Baseado na obra de jornalista, documentário refaz os passos de um triste episódio da história brasileira
O documentário Holocausto Brasileiro chega ao streaming no próximo domingo, dia 25 de fevereiro. O filme, produzido em 2016 pela HBO, foi baseado na obra homônima de Daniela Arbex, publicado pela Intrínseca em 2019.
Com relatos de sobreviventes e ex-funcionários, o longa conta a história de um hospital psiquiátrico em Minas Gerais no qual, entre 1960 e 1980, morreram mais de 60 mil pessoas.
Holocausto Brasileiro
No livro, a jornalista faz uma investigação sobre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, que submetia seus pacientes a condições desumanas. Conhecida como Colônia, a instituição funcionou de 1903 até o início da década de 1980.
Para lá, eram enviados aqueles que viviam à margem da sociedade: homossexuais, prostitutas, mães solo, meninas violentadas pelos patrões, pessoas em situação de rua e mulheres que haviam perdido a virgindade antes do casamento. Muitas vezes, os pacientes nem recebiam diagnóstico.
Além disso, os tratamentos eram totalmente contra os direitos humanos. Os internos eram obrigados a andar nus, ingerir ratos, esgoto e urina, dormir sobre o feno e suportar sessões de eletrochoque. Esses acontecimentos ocorriam com o consentimento do Estado, dos médicos, dos funcionários e da sociedade.
Holocausto Brasileiro chega na Netflix em 25 de fevereiro.
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Pórcia em A Infância de Romeu e Julieta, ela revela os desafios que enfrenta como PcD
Beatriz Oliveira está no ar em seu primeiro papel de destaque, dando vida à personagem Pórcia em A Infância de Romeu e Julieta, novela do SBT. Surda desde os 17 anos, ela faz leitura labial e se comunica por meio da Libras ou por escrito.
A atriz foi diagnosticada com otosclerose, uma doença genética que causa danos à estrutura óssea do ouvido e pode levar à perda total da audição. A partir de então, ela perdeu gradualmente a capacidade de escutar. Segundo Oliveira, quando soube do diagnóstico, pensou que seria excluída ou que não conseguiria se adaptar à nova realidade.No entanto,quando começou a aprender Libras, percebeu que existiam diversas formas de comunicação.
Além disso, a artista comenta algumas dificuldades que teve na carreira como uma pessoa negra e periférica. Criada por uma mãe solo, ela conta que sempre se interessou pelo meio artístico. Em 2011, entrou no grupo de teatro amador Arte dos Bons Companheiros (ABC), no qual realizou espetáculos na região da zona leste da cidade de São Paulo.
Em entrevista ao Entretetizei, ela discorre sobre a carreira e como fez para superar o preconceito. Confira!
Entretetizei: Como você lidou com o diagnóstico de otosclerose aos 17 anos e a perda gradual da audição?
Beatriz Oliveira: A princípio, foi bem traumático, pela forma como eu recebi a notícia. O médico que deu o diagnóstico não foi sensível e não teve nenhum cuidado. Então eu fiquei com muito medo de ser excluída porque não ia mais escutar. Não sabia que poderia usar outras formas de me comunicar, como a Libras. Por isso, a primeira sensação foi de desespero e muito medo.
E: Qual foi o desafio de aprender Libras para se integrar à comunidade surda após o diagnóstico?
B: O maior desafio foi de fato aprender a língua. Em primeiro lugar, porque aprender uma nova língua já é algo desafiador e, em segundo lugar, porque é uma língua totalmente visual. Então, de certa forma, eu precisei aguçar outros sentidos do meu corpo. E me adaptar a isso não é algo que se faz do dia para a noite. É preciso treino e prática.
E: Como foi o processo de teste para o papel de Pórcia e o que você trouxe para a personagem?
B: Como a novela tinha uma certa pressa para começar as gravações, foi um processo mais simples, não teve tantas fases. Eu fui aos estúdios do SBT e lá fiz o teste junto com o Lucas Salles. Foi um teste gostoso de fazer, não sei explicar o porquê. Eu não estava nervosa por fazer o teste, apenas por estar dentro dos estúdios do SBT. Então, de certa forma, eu estava tranquila. E sobre o que eu trouxe para a personagem, acho que, apesar de sermos muito diferentes, também somos muito parecidas. O olhar e o próprio jeitinho dela são os meus também.
E: Quais desafios diários você enfrenta como atriz negra, surda e vinda da periferia?
B: Vários. Primeiro que, sendo uma pessoa preta, preciso me provar muito melhor em qualquer coisa que eu me proponha a fazer. Porque, caso eu faça minimamente bem, eu sei que já não terei tanta oportunidade quanto uma pessoa branca, com menos estudo e conhecimento do que eu. Então reconheço que nesse meu lugar não há privilégios.
Segundo que, vir da periferia e sair de um extremo para chegar em qualquer lugar de São Paulo, por transporte público já é, por si só e para qualquer brasileiro, um enorme desafio, para além de enfrentar o preconceito das pessoas que marginalizam o lugar de onde eu venho, sem ao menos terem vindo até aqui. A questão auditiva parte sempre de um lugar de dó ou de falta de respeito, com comentários maldosos e desnecessários por falta de conhecimento, e isso, às vezes, machuca muito.
E: Como a novela impactou sua carreira e as oportunidades no meio artístico?
B: Depois de aparecer na novela, percebi que muitas pessoas adoram meu trabalho e me admiram, não só como atriz, mas também como pessoa. Isso é muito legal, porque dá visibilidade ao meu trabalho e ajuda a abrir a mente de outras pessoas. Acredito que estar na TV neste momento será ótimo para oportunidades futuras.
E: Quais eram suas áreas de destaque na escola, e de que forma isso influenciou sua escolha pela carreira artística?
B: Para ser sincera, eu confesso que não gostava do ambiente escolar. Sempre achei um espaço muito opressor e digo isso de todas as escolas em que estudei. Sobre matérias, eu amava português, história, ciências, artes e espanhol. Essas eram minhas matérias preferidas. Mas nenhuma dessas áreas me influenciou na carreira como atriz, porque a vontade de atuar surgiu de forma mais orgânica.
E: Como a arte esteve presente em sua vida desde a infância, e de que maneira você canalizava essa expressão criativa?
B: Esteve presente graças a desenhos, filmes e à TV Cultura. Eu não sabia ao certo o porquê, mas essas coisas me chamavam a atenção e faziam com que, de alguma forma, eu quisesse me expressar como elas. Por isso minhas brincadeiras eram uma forma de canalizar e externar essa energia criativa que eu via e reproduzia.
E: Qual foi a importância do grupo de teatro amador ABC em sua trajetória artística, e como você explorou diferentes formas de expressão?
B: O ABC foi o grupo que me ensinou sobre coletividade, e graças a ele, eu tive meu primeiro contato com o teatro e também com artistas orientadores incríveis. Eu pude ter vivências e aprendi muito sobre várias áreas do teatro, desde a criação de texto à direção e à criação de figurino. Isso foi muito precioso e primordial para minha bagagem como atriz.
E: Como você buscou aprimorar suas habilidades artísticas?
B: Busquei estudar e ler bastante, ter contato com as pessoas do teatro, com artistas orientadores. Busquei observar as pessoas, porque acredito que, para esta profissão, a leitura e a observação do outro são pontos muito importantes para o desenvolvimento do nosso trabalho. Com isso, eu posso coletar informações incríveis.
E: Além do papel em A Infância de Romeu e Julieta, quais outros trabalhos e conquistas artísticas você destaca?
B: Bom, como estou começando agora e não tenho tantos trabalhos, devo dizer que, dos poucos que fiz, todos têm grande destaque para mim. Minha primeira protagonista, no filme Escola de Quebrada (2022), minha primeira personagem surda no curta-metragem Lapso (2023), uma participação que fiz na série Unidade Básica (2016-), peças de teatro e afins, tudo teve imenso destaque na minha vida e me trouxe experiências incríveis. E espero que continue assim nos próximos trabalhos que virão.
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*Crédito da foto de destaque: reprodução/Instagram/@beatrizatrizoliveira_
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