Latinizei | Pagu: militante comunista, escritora e libertária

Escritora e poetisa, Pagu foi libertária para o seu tempo e militante comunista com orgulho

Nascida dia 9 de junho de 1910 e com uma infinidade de pseudônimos (Pat, Zazá, Patse, e outros), Patrícia Rehder Galvão se tornou Pagu muito nova, e em pouco tempo mudou muito no cenário brasileiro.

Pagu foi militante comunista, escritora, libertária e ainda mexeu com a organização interna do Grupo dos Cinco.

Já que o Latinizei já trouxe os nomes de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, por que não falar dela agora?!

Pagu é um ícone revolucionário, e dando orgulho e criando história, caminhou entre estradas de fogo em seus tempos para que pudéssemos andar com mais calma nos dias de hoje.

Adiantamos o aviso de que é completamente difícil definir Pagu, uma mulher rebelde para o seu tempo, militante política, militante artística, poeta, romancista, cartunista, jornalista e muitos outros istas que somos completamente incapazes de nomear. Essa foi Pagu, Patrícia Galvão.

Vida prematura, libertária feminina

Foto: Divulgação

Sempre muito precoce, Pagu se assumiu sexualmente ativa por volta dos 12 anos de idade, e quando engravidou de forma prematura – por volta dos 14 anos -, ela já descobriu algumas amarguras da vida quando, por causas naturais, perdeu o bebê que esperava.

Seu romance precoce com o ator e cineasta Olympio Guilherme é um dos mais lembrados nessa sua primeira fase romântica da vida…

É de se deduzir que, só por isso, Pagu já era uma força da natureza para a liberdade feminina. E era sim! Usava batom vermelho e roupas transparentes, gostava de exibir sua força feminina por meio de seu intelecto apurado e de se impor como uma mulher ativa e forte em qualquer coisa que escolhesse fazer.

Pagu teve, depois dessa primeira experiência traumática, mais dois filhos. Um com o escritor Oswald de Andrade, chamado Rudá, e um chamado Geraldo, com o grande amor da sua vida, Geraldo Ferraz, jornalista e escritor, amigo de Oswald de Andrade e antigo colega da Revista Antropofágica. Aliás, ter decidido ser mãe depois de perder um bebê, em nada mudava os traumas que viriam, já que seu casamento com Oswald de Andrade não parece ter sido calmo.

Primeira presa política (no Brasil)

Foto: Divulgação

Sendo a primeira mulher a ser presa por questões políticas, Pagu também foi uma recordista de prisões. Não bastasse criar esse reconhecimento no cenário do cárcere feminino quando foi detida pela primeira vez, Pagu teve orgulho de continuar suas lutas pessoais, mesmo que isso lhe rendesse ser presa mais 22 vezes depois dessa.

Sua primeira prisão aconteceu no governo de Getúlio Vargas, enquanto ela fazia parte da Greve dos Estivadores.

Tudo começou com seu envolvimento com o comunismo, na época em que Luís Carlos Prestes era um grande líder comunista; e se achando completamente capaz de fazer grandes mudanças no cenário político do mundo, se envolveu de forma intensa com o comunismo.

Considerada inimiga do governo e sendo perseguida, Pagu era um dos nomes femininos mais fortes dentro do movimento, e chegou a abandonar seu primeiro filho com o pai, Oswald de Andrade, para encabeçar lutas políticas ao redor do mundo, já que viver no Brasil era um risco constante.

Foi nessa época que foi responsável por criar o primeiro romance proletário do Brasil escrito por uma mulher. Nomeado Parque Industrial, e usando o pseudônimo Mara Lobo, Pagu criava história comunista na literatura nacional.

Ela chegou a viajar para a Rússia e para o Japão, e relatou tudo isso em seu diário – completamente transtornada e sofrendo pelo que via -, são trechos pesados que o leitor enfrenta ao ler essa escrita.

O cenário artístico de Pagu

Foto: Divulgação

Tendo tido aulas com Mário de Andrade ainda muito nova, Pagu emergiu no cenário artístico brasileiro como uma figura libertária, na escrita e no comportamento.

Seu reconhecimento com o nome Pagu veio do poeta Raul Bopp, que escreveu um poema em sua homenagem. Achando que Patrícia se chamava Patrícia Goulart, Raul Bopp a apelidou de Pagu (mesmo que isso a tenha deixado frustrada por não gostar nem um pouco do apelido).

Em 1922, no auge da Semana de Arte Moderna, Pagu tinha 12 anos de idade, mas isso não a impediu de se unir – artisticamente – ao cenário modernista que fez sucesso na sua juventude. Em 1928, Pagu foi apresentada ao casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, pelo próprio Raul Bopp, e então passou a aprender e a aprofundar suas percepções artísticas sobre arte com a ajuda dos membros do Grupo dos Cinco.

Pagu entrou rápido para o círculo de artistas do Movimento Antropofágico e isso a aproximou ainda mais de Oswald de Andrade – na época, marido de Tarsila do Amaral. O que mais a convenceu da ideia, antes de qualquer outra coisa, é que Pagu era uma apaixonada pela cultura do nosso país e fazia do Brasil sua terra de amor eterno, então entender e divulgar o antropofagismo foi seu primeiro grande desejo junto ao grupo.

Responsáveis por forjarem um casamento para Pagu, Oswald e Tarsila ajudaram a jovem a sair da casa de seus pais conservadores, mas foi nesse momento da história que Pagu se tornou um ponto de ruptura no casal, se tornando – oficialmente – o novo par romântico de Oswald de Andrade. O relacionamento dos dois foi responsável por criar o diário (As Horas de Pagu que São Minhas), onde Oswald chegou a fazer um gracejo rude e desnecessário sobre Tarsila do Amaral e Pagu. Bem ao estilo de Diego Rivera

Jornalista da soja

Foto: Divulgação

Responsável por trazer as primeiras sementes de soja ao Brasil, Pagu conheceu um príncipe chinês e entrevistou Freud em uma viagem de navio. Viajou quase o mundo todo, foi amiga de poetas e artistas variados e contribuiu com todos os tipos de arte. Se dedicou ao jornalismo e a tradução em certo momento da vida, quando decidiu viver em família e com sossego na cidade de Santos.

Já usando o nome de batismo e só respondendo por ele, Pagu – agora Patrícia Galvão – se dedicou às artes depois de ruir e quebrar com seus ideais comunistas, após  ser completamente frustrada ao conhecer a URSS.

Foi responsável por fundar o FESTA (Festival Santista de Teatro), que é o festival de teatro mais antigo do Brasil, e também levou o 2º Festival de Teatro de Estudantes para a cidade de Santos, litoral de São Paulo.

Usando seu título de jornalista, Pagu contribuiu para mais de 20 jornais, entre Rio de Janeiro, São Paulo e Santos.

Também foi responsável pela criação do Teatro Municipal de Santos, e teve o espaço batizado de Espaço Cultural Patrícia Galvão.

Pagu também foi responsável por traduzir James Joyce e Eugène Ionesco.

Rita Lee que o diga

Foto: Divulgação

No fim da vida, quando recebeu um diagnóstico de câncer, Pagu trabalhava com teatro, era diretora teatral e já não se envolvia com movimentos políticos de forma direta. Escrever tinha se tornado raro na vida de Pagu nessa época, mas seu histórico tinha deixado frutos eternos em nossa terra e história.

Pagu virou inspiração para a música homônima de Rita Lee, que se popularizou na voz de Zélia Duncan e Maria Rita, e já teve covers com as vozes de Gloria Groove, Agnes Nunes e Majur, Pagu tem versos tão fortes quanto sua musa.

“Mexo, remexo na inquisição/Só quem já morreu na fogueira/Sabe o que é ser carvão”, essa é só uma parte do que Pagu foi em vida: uma libertária passível de condenação a bruxaria em tempos ainda mais remotos.

Hoje, o maior arquivo referente a Pagu se encontra na Universidade de Santos, já que foi lá que a escritora viveu muitos de seus anos felizes.

Seus livros também marcam espaço na literatura nacional de forma permanente, não apenas seu romance dos seus tempos no comunismo.

Pagu foi tudo: mulher libertária, ativista política, militante cultural, escritora, cartunista, tradutora e jornalista, e teve uma trajetória de dor e sofrimento, além de carregar títulos infinitos de pseudônimos. E é claro que esse texto não é o suficiente para encapsular sua grandiosidade de forma completa, mas fica aqui nosso tributo pessoal por essa mulher que sofreu por ser quem era.

https://www.youtube.com/watch?v=0wfzUy-Jw5o

Qual versão da Pagu você conhecia? Queremos saber sobre a sua relação com Pagu lá nas nossas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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