Latinizei | Tarsila do Amaral: brasileira, artista e mãe solo

Tarsila do Amaral foi artista, modernista e mãe solo que fez muito mais do que te obrigar a pintar o Abaporu

Tarsila do Amaral te fez repintar suas obras na escola e te ensinou o que era arte e, além de ser uma artista incrível, foi uma mulher forte e resiliente.

Depois de trazer Frida Kahlo para o Latinizei, agora voltamos com outra mulher latino-americana que merece mais do que menções honrosas nas aulas de arte do fundamental um.

Nascida em 1 de setembro de 1886, Tarsila do Amaral era filha de uma família rica produtora de café e cresceu entre luxos e estudos, sendo muito bem educada e incentivada ao intelecto. Mas mais do que isso, Tarsila morou na Espanha para finalizar seus estudos e quando voltou, se casou e então começou a se tornar um marco da luta feminina por espaço na sociedade.

Divórcio e maternidade

Foto: Divulgação

Não tem como falar sobre Tarsila do Amaral e pular o momento da sua vida no qual ela teve que escolher entre viver os costumes e padrões da sua época e o seu sonho de ser artista. E como tal, assim somos forçadas a escrever sobre o primeiro casamento de Tarsila. E, consequentemente, sobre o seu divórcio.

Quando voltou de Barcelona, Tarsila se casou com André Teixeira Pinto e teve uma filha, chamada Dulce. Logo após o nascimento da filha, Tarsila decidiu que não iria ficar  em casa sob a sombra conservadora do marido e por isso pediu a separação e voltou para a casa dos pais, no interior de São Paulo.

Sendo mãe solo, Tarsila partiu do Brasil para a Europa, rumo à Paris, para estudar arte e por lá estreitou seu relacionamento com a também pintora Anita Malfatti e com o movimento modernista.

A relação de Tarsila com sua filha Dulce não é o foco dos estudos sobre a carreira e vida da pintora, mas é deixado claro que Tarsila era próxima da filha e que sem a maternidade ela não teria sido a mulher que se tornou.

Oswald de Andrade e o movimento antropofágico

Foto: Divulgação

Ao retornar ao Brasil, Tarsila conheceu o escritor Oswald de Andrade e estabeleceu com ele um romance que, assim que conseguiu a oficialização do divórcio, se tornou um casamento aparentemente próspero. Mas como uma tendência das grandes pintoras latinas do seu tempo, assim como Frida Kahlo, Tarsila se viu em um casamento infeliz e fadado ao fracasso, já que poucos anos depois Oswald se apaixonou pela escritora Pagu.

Apesar do relacionamento rápido e do divórcio, Oswald de Andrade foi mais do que um marido para Tarsila. Sendo um dos nomes do Grupo dos Cinco, Oswald se inspirou na obra da então esposa, Tarsila, a tela Abaporu, para dar voz ao Movimento Antropofágico.

A tela batizada de Abaporu foi pintada em 1928 e foi um presente de aniversário de Tarsila para Oswald, e recebeu esse nome depois de uma pesquisa feita no dicionário de tupi-guarani do pai de Tarsila. O nome da tela é uma junção das palavras Aba, que significa homem, e Poru, que significa que come.

O Movimento Antropofágico tinha a ideia de pegar a cultura europeia e a sintetizar com elementos brasileiros, criando um espaço de orgulho e encaixe da cultura brasileira, e o quadro Abaporu traduzia bem o sentimento do movimento: sendo o homem que sai da terra e come o homem.

União Soviética e prisão

Foto: Divulgação

Depois de perder o marido Oswald por conta da traição com Pagu e ver o lado financeiro da sua família despencar, Tarsila partiu para a Rússia ao lado de seu novo namorado, o psiquiatra Osório César.

Por lá Tarsila se envolveu com reuniões do partido socialista e seu apreço pelos discursos comunistas fizeram de Tarsila do Amaral uma inimiga do estado, e assim  voltou ao Brasil, nos primeiros anos da década de 1930.

Tarsila era uma ouvinte do movimento por fazer companhia ao namorado, mas isso a tornou alvo e a levou à prisão por cerca de um mês.

O trauma causado pela prisão deixou Tarsila longe da política de forma permanente, mas é inegável que sua tela Operários, de 1933, é uma forte representação da sociedade brasileira e seu estilo de governo daquela época.

Depressão e deficiência

Foto: Divulgação

Em 1949, a única neta de Tarsila, Beatriz, acabou falecendo ao tentar salvar uma amiga do afogamento em um lago da cidade de Petrópolis, e nenhuma das duas sobreviveu ao incidente. Anos depois, em 1966, Dulce, única filha de Tarsila, também faleceu. 

Entre as perdas da neta e da filha, ela precisou fazer uma cirurgia na coluna e isso a deixou paraplégica por causa de um erro médico.

Ligada ao espiritismo no fim da vida e já longe das pinturas, Tarsila do Amaral faleceu em 1973, com depressão e vivendo com uma falta de movimentos nas pernas que lhe foi imposta.

Moderninha

Foto: Divulgação

Tarsila do Amaral é um ícone da luta feminina, seja por  crença na sua arte e abandono dos padrões machistas impostos em seu tempo, seja  por escolha de viver no Brasil e honrar sua terra em sua obra de arte.

Mais do que Abaporu, Operários e suas criaturas tarsilianas, por isso ela foi e ainda é um marco na história da arte e na luta da mulher latino-americana.

Responsável por encabeçar o movimento modernista, uma das principais figuras do antropofagismo, amiga de Pablo Picasso e Anita Malfatti, revolucionária no direito da mulher ao divórcio consecutivo e da pessoa com deficiência, sendo depressiva, Tarsila do Amaral é inspiração e nos faz ter orgulho de ser mulher e nascer latina, tal como nos faz repensar e apaixonar pelo nosso Brasil.

Agora corre nas nossas redes sociais – Twitter, Insta e Face – e fala pra gente o que você mais gosta na obra da Tarsila. Qual foi a primeira obra dela que você conheceu?

*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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