Resenha | A tentativa de “Make America Great Again” por Uma Noite de Crime: A Fronteira

Confira a nossa análise sobre o novo filme da franquia Uma Noite de Crime. O longa estreia hoje (2) nos cinemas do país

 

O que você faria se pudesse cometer todo e qualquer crime durante 12 horas e não sofrer as consequências do ato? Roubaria um banco ou alguém muito rico? Invadiria a casa de algum famoso que você é muito fã ou lugares como a NASA, por exemplo? Talvez você queira até andar pelado ou dirigir bem acima do limite de velocidade. 

Essa seria a premissa básica da franquia Uma Noite de Crime e os pensamentos que passariam na cabeça de muitos. Mas o que os cidadãos de um Estados Unidos legalmente reinventado preferem é participar de um banho de sangue

Foto: Divulgação

Para os que acompanham a saga, não é novidade nenhuma dizer que o foco de toda a produção são os assassinatos, o que obviamente não é diferente no quinto e novo filme, Uma Noite de Crime: A Fronteira. Aqui, acompanhamos um casal de imigrantes mexicanos enfrentando sua primeira noite de Expurgo, na qual, como já era de se esperar, tudo dá errado.

A “novidade” no enredo do filme é ancorada em um dos erros principais da premissa de toda a coletânea de filmes. Se diversas pessoas altamente armadas, com sede de sangue e extremistas podem cometer crimes durante uma noite, porque parar quando essas 12 horas acabam? Partindo daí que surge The Forever Purge, título do longa em inglês, que traduzido seria O Expurgo Para Sempre. Um grupo decide continuar com o Expurgo por mais de uma noite, realizando uma “limpeza” total e acreditando se tratar da primeira edição verdadeira da noite de crime

Foto: Divulgação/ Universal

Essa ideia é de conhecimento de poucos, já que muita gente chega a voltar com sua vida normal após as sirenes alertando o fim da chacina, e não há explicações claras no filme sobre como disseminaram The Forever Purge, porém, podemos deduzir que grupos extremistas e de teorias da conspiração, muito populares hoje em dia, foram palco para tais discussões. Essa ausência de centralização na organização da noite de crime infinita faz com que cada um tenha em mente um objetivo. Kirk (Will Brittain), colega de trabalho do protagonista no Rancho, desejava se vingar das injustiças entre pobres e ricos, e o Alfa Líder (Jeffrey Doornbos) queria fazer um Estados Unidos apenas para norte americanos.

Foto: Divulgação/ Universal

Essas questões abrem as portas para um ponto importante: as críticas sociais. Pode-se dizer que os 5 filmes e a série são construídos em cima de críticas sociais, porém, sempre com pinceladas que são ofuscadas pela brutalidade e exagero nas matanças, ou seja, nada de fortes referências psicológicas a  Jordan Peele. Desde o começo, entendemos que a análise é sobre o aumento da população carcerária e que uma solução “fácil” para tal problema seria a legalização dos crimes durante um determinado período, entretanto, com o avançar dos longas, novas tramas tiveram que ser exploradas. Por isso, o lado perverso dos chamados “cidadãos de bem” começa a entrar em pauta e, nessa quinta edição, vemos a questão imigratória ser a protagonista. 

O casal principal, formado por Adela (Ana de la Reguera) e Juan (Tenoch Huerta), são mexicanos recém chegados aos EUA, que perseguiam o famoso sonho americano. Felizmente, encontram trabalho  e moradia no Texas e conseguem ficar longe dos cartéis de drogas que ameaçavam suas vidas, porém, terão que enfrentar seu primeiro expurgo. Com a forte entrada de imigrantes no país, movimentos xenófobos, já muito fortes atualmente, ganham mais força ainda, tendo a noite sangrenta como uma forma de eliminar esses estrangeiros e “limpar” o território norte americano. Em uma cena vemos alguns caminhões carregados de estrangeiros que provavelmente seriam vítimas de uma chacina

Foto: Divulgação/ Universal

Além de ser um parecer sobre o que grupos extremistas e nacionalistas fariam com os forasteiros caso fosse possível, temos um personagem que representa uma maioria nos EUA, Dylan (Josh Lucas), filho rico de um dono de rancho e empregador de Juan. Depois de ser salvo por seus empregados, o personagem e sua família se juntam aos salvadores e passam a lutar por sobrevivência. Em uma conversa com Juan, Dylan afirma não ter nada contra latinos e nem considera os brancos superiores à qualquer outra raça, mas defende a não mistura das pessoas, como se cada um tivesse um lugar específico na sociedade. Com isso, percebemos a existência de uma parcela indecisa sobre questões imigratórias que acabam sendo influenciadas pelas opiniões mais extremas e radicais. 

Nessa onda de críticas, o filme acerta ao prever o que aconteceria em um governo nacionalista e ligeiramente em caos. Como já citado, a estratégia de criação da noite do Expurgo seria uma medida de contenção fraca, o que foi provado com a eclosão da versão infinita. Mas, essa atitude só foi possível com o incentivo do próprio governo, ao induzir as pessoas a cometer os crimes, soando como algum tipo de limpeza ou alívio da alma. Já para o final do filme, os órgãos governamentais passam a ser desrespeitados, sendo até atacados, ou seja, a criatura ataca o criador. 

Foto: Divulgação/ Universal

O longa , em resumo, é uma boa tentativa de abordar as questões políticas principais dos EUA, desde a ascensão de Trump, porém, se perde no meio de toda a violência. Os principais eixos não são bem explorados em virtude de mais mortes e os poucos diálogos são rasos. Um dos pontos positivos é o casal principal interpretado por dois atores mexicanos ainda não muito conhecidos e que conseguem sustentar seus personagens. 

Outro destaque é para o desfecho, apesar de apostar no fadado “final feliz”, o encerramento é uma ironia, com o México aceitando e legalizando diversos norte-americanos, em decorrência da onda de violência.

A direção de Everardo Gout é um ponto interessante de se avaliar, com bom uso das câmeras em algumas cenas, como durante uma explosão em Dallas, no qual o cinegrafista sofre uma queda, como se estivesse efetivamente no ambiente ou fosse um dos personagens. Além disso, a trilha sonora beira a perfeição, principalmente ao associar o som dos tiros à uma sinfonia, a “verdadeira música americana”, segundo os dizeres de um personagem, e ao mesclar com músicas de batidas fortes.

Caso você esteja em busca de um filme de suspense, com muitas cenas de ação e leves sustos, Uma Noite de Crime: A Fronteira é uma ótima pedida, e ainda de bônus você passa aproximadamente 100 minutos com um panorama sobre o futuro do “American Way of Life”.

 

E aí, você pretende assistir Uma Noite de Crime: A Fronteira? Conta pra gente nas nossas redes sociais (Insta, Face, Twitter) o que achou do longa. 

 

*Créditos da foto de destaque: Divulgação/ Universal

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