem verba alguma, apenas sustentando um sonho. Era preciso passar isso para um livro para servir de inspiração para outras pessoas que também têm seus sonhos e só precisam de um empurrãozinho, como aconteceu comigo.
E: Quais lições específicas você espera que os leitores extraiam da sua jornada empreendedora apresentada no livro?
MS: Bem, em primeiro lugar, sempre em busca de realizar algo que seria um prazer fazer. Gosta de cinema, tem que colocar suas atenções e contatos direcionados a isso, por exemplo. E assim é para qualquer profissão ou idealização que venha junto com nossos neurônios desde criança.
E: Como o processo de colaboração com Renata Sturm e Guther Faggion contribuiu para a abordagem narrativa do livro?
MS: O espírito jornalístico deles é muito eficaz. Sabem como conduzir e também como passar tudo o que conversamos de uma forma que todos possam entender de imediato. É um livro prático.
E: Ao refletir sobre sua carreira, o que o motivou a compartilhar os bastidores do império da Mauricio de Sousa Produções neste momento?
MS: Sempre pensei que tudo o que aprendemos deve ser passado para outras pessoas. Muitos foram generosos comigo ao me ajudarem nessa estrada da vida. O mundo só evolui quando as cabeças são arejadas com cultura e informação. Quero que o leitor se sinta como se estivesse em uma poltrona conversando comigo em uma tarde ensolarada.
E: Como você enxerga o papel deste livro na orientação e inspiração de futuros empreendedores no Brasil?
MS: Ser empreendedor é ser curioso em aprender sobre o que ama fazer. Este livro vai dar umas dicas boas. Se eu tivesse lido um livro desses em meu início de carreira, provavelmente teria acertado mais rapidamente na caminhada.
E: Como você aborda a interseção entre criatividade e administração em sua narrativa, e por que considera esse equilíbrio crucial?
MS: O título do livro é uma frase de meu pai logo que soube que eu queria mesmo seguir a carreira de desenhista. Quando ele disse, “crie de manhã e administre à tarde“, me fez refletir bem naquele momento de descobertas que para se dar bem com algum projeto é preciso não ser só o artista nem só o administrador, tem que ser os dois ao mesmo tempo. Assim, produzia de manhã meus trabalhos e, à tarde, saia para vendê-los.
E: Durante o processo de escrever o livro, houve algum desafio particular em expressar suas experiências de maneira autêntica?
MS: Com dois entrevistadores como a Renata e o Guther tudo foi um papo delicioso.
E: Como você escolheu quais aspectos específicos da sua jornada incluir no livro, considerando a vastidão de sua carreira?
MS: Fui apenas respondendo às perguntas e a seleção final e a forma do texto do livro são da Renata e do Guther. Eu não faria melhor. Claro que fui lembrando de historinhas reais que vivi e lembrei de outras que pensava que havia esquecido.
E: Como a Turma da Mônica evoluiu ao longo dos anos, e quais desafios criativos você enfrentou para manter o interesse do público?
MS: Algo que é preciso saber nessa indústria criativa onde me envolvi, é que o público vai ficando cada vez mais exigente, e se não houver novidades, rapidamente perdemos esse público.
Então, não paramos de criar a todo momento. Chegar ao sucesso é uma coisa que pode acontecer com muita gente, mas manter o sucesso é o que dá muito mais trabalho. Mantemos leitores e fãs nestes mais de 60 anos de publicações porque não paramos de ter novas ideias.
E: Como você lida com a responsabilidade de criar conteúdo que seja ao mesmo tempo educativo e divertido para um público diversificado?
MS: Em primeiro lugar temos que saber contar boas histórias e com bom humor, porque a primeira ideia de quem pega nas mãos ou vê nos meios eletrônicos é poder ter momentos de lazer e diversão.
Ao mesmo tempo, sabemos de nossa grande responsabilidade nos temas que passamos, que é levar um pouco de solidariedade, amizade, empatia e mostrar, principalmente às crianças, que todos temos que saber conviver com nossas diferenças. São fatores que todo ser humano tem e só precisam ser lembrados.
E: Qual é a importância, na sua opinião, dos quadrinhos na formação cultural das crianças brasileiras, especialmente através da Turma da Mônica?
MS: Estamos acostumados a receber cartas físicas e pelas redes sociais de professores e educadores que nos dizem utilizar nossas historinhas nas salas de aula para exercícios de português, redação, arte e temas diversificados.
A linguagem de quadrinhos é especial porque tem o texto junto com a imagem, e essa forma é forte para fixar algum ensinamento. Toda criança gosta de desenhar e, por isso, vira uma aula mágica para elas. E ajuda os professores a passar seus ensinamentos.
E: Como você enxerga o futuro da Turma da Mônica e sua contribuição contínua para a cultura e educação no Brasil?
MS: Temos mais de 150 revistas de temas institucionais que produzimos para ONGs e entidades utilizando o carisma de nossos personagens.
Uma delas é a revista que fala do ECA – Estatuto da Criança e Adolescente. Nesses anos, já foram impressas e distribuídas em escolas mais de 30 milhões de exemplares. A criança precisa saber de seus direitos para levar isso para a vida toda.
Criamos também alguns personagens com alguma deficiência como o Luca (cadeirante), a Dorinha (cega), a Sueli (surda), a Tati (Síndrome de Down), o André (autista), entre outros, para mostrar que todos querem se sentir incluídos na sociedade. Tudo isso é feito com muito carinho e muita informação de especialistas e pessoas que vivenciam essa realidade.
E: Ao longo dos anos, a Turma da Mônica expandiu-se para diferentes mídias. Como você aborda a adaptação do universo dos quadrinhos para outras formas de entretenimento?
MS: Estamos vendendo muito bem as revistas impressas, mostrando que a criança não vai apenas atrás de eletrônicos. A criança vai atrás de bom conteúdo, onde estiver, mas procuramos estar em todas as plataformas de comunicação disponíveis hoje, e nas que virão no futuro. Entramos agora na era dos live-action com muitas produções nossas de sucesso.
Começou com Laços baseado na Graphic MSP de mesmo nome da dupla de desenhistas Vitor e Lu Cafaggi. Foi em 2019. A pandemia atrasou um pouco outras produções, mas, agora em 2024, já foi lançado o filme da Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo, e mais dois estão programados para o segundo semestre: o filme do Chico Bento e uma biografia de minha vida.
Os shows que meu filho Mauro Sousa produz da turminha sempre ganham grande público e boa aceitação da crítica. E temos uma loucura, que é a animação da Turma da Mônica Toy, que já chegou a mais de 24 bilhões de visualizações pelo mundo todo.
E: Você percebe diferenças na recepção da Turma da Mônica por diferentes gerações de leitores? Como isso influencia suas criações?
MS: Toda criança em todos os países e em todas as gerações adoram ler histórias. O modo de contá-las pode mudar um pouco, mas todas falam de sentimentos humanos que estão dentro de nós, desde a época do homem das cavernas.
E: O que mais lhe inspira a criar histórias para a Turma da Mônica hoje em comparação com os primeiros dias da sua carreira?
MS: Hoje tenho uma grande equipe de roteiristas e desenhistas que produzem mais de 1200 páginas de quadrinhos por mês. Agora me divirto lendo e apreciando a criatividade deles. Minha filha Marina é quem analisa cada história e não deixa sair do nosso trilho de filosofia-base. Portanto, continuamos a estar falando a linguagem do aqui e agora das crianças de cada nova geração.
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*Crédito da foto de destaque: divulgação/Mauricio de Sousa Produções
Texto revisado por Kalylle Isse