Com um cenário histórico poderoso, o filme peca ao não entregar a intensidade emocional necessária para impactar o público
Ainda Somos os Mesmos (2023) se passa no início dos anos 1970, em uma América Latina dominada por ditaduras militares. A trama segue Gabriel (Lucas Zaffari), um estudante de medicina que, fugindo da repressão militar no Brasil, busca refúgio no Chile, acreditando que estará seguro no governo de Salvador Allende.
Mas o golpe militar liderado por Augusto Pinochet transforma o país em um cenário de medo e perseguição. Agora, Gabriel tenta sobreviver e se proteger, enquanto seu pai, Fernando (Edson Celulari), um empresário com conexões políticas no Brasil, busca maneiras de resgatar o filho.
Baseado em fatos reais, o filme usa a relação complicada entre pai e filho para explorar as tensões e horrores de viver sob um regime autoritário. Enquanto Gabriel tenta escapar da repressão, Fernando lida com dilemas morais e a pressão de suas ligações com os militares.
A narrativa alterna entre os dois personagens, utilizando flashbacks para ajudar a contar a história e mostrar o impacto das escolhas de cada um. A ideia central de Ainda Somos os Mesmos é revelar as cicatrizes profundas deixadas por esses regimes.
Embora o tema seja forte e necessário, o filme não consegue entregar toda a carga emocional que promete. As atuações de Lucas Zaffari e Edson Celulari, apesar de competentes, não alcançam o nível de profundidade que a história exige.
Os momentos de maior tensão, que deveriam emocionar e envolver o público, acabam parecendo mornos, sem o peso dramático que poderia levar o espectador a se conectar com a trama. A relação pai e filho, que deveria ser o coração do filme, muitas vezes fica em segundo plano e não explora todo o seu potencial.
A trilha sonora, que poderia aumentar a dramaticidade das cenas, acaba se tornando repetitiva e, em alguns momentos, até quebrando o ritmo da narrativa. A direção de Paulo Nascimento é correta, mas o filme poderia ousar mais, principalmente em termos de intensidade. A narrativa linear e o uso de flashbacks funcionam, mas não trazem novidades suficientes para elevar o filme a outro nível.
Ainda assim, o filme tem seus pontos altos, e Carol Castro é um deles. Interpretando Clara, uma economista afetada pelos traumas da ditadura, ela traz a profundidade emocional que falta em outros personagens. Mesmo com menos tempo de tela, sua presença é forte e seus momentos ajudam a dar mais peso às reflexões sobre a brutalidade dos regimes ditatoriais e seus impactos na vida das pessoas.
Rodado em locações no Chile e no Brasil, Ainda Somos os Mesmos se destaca pela qualidade técnica, especialmente nas paisagens chilenas. Premiado como Melhor Filme Independente no Montreal Independent Film Festival 2023, o filme se destacou no circuito de festivais por sua temática relevante. No entanto, apesar da boa produção e do tema importante, a falta de intensidade emocional impede que o filme seja verdadeiramente marcante.
Em resumo, Ainda Somos os Mesmos aborda um período sombrio da história que não pode ser esquecido, mas esbarra em atuações mornas e falta de emoção em momentos-chave. A ditadura chilena foi uma das mais violentas da América Latina, e o filme poderia ter aproveitado melhor esse pano de fundo histórico para criar uma experiência mais envolvente e impactante.
Ainda Somos os Mesmos estreia nos cinemas dia 26 de setembro e vale lembrar que a primeira semana de estreia do filme é a mais importante. Viva o cinema nacional!
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Texto revisado por Bells Pontes