Foto: Divulgação/First Comics News

 SDCC | Como os quadrinhos de O Quarteto Fantástico ajudaram a criar o Universo Marvel como conhecemos hoje

O painel Marvel: Universe of Super Heroes Exhibition–the Fantastic Four and Beyond aconteceu ontem (24) e contou um pouco sobre a história da Marvel, desde a publicação de seu primeiro quadrinho, em 1939

 

Marvetes de plantão, esse painel é para vocês! Em comemoração aos 60 anos do primeiro quadrinho de O Quarteto Fantástico, a SDCC trouxe um painel sobre o Universo Marvel, com moderação do professor Benjamin Saunders, curador chefe da Exposição Marvel: Universo dos Super Heróis que está em exibição no Museum of Science and Industry, em Chicago, nos Estados Unidos. A Mostra, a maior exibição sobre o assunto já existente, conta com infográficos, bonecos de cera em tamanho real dos personagens icônicos do Universo Marvel, interações com cenas dos filmes, famosos adereços dos filmes e diversos desenhos originais de histórias da Marvel, desde o primeiro quadrinhos, lançado em 1939. A exibição dá ao fã um verdadeiro espetáculo de informações sobre os 80 anos de quadrinhos, filmes e colecionáveis.

Foto: Captura de tela

Para falar sobre os quadrinhos d’O Quarteto Fantástico e como essa revista moldou a Marvel Universe como conhecemos hoje, o professor Saunders chamou para o painel o vice presidente e editor executivo da Marvel, Tom Brevoort. Juntos, eles deram um panorama de como a primeira revista lançada em 1961, The Fantastic Four #1, foi o pontapé inicial para o que chamamos hoje de A Era Marvel, o que deu início a tudo que veio depois. É importante frisar, segundo Benjamin Saunders, que o Universo Marvel não existiria sem a importante publicação de quadrinhos de super heróis, em 1939, de Martin Goodman, editor estadunidense de revistas de ficção pulp e histórias em quadrinhos, chamada Marvel Comics.

Os super heróis saíram de moda nos anos 1950 e a indústria de revistas em quadrinhos passou por períodos de turbulência, o que fez com que a empresa diminuísse mais ou menos 20% seu pico de produção e houve um período em que as pessoas, como o Stan (Lee, escritor, editor-chefe e presidente da Marvel Comics) consideraram deixar a indústria de quadrinhos“, comenta Saunders.

Em 1961, Martin Goodman, que é o dono da Marvel, vendo que, de repente, as vendas de quadrinhos de super heróis – que já não eram tão grandes – começaram a cair, virou para seu editor e falou ‘Stan, nós deveríamos pegar um pedacinho de tudo isso para nós e deveríamos fazer uma revista em quadrinho de super heróis!’. Ao mesmo tempo, Jack Kirby (renomado desenhista, roteirista e editor de histórias em quadrinhos) acabou trabalhando para a Marvel, fazendo basicamente histórias ficção científica, faroeste e romances,  viu que a Marvel não estava bem e constantemente falava que precisavam fazer algo novo e renovar a companhia“, comenta Tom Brevoot, vice presidente da Marvel.

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Essa confluência de elementos se uniram para trazer de volta o mercado de super heróis. Kirby já estava interessado em fazer mais coisas e Stan estava se sentindo um pouco inquieto e em dúvida sobre sua posição no mundo e ele teve algumas conversas com sua esposa, Joan, em que ela lhe disse ‘olha, esse é o seu trabalho. Em vez de tentar arranjar desculpas para sair, por que não usa esse tempo para o trabalho que você está fazendo?‘”, finaliza.

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Saunders continua o painel comentando que, hoje em dia, é necessário um pouco de imaginação histórica para entender completamente o quão inovador foi O Quarteto Fantástico #1. Lembrando que, para os fãs, o filme sobre o quarteto de super heróis é um dos piores da história do cinema, tendo pouco mais de 27% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Se você olhar para a capa da primeira revista e tentar imaginar como eles seriam se comparados a outros livros de super heróis do passado, seria difícil dizer apenas olhando para a capa que essa seria uma revista de super heróis“, comenta Saunders. “Para começo de conversa, nenhum dos personagens está usando trajes, que era algo que Stan e Jack deliberadamente decidiram tirar da fórmula quando eles lançaram essa série. O monstro gigante cobre a maior parte da capa, o que coloca na mente do público o tipo de monstro que Stan e Jack estavam produzindo nos últimos dois anos. Mas aí quando você pega o livro e o abre, você precisa ler as primeiras 89 páginas para entender que os personagens que estão ali são realmente os heróis“, finaliza.

Ele ainda continua dizendo que um outro aspecto inovador dessa primeira edição “é a tensão entre os membros da equipe, a hostilidade entre Ben Grimm (O Coisa) e Reed Richards (Senhor Fantástico) acaba se tornando completamente física ao recontar a história original no meio do livro“. Os fãs estão sempre acostumados a ver que os membros da equipe nem sempre se dão bem – alô, Capitão América e Homem de Ferro, estamos de olho -, mas naquela época esses conflitos não existiam, o que fez com que esse primeiro livro fosse completamente inovador dentro do setor.

Leitores de outros quadrinhos de super heróis nunca tinham lido ou vivenciado esse tipo de conflito entre os personagens. Essa representação de tensão entre os membros da equipe é uma característica ainda maior do livro, o que aumenta a capacidade de energia mental necessária para lidar com certas situações“, comenta Saunders.

Foto: Captura de tela

No caso d’A Coisa, ele foi um dos primeiros, se não o primeiro, personagem super heróico que não quer ser um super herói e que vivencia sua transformação como uma forma de trauma e depressão, o que o deixa profundamente solitário e isolado. Ao mesmo tempo, é claro que O Coisa é, de outras formas, uma grande fonte de comédia e humor. O fato de que ele fala em um idioma próprio que sempre nos lembra que, embora ele seja um monstro gigante laranja, com pele rochosa, ele também é um cara o Lower East Side, cuja voz e forma de falar nos lembra constantemente que é exatamente isso que ele é, um cara pobre que parece um monstro gigante“, conclui.

Saunders também menciona que a combinação de tragédia e comédia, que hoje conhecemos como dramédia, nunca tinha sido vista antes dentro do gênero de super heróis nas revistas em quadrinhos, o que acabou abrindo as comportas para uma nova abordagem para esse tipo de fantasia e se tornou um elemento essencial do que hoje é chamado de Fórmula Marvel.

Em termos do gênero de super heróis, isso (a dramédia)  realmente inicia com o trabalho de Stan e Jack n’O Quarteto Fantástico“, diz Saunders.

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Em todos as revistas de super heróis até aquele momento, basicamente tinham pessoas adquirindo super poderes e combatendo o crime porque essa era a única coisa que as pessoas imaginavam que os heróis podiam fazer“, complementa Tom Brevoort. “A ideia dos superpoderes não serem algo benéfico era algo que ninguém havia explorado antes e isso agradou os leitores. O Quarteto Fantástico eram quatro pessoas diferentes, com poderes diferentes, e eles se encaixavam em um arquétipo de família, mas a verdade é que eles não eram tão estáveis assim. Reed era um herói padrão, mas era um pouco asfixiante e intelectual; Sue era a única mulher da equipe, e ela acabou sendo o interesse romântico no famoso triângulo amoroso entre ela, Namor (o príncipe Submarino) e Reed Richards; Seu irmão mais novo era o Tocha Humana e era um adolescente e foi retratado assim, um garoto inteligente e cabeça quente; e o último personagem era O Coisa, que foi o personagem injustiçado. Digo, você se tornar invisível ou conseguir se esticar todo é muito legal, mas se você não quiser, você não precisa usar seu super poder e O Coisa era O Coisa o tempo inteiro e isso fez com que ele ficasse preso nesse corpo monstruoso o dia inteiro, todos os dias. Por conta disso, ele tinha uma atitude horrível, o que acabou o tornando um dos personagens mais populares“, finaliza.

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Tom considera que O Coisa, e o Quarteto Fantástico como um todo, como uma explosão de imaginação de Jack Kirby e uma tremenda visão e linguagem visual dos quadrinhos combinado com a experiência de Stan, especialmente no que tange ao humor adolescente dos quadrinhos, onde ele deu personalidades individuais aos personagens. Para Saunders, O Quarteto Fantástico serviu não só como mastro para o Universo Marvel, mas também como um grande laboratório cultural nos aos 1960. Foi o lugar em que Stan e Jack inventaram dezenas de personagens e conceitos que se mantiveram centralmente importante para a Marvel. Os quadrinhos da série do Quarteto se tornaram o livro que melhor combinou elementos entre o cósmico e o cotidiano; o vasto e espetacular e desconhecido; e o local e doméstico. Todos esses detalhes em um só mundo.

Marvel: Universe of Super Heroes Exhibition – the Fantastic Four and Beyond

Para os fãs de longa data da Marvel, o conceito de mundo fantástico e mundo em que vivemos é algo que aparece em, praticamente, todos os filmes e quadrinhos. Em Os Vingadores, por exemplo, os heróis estão lutando contra a horda de chitauri, uma raça alienígena, no meio da cidade de Nova York; O Homem Aranha é conhecido como o vizinho amigável; a Viúva Negra passou por apuros em Budapeste. Essa mistura de real com imaginário não é algo estranho para os fãs da Marvel e a ideia da Exposição Marvel: Universo dos Super Heróis é trazer exatamente esse contraste e mostrar como funciona a mente brilhante dos criadores dos filmes e séries do Universo Marvel.

Foto: Captura de tela

Depois de mostrar um pouco da história dos anos inicias da Marvel, lá nos anos 1930, você vira e dá de cara com uma escultura de tamanho real do Ben Grimm dormindo, enquanto lê um livro, enquanto atrás dele, tem uma janela onde a ação do Universo da Marvel está se desenrolando“, conta Saunders.

Foto: captura de tela

A nossa ideia era dar para as pessoas esse sentido de que eles poderiam visitar O Coisa em casa, dentro do espaço que era, ao mesmo tempo, um que eles reconheceriam, um espaço doméstico e, por outro lado, um espaço em que logo atrás da janela coisas extraordinárias estão acontecendo. Com essa introdução sobre O Quarteto Fantástico nessa galeria interativa, nós encaramos como uma oportunidade para tecer juntos diferentes fios: a história real da empresa e a forma como O Quarteto Fantástico emergiu naquele momento de crise e, essencialmente, transformou a receita da companhia; e também as histórias fictícias desses personagens enquanto eles estão sendo desenvolvidos a partir daquele momento, em 1960“, conclui.

Os curadores montaram a Mostra de uma forma a entregar para os fãs a melhor experiência, com diferentes níveis de narrativa e, ao mesmo tempo, exibir as partes mais importantes da história dos personagens. Ao lado da ala do Quarteto Fantástico, está a ala do Pantera Negra, um personagem que foi apresentado pela primeira vez em 1966, nas páginas dos quadrinhos do Quarteto.

Foto: Captura de tela

No centro da galeria, está exposta uma estátua em tamanho real do Pantera, para que as pessoas possam interagir e tirar suas fotos e também é possível visualizar artes originais exclusivas, incluindo a capa em que mostra o Pantera Negra desenhado por Jack Kirby.

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Ao lado, tem mais duas páginas de artes originais de Billy Graham (o primeiro artista e desenhista afro-americano, criador do Black Panther, a criar um personagem para a Marvel). Além dos desenhos, os fãs podem admirar os adereços e trajes utilizados no filme do Pantera Negra como, por exemplo, o traje, criado pela designer Ruth Carter, usado por Chadwick Boseman no longa.

Foto: Captura de tela

Para quem não conhece a história da Marvel, a exposição é uma ótima oportunidade para entender o por quê desse universo ser tão apreciado e admirado. A criação de tantos personagens incríveis que mudou a vida de uma legião de fãs ao redor do mundo. É absurdamente fascinante entender os motivos de Stan Lee ser tão apaixonado por seu trabalho e, se nos permite um comentário, é um belo tapa na cara dos haters de O Quarteto Fantástico descobrir que, na verdade, a Marvel só existe por causa deles. É, fandom, precisamos respeitar nossas origens!

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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/First Comics News

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