Resenha | Shiva Baby: o efeito do caos e a revolta de ser impotente

Shiva Baby é um filme sobre o impacto de se viver o caos e gera estranhamento e sensação de impotência

Shiva Baby está disponível no MUBI e fala sobre uma universitária chamada Danielle (Rachel Sennott), que tem usado de suas próprias formas para conseguir dinheiro e viver uma vida o mais independente possível dos pais.

Em um dia em que ela está com seu parceiro, sua mãe telefona para chamá-la para um shivá, que é o período de sete dias de luto que os judeus mantêm quando perdem um ente querido. Nesse shivá em especial, Danielle tem que passar um dia inteiro em uma casa com os pais complexos, a ex-namorada da escola, o novo parceiro (que é casado, e isso nem é spoiler) e muitas senhoras dispostas a opinar sobre seu corpo e seus hábitos.

O filme passa por emoções variadas e consome pouco mais de uma hora de nosso tempo, explanando a sensação de caos.

Caos, caos e caos

Foto: divulgação

Se tem uma coisa que Shiva Baby faz bem é explorar o caos. Muito além da visão de caos que o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum), de Jurassic Park (1993), consideraria uma curiosidade dos efeitos do caos, a diretora Emma Seligman aprofundou o impacto dessa questão na pele de Danielle.

Com uma relação já caótica com os pais, que se dividem entre um pai distraído e inocentemente inconveniente e uma mãe implicante e perfeccionista, Danielle ainda acaba descobrindo que o homem com quem se relaciona é casado e tem uma filha pequena que nunca para de chorar. E se isso já não fosse o suficiente, a ex-namorada de Danielle também está no shivá e tudo vai crescendo mais e mais com cada pequena interação dos personagens.

Trabalhando o efeito do caos com bastante cuidado e perfeição, a narrativa se complica a cada segundo e ficamos com os nervos tensos a cada nova cena. A direção de fotografia também usa de cores mais quentes em momentos de desespero emocional de Danielle, com luzes mais fortes ou focos mais fechados, causando certa claustrofobia emocional.

Socialmente falando

Foto: divulgação

Shiva Baby tem representatividade, e não é pouca. Com uma protagonista judia, bissexual, vegetariana e feminista, os assuntos de debate nunca terminam.

Danielle é o tipo de protagonista irresistível e, apesar de ser uma trama que causa estranhamento e certo incômodo, ficamos com os olhos presos nas ações dela para os próximos momentos.

A parte curiosa da história é que a protagonista quase não tem tempo para falar, mas existe um grande debate ao redor da imagem dela, e coisas como sua bissexualidade são debatidas de forma aberta na família, como se isso fosse apenas uma fase, e isso causa a sensação de toda uma sociedade doente por um sistema heteronormativo.

O filme tem classificação indicativa para maiores de 16 anos, e por isso usa esse espaço de diálogo com o público jovem para acolher e abraçar narrativas que fazem todo o sentido com a sociedade de agora, usando pontes delicadas e sutis. A estreia de Emma Seligman é irresistível só por tomar o cuidado de debater esse tipo de assunto dentro do universo judaico, já que essa discussão quase não acontece no grande círculo social que tem religiões menos tradicionais e ortodoxas.

Temos uma Coppola!

Foto: divulgação

A direção feminina ainda é um debate que Hollywood não está completamente pronta para ter, mas Sofia Coppola foi uma das primeiras mulheres a girar essa roda da fortuna e ter grande destaque. E podemos esperar o mesmo de Emma Seligman.

Vamos repetir para ficar gravado: Shiva Baby é uma estreia irresistível! E como tal, catapulta a diretora para o patamar de diretoras como Sofia Coppola e Greta Gerwing.

Seligman tem uma delicadeza incrível e brinca com as cenas de tédio tal como Sofia Coppola, usando da inércia em diversos momentos, para, então, empurrar o público para momentos desesperadores – tal como Coppola fez muito bem em Maria Antonieta e Gerwing tem feito em seus filmes.

Colocar uma protagonista feminina no centro de uma narrativa tão intensa, e de forma anônima (afinal, Danielle não é uma rainha francesa ou uma personagem de um livro da época da Guerra de Secessão), já diz muito sobre o que podemos esperar de futuras produções da diretora.

No fim das contas, a gente adora um bom filme feito por mulheres, sobre mulheres e para mulheres. As narrativas femininas se conectam e aprendemos mais sobre nós do que sobre Danielle e seu convívio familiar e social.

Agora vamos conversar mais sobre esse tipo de filme! Quais outras mulheres você curte na direção de filmes? Vamos conversar lá nas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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