“Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama.” No aniversário do nascimento de Clarice Lispector, o Entretetizei celebra as obras da romancista
Uma escrita tão fascinante que até parece feitiçaria: assim é o relato da legião de fãs movidos por um amor magnético pelas obras de Clarice, um dos nomes mais célebres da literatura brasileira, que em suas inúmeras linhas publicadas dava voz e alma aos dramas das mulheres, indo contra as concepções ideológicas do papel feminino na sociedade, discurso que gera ecos, debates e identificação até os dias atuais.
Nascida em 10 de dezembro de 1920, em uma família judia do oeste da Ucrânia (Tchechelnik), pousou seus pés no Brasil somente em 1922, após deixar para trás o cenário caótico da dominação comunista no país durante a guerra civil (1918-1921), após a Revolução Bolchevique de 1917. Batizada como Haia Lispector (que significa vida ou clara), passou a ser chamada de Clarice Lispector enquanto ainda estava em Maceió (AL).
Romancista, autora de aclamados livros como a sua primeira publicação Perto do Coração Selvagem (1943), que recebeu o prêmio Graça Aranha de melhor romance do ano, Lispector ainda se lançou em publicações infanto-juvenis e diversas crônicas.
“Sou filha e sou mãe. E tenho em mim o vírus de cruel violência e dulcíssimo amor.”
Em homenagem à escritora, falecida às vésperas de seu aniversário na cidade do Rio de Janeiro, o Entretetizei selecionou uma lista de seis leituras para você se encantar.
- Perto do Coração Selvagem (1943)
No romance de estreia de Clarice, acompanhamos a vida de Joana da infância à vida adulta em uma narrativa que funde o presente e o passado. Entre tantos relatos, como a infância com o pai, os dias no internato, a descoberta da puberdade e o casamento com Otávio, o que fica marcado é a geografia interior da personagem, que parece estar sempre em busca de uma revolução.
- Laços de Família (1960)
Considerada umas das mais memoráveis coletâneas de contos da romancista, Laços de Família coloca no centro da discussão a temática familiar e os conflitos cotidianos dentro do lar. Com personagens comuns, é possível enxergar o debate sobre os diferentes papéis da mulher na sociedade, e perceber como elas se sentem sufocadas e aprisionadas pelo contexto, como o matrimônio e a maternidade.
- A Paixão Segundo G.H. (1964)
“Provação significa que a vida está me provando. Mas provação significa também que estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais insaciável.” Em A Paixão Segundo G.H, Clarice desenvolve, através de um enredo à primeira vista banal, o pensar e o sentir de uma protagonista-narradora que despede a empregada doméstica.
- Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969)
Mais um ponto de vista feminino da vida. Neste romance sobre o aprendizado do amor, os leitores acompanham a história entre dois professores, Loreley (apelidada de Lóri) e Ulisses. Em uma narrativa contagiante que começa com uma vírgula, como se fosse a continuação de algo já iniciado, e se encerra com dois pontos, dando a entender que a trajetória de ambos continua, mesmo que não seja retratada nas folhas.
- Água viva (1973)
“Um romance sem romance”. Na obra que enraíza ainda mais as nuances que fazem do estilo de escrita de Clarice ser único, a personagem sem nome e apresentada sob o pronome eu, escreve a um tu, no masculino, expressando seus desejos profundos e suas procuras, em um discurso que percorre o delírio, a confissão e a sedução.
- A Hora da Estrela (1977)
O último livro publicado por Clarice Lispector conta duas histórias: a de narração de Rodrigo S.M (a própria Clarice) e a de Macabéa, uma personagem nordestina migrante no Rio de Janeiro. Miséria, solidão e a busca pelo sentido da vida são algumas das reflexões que as palavras da autora entregam aos leitores. Um livro de despedida, escrito já às janelas do último suspiro, Clarice deposita um pouco de si em ambos os personagens.
“Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor.”
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