Musicais: a força feminina que domina os palcos e dita regras, de Chicago

Chicago é o musical mais forte sobre a força feminina e merece todos os créditos por isso, e como tal, encabeça uma lista de feminismo nos palcos da Broadway

Quando a ideia de escrever sobre musicais surgiu e foi designada a mim, senti que falar sobre Chicago não seria o suficiente para abordar o feminismo nos musicais da Broadway, e como tal, decidi que hoje o impacto seria usar Chicago como a ruptura com o patriarcado e a força das mulheres nos palcos mais famosos do mundo.

As portas da Broadway estão abertas no dia de hoje, e é pela voz do Entretetizei que todas essas personagens fortes vão se apresentar!

Inspirada na clássica cena das confissões, o post de hoje te apresenta seis (e um de bônus) musicais que têm tudo a ver com a força feminina.

Vem ver!

Pop

Foto: Divulgação

A primeira presa a declarar seu crime começa falando sobre hábitos irritantes. Seu parceiro tinha a mania de mascar chiclete e fazer bolas para estourar. Com uma raiva absoluta desse hábito dele, sua esposa, frustrada e cansada depois de um dia de trabalho, pediu afeto e recebeu desprezo.

Fazendo alusão aos casamentos que se desgastam, a personagem diz que atirou duas vezes no homem com quem tinha se casado.

O problema, claro, não era ele mascar e estourar bolas de chiclete, mas sim descartar o afeto e o apego de sua esposa, dando importância para outras coisas que não eram relevantes e que só serviam para ferir o casamento.

Se tem um musical que levanta a crítica do amor feminino sendo descartado de graça, esse filme é La La Land. O musical fala sobre como os homens podem ser insensíveis com suas mulheres quando algo nas suas vidas lhes parece mais interessante, e como isso nos coloca na posição de esposas e nada mais.

Pop é a categoria que levanta o debate: até onde as mulheres são obrigadas a ficar em uma relação onde só o lado do homem importa? La La Land faz a mesma crítica! Parece muito distante, mas a foça da mulher abandonada está ali, em La La Land e em Chicago.

Six

Foto: Divulgação

A segunda começa falando sobre o homem que conheceu, dois anos antes da sua prisão, e de como se apaixonaram instantaneamente. Ele dizia ser solteiro…

Ao descobrir que ela fazia parte de uma relação em que ele se via no direito de ter seis esposas, ela simplesmente envenenou sua bebida, irritada demais para ver ele se safar dessa poligamia desavisada.

Para se vingar por se sentir humilhada, usada e ter seu direito de unidade e singularidade violado, ela usou de desculpa e se livrou do problema que estava tendo, tirando-o da sua vida e do seu comportamento mulherengo.

Outro musical que aborda bem a força feminina referente ao comportamento atirado e despreocupado dos homens é Grease.

Apesar do romance fofo que somos apaixonadas, a verdade é que Danny (John Travolta) era um homem irresponsável e que tinha fama por trocar de parceiras como trocava de roupa, e isso foi impactante o suficiente para que Sandy (Olivia Newton-John) fizesse o possível para ser a única na vida dele a partir de então. Sandy é quase uma protagonista ofendida do musical Chicago.

Squish

Foto: Divulgação

A terceira, uma mulher negra (o que por si só já poderia ser agravante suficiente para a polícia querer sua cabeça), relata que seu marido era abusivo e tinha crises violentas de ciúme.

Para ela, a última gota foi quando estava cozinhando e seu marido entrou na cozinha transtornado, ameaçador e agressivo, gritando e a acusando de adultério, dizendo que ela tinha um caso com o leiteiro. Com revolta e cansada daquela relação estressante (que sabemos que seria fatal para ela caso fosse sua escolha terminar com ele), ela diz que ele caiu na sua faca dez vezes.

Impossível julgar, vendo pelo lado justo a história, uma mulher que teria sido a vítima e não a criminosa caso as suas decisões tivessem sido outras naquele dia.

Dreamgirls é o escolhido para falar sobre a força feminina e preta, especialmente quando o assunto é trama e desavenças.

Com foco em empoderamento feminino e opressão masculina, o musical Dreamgirls abre as portas para uma discussão de liberdade e força, com muito foco em discussões de inferiorização e injustiças desmedidas.

Uh-hã!

Foto: Divulgação

A única que não tem sua história explicada é a húngara, que provavelmente já era uma imigrante política.

Ela só é capaz de dizer que é inocente, mas quando está finalizando sua versão dos fatos (em seu idioma materno), o ritmo da música muda e o lenço que ela retira do seu bailarino designado é branco, o que quer dizer que ela é inocente de fato. Mas o que houve ao seu marido é impossível descobrir. Deduzimos que talvez fosse uma emboscada política, ou que ele mesmo se matou, mas ela acabou sendo culpabilizada por isso.

Ainda mais trágico imaginar seu fim naquela prisão e sua história sendo interrompida por algo que não fez, a  pobre húngara jamais saberia explicar que não tinha culpa…

A Noviça Rebelde é um clássico dos musicais, e nos deixa felizes instantaneamente. Longe de ser comparável com todo o cenário social de Chicago, o filme se encaixa apenas no papel da húngara.

Maria, a protagonista que queria ser freira, é uma mulher inocente que se torna imigrante por causa de conflitos políticos, justamente porque seu marido estava sendo perseguido. Dona de uma inocência apaixonante e de uma compaixão linda, Maria usa sua sensibilidade para ensinar sobre valorização, família e lealdade, e sentimos nisso no discurso apaixonado da húngara ao falar sobre seu marido. É trágico, mas é real!

Cícero

Foto: Divulgação

Velma (Catherine Zeta-Jones) é a próxima, e conta que era vedete com sua irmã Veronica. Seu marido as acompanhava nas turnês, e uma noite, antes de sua apresentação, os três estavam juntos no hotel Cícero, bebendo.

Ao sair para buscar gelo, Velma os deixou sozinhos, mas quando voltou os flagrou no meio – do que ela chama – de uma acrobacia de número 17: o vôo da águia.

Velma não se lembra de ter matado os dois a tiros, porque sua mente ficou tão agitada com aquela visão, que ela acabou apagando o que fez. Mas Velma não se mostra arrependida, já que estava sendo traída pelo marido e pela própria irmã.

Se é para falar de irmãs e a força da superação e de um homem envolvido entre elas, temos Hamilton.

Lançado recentemente pelo Disney+, o musical também coloca em cena duas irmãs e um homem que poderia ser divido entre ambas, com focos em inteligência e sagacidade feminina, a sororidade e a união do sexo chamado de frágil.

Lipschitz

Foto: Divulgação

A última das seis presas conta que era completamente apaixonada por seu namorado, um artista de sobrenome Lipschitz.

Quando ele saía de noite para procurar alguma coisa sobre si mesmo e criar arte, ele se encontrava com diferentes mulheres (e um homem), que ela mesma nomeia como Ruth, Gladys, Rosemary e Irving.

Em um ato dramático, entendemos que ela provavelmente o enforcou. Sua frustração pela relação foi tanta que não houve remorso sobre o que fazer com alguém que ela amava e que a traía de todas as formas possíveis.

Talvez aqui fosse possível encaixar The Rocky Horror Picture Show, que fala sobre gênero e liberdade sexual, dando protagonismo ao universo queer e abrindo discussão sobre a comunidade LGBTQIA+.

 O filme coloca Tim Curry como um dos principais responsáveis por debater questões de gênero nos anos 1970 e ainda dá espaço para toda uma comunidade que era socialmente calada e marginalizada. A força feminina fica nas mãos de Janet (Susan Sarandon) e mais duas servas de Furter (Tim Curry), e tem uma representação espetacular de como podemos ser libertárias!

Bônus: Liar!

Foto: Divulgação

Roxie (Renée Zellweger) deu três tiros no seu amante, tudo porque ele vivia lhe prometendo que a transformaria em uma vedete, mas em uma noite em que estava prestes a sair pela porta, ele a humilhou e ridicularizou, assumindo que jamais teve intenção de a ajudar – e nem poderia.

Revoltada pela mentira, Roxie o matou e ficou ainda mais furiosa quando descobriu que ele era casado e tinha filhos, o que competia em uma dupla mentira.

Ela tenta alegar que foi merecido, e que apesar de ser mesmo um caso de assassinato, não teve escolha emocional se não a de se livrar de Fred. Afinal, assim é Chicago – segundo os personagens.

My Fair Lady é um clássico inglês sobre a moça pobre que tenta conquistar algo na vida. Não que Eliza (Audrey Hepburn) fosse esperar algo como o estrelato, mas é fato que ela queria mesmo ter algo além do que vender flores por uns trocados enquanto tentava sobreviver.

O musical decorre sobre a força feminina no cenário social e questiona a potência da luta por algo só nosso, e de como um homem esperto pode tentar usar isso a seu favor para conseguir algo da mulher em troca de satisfação própria (seja pela conquista sexual – no caso de Fred e Roxie -, seja pela conquista de ego – como em My Fair Lady).

E aí? Ficou faltando algum musical que você acha que combinaria muito bem nesses discursos tão importantes? Você gosta de Chicago? Conta pra gente lá nas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: Divulgação

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