No mundo ideal, o Dia da Mulher é todo dia, mas achamos relevante compartilhar com vocês o que nos faz refletir sobre o que é, de fato, ser mulher na sociedade
Hoje, dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. No entanto, sabemos bem o quão difícil é existir e persistir em uma conjuntura desigual, misógina, preconceituosa e conservadora, que nos diz o tempo inteiro que não somos tão capazes quanto os homens e que tenta nos convencer de que somos fracas, sensíveis demais, e que nosso propósito no mundo é o de sempre, não importa o contexto ou a escolha pessoal, servir ao outro. Os avanços que conseguimos conquistar ao longo de tantos anos de invisibilização forçada parecem, frequentemente, não importarem quando paramos para analisar as estatísticas: várias de nós seguem morrendo todos os dias, apenas por existirem. Morremos porque somos mulheres.
Ser mulher, para nós, é sinônimo de força. Somos fortalezas ambulantes, compenetradas em sermos fiéis aos nossos valores, que, por si só, são diversos. Somos plurais, corajosas, independentes, subversivas, feministas, provedoras, mães, não-mães, filhas, namoradas, esposas, amigas, irmãs. Somos potências em nosso ato de existir. E, ao sermos tantas coisas, assustamos aos que não querem que ocupemos os lugares que nascemos para ocupar. Que podemos e devemos reivindicar.
“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”, já dizia Simone de Beauvoir.
Sendo assim, com o intuito de compartilhar o que nos toca individualmente e nos faz refletir acerca do que é ser mulher, optamos por trazer as indicações e sugestões de algumas de nós sobre o tema, para que possamos comemorar cada avanço, por menor ou mais significativo que seja. Separa o bloquinho para anotar, porque separamos muita (mas muita mesmo) coisa interessante!
Stéfane Goulart – Redatora
Minha indicação é um documentário que assisti há poucas semanas, chamado Mulher (2019), dirigido por Anastasia Mikova e Yann Arthus-Bertrand. Simples assim, direto ao ponto. E é exatamente isso que ele aborda em 1h 54min de duração: duas mil mulheres foram entrevistadas ao redor do mundo, desnudando-se (algumas, literalmente) em suas vulnerabilidades, reiterando sua força e denunciando crimes e situações que soam impensáveis para algumas de nós. Posso dizer, com certeza, que é uma das melhores peças de audiovisual que já assisti. Chorei em diversos momentos e me desfiz em caquinhos. Indico demais! Atualmente, o documentário está disponível na plataforma do Telecine Play.
Bianca Portante – Roteirista
Uma paixão minha é o audiovisual brasileiro, então, na maior parte das vezes, me verá nutrida dele. Hoje, minha sugestão é a série original Netflix, Coisa Mais Linda (2019), com duas temporadas e criada por Giuliano Cedroni e Heather Roth. Não espere desse seriado apenas a lindeza de ser mulher, mas as disposições de lutas diferentes, vividas por mulheres diferentes que nos fazem sair da bolha que, por intuição, fazemos parte. E no fim, a série também é sobre isso, sobre usar a intuição pra tornar a coisa mais linda o ato de ser mulher, de lutar e poder amar sem medo na sociedade. Para isso, contam a história de Malu, Adélia, Thereza e Lígia, denunciando acontecimentos os quais parecem tão antigos, mas visualizados em um cotidiano tão atual, nunca sem utilizar de um roteiro inteligente e bem estruturado.
Amanda Araujo – Editora de Produção Audiovisual
Uma das recentes ganhadoras do Globo de Ouro é minha indicação musical desse dia das mulheres. A cantora italiana Laura Pausini, famosa entre os mais antigos, é dona de uma voz forte e única. Atire a primeira pedra quem não se lembra de La Solitudine (1993), maior hit da cantora. Mas engana-se quem não explora mais a fundo o trabalho da artista, que em seu repertório traz músicas que abordam desde o luto até a maternidade. Ela foi indicada e premiada na categoria melhor música original, pela faixa tema Seen (Io Sì), que faz parte da trilha sonora do drama da Netflix The life ahead (2020). No longa-metragem, estrelado por outro ícone feminino da música e do cinema, a veterana talentosíssima Sophia Loren vive uma sobrevivente do holocausto que cuida de filhos de prostitutas já falecidas.
O clipe oficial da faixa premiada conta com a participação de diversas mulheres que reforçam a mensagem para cada uma de nós: ninguém te vê, ninguém acredita, mas eu sim.
Beatriz Lima – Editora de audiovisual
Quando se fala em mulheres e entretenimento, eu penso logo na série que cresci assistindo e que me inspirou a respeito da força feminina: Grey’s Anatomy (2005). A série não é nova, mas continua revolucionando e chocando todo mundo abordando temas comoventes e revolucionários. Sua criadora, Shonda Rhimes, continua mostrando que, entre sorrisos e lágrimas (muitas lágrimas), que o lugar da mulher é onde ela quiser. Muitos momentos na série nos mostraram que não é fácil crescer profissionalmente em um mundo tão misógino. E não é só na telinha que essas mulheres cresceram e nos fizeram crescer com elas. Ellen Pompeo teve que lutar para ter o pagamento que tem hoje. Acredite ou não, mesmo tendo o seu nome no título da série e sendo a atriz principal, ela ainda recebia menos do que o seu par romântico na série, Patrick Dempsey.
Indico demais! A série está na Netflix, separe o lencinho e se prepare para maratonar, por que é difícil de parar.
Naiara Ribeiro – Coordenadora
Minha recomendação é I May Destroy You, uma série original HBO com 12 episódios. A trama retrata a vida de Arabella após sua vida mudar depois de um trauma sexual. Conforme a protagonista se lembra dos fatos e começa a entender as consequências reais disso na sua vida, podemos enxergar o quão difícil é ser mulher no mundo machista em que vivemos.
Além disso, a série retrata relações tóxicas, problemas contemporâneos do mercado de trabalho e temas tabu com muita naturalidade. Tudo isso com diálogos maravilhosos, figurinos incríveis e uma trilha sonora apaixonante.
É uma série densa, mas o fim compensa ao ponto de você pensar: “uau, essa é uma das melhores séries já escritas!”
Lorraine Perillo – Redatora
É impossível falar do Dia Internacional da Mulher e não lembrar das principais vozes femininas no Rock. Em um mundo praticamente todo masculino, extremamente machista, elas ganham força cada vez mais. Empoderadas, talentosas, lindas, elas dominam o cenário e provam que você não precisa se diminuir ou ficar com medo de fazer o que ama. Se você quer realizar um sonho, corra atrás dele e vença. Minha recomendação são bandas de rock com voz feminina como Epica (Simone Simons), Evanescence (Amy Lee), Arch Enemy (Alissa White-Gluz), Pitty, Lacuna Coil (Cristina Scabbia), Tarja Turunen, Nightwish (Floor Janssen), Janis Joplin, Joan Jett and The Blackhearts e muitas outras bandas reconhecidas mundo afora.
Escute-as e você não irá se arrepender 😉
Beatriz Neves – Redatora
Minha sugestão é o livro Quarto de Despejo, da Carolina Maria de Jesus. Eu considero a obra um marco na literatura brasileira por muitos motivos. Primeiro, ele foi escrito por uma mulher negra, favelada e mãe solteira – isso em plena década de 60. O livro é uma coletânea de diários que Carolina escreveu, relatando sua realidade dura como catadora de papel em uma das maiores favelas de São Paulo. A escrita de Carolina é única e mostra um Brasil que os privilegiados preferem não ver, mas que está ali.
Anna Luíza Hang – redatora
A minha indicação hoje é Frida (2002), dirigido por Julie Taymor e estrelado por Salma Hayek. Um filme que nos mostra o poder feminino de uma pintora que inspirou e inspira muita gente. Frida tentava aproveitar o melhor da vida mesmo com todas as suas limitações. A artista teve na infância poliomielite, na adolescência sofreu um acidente que gerou fraturas na bacia, meses na cama e inúmeras cirurgias, sem contar o relacionamento tóxico e abusivo que ela tinha com o companheiro, Diego Rivera.
O filme mostra a vida sofrida e todo o caminho que ela teve que percorrer pra ser considerada uma das maiores artistas da América Latina. Frida Khalo foi uma mulher que vivia a frente do seu tempo e que revolucionou o que era ser mulher em uma época e sociedade tão machistas que definitivamente não se dava ouvidos às vozes femininas.
Caroline Vale – Coordenadora de Produção Audiovisual e Redatora
De repente 30 (2004), dirigido por Gary Winick e interpretado por Jennifer Garner e Mark Ruffalo. Essa é a minha indicação da vida. A verdade é que o tanto de coisas que aprendi com esse filme não cabe nesse texto. Jenna Rink é uma mulher que comete muitos erros, mas quando tem a chance, não hesita em fazer diferente. Eu só desejo que quando você estiver nos 30 anos, você esteja feliz com quem verdadeiramente é, porque no final é só isso que importa. Corre para assistir!
Ana Beatriz Miranda – Editora de audiovisual
Quando o assunto é empoderamento feminino e audiovisual, a primeira coisa que me vem à minha mente é o filme O Escândalo (2020), dirigido por Jay Roach e baseado em fatos reais. O drama conta a história de três jornalistas mulheres que trabalhavam no canal americano Fox News, conhecido por seu ambiente machista e extremamente tóxico. Margot Robbie, Charlize Theron e Nicole Kidman são os nomes de peso que protagonizam o filme, e mostram como o empoderamento coletivo entre mulheres realmente faz toda a diferença na luta pelo respeito e igualdade, especialmente no ambiente de trabalho. Com duas indicações ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, o longa-metragem ganhou na categoria Melhor Maquiagem e Penteados por sua recapitulação exata das personagens na vida real. Então, para celebrar o dia de hoje, que tal pegar sua pipoca para uma sessão de muito girl power?
Dayane Marinho – Roteirista de Audiovisual
Nesse dia internacional, minha indicação é o documentário Absorvendo o Tabu (2018), dirigindo e escrito pela cineasta americana Rayka Zehtabchi, que venceu o Oscar na categoria de Melhor Documentário de curta-metragem. O filme retrata a realidade da Índia rural mostrando o processo de produção de absorventes de baixo custo, levando informação e independência financeira para as mulheres indianas. Em menos de meia hora vemos como a menstruação ainda é tabu na Índia, o que gera desinformação e atraso para a sociedade.
A importância desse filme se dá em mostrar como a informação liberta essas mulheres, permitindo que elas vivam sua independência. O documentário está disponível na Netflix.
Maria Luisa Sá – Roteirista de Audiovisual
https://www.youtube.com/watch?v=DaJNwrqHtkY
Minha indicação audiovisual nesse Dia da Mulher é a série de 4 episódios Nada Ortodoxa (2020), disponível no Netflix. Acompanhamos o início da vida de casada de Esty Shapiro, moradora de NY, mas totalmente excluída do mundo da informação e tecnologia. Ela vive em uma comunidade judaica ortodoxa no Brooklyn e, agora casada, precisa aprender como funciona seu próprio corpo e os deveres da mulher perante o marido.
Vemos a constante evolução dessa forte protagonista com suas próprias descobertas e questionamentos às imposições e verdades antes absolutas para ela. Esty foge em busca de seu sonho e foge em busca de si.
Renata Pfisterer – Editora de Produções Audiovisuais
Minha indicação é o filme A Guerra dos Sexos (2017), dirigido por Valerie Faris e Jonathan Dayton e protagonizado por Emma Stone. O filme retrata a luta de direitos das mulheres dentro do esporte, especificamente no tênis, e nos leva a acompanhar uma partida de tênis entre o ex-campeão Bobby Riggs e a atual líder do ranking mundial, Billie Jean King (Emma Stone). O intuito do filme é mostrar a luta pelos direitos das mulheres e pelo direito de se amar livremente, independente de sexo. Recomendo demais!
Carolina Carvalho – Revisora
Minha indicação é o livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, da autora estadunidense Taylor Jenkins Reid. Trata-se de uma história ficcional, sobre Evelyn Hugo, uma famosa atriz hollywoodiana que ficou conhecida por sua beleza, talento e, também, pelos sete casamentos que teve ao longo da vida. Ela escolhe a jornalista iniciante, Monique Grant, para narrar sua biografia.
Evelyn Hugo é uma mulher forte que, assim como nós, foi, muitas vezes, reduzida apenas a sua aparência física, sendo sexualizada e maltratada por homens famosos e poderosos. Além de exaltar a força das mulheres, a história também traz uma grande lição sobre amor e amizade.
Eloah Almeida – Editora de audiovisual
Apesar das recentes polêmicas envolvendo a autora estadunidense, minha indicação vai para o livro O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres, de Naomi Wolf. A obra é considerada um dos clássicos da terceira onda feminista, e nele a autora discorre sobre o culto à beleza e à juventude da mulher, estimulado pelo sistema patriarcal e que atua como uma forma de controle social. O livro também aborda assuntos difíceis, como distúrbios alimentares, o crescimento desenfreado da indústria das cirurgias plásticas e da pornografia. É uma excelente leitura para quem busca mais conhecimento sobre a luta feminista.
Carolina Torres – Redatora
Minha indicação para o dia de hoje é o livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante. As obras da misteriosa autora italiana, que esconde sua real identidade por trás de um pseudônimo, se tornaram, nos últimos dez anos, um sucesso literário mundial. Sempre sob uma perspectiva feminina e feminista, Ferrante aborda, por meio de histórias cotidianas, as sensações mais íntimas e indescritíveis da natureza humana. Em Dias de Abandono, Olga é uma mulher de classe média que, de um dia para o outro, é abandonada pelo marido após 15 anos de matrimônio. Mãe de dois filhos, dona de um cachorro e desempregada, ela vê sua vida despedaçar enquanto teme se tornar uma poverella, “a pobre mulher abandonada“.
Em meio ao caos, a protagonista é obrigada a reaprender como ser um indivíduo, sem a presença de um homem demandando boa parte de sua energia, e se reconectar consigo mesma. No processo de se reconhecer, no passado e no presente, Olga vai tentando se recriar, ao mesmo tempo em que precisa dar conta das vidas que dependem da sua.
Certamente, esta, assim como todas de Elena Ferrante, é uma leitura transformadora, visto que a autora, nos fazendo identificar com realidades do ser mulher que que muitas vezes nem conseguimos identificar, nos ajuda em nossa própria jornada de autoconhecimento e empoderamento.
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*Crédito da foto de destaque: Nadezda_Grapes – iStock