Livro de romance histórico se tornou um clássico e até ganhou minissérie na TV
Publicado em abril de 2002, A Casa das Sete Mulheres é um romance histórico que acontece durante a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, entre 1835 a 1845. Também conhecida como Guerra dos Farrapos, foi motivada pelo desejo de independência da província do estado em relação ao Império do Brasil. A autora gaúcha Letícia Wierzchowski, revelou que escreveu o livro durante nove meses e achou interessante falar sobre as batalhas de personagens reais, como Bento Gonçalves (1788–1847).
Antes de prosseguir, é importante expressar a solidariedade do Entretetizei em relação à tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul em maio de 2024. Nossos pensamentos estão com todos que foram afetados por esse evento devastador. Desejamos força e as melhores coisas a cada um que sofreu com essa tragédia.
Sucesso na televisão brasileira
Com uma trilha sonora marcante, A Casa das Sete Mulheres (2003) se tornou um clássico após ganhar adaptação da minissérie na Globo. Adaptada para a TV por Maria Adelaide Amaral, a produção impulsionou as vendas do livro, que passaram de 13 mil exemplares vendidos para mais de 30 mil em apenas três semanas. A minissérie foi transmitida em mais de 40 países.
O elenco cativou os telespectadores e teve nos papéis principais atrizes e atores como Camila Morgado, Giovanna Antonelli, Mariana Ximenes, Eliane Giardini, Daniela Escobar, Nívea Maria, Samara Felippo, Bete Mendes, Werner Schünemann, Luís Melo, Thiago Lacerda, entre outros.
Letícia Wierzchowski permitiu que certas situações acontecessem na série porque acredita que cada formato de mídia deve adaptar a história da melhor maneira possível. Ela também apreciou o fato de que, na minissérie, as mulheres são retratadas de forma empoderada, em contraste com a representação mais passiva que recebem no livro.
Sinopse do livro A Casa das Sete Mulheres
A Guerra dos Farrapos foi a mais longa guerra civil do continente sul-americano. O General Bento Gonçalves da Silva comandou a revolução, para isso isolou as mulheres de sua família em uma estância afastada das áreas em conflito com o propósito de protegê-las. A guerra durou por 10 anos e a vida daquelas sete mulheres mudou para sempre.
A resiliência das mulheres na guerra
[Contém spoiler]
O livro revela a dura realidade dos homens que vão para a batalha, retratando seu sofrimento, os confrontos entre eles e a separação de suas famílias. Em contraste, acompanhamos a vida de sete mulheres que vivem juntas em uma estância: a esposa de Bento, Caetana, e sua filha, Perpétua; a irmã de Bento, Maria, com suas três filhas, Manuela, Mariana e Rosário. Também existe a Antônia, irmã mais velha de Bento. Ela possui uma casa na região e não reside com elas na estância.
Cada uma das mulheres tem seu momento de destaque em na trama, com personalidades distintas e frustrações que ressoam com os leitores. Através dessas personagens, a autora explora a força, a resiliência e a complexidade diante da perda da liberdade e da dor de ver seus maridos partirem para a guerra, sem saber se voltarão para casa. Embora não participem diretamente dos confrontos e a maioria nem saiba manejar armas ou lutar, elas sentem intensamente as consequências do conflito.
Os eventos são narrados ao longo de uma década sob a visão de vida dessas mulheres, especialmente através dos diários de Manuela, onde ela escreve tudo o que acontece. Essa abordagem permite que a autora transporte o leitor para o passado, oferecendo um retrato detalhado da vida na estância, dos costumes da época e dos impactos da guerra na sociedade.
A autora foca nos romances e no desenvolvimento psicológico das personagens. Um exemplo notável é a tragédia de Rosário, que se entrega à loucura, oque culmina em um suicídio. Embora esse final possa ser doloroso para os leitores, para Rosário, a união com o fantasma Estevão representa um desfecho que ela considera feliz.
Além disso, outro casal que cativa os leitores é Manuela e Garibaldi, cuja história de amor, embora promissora, não tem final feliz. Por último, ainda cito a força de Mariana ao ter um filho de um homem que sua mãe, Maria, jamais aceitou como genro.
Pessoalmente, encontrei certa dificuldade com o ritmo da história, admito que em alguns capítulos fiz uma leitura bem lenta. No entanto, a obra me agradou. Aqueles que apreciaram a minissérie, podem notar diferenças significativas em relação ao livro, mas a leitura definitivamente vale a pena.
O leitor conhece mais da Revolução Farroupilha
O leitor é transportado para o túnel do tempo, sentindo-se imerso nos eventos e instigado a concluir a leitura para se aprofundar na guerra descrita. A revolução iniciou na província de São Pedro, onde também foi proclamada a independência de todo o estado como republicano, resultando na criação da República Rio-Grandense. Com o tempo, a República assumiu uma postura separatista, influenciando movimentos em outras províncias brasileiras.
Feitos de diversos líderes que participaram da revolta são apresentados no livro. Esses homens eram Bento Gonçalves da Silva, Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Davi Canabarro, Corte Real e Teixeira Nunes. Já Bento Manuel Ribeiro lutou em ambos os lados do conflito e, ao final da revolução, apoiou o imperador.
A obra também destaca a influência de ideólogos italianos, incluindo refugiados da Carbonária e outros envolvidos em movimentos republicanos na Itália, como Tito Lívio Zambeccari, Luigi Rossetti e Giuseppe Garibaldi.
Um dos principais catalisadores para o início da guerra foi a imposição de tributos sobre a carne de charque pelo governo imperial. Esse produto era vital para a economia gaúcha da época. Os altos impostos sobre a produção e comercialização do charque elevaram seu preço e reduziram a competitividade dos produtores gaúchos nos mercados interno e externo. Além disso, as políticas fiscais que favoreciam outras regiões do Brasil em detrimento do Rio Grande do Sul intensificaram o descontentamento dos líderes locais e da população em geral.
Quem são os Farrapos?
Os termos Farroupilhas ou Farrapos eram usados para designar todos os que se rebelaram contra o governo imperial. Originalmente, esses termos tinham uma conotação pejorativa, sendo atribuídos aos sul-rio-grandenses associados ao Partido Liberal, bem como aos oposicionistas e radicais em relação ao governo central. Entre eles, destacavam-se os chamados Jurujubas.
Participação dos negros e indígenas na guerra
As guerras podem ser retratadas de diversas maneiras pelos escritores, mas é fundamental que se produza mais literatura gaúcha sobre os heróis negros que lutaram na Revolução Farroupilha. Naquela época, esses indivíduos eram escravizados e participaram da revolução com a promessa de liberdade ao final do conflito. Uma promessa que, infelizmente, não foi cumprida. Eles ainda sofreram com Massacre dos Porongos, onde ocorreu o maior número de morte de homens negros em uma emboscada realizada pelos imperiais.
Assim como os negros, os indígenas também desempenharam um papel ativo na Guerra dos Farrapos, desde o início até o fim. Seu objetivo principal era obter fardas e armamentos, mas muitos deles desertavam de seus postos ou entravam em frequentes conflitos com os líderes das tropas.
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Texto revisado por Cristiane Amarante