Pequena Miss Sunshine: 15 anos de filme e seis temas importantes

O filme Pequena Miss Sunshine completa 15 anos do seu lançamento e já trazia temas importantes para discussão social

AVISO DE GATILHO: DEPRESSÃO/SUICÍDIO

ALERTA DE SPOILER

O filme Pequena Miss Sunshine estreou em 20 de outubro de 2006 e naquela época trouxe alguns assuntos importantes para a discussão social, fazendo o público se chocar com a sinceridade da família Hoover.

Escrito por Michael Arndt e dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, Pequena Miss Sunshine reuniu um elenco de peso e até um pouco inusitado para encarnar a família Hoover, com nomes como Abigail Breslin, Toni Collette, Steve Carell e Greg Kinnear.

Os Hoover estão passando por uma fase mais do que complexa em suas vidas e a relação familiar tem se tornado cada dia mais difícil, e para piorar eles se enfiam em uma viagem de dois dias de carro até a Califórnia, para a caçula da família, Olive, participar do concurso de Pequena Miss Sunshine. Em situações que vão piorando a cada dez segundos, como a kombi amarela que para de funcionar e o trabalho do pai que vai se esgotando, o filme debate sobre questões de grande relevância social.

Para comemorar os 15 anos de estreia, decidimos falar sobre como cada personagem traz um tema para a roda de debate.

Richard Hoover e o coach

Foto: Divulgação

Richard (Greg Kinnear) é o pai da família Hoover, e como todo desesperado por prover sua família, ele cai na cilada de um figurão dos negócios e tenta vender sua ideia de como se pode vencer a vida em nove passos, confiando na proposta de se tornar um coach famoso.

Em 2006, a palavra coach não era tão popular e vendo o filme por uma perspectiva momentânea, achamos que a ideia de vender regras de como ganhar a vida pode ser bobagem, mas então lembramos do termo coach dos tempos mais modernos.

Longe de nós criticar o trabalho de quem vende propostas de melhoria de vida e autoajuda, porque sabemos que isso realmente melhora a vida de milhares de pessoas, temos que lembrar que a discussão que Richard acrescenta em Pequena Miss Sunshine é: todo coach que vende prosperidade é próspero?

Richard tem medo do fracasso, cria ideias preconceituosas e reforça padrões heteroxessuais e de corpos perfeitos, e tudo isso o torna uma pessoa antiquada e irritante, que passa a vida tentando empregar suas regras e estilo de vida ideal para pessoas que não estão nem um pouco interessadas. A existência de Richard torna o filme um constante debate sobre o que é felicidade genuína e o que é vendido como felicidade.

Sheryl e as muitas jornadas femininas

Foto: Divulgação

Sheryl (Toni Collette), a mãe da família Hoover, é uma mulher cansada e cheia de coisas na cabeça. Tentando equilibrar o papel de mãe e esposa, ela ainda tem que se ver diante do dilema de cuidar do irmão depressivo, Frank.

Enquanto assistimos todos os personagens do filme se desgastarem e se alterando aos poucos, Sheryl já começa o filme com uma aparência cansada e suada, nitidamente desesperada por ser boa e compreensiva com cada membro da família.

No filme não é dito se Sheryl trabalha fora de casa além de tudo, mas podemos concluir que mesmo que ela não trabalhe, a função dela no roteiro é mostrar ao público como o papel da mulher é sempre o mais cansativo, e ainda assim, ela ainda tem que parecer bem e afetuosa.

As muitas jornadas de trabalho e existência feminina tem sido um debate forte e impactante nos tempos modernos, se intensificando com a era digital, mas já é possível ver essa questão ganhando foco no filme. Ser mulher e viver em um mundo machista,cheio de padrões e normas, torna a existência feminina muito mais complexa e faz com que o peso de tudo recaia sobre os ombros da mulher, sem nem mesmo existir a pergunta: aquela mulher quer mesmo enfrentar isso? Ela é capaz de lidar com isso sozinha?

Frank e a depressão grave

Foto: Divulgação

O tio Frank (Steve Carell) é, de longe, o personagem mais sensível e humano de todo o filme. Ele é responsável por incluir debates sobre homossexualidade e depressão, assim como o suicídio, mas tudo de uma forma surpreendentemente leve.

Dando uma explicação bem sincera sobre a vida dos adultos para a pequena Olive logo nos primeiros momentos de filme, sendo o mais apaixonado e o mais carinhoso, é o tio Frank o responsável por unir os diferentes temperamentos familiares, e também o responsável por antagonizar o desespero por conquistas e vitórias que Richard tem.

Com um humor ácido e um temperamento gentil, Frank consola a irmã infeliz, simpatiza com o pai do cunhado, se impõe contra Richard, acolhe o sobrinho tímido e incentiva e protege a sobrinha. Ele é o responsável por impulsionar algumas das conversas mais fortes em um filme de 2006 e cria peso dramático para uma família com senso exclusivista.

Frank não está preocupado de ter fracassado e não liga se vai ser julgado pelas escolhas que fez, assim como entende que sua condição psicológica é uma consequência da vida dele e que falar com seus entes queridos apenas das partes ruins não faz sentido, especialmente com os sobrinhos. É Frank quem antipatiza com Richard quando ele pressiona a filha de sete anos sobre conquistas e corpo perfeito, e é ele quem tem uma conversa sincera com o sobrinho desolado.

Vovô e o luto

Foto: Divulgação

O vovô (Alan Arkin) está em pé de igualdade com o tio Frank, e faz da família Hoover um centro de explosão emocional e realista.

Responsável por treinar a neta para participar do concurso, por incentivar o neto a viver todo o auge da sua juventude e por usar de lábia e gentileza para nadar contra os padrões exigentes do filho e o cansaço da nora, o vovô é o personagem que causa alívio cômico quando a situação está tensa.

Quando o vovô falece no meio da viagem e a família decide transportar ele até a Califórnia enrolado em um lençol no porta-malas da kombi, entendemos que sem ele nada daquilo teria acontecido e que a importância da sabedoria – por mais tola que pareça – é responsável por guiar os passos de gerações e gerações.

Na última noite de vida do vovô, Olive teve carinho e afeto, foi confortada e apaziguada pelo amor que o avô tinha a lhe oferecer. A forma da família lidar com o luto também é um debate de total responsabilidade desse personagem inusitado e apaixonante, e nos faz refletir sobre perdas e superação, e sobre como a vida pode ser leve, antes que ela acabe.

Dwayne e o daltonismo

Foto: Divulgação

Tendo um começo que não parece muito promissor, Dwayne Hoover (Paul Dano), o irmão mais velho de Olive, se mostra uma figura fria e distante da família, disposto a se afastar de todos eles na sua primeira oportunidade. Mas ao decorrer do filme a coisa muda, e entendemos que Dwayne é um adolescente sensível e carinhoso, que está sempre disposto a ajudar a irmã caçula e a protegê-la.

Com a descoberta repentina do seu daltonismo, Dwayne se vê diante do problema de estar impossibilitado a se tornar piloto de avião – seu grande sonho – e em um desabafo tenso, Dwayne quebra seu voto de silêncio e desconta na mãe o desespero de um sonho falido.

Criando um debate sobre aceitação e superação, um curto diálogo positivo com o tio e o amor incondicional pela irmã, Dwayne se torna um dos personagens mais queridos de todo o circuito familiar de cinema.

Ele é o responsável por criar representatividade no cenário do filme, e apesar de não ser uma representação muito impactante, o fato de ter um daltônico em um filme feito em 2006 já é de grande valia e inicia as conversas para que pessoas com deficiência possam começar a serem vistas com mais originalidade e realidade no cinema, mesmo que o daltonismos seja apenas uma condição ocular e não uma deficiência visual.

Olive e os grandes sonhos

Foto: Divulgação

A grande responsável pela viagem acontecer e a personagem mais forte do filme, Olive Hoover (Abigail Breslin) é a criança de sete anos mais sonhadora da história do cinema, criando uma narrativa de esperança e união.

Responsável por gerar uma comoção absoluta entre os membros da família e os unir em uma cena final inesperada, em pleno palco do concurso Pequena Miss Sunshine, Olive usa da inocência infantil para sonhar alto e ter esperança naquilo que quer.

Os sonhos de todos os adultos da família já foram fracassados, e é Olive a única que se vê diante de um futuro inteiro pela frente, com a proposta de que algo para ela também vai dar errado, mas que está tudo bem, porque ter esperança e perseverar é o que importa. E como a boa aprendiz do avô, Olive garante que se divertir é sim a palavra de ordem.

Todos nós podemos ter um pouco de Olive, e essa é a ideia principal do filme!

Foto: Divulgação

Pequena Miss Sunshine é um marco na história do cinema e tem infinitos debates e relevâncias, servindo de inspiração até para clipe musical brasileiro, então vale muito que você pare tudo e corra para ver – ou rever – esse filme maravilhoso.

Estamos te esperando nas nossas redes sociais – Twitter, Insta e Face – para falar mais sobre esse filme. Vem conversar com a gente!

*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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