Álbum visual de Manu Gavassi, GRACINHA, reforça a beleza interior da artista e afasta seus medos de forma potente e conceitual
GRACINHA, de Manu Gavassi, é uma aposta curiosa em uma carreira fásica. E o mais importante desse projeto é que tudo surgiu por meio de uma música, a homônima GRACINHA, que tem como centro da letra uma protagonista em uma viagem de autoconhecimento e descoberta bruta.
Ver as fases de Manu Gavassi, tendo sido a geração da revista Capricho e a geração que a viu cantar fino sobre amores complicados demais para uma paulistana sonhadora, nos torna a geração perfeita para apreciar o álbum visual e aplaudir de pé.
A sinopse de GRACINHA é a carreira de Manu Gavassi, preto no branco. Desde uma aposta juvenil em um palco enfeitado para receber suas histórias até uma maturidade focada em rir de si mesma e brincar de casinha com seus próprios conceitos, Manu continua em busca de melhorar seu autoconhecimento.
GRACINHA é um álbum visual cru, sincero e belo, com a excelência que Manu sempre esteve disposta a apresentar ao público, e revitaliza uma cena feminina que a cultura pop nacional ainda não aprendeu a consumir sem impactos.
A moda
Vamos começar dizendo que o cenário já é uma viagem ao passado, o que reforça as escolhas de figurinos de todo o elenco. E não à toa, podemos afirmar. No palco do Teatro de Ouro Preto, em Minas Gerais, que por acaso é o teatro mais antigo ainda em funcionamento na América Latina, Manu Gavassi dá vida a sua carreira de novo, mas em mutação.
Mas Ouro Preto não é a única história contada em cena – além da trama da autodescoberta, claro.
Repito: como a geração que a viu abrir as asas na época da revista Capricho, somos tendenciosas a analisar a carreira de Manu Gavassi como um eterno desfile de moda. Planos Impossíveis já tinha sido a primeira demonstração de que Manu Gavassi é um ícone fashion, entre todas as outras coisas que ela também é. E apesar de nem todas as modas de 10 anos atrás serem assim tão realistas nos dias de hoje, quando Manu surgiu com seu headband, seu arco de laço imenso e saia de tule com coturno, todas nós sonhamos em ser um pouco como ela: ousadas e estilosas.
E agora ela traz de volta sua essência na moda que já tinha surgido com força na época do BBB, mas se replica em massa nas câmeras de GRACINHA. Com cores mais claras para demonstrar submissão e delicadeza, e cores mais fortes para debater sobre os medos e o luto de existir dentro de uma personagem que está sempre fadada a morrer para se reinventar, Manu Gavassi revive também a nossa memória afetiva sobre sua força na cena fashion de toda uma geração. E claro, conta uma história com os figurinos, tão emocionante quanto a contada em cena.
Representatividade histórica
A cidade de Ouro Preto é uma das cidades mais escravocratas do Brasil, e não é comum se pensar em colocar essa história tão íntima de Manu Gavassi nesse ambiente. Não apenas por ser paulistana e branca, mas porque remexer o peso histórico de lugares como Ouro Pretopode soar vão e irresponsável, quase impróprio.
E é nesse impacto estrutural que o conceito de Manu Gavassi se apresenta novato e limpo. Reafirmando a força preta naquele cenário, a história deixa claro que existe uma hierarquia preta que comanda aquele espaço, e nada mais justo.
É arrepiante o peso de termos uma figura preta e feminina tomando as rédeas da situação e escolhendo a hora exata em que o show deveria começar, como a rainha da sua terra, que honra seu povo e sua cultura ferida pelos anos de escravidão. Anna Luiah foi a escolha perfeita, sem dúvida.
GRACINHA abraça seu cenário e sua história dentro desse lugar, e presenteia representatividade, liberdade, e revida os senhores de engenho com figuras pretas em destaque, comandando as terras em que um dia foram escravizados. É de chorar e arrepiar!
O abraço da cultura preta local, com um elenco que apostou com força em representatividade, temos uma história de paixões que são imensuráveis, e apreciar Ícaro Silva tomando o papel de galã que sempre foi de direito da sua raça nos faz questionar qual foi o momento que a história decidiu continuar se esquecendo dessa beleza tão exclusiva dos descendentes de países africanos.
Arte em essência
Reavaliando sua própria trajetória na indústria do entretenimento, Manu Gavassi vive a vida de GRACINHA, alguém que teme abandonar sua consolidação como bailarina submissa dentro do cenário artístico, mas que é muito mais do que podemos refletir por fora.
A beleza graciosa das sequências são cruas ao ponto de entendermos toda a história sem que uma palavra seja dita. Nós sentimos os pesos e as dores de GRACINHA, levantamos os olhos para não chorar com a sua inicial dor em não poder se recriar, de não poder deixar os sonhos de outras pessoas em virtude dos seus. E que peso emocional causaria isso se não a arte em sua essência mais pura?
Quando, na música Áudio de Desculpas (lançada quase um ano antes do projeto GRACINHA existir, e não tendo nada a ver com a ideia dessa nova fase), Manu disse que é difícil viver sem ela, a afirmação foi certeira. Quem somos nós sem a arte impecável e inominável de Manu Gavassi?
Inclusive, a estética de unir moda única, peso emocional e cenários históricos já veio da música Áudio de Desculpas, quando Manu Gavassi regressava de uma era mais pop na sua carreira e enfrentava seus demônios pessoais com uma forma de arte irreverente e singular.
E você, o que achou do álbum visual que a Manu Gavassi decidiu nos dar? Vem conversar sobre isso com a gente lá nas nossas redes sociais – Twitter, Insta e Face -, e se você ainda não assistiu, corre para apreciar essa obra prima na única plataforma digital que permite que contos de fadas sejam sempre contados de forma tão apaixonada: a Disney+.
*Crédito da foto de destaque: divulgação