Você se lembra do primeiro livro que leu?
Você lembra do cheiro, do título, daquele monte de palavras que tornou você um leitor?
Você consegue enxergar na sua memória o deslumbre do momento em que você percebeu que não viveria mais longe dos livros?
Eu tinha uns doze anos quando aconteceu comigo.
Um dia senti vontade de ter um livro. Era uma vontade esmagadora, daquelas que pesa no coração e não permite que tenhamos paz antes de realizar.
Naquela época, eu era boa com palavras, falava muito, inventava diversas histórias, e o meu quintal, onde eu costumava brincar, era o palco da maior compositora já vista, também escrevia para minha irmã mais nova que ainda não era alfabetizada e adorava ler coisas bonitas. Mas até aquele bendito dia em que tudo mudou, não havia pensado sobre ler livros, e como uma ventania, o desejo veio repentino e desesperado sobre mim.
Naquele mesmo dia fui incendiada pelo desejo de ler.
Na minha casa não tinha muitos livros, meus pais não tinham o costume de ler, então o único jeito seria conseguir dinheiro suficiente para comprar um. Certo dia, fui para a casa dos meus avós, como costumava fazer, e eu nunca torci tanto para ganhar algum trocado como naquele dia. Dito e feito, meu avô me deu quinze reais e na volta para casa fui direto para uma loja de departamento que havia no centro da cidade. Quinze reais não era muito, entretanto, e infelizmente não pude comprar os que mais me chamaram atenção, mas aceitei a minha realidade e segui procurando até achar o meu escolhido.
Foi quando encontrei um exemplar de “O Diário de Suzanna para Nicolas” do James Petterson.
Eu, como uma menina romântica que sempre fui, gostei de saber que se tratava de um romance, e o melhor de tudo: estava dentro do meu orçamento, na etiqueta exatos R$14,99. Comprei e estava determinada a ler tudo, e logo. Disse para todos que até terminar o livro não usaria mais o computador, naquele momento estava extremamente ambiciosa de me tornar uma leitora o quanto antes. Sentia vontade e curiosidade de ler tantos outros, queria ser boa em falar deles também. Além disso, o cheiro era tão bom.
Doce ilusão, fui com muita sede ao pote e, como alguém que não tinha nenhum costume de ler, sofri. Foi maçante e difícil. Abandonei a leitura algumas vezes, mas após longos meses finalmente consegui terminar o livro.
Ali me vi desejando mais. Esse foi o meu momento de estalo.
Após isso, não tive como fugir. Meu coração foi totalmente roubado por eles. A biblioteca da escola virou meu lugar favorito, aos poucos minha casa se enchia de livros, e tive um blog na adolescência sobre o assunto. Os livros foram os meus maiores companheiros durante os períodos difíceis da vida, e se hoje eu sou quem sou, grande parte é por eles também.
Então, considerando minha jornada com os livros, aqui vão três dicas para não leitores:
- Não é porque a leitura não foi fácil e fluida na primeira vez que você tentou ler, que os livros não são para você. Todas as pessoas são leitores em potencial, então não seja drástico, ler é para você sim!
- Comece pelo que você gosta! Se ver filmes de fantasia é o que você ama, facilmente se encontrará numa leitura do mesmo gênero, não precisa começar se desafiando. Experimente o conhecido e logo depois estará animada para desbravar outros assuntos.
- Faça isso sem pressão. Sem pressa. Não é porque o BookTok que você costuma assistir leu um livro em dois dias que você precisa fazer o mesmo. Leitura não é uma competição.
E acima de tudo, tenha o compromisso de tentar novamente, a leitura te enriquecerá de muitas formas!
Agora, sua vez meu amigo bookstan. Qual foi o seu primeiro livro? Quando você se viu leitor? Foi fisgado já na primeira vez? Comente aqui nas redes sociais do Entretê (Instagram, Twitter e Facebook) e fique por dentro de todas as notícias do mundo da literatura e do entretenimento.
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*Crédito da foto de destaque: Divulgação/Amanda Ferraz Melo