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Oriental ou asiático: qual termo usar e por quê?

Entenda a diferença entre esses termos, suas origens e por que a linguagem inclusiva faz toda a diferença quando falamos sobre culturas diversas

Sabe quando a gente fica na dúvida entre oriental ou asiático para falar de alguma cultura ou pessoa da Ásia? Parece que não faz muita diferença, mas esses dois termos têm uma carga histórica que muita gente nem imagina. E, de uns tempos pra cá, a palavra asiático passou a ser a preferida por quem quer ter uma comunicação mais respeitosa e inclusiva. Mas, por quê? Afinal, não dá tudo na mesma?

A resposta é: não! A escolha entre esses termos faz muita diferença para quem tem raízes asiáticas e, ainda hoje, enfrenta um monte de estereótipos e simplificações sobre suas culturas. E, vamos combinar, ninguém gosta de ser reduzido a um estereótipo, né? 

Por isso, bora entender o que está por trás de cada palavra, o que oriental carrega que torna seu uso complicado e como asiático reflete melhor o respeito pela diversidade desse continente gigante.

Entendendo de onde vem cada palavra

A palavra oriental é bem antiga, vem do latim orientalis, que quer dizer do leste ou do oriente. Esse termo era usado principalmente por europeus para descrever regiões que ficavam a leste do continente europeu, como Japão, China e Coreia. 

À primeira vista, pode até parecer uma descrição geográfica simples, mas a coisa é mais profunda do que parece. Oriental acabou se tornando um termo com uma carga cultural e política forte, associado à visão que os europeus tinham do que era diferente e exótico.

E é aí que começam os problemas. Durante os períodos de colonização, muitos povos asiáticos foram tratados como exóticos, misteriosos e até inferiores pelos colonizadores europeus. 

A palavra oriental passou a carregar essa ideia de que tudo o que vinha do Oriente era quase um mundo à parte, cheio de mistérios e que deveria ser desvendado pelo Ocidente. Esse olhar distorcido não só simplificava as culturas asiáticas como também as retratava de uma forma que não respeitava a realidade e a complexidade desses povos.

Por outro lado, o termo asiático é mais direto e neutro. Ele se refere ao continente de forma ampla e sem associações estereotipadas. Ele permite que as pessoas sejam vistas como indivíduos dentro de uma diversidade de culturas, línguas e tradições próprias. Usar a palavra asiático é mais respeitoso justamente porque ela não carrega toda essa bagagem de preconceito e exotização que oriental foi ganhando com o tempo.

Por que oriental pode soar meio estranho?

Vamos pensar: se você chama uma pessoa de oriental, está resumindo uma região com 48 países e mais de 4 bilhões de pessoas a um único termo. É como se todo mundo fosse igual, com a mesma cultura e os mesmos traços. Só que a gente sabe que não é assim. 

Quando você diz oriental, acaba colocando várias culturas ricas e diversas em uma única categoria, o que reforça estereótipos que podem ser bem prejudiciais. E ninguém gosta de ser simplificado desse jeito, né?

Nos Estados Unidos, na década de 1960, a comunidade asiática começou a questionar esse termo. Durante os movimentos pelos direitos civis, muitos ativistas passaram a reivindicar um olhar mais cuidadoso sobre a maneira como as pessoas asiáticas eram retratadas. 

Foi aí que o termo oriental começou a ser deixado de lado. Ele parecia reforçar essa ideia de um outro mundo exótico, o que dificultava uma visão mais humana e realista das culturas asiáticas. Em estados como Nova York e Washington, oriental chegou a ser banido de documentos oficiais, exatamente para afastar o termo de um contexto que era visto como desrespeitoso e até ofensivo.

Além disso, quando a gente parar para pensar no que o termo oriental evoca, muitas vezes ele ainda traz uma imagem clichê de pessoas de olhos puxados, com roupas tradicionais e ambientes que parecem saídos de um filme antigo. Esse tipo de imagem já não representa o que as pessoas da Ásia realmente são e acaba sendo uma simplificação que apaga a modernidade e a pluralidade dessas culturas.

Usar asiático é mais inclusivo e respeitoso

Por tudo isso, quando a gente fala de culturas ou pessoas da Ásia, usar o termo asiático é uma escolha muito mais respeitosa e inclusiva. Ele permite que a gente reconheça a pluralidade do continente sem reduzir tudo a uma visão simplificada. E, claro, asiático também evita aquelas associações antigas e estereotipadas que o termo oriental carrega até hoje.

Outro ponto importante é lembrar que a Ásia é um continente enorme, e falar asiático já abrange uma quantidade imensa de povos e tradições diferentes. Mas, se for possível, sempre vale a pena ser mais específico! Que tal dizer cultura coreana, costumes tailandeses ou gastronomia japonesa? Assim, a gente valoriza ainda mais as diferenças e singularidades de cada cultura dentro da Ásia, sem colocar tudo no mesmo pacote.

Inclusive, é interessante lembrar que a Ásia não é apenas China, Japão e Coreia. Cada país asiático é um mundo em si, com idiomas, tradições e histórias únicas. 

Por exemplo, temos a Tailândia, com seu famoso festival das lanternas e templos exuberantes, ou a Índia, com tradições complexas como o sistema de castas e cerimônias de casamento que podem durar dias. 

Nas Filipinas, a hospitalidade é uma marca cultural forte, e a Turquia, que também faz parte do continente asiático, tem uma herança cultural que mistura influências europeias e asiáticas, criando uma identidade única.

Então, além de usar asiático para uma comunicação mais inclusiva, ir um pouco além e citar o país específico de origem é ainda mais interessante. É um jeito de valorizar a diversidade desse continente e, de quebra, enriquecer nossa própria visão sobre o mundo, aprendendo algo novo sobre culturas tão diferentes e ricas.

O peso das palavras na construção do respeito

Pode parecer só um detalhe, mas a escolha das palavras que usamos importa muito. Quando optamos por asiático em vez de oriental, a gente demonstra que se importa com o impacto das nossas palavras e com as pessoas que elas representam. Isso é um jeito de evitar velhos estereótipos e de criar uma comunicação mais empática e respeitosa. Afinal, nossa maneira de falar sobre os outros diz muito sobre como enxergamos o mundo.

No fim das contas, entender essas nuances é um jeito de mostrar respeito. E vamos combinar, né? O mundo já está cheio de estereótipos e simplificações. Se podemos escolher uma palavra que mostra mais consideração pela diversidade, por que não fazer isso? 

Então, na próxima vez que for se referir a uma cultura ou pessoa da Ásia, lembre-se de optar por asiático. É uma mudança pequena que mostra um cuidado enorme com a forma como nos comunicamos e tratamos as diferenças.

 

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Leia também: Asiáticos não são todos iguais: vamos parar de generalizar e enxergar as diferenças

 

Texto revisado por Bells Pontes

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Coldplay lança clipe The Karate Kid com participação de Ralph Macchio

Ralph Macchio, o eterno Karate Kid, volta a brilhar e a mensagem de acreditar no seu sonho nunca foi tão forte!

Na manhã de hoje (19), o Coldplay lançou o clipe da música The Karate Kid, que faz parte da edição deluxe do álbum Moon Music, chamada Full Moon. E, claro, a estrela não poderia ser outra senão Ralph Macchio, o eterno Daniel LaRusso do filme Karate Kid (1984). O clipe traz Macchio como protagonista, mas não do jeito que você espera.

Ralph Macchio do jeitinho que você nunca viu — longe do karatê

No clipe, Ralph interpreta um músico batalhador, tentando conquistar seu espaço ao se apresentar nas ruas. Em um momento, ele encontra Chris Martin (vocalista do Coldplay), que aparece com o mesmo visual do lyric video de ALL MY LOVE. Essa conexão visual faz total sentido, já que ambos os vídeos foram dirigidos por Chris Candy e estão conectados por um vinil que foi anunciado essa semana, com as duas músicas na tracklist.

Quando a música e o sonho se encontram 

Assim como Daniel LaRusso no filme, o personagem de Macchio precisa batalhar para ver seu sonho se tornar realidade. Em uma cena cheia de simbolismo, ele troca um relógio e um ursinho de pelúcia por um ingresso para o show do Coldplay. E o destino ainda faz a mágica acontecer quando ele usa um cartaz jogado fora por um casal para escrever uma mensagem, chamando a atenção de outros para o show. 

Dentro do estádio Marvel, em Melbourne, ele é surpreendido ao ser convidado por Chris Martin para subir no palco. Chris, fingindo estar sem voz, dá a Macchio a oportunidade de cantar (com sua voz dublada, claro) e, no final, ele é ovacionado pela multidão, realizando o que parecia um sonho distante.

A conexão com Karate Kid

Quem viu o filme Karate Kid sabe o quanto ele trata de perseverança, superação e, claro, acreditar no próprio potencial. E esse é o espírito por trás de The Karate Kid do Coldplay. Em um dos versos da música, Chris Martin canta: “Oh, Daniel. Sabe como fazer um sonho se tornar realidade.” O vocalista explicou que, quando menciona o nome Daniel, está falando com uma versão de si mesmo, com aquela parte dele que compete na luta da vida.

Já Daniel LaRusso é aquele personagem que marcou gerações. No filme de 1984, ele é um adolescente que se muda para a Califórnia e logo vira alvo de bullying por uma parte de estudantes que praticam karatê, liderados por Johnny Lawrence (o famoso Cobra Kai). Tudo muda quando Daniel encontra o Sr. Miyagi, um mestre de karatê que ensina a arte marcial de forma única, misturando paciência, disciplina e autodefesa.

The Karate Kid
Foto: reprodução/CNN

No final do filme, no icônico torneio de karatê, Daniel usa o chute da garça para vencer Johnny, uma lição valiosa sobre encontrar força onde você menos espera. A jornada de Daniel foi um marco de como perseverar frente aos desafios — e o clipe do Coldplay traz essa mensagem em doses de emoção e música.

Essa conexão entre o filme, a música e o clipe do Coldplay nos lembra de uma coisa importante: nunca desistir de nossos sonhos. Se Daniel pode fazer, por que você não pode?

 

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Leia também: Relembrando Sucessos | Karate Kid: A Hora da Verdade

 

Texto revisado por Cristiane Amarante

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Crítica | Wicked — Uma das melhores adaptações já feitas

O filme entrega tudo, mas nós não podemos falar muita coisa além de: vá ao cinema! 

O Entretê conferiu a versão legendada do filme!

Se você achava que o cinema musical não podia te surpreender mais, Wicked chega para mudar tudo. Jon M. Chu, conhecido por sucessos como Podres de Ricos (2018) e Em Um Bairro de Nova York (2021), entrega uma adaptação emocionante e visualmente espetacular, que faz jus ao legado do musical original e ainda consegue ir além. É um filme que cativa, emociona e te transporta para um mundo mágico de forma inesquecível. 

A história acompanha Elphaba, vivida por Cynthia Erivo, uma jovem de pele verde que entra na Universidade Shiz para entender seus poderes e tentar encontrar seu lugar no mundo. Por mais que ela tente, seu jeito desajeitado e sua aparência a colocam como alvo de olhares tortos e piadinhas — até que ela cruza o caminho de Glinda, interpretada por Ariana Grande, a bruxa boa e a garota mais popular do campus.

Apesar de começarem como rivais, as duas constroem uma amizade inesperada, que logo será testada por segredos, escolhas e, claro, pela chegada do misterioso Mágico de Oz

Wicked
Foto: reprodução/People

Diferente de muitas histórias sobre amizade, Wicked não tem medo de explorar o lado mais complicado das relações humanas. O roteiro de Winnie Holzman mergulha fundo nos desafios, nas inseguranças e nos sacrifícios que moldam Elphaba e Glinda ao longo do tempo. Além disso, o filme mostra os acontecimentos por trás de O Mágico de Oz (1939), trazendo uma nova perspectiva para esse universo já tão conhecido — e o faz de um jeito que é impossível não se apaixonar. 

Um elenco que brilha como as esmeraldas de Oz 

Cynthia Erivo é simplesmente impecável como Elphaba. Não é só a maquiagem verde ou os efeitos especiais que impressionam — a atriz entrega uma Elphaba humana, cheia de nuances e com uma força que só cresce à medida que a trama avança. Quando ela canta Defying Gravity é impossível não se arrepiar e, talvez, chorar um pouquinho (eu chorei bastante). 

Wicked
Foto: reprodução/People

Ariana Grande também surpreende como Glinda. Por aqui, amamos Ariana atuando e queremos mais. Ela traz o equilíbrio perfeito entre a leveza cômica e os momentos mais emocionantes da personagem, mostrando que Glinda é muito mais do que uma garota fútil e engraçadinha. A química entre Erivo e Grande é mágica, transformando as cenas das duas em pura emoção. 

O restante do elenco também não fica para trás. Michelle Yeoh, como Madame Morrible, dá ao papel uma presença poderosa e quase intimidadora, enquanto Jeff Goldblum encanta como o Mágico de Oz. Já Ethan Slater, como Boq, adiciona um toque inesperado de ternura à trama. 

Direção que é pura magia 

Jon M. Chu mostra mais uma vez por que é um dos diretores mais talentosos da atualidade. Ele sabe exatamente como equilibrar os momentos grandiosos com os mais íntimos, criando um filme que é tanto visualmente deslumbrante quanto emocionalmente impactante. 

Wicked
Foto: reprodução/People

As sequências musicais são um show à parte. Cada número é tratado como uma obra de arte, com coreografias impressionantes, enquadramentos criativos e efeitos que parecem tirar o fôlego. Defying Gravity, por exemplo, é um dos momentos mais emocionantes do filme — e já pode ser considerado um marco na história dos musicais. 

Falando em música… 

A trilha sonora, com as músicas icônicas de Stephen Schwartz, continua sendo o coração de Wicked. 

E o visual, então? É de deixar qualquer um hipnotizado. Desde os figurinos detalhados até os cenários grandiosos, tudo foi pensado para transportar o público para o universo de Oz. A Cidade das Esmeraldas brilha em tons de verde tão vibrantes que parecem sair da tela, enquanto a Universidade Shiz é cheia de charme e vida, com detalhes que deixam o mundo mágico ainda mais crível. 

Por que você não pode perder Wicked 

Wicked não é só um filme — é uma experiência emocionante do começo ao fim. Com uma história cheia de coração, atuações brilhantes e uma produção que transborda magia; o longa já se firma como um dos melhores musicais dos últimos anos. É o tipo de filme que te faz rir, chorar, cantar e sair do cinema com o coração aquecido. 

Wicked
Foto: reprodução/People

Se a primeira parte é tão grandiosa assim, é impossível não ficar ansioso para o que vem a seguir. Enquanto isso, é certeza que você vai passar dias cantarolando Popular ou The Wizard and I e lembrando das cenas que ficaram gravadas na memória. Afinal, Wicked não é só sobre magia — é sobre emoção, amizade e encontrar o seu próprio brilho, mesmo quando tudo parece estar contra você. 

 

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Leia também: Trilha sonora de Wicked será lançada no mesmo no mesmo dia do filme

 

Texto revisado por Cristiane Amarante

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Artigo | Popularização da literatura coreana no Brasil

Artigo por Prof. Dr. Luis Girão (Universidade de São Paulo)

A literatura coreana começou a ganhar espaço no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, especialmente com poesia e contos. Nos anos 2000 e 2010, obras como Por favor, cuide da mamãe, de Kyung-sook Shin, e A Vegetariana, de Han Kang, trouxeram maior visibilidade e abriram caminho para novos autores. Até que, em 2014, chegaram títulos como Sukiyaki de domingo, de Bae Suah, e Flora Hen: uma fábula de amor e esperança, de Hwang Sun-mi, destacando temas femininos e críticos, além de uma produção voltada ao público infantojuvenil.

literatura coreana
Foto: divulgação/ 창비

Com o Man Booker Prize para Han Kang em 2016, o interesse pela literatura coreana se expandiu, sendo reacendido em 2018 pela retradução de A Vegetariana. Títulos como Pepino de alumínio, de Kang Byoung Yoong, e Chiclete, de Kim Ki-taek, ambos de 2018, exploraram alienação e condição humana, ampliando o leque de temas. O Oscar para o filme Parasita, de Bong Joon-ho, em 2020, impulsionou ainda mais a busca por narrativas coreanas.

Entre 2019 e 2020, a publicação de títulos coreanos no Brasil cresceu 300% em relação à década anterior, com uma média de 12 lançamentos anuais. Títulos como O bom filho, de Jeong You-jeong, e A história de Hong Gildong, de Heo Gyun, evidenciaram a diversidade de gêneros, do thriller ao drama histórico, e até graphic novels, como Grama, de Keum Suk Gendry-Kim, que aborda temas dolorosos da história coreana, como as mulheres de conforto.

Em 2021, a literatura coreana atingiu novo pico, com mais de 30 lançamentos, incluindo webtoons e romances aclamados como Atos Humanos, de Han Kang, e “Noite e dia desconhecidos”, de Bae Suah. O Brasil também assistiu ao crescimento de títulos infantojuvenis e ilustrados, como Rio, o cão preto, de Suzy Lee, premiado pela FNLIJ em 2022.

O ano de 2022 registrou o maior número de publicações coreanas no Brasil em um único ano: 34 títulos, impulsionado pelo sucesso do drama Squid Game (Round 6), da Netflix. Destacam-se Kim Jiyoung, nascida em 1982, de Cho Nam-joo, e Jun: a história real de um músico autista, de Keum Suk Gendry-Kim, que abordam feminismo e neurodivergência, explorando temas contemporâneos da Coreia.

Em 2023, a ficção de cura dominou, com títulos como A inconveniente loja de conveniência, de Kim Ho-yeon, abordando saúde mental e equilíbrio emocional, ressoando com leitores que buscavam conforto no pós-pandemia.

Em 2024, a ficção de cura consolidou-se como um dos principais gêneros da literatura coreana no Brasil, com obras como A grande loja de sonhos, de Miye Lee, e A incrível lavanderia dos corações, de Yun Jung-eun. A Bienal do Livro de São Paulo trouxe a autora Hwang Bo-reum para apresentar Bem-vindos à livraria Hyunam-dong. Outros gêneros, como a literatura fantástica e a ficção científica, também ganharam destaque, com títulos como Coelho Maldito, de Bora Chung, e “Contrapeso”, de Djuna, ampliando a complexidade das narrativas coreanas que atraem cada vez mais o público brasileiro.

Também em 2024, livros ilustrados destinados ao público infantil, como Verão, de Suzy Lee, e A lenda dos amigos, de Lee Gee Eun, ganharam destaque e ampliaram o impacto da literatura coreana entre jovens leitores, reforçado pelo prêmio FNLIJ concedido a Piscina, de JiHyeon Lee.

Ao longo de uma década, a literatura coreana expandiu-se no Brasil, abrangendo temas como feminismo, infância, saúde mental e identidade, consolidando a K-Literature como um dos fenômenos mais relevantes da Hallyu no mercado editorial brasileiro.

 

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Somos mesmo a geração que desistiu? O que Silver Spoon do BTS revela sobre os desafios dos jovens hoje

Somos a geração que desistiu ou que está em busca de novos caminhos?

Somos uma geração que desistiu ou apenas está procurando outro caminho? Nossos pais e avós cresceram acreditando que, com esforço, qualquer um poderia conquistar seus sonhos. Mas será que essa ideia ainda faz sentido? Em um mundo onde tudo parece mais difícil, muitos jovens tentam entender seu lugar num sistema que parece sempre contra eles. Em Silver Spoon (ou Baepsae), o BTS aborda exatamente essas questões, revelando a frustração e o senso de injustiça que pegam em cheio as novas gerações.

Entre dívidas, crises e expectativas que não batem com a realidade, a juventude enfrenta obstáculos que não têm nada a ver com falta de esforço. Parece mais que o jogo já começa em desvantagem. Ao contrário do que dizem, não somos preguiçosos e desinteressados. Como o BTS expõe na música, muitos jovens estão na luta para achar um espaço justo, num mundo que já os exclui logo de cara.

A corrida desigual: começamos em desvantagem

A galera de hoje em dia olha para o mercado de trabalho e se pergunta: será que aquela velha receita de estudar, se formar e ralar ainda é válida? Em Silver Spoon, BTS usa a metáfora do baepsae (o passarinho que tenta andar como uma cegonha) para questionar esse sistema. A música critica como, por mais que a juventude se esforce, ela simplesmente não consegue acompanhar o ritmo de um mundo onde quem já nasceu com vantagem tem muito mais chances de se dar bem.

Além disso, o trabalho temporário e a competitividade aumentaram, deixando o emprego cada vez mais instável. Aquele diploma universitário, que antes era o passaporte para a estabilidade, hoje em dia quase não garante nada. Muitos jovens saem da faculdade com uma dívida enorme e uma cobrança interna e externa de atingir uma segurança que parece inalcançável. Essa situação só reforça o contraste entre a promessa de meritocracia e a realidade da desigualdade.

E com a pandemia esses problemas só se intensificaram. Setores inteiros foram devastados, deixando a juventude, que já estava vulnerável, ainda mais exposta. Como o BTS critica, a questão não é falta de esforço — é uma sociedade que exige demais, mas entrega pouco em troca.

Saúde mental na berlinda: quem aguenta?

Outro peso enorme para a juventude é a pressão psicológica. Em um cenário de tanta competição e incerteza, muitos jovens enfrentam ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental. E, pra piorar, o estigma em torno da saúde mental dificulta a busca por ajuda. Enquanto as gerações passadas talvez não tivessem esse foco, a complexidade dos desafios de hoje torna a questão mais urgente do que nunca.

As redes sociais e a mídia só aumentam essa pressão, expondo a juventude a padrões de sucesso que nem sempre são reais. Em Silver Spoon, o BTS fala dessa cobrança surreal que a sociedade coloca sobre os jovens para que eles brilhem, enquanto oferece condições bem diferentes das que permitiram o sucesso das gerações anteriores. Essa disparidade gera uma crise de identidade e um descontentamento que não é culpa da juventude.

Incerteza no futuro e os objetivos que se afastam

A instabilidade econômica e política só aumentam essa incerteza sobre o futuro. Isso afeta não só quem quer estabilidade financeira, mas também quem luta por mudanças sociais e ambientais. Em Silver Spoon, BTS reflete sobre como o sistema que prometia sucesso para quem se esforça, agora mostra suas rachaduras. A compra de uma casa, um marco de estabilidade para nossos pais, hoje é um sonho distante para muita gente que vive no limiar entre o trabalho precário e a sobrecarga só para garantir o mínimo de segurança financeira.

A juventude enfrenta um cenário onde precisa escolher entre suas aspirações e necessidades básicas. E o medo das crises — políticas, ambientais, de saúde — só aumenta essa sensação de que o futuro é cada vez mais instável. BTS deixa claro que o problema não é a desistência dos jovens, mas um sistema que não dá suporte para que eles possam prosperar.

Desistimos mesmo ou estamos só recalculando a rota?

No fim, a pergunta “somos a geração que desistiu? é bem mais complexa do que parece. A crítica de BTS em Silver Spoon revela que a questão não é sobre desistência, mas sobre adaptação e resiliência diante de desafios inéditos. O que pode parecer desistência para alguns é, na verdade, a busca por novos caminhos e uma redefinição do que significa sucesso.

Silver Spoon é mais que uma música: é um grito de resistência. A geração atual não aceita mais ser rotulada como perdedora ou frágil. Se existe uma desistência, talvez seja do peso de expectativas irreais. A juventude não desistiu de lutar, apenas decidiu questionar e reinventar o sistema. É essa reinvenção, essa vontade de mudar o jogo, que define nossa geração — e é isso que Silver Spoon nos lembra: o futuro ainda é incerto, mas a luta por justiça e por um sistema mais equilibrado não vai parar tão cedo.

 

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Leia também: 20 vezes que o BTS lançou críticas em forma de música

 

Texto revisado por Alexia Friedmann

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Asiáticos não são todos iguais: vamos parar de generalizar e enxergar as diferenças

Reduzir a Ásia a um tudo igual é fechar os olhos para um continente com culturas fascinantes e distintas

A cultura asiática está em alta. A força do K-pop, a popularidade dos dramas e o sucesso de filmes coreanos e japoneses vêm conquistando o Ocidente. Mas junto com essa visibilidade, surgiu uma visão distorcida de que asiático é tudo igual. Esse pensamento ignora a diversidade de um continente com milhares de anos de história e identidade. A ideia de que todos os asiáticos compartilham da mesma cultura ou aparência reforça estereótipos racistas. Bora explorar o quanto isso é prejudicial e por que é essencial enxergar e celebrar as diferenças entre cada país asiático:

A visão ocidental e o efeito pan-asiático que nivela tudo por baixo

Primeiro, vamos falar sobre o efeito pan-asiático. Esse termo descreve a tendência ocidental de enxergar a Ásia como um único bloco homogêneo, sem diferenciar países, culturas e histórias. Para muitos ocidentais, basta que algo venha da Ásia para ser visto como exótico ou representante da cultura asiática. Isso é problemático porque ignora que Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia, Vietnã e outros países têm identidades e valores únicos. Reduzir todos os asiáticos a uma única categoria cultural apaga a complexidade que torna cada uma dessas culturas especial.

Esse efeito pan-asiático é alimentado pela falta de educação sobre a Ásia e por uma mídia que reforça esses estereótipos. Quantas vezes já vimos personagens asiáticos em filmes ocidentais sem uma história própria ou interpretados por atores de outras nacionalidades? Isso cria uma imagem superficial e equivocada.

No entretenimento, é comum ver produções coreanas, japonesas e chinesas sendo agrupadas como conteúdo asiático sem distinção, o que resulta numa visão empobrecida da Ásia e ignora até as rivalidades históricas e dinâmicas culturais de cada país.

Essa visão também ignora as tensões políticas e culturais que existem entre países asiáticos. Japão e Coreia, por exemplo, têm uma relação marcada por séculos de conflitos históricos, que ainda afetam como os dois povos se enxergam e interagem. China e Taiwan vivem uma tensão política complexa, muitas vezes ignorada pelo Ocidente. Tratar esses países como uma unidade é desrespeitoso, pois apaga essas histórias e contribui para uma compreensão rasa das particularidades asiáticas.

A diversidade linguística como expressão cultural

A diversidade linguística asiática é um exemplo claro de como cada país tem sua própria identidade. Muitos no Ocidente nem sabem que existem dezenas de línguas na China, incluindo o mandarim e vários dialetos regionais. E a escrita? Enquanto o Ocidente tem um único alfabeto, países como Japão e Coreia têm sistemas complexos com significados culturais únicos.

No Japão, há três sistemas de escrita – hiragana, katakana e kanji – que refletem tanto a história quanto influências culturais. Na Coreia, o alfabeto hangul é um símbolo de orgulho, criado para facilitar a alfabetização e afirmar a identidade única do país.

Ainda assim, muitos acham que asiático é tudo igual e se referem a qualquer idioma asiático como chinês ou japonês, ignorando que a língua é uma das expressões mais profundas de uma cultura. A língua molda a forma como as pessoas pensam e se relacionam.

Na Coreia, por exemplo, existe uma hierarquia na linguagem que reflete respeito aos mais velhos e à estrutura social. No Japão, a comunicação é polida e indireta, refletindo a importância da harmonia e do respeito mútuo. Ver a Ásia como um todo homogêneo é ignorar essa riqueza e perder a chance de conhecer um mundo de valores e perspectivas únicos.

K-pop, doramas e animes: um festival de diferenças ignoradas

O entretenimento asiático é um dos exemplos mais claros de como cada país se expressa de maneira única. Embora K-pop, doramas e animes tenham conquistado fãs no mundo todo, ainda existe uma visão de que “é tudo a mesma coisa”.

Quem conhece esses universos sabe que o K-pop é muito mais do que música – é um fenômeno cultural sul-coreano com coreografias elaboradas, um sistema de treinamento intenso e uma estética visual profundamente ligada à cultura local.

Já os doramas japoneses têm uma abordagem bem diferente dos dramas coreanos, com histórias mais contidas e que lidam com questões sociais de forma introspectiva. Enquanto isso, os dramas coreanos são conhecidos por serem intensamente emocionais, focados no romance e no melodrama, atraindo um público apaixonado. Ignorar essas diferenças é desrespeitar o trabalho que cada país coloca em suas produções, tratando tudo como produto asiático e apagando o que cada uma tem de único.

E o que dizer dos animes, uma forma de expressão genuinamente japonesa com raízes na cultura pop do país? Anime não é apenas animação; é um reflexo das tradições, lendas e espiritualidade do Japão. Colocar tudo isso no mesmo saco é nivelar por baixo e desrespeitar o que cada país asiático tem de mais autêntico.

Asiáticos no cinema ocidental: os estereótipos que reforçam o apagamento

Quando o assunto é representatividade no cinema ocidental, os asiáticos geralmente não têm o espaço que merecem, e, quando têm, são retratados de maneira rasa ou estereotipada. Quantas vezes já vimos um personagem asiático em Hollywood que não fosse o gênio nerd ou o lutador de artes marciais? Esse tipo de representação cria uma imagem limitadora e, na maioria das vezes, nem leva em conta a nacionalidade do personagem.

Esse apagamento se estende aos temas e histórias dos personagens asiáticos, que raramente ganham profundidade. Mesmo com avanços em filmes como Parasita (2019) e Minari (2020), que trouxeram histórias autênticas sobre coreanos, a indústria ainda tem muito o que mudar. A falta de personagens asiáticos com narrativas complexas reflete uma visão ocidental que generaliza e homogeneiza a Ásia.

A experiência de asiáticos no Ocidente: identidade apagada e preconceito diário

Para quem é asiático e vive no Ocidente, o impacto desse estereótipo de tudo igual é sentido diariamente. Pessoas de ascendência asiática são frequentemente confundidas umas com as outras, como se o Ocidente não se importasse em diferenciar um japonês de um chinês ou um coreano. Essa visão simplista pode parecer inofensiva, mas é desumanizadora.

Além disso, há um impacto direto no sentido de pertencimento. Muitos asiáticos no Ocidente se sentem pressionados a escolher entre suas raízes culturais e a assimilação em uma sociedade que os vê como diferentes. Isso cria um dilema de identidade e pertencimento, em que a tentativa de ser ocidental nunca é suficiente.

Vamos parar de achar que asiático é tudo igual e começar a respeitar a riqueza de cada cultura. A Ásia é um continente fascinante, com identidades únicas e histórias complexas que merecem ser ouvidas e compreendidas. Respeitar essas diferenças é o primeiro passo para construir um mundo mais inclusivo e inteligente!

 

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Texto revisado por Alexia Friedmann

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K-dramas, beleza irreal e autoestima: o impacto dos padrões coreanos na vida de quem assiste

Como a imagem dos protagonistas nos K-dramas afeta quem assiste e a pressão estética intensa que ela impõe

Com a explosão da popularidade dos K-dramas, milhões de pessoas se apaixonaram por essas produções que misturam cultura, romance e uma estética deslumbrante. No entanto, à medida que esses dramas conquistam o mundo, uma questão relevante surge: o impacto dos padrões de beleza quase inatingíveis que eles exibem. 

A aparência dos protagonistas, muitas vezes impecável e fora da realidade, é central nas tramas, abordando temas como transformações físicas, inseguranças e jornadas de autoaceitação. Para alguns, essas histórias são inspiradoras; para outros, podem representar uma fonte de pressão e até de insegurança.

“Como ator, gosto de explorar séries que normalmente não assistiria. Foi assim que descobri o mundo dos K-dramas, com histórias e atuações que me fascinaram. Além das tramas envolventes, aprecio a maneira como eles exaltam a cultura coreana em detalhes como culinária, dança e esportes.” – Bruno Rodriguez, ator.

A Coreia do Sul é conhecida por seus padrões estéticos elevados, e essa realidade é refletida de forma intensa nos K-dramas. Protagonistas com pele impecável, corpos esguios e rostos simétricos dominam as telas. 

Em produções como Beleza Verdadeira (True Beauty, 2020) e Minha Identidade é Beleza de Gangnam (My ID is Gangnam Beauty, 2018), vemos personagens que enfrentam inseguranças profundas e passam por transformações para se aproximar desses ideais, reforçando expectativas de que apenas quem atingir tal perfeição será aceito e feliz.

A beleza quase impossível: como os padrões coreanos dominaram os K-dramas

Na Coreia do Sul, a estética é uma obsessão, e isso é refletido nos dramas. O país abriga uma das maiores indústrias de beleza do mundo, e o desejo de alcançar a aparência perfeita é quase uma norma social. 

Nos K-dramas, frequentemente vemos protagonistas que passam por transformações físicas, sugerindo que a conquista de uma “beleza ideal” traz uma vida mais feliz e bem-sucedida.

“Percebo, principalmente em séries que retratam adolescentes, uma valorização da perfeição e a presença de temas como bullying intenso. Ao assistir A Lição (The Glory, 2022), vi uma representação do bullying que parecia exagerada, mas, em Beleza Verdadeira, percebi que essa temática é comum nos K-dramas e reflete uma realidade mais intensa do que eu imaginava.”  – Bruno Rodriguez, ator.

Dramas como Beleza Verdadeira trazem essa transformação estética como uma redenção para os personagens. Ju-kyung, a protagonista, aprende a usar maquiagem para esconder suas inseguranças e passa de comum a uma jovem que se encaixa no padrão de beleza. 

K-drama
Foto: reprodução/Viki

Embora o drama tente falar de autoaceitação, a mensagem de que a beleza é uma ferramenta poderosa permanece, o que pode provocar insegurança em quem já lida com questões de autoestima.

Transformações que desafiam a realidade

As mudanças físicas nos personagens dos K-dramas, geralmente apresentadas como soluções rápidas e milagrosas, geram um ideal de beleza inalcançável. Em Minha Identidade é Beleza de Gangnam, Kang Mi-rae decide fazer uma cirurgia plástica para escapar do bullying. 

Embora o drama explore os dilemas psicológicos de Mi-rae após a cirurgia, a narrativa mostra como a beleza é tratada como chave para aceitação social, ainda que as inseguranças persistam.

K-drama
Foto: reprodução/Soompi

Essas narrativas podem, ao mesmo tempo, gerar empatia e causar desconforto. A beleza ideal representada nas telas reforça a ideia de que o sucesso e a aceitação estão diretamente ligados ao cumprimento de padrões estéticos, criando, para o público, uma divisão entre fantasia e realidade.

“A representação do ‘rosto perfeito’ e a forma como isso afeta a autoestima dos jovens me incomoda. Assistindo, percebi o quanto eu, sendo negro, me senti automaticamente excluído desse padrão inatingível. Fiquei imaginando: será que, pela minha cor e gênero, eu estaria tão distante do ideal de beleza coreano que nem seria alvo de comparação?”  – Bruno Rodriguez, ator.

Beleza e valor pessoal: quando os K-dramas acertam

Apesar da pressão estética, alguns K-dramas desafiam os padrões ao mostrar personagens fora do estereótipo coreano. 

Em Fada do Levantamento de Peso Kim Bok-joo (Weightlifting Fairy Kim Bok-joo, 2016), a protagonista é uma jovem levantadora de peso, com um corpo forte e personalidade vibrante. O drama foca nas suas inseguranças e na busca por se valorizar, incentivando o público a reconhecer qualidades além da aparência.

Essas representações oferecem uma visão mais saudável e inclusiva. Para muitos, personagens como Bok-joo representam uma quebra dos estereótipos e mostram que é possível encontrar amor e sucesso sem precisar se transformar fisicamente.

O impacto na autoestima do público

Para fãs de K-dramas, as mensagens de beleza e aparência podem ter efeitos variados. Muitos se identificam com as lutas dos personagens, enquanto outros sentem a pressão de alcançar o visual impecável das estrelas. Esses dramas, embora cativantes, influenciam a maneira como o público percebe a própria imagem, especialmente em uma era em que redes sociais intensificam a obsessão pela estética.

Consumir essas histórias com uma visão crítica é fundamental, especialmente para o público jovem, que já enfrenta a pressão estética em outras esferas. A Coreia do Sul, ao exportar sua cultura através dos K-dramas, leva esses ideais estéticos para um público global, tornando essencial lembrar que essa perfeição é uma construção.

A beleza como escolha, e não como regra

Os K-dramas estão gradualmente incluindo mais diversidade em suas representações de beleza, com personagens autênticos que desafiam os padrões estéticos tradicionais. 

Aproveitar essas histórias como entretenimento, sem se deixar envolver pela pressão estética que elas carregam, é uma forma de manter o equilíbrio. Reconhecer que a beleza retratada nos K-dramas é geralmente uma fantasia pode ajudar o público a assistir com um olhar mais crítico.

Essas histórias nos lembram que a transformação real começa de dentro. Ser feliz consigo mesmo é um processo que vai além da aparência, e os K-dramas podem evoluir para celebrar essa diversidade.

A visão de uma psicóloga sobre os padrões de beleza nos K-dramas e seu impacto psicológico

“Como psicóloga e criadora de conteúdo, observo nas redes sociais o impacto que a exposição constante a padrões estéticos irreais têm na autoestima e na percepção de valor próprio. A linha entre se inspirar e se comparar é tênue e, ao cruzá-la, podemos cair em uma insatisfação que gera outros sofrimentos.

 

Assistir a K-dramas é encantador, mas tentar trazer esses ideais para nossa realidade pode nos prejudicar. Por trás da imagem perfeita, há produção, maquiagem, dietas, edições e filtros. Essa “perfeição” não é real, e, ao nos compararmos, sentimos que precisamos nos adaptar.

 

Essa comparação constante gera um ciclo de autocrítica que afeta nossa autoestima. O que começa como um desejo de “melhorar” evolui para uma sensação de inadequação. Perseguindo um padrão inalcançável, esquecemos nossa autenticidade e o que é único em nós.

 

Eu mesma vivo esse ambiente e sei como é fácil cair nessa armadilha. Por isso, sempre falo sobre autoaceitação e a importância de nos valorizarmos. Ninguém é impecável o tempo todo, e está tudo bem. Precisamos diferenciar entretenimento da realidade, consumindo esses conteúdos sem sacrificar o amor-próprio.

 

Após anos estudando o tema, aprendi que nossa autoestima cresce quando aceitamos nossas características reais. Isso não significa abandonar o autocuidado, mas fazê-lo por respeito a quem somos, e não para atingir um ideal inalcançável. Ao nos libertarmos da comparação, fortalecemos nossa autoestima, que passa a depender de nosso próprio reconhecimento.

 

Minha orientação é: consuma seus conteúdos favoritos com leveza e consciência. Inspire-se no estilo que admira, mas lembre-se de que seu valor está em ser verdadeiramente você.” – Juliana Capel, psicóloga especialista em Psicologia Positiva.

Autoestima em tempos de K-dramas

Os K-dramas refletem tanto os sonhos quanto as inseguranças da sociedade. Para o público ocidental, é importante manter uma perspectiva saudável e lembrar que a beleza vista nas telas é apenas uma parte das histórias. Embora muitos K-dramas continuem promovendo uma estética idealizada, há uma crescente demanda por personagens que espelhem a diversidade e a realidade de quem assiste.

 

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Leia mais: De comédia a thriller, confira as séries asiáticas que estreiam em novembro

 

Texto revisado por Bells Pontes

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Inclusão na beleza: quando todas as peles serão realmente representadas?

Recentemente, a marca Mascavo foi criticada por ignorar peles escuras – um erro que outras marcas também vivem repetindo. Até quando o mercado vai ignorar essa necessidade?

A inclusão na maquiagem já deveria ser algo básico, mas, para muitas marcas, ainda está longe de ser uma realidade. Recentemente a Mascavo, uma marca nacional de cosméticos, se meteu numa baita polêmica ao lançar uma linha de produtos (bronzer, blush e contorno) com pouquíssimos tons para peles mais escuras. Mesmo falando que corretivos e bases para peles mais escuras serão lançadas mais pra frente, a resposta foi imediata e negativa, reacendendo aquele debate: por que a indústria da beleza continua sendo tão limitada quando o assunto é diversidade? A Mascavo não está sozinha – muitas outras marcas já passaram pelo mesmo problema, e a pergunta que fica é: até quando essa exclusão vai continuar?

Por que a inclusão na maquiagem importa TANTO?

Maquiagem não é só um produto de consumo – para muita gente, é uma ferramenta poderosa de autoestima, expressão e pertencimento. Ela permite que as pessoas se sintam bem e confortáveis na própria pele. Então, quando uma marca não oferece uma paleta ampla de tons, ela manda uma mensagem clara: certas belezas são menos importantes. Em vez de abraçar a diversidade dos consumidores, elas reforçam aquela velha ideia de que só algumas peles merecem atenção.

Quando a Fenty Beauty chegou em 2017 com 40 tons de base, foi um divisor de águas. Rihanna mostrou que dá pra fazer produtos inclusivos e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro com isso. A linha foi um sucesso estrondoso e virou referência, mostrando que as pessoas querem – e esperam – paletas completas, acessíveis e inclusivas. Desde então, o público ficou mais exigente e não aceita menos do que um verdadeiro compromisso com a diversidade.

A importância de investir em tons diversos se a sua intenção é entrar para o mercado global

Para marcas que desejam crescer em âmbito mundial, investir em uma gama de tons que abranja todas as peles é mais que uma estratégia, é uma necessidade. Um exemplo notável é a Tirtir, uma marca sul-coreana que ampliou suas opções de tons em bases cushion, incluindo tonalidades mais escuras para atender ao público internacional. Isso é particularmente significativo, pois a Coreia do Sul tem uma população majoritariamente amarela (96%), e, portanto, a marca não tinha essa obrigação. Ainda assim, ao entender a importância de se adaptar ao público global, a Tirtir mostrou compromisso com a diversidade.

Agora, é difícil entender por que marcas brasileiras, como a Mascavo, ainda não abraçaram essa realidade. Em um país onde 56% da população é negra, a oferta de uma gama diversificada deveria ser um requisito básico, não uma exceção. Marcas que ignoram esse aspecto acabam reforçando barreiras culturais e se distanciando de um público que busca representatividade e inclusão em produtos que deveriam ser acessíveis a todos.

@iamirellaa

Bronzer da Mascavo em pele negra 🤎🤨 eu já sabia que como BRONZER ele não funcionaria na minha pele, mas com o video da #marisaad falando que em “fototipos mais escuros” traria uma cintilância resolvi testar com vocês. O que acharam? #mascavo #pelenegra #iamirella

♬ som original – Mirella Qualha

Os erros que a indústria não para de repetir

Infelizmente, o caso da Mascavo não é novidade. Em 2017, a Tarte Cosmetics lançou sua base Shape Tape com uma gama tão limitada de tons que praticamente ignorava as peles negras. O público reagiu com indignação, e isso abriu uma conversa sobre colorismo e falta de sensibilidade racial no mercado da beleza. A Tarte até tentou se redimir lançando mais tons depois, mas o dano já estava feito – e ficou aquele gosto amargo de que a marca só acordou porque foi pressionada.

Outro exemplo foi a Beauty Blender, famosa pelas esponjinhas de maquiagem, que entrou no mercado de bases em 2018. O problema? A paleta de cores deixou muito a desejar, especialmente para tons escuros. A reação negativa foi imediata, e o público se decepcionou ao ver que uma marca tão popular não se preocupou em ser realmente inclusiva desde o início.

Esses casos mostram que o problema não é só um erro isolado aqui e ali, mas um padrão de exclusão. .

Por que essas falhas continuam acontecendo?

Essas escorregadas vão além da falta de planejamento. Na raiz do problema, está a ausência de diversidade dentro das próprias equipes que criam os produtos. Se a criação é feita apenas por pessoas que não vivenciam a experiência de uma pele mais escura, fica difícil o produto final ser inclusivo. E, sem essa representatividade nas decisões, as marcas continuam ignorando as nuances e necessidades de uma boa parte do público.

Outro ponto é o foco exagerado no lucro. Muitas empresas preferem cortar custos a investir numa paleta completa de cores e , ao fazerem isso, mostram falta de visão: num mercado cada vez mais consciente, essas marcas perdem relevância e, eventualmente, espaço para concorrentes que realmente se preocupam com todos os seus consumidores.

Karen Bachini, uma influencer que está há anos no mercado da beleza e que recentemente lançou sua marca de maquiagem com uma cartela ampla de bases, publicou uma carta aberta à Mascavo:

Vale lembrar que Bianca Andrade (Boca Rosa) também lançou 50 tons de bases!

O que os consumidores esperam (e exigem) hoje?

O consumidor de hoje não é mais passivo. Ele quer campanhas que realmente celebrem a diversidade e produtos que atendam a todos os tons de pele. Não basta responder com uma “linha mais completa” depois de uma crise; as pessoas percebem quando uma marca só está reagindo para evitar problemas, em vez de se comprometer de verdade com a inclusão.

Marcas que querem se manter relevantes precisam entender que a inclusão deve estar presente desde o desenvolvimento do produto até as campanhas de marketing. Isso também envolve escutar diferentes perspectivas e necessidades, trazendo diversidade em todas as etapas.

A exclusão de um grupo de consumidores não cabe mais na indústria de hoje. A maquiagem, enquanto expressão de beleza e individualidade, precisa ser acessível e inclusiva para todos. E as marcas que ainda não entenderam isso estão prestes a ficar para trás num mercado onde autenticidade, ética e representatividade são essenciais.

Assim, a pergunta que fica é: até quando a inclusão vai ser vista como um extra? Porque, enquanto essa resposta não vier, são os consumidores que vão ditar as novas regras – escolhendo marcas que realmente celebrem a beleza em todas as suas formas e tons.

 

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Texto revisado por Layanne Rezende

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Entrevista exclusiva | Ing Lee fala sobre a arte de resgatar raízes e emoções em quadrinhos

Descubra como a quadrinista mineira une sua vivência pessoal e herança cultural em obras que tocam o coração e desafiam as convenções artísticas

Já parou para admirar uma ilustração e se deixou levar pela emoção que vem do peso cultural e da atenção aos detalhes? Um ótimo exemplo disso é a Ing Lee e suas obras impressionantes. 

Formada em Artes Visuais pela UFMG, Ing Lee é uma artista plástica, ilustradora e quadrinista mineira surda oralizada que vem ganhando destaque no cenário indie dos quadrinhos brasileiros desde 2018. O que mais me encanta em seu trabalho é como ela brinca com contrastes e justaposições de cores, transformando cada página em um convite irresistível para os leitores. Sua sensibilidade ao explorar temas como memória e identidade, especialmente no contexto do Leste Asiático, faz de cada quadrinho uma experiência emocional única.

Nascida de ascendência norte-coreana e sem uma comunidade para se conectar plenamente, Ing está em uma jornada de resgate de suas raízes e da rica história político-cultural das Coreias. Suas criações falam sobre memórias e identidades, trazendo referências que vão desde as artes de propaganda até o cinema coreano. No ano passado, ela lançou histórias em quadrinhos sobre os 60 anos da imigração coreana no Brasil e João Pé-de-Feijão, uma obra que retrata sua relação com o irmão caçula autista.

 Ing Lee
Foto: divulgação/acervo pessoal

Em entrevista ao Entretetizei, a artista incrível contou um pouco mais sobre seu processo criativo e suas fontes de inspiração. Confira:

Entretetizei: Quando você percebeu que queria seguir carreira nas artes visuais? Como foi o começo no cenário indie dos quadrinhos? 

Ing Lee: Foi de última hora, após fazer um ano de cursinho cogitando prestar para Medicina. Ao final do cursinho, gostei tanto da didática dos professores que achei que seria uma boa ideia tentar uma licenciatura e, no caso, tentei Artes Visuais em algumas faculdades de Belo Horizonte. Acabei passando, mas não fui pra licenciatura porque lá percebi que não gostava muito das matérias (hehe). Entrei em 2014 no curso de Artes Visuais da UFMG e fiz a habilitação em Desenho.

Em 2016, comecei a participar de feiras gráficas da minha cidade (BH) puramente por curiosidade e vontade de publicar uma zine em risografia, e fui bastante surpreendida. Gostei muito e passei a me inscrever para diversas feiras em outras cidades, principalmente em São Paulo, onde eu também acabei fazendo diversas amizades por conta dos grupos de militância asiático-brasileira que estavam começando a fervilhar nessa mesma época. Co-fundei o Selo Pólvora em 2018, coletivo asiático-brasileiro feminista que contava com membros mulheres e pessoas não-binárias de diversas ascendências asiáticas, desde coreana, chinesa, japonesa a sírio-libanesa. 

Neste mesmo ano, participei de uma residência artística bem breve, chamada Laboratório de Quadrinhos Potenciais, organizada pelo FIQ, em Belo Horizonte, junto de outros artistas locais. 

Acredito que ter participado deste programa me deu um impulso muito grande para começar a criar HQs e desde então não parei. Cheguei a fazer publicações coletivas e a minha primeira obra de HQ solo foi publicada pela revista Piauí, em novembro de 2019. 

E: Como sua vivência como surda oralizada influencia suas escolhas artísticas e a forma como você conta histórias e transmite emoções nas suas obras? 

I: Hmm, não sei dizer direito isso. Mas tenho uma grande preocupação com a questão de acessibilidade e inclusão nesse meio, então acredito que se canaliza mais pela forma como tento transmitir meu conhecimento adquirido e formar novos profissionais na área através de meus cursos, workshops e palestras.

E: Como as culturas brasileira e coreana se misturam na sua arte?

I: A parte coreana, pra mim, por muito tempo se definia pela falta. Fui criada longe de minha comunidade e raízes, e isso me deixava sempre em conflito, de modo que eu tentava buscar entender melhor minha ancestralidade procurando mais referências coreanas, seja na arte ou de forma mais geral, em outras expressões culturais como cinema e também entender sua história, sociedade, etc. Isso me trouxe a diversos coletivos asiático-brasileiros, com os quais tive trocas incríveis e enriquecedoras, e me influenciou bastante a querer continuar produzindo coisas em prol de minha comunidade — seja enquanto representação ou resgate histórico mesmo, como fiz em meu trabalho de webtiras sobre a imigração coreana no Brasil.

E: Quem são suas maiores influências? Autores, artistas, filmes, estilos… o que molda seu trabalho?

I: De artistas, Taiyo Matsumoto, Keum Suk Gendry-Kim, Asano Inio, Manshen Lo, Deb Lee, Nam June Paik, Ai Yazawa, Rutu Modan, Alison Bechdel, Hiroshi Nagai, Jee Ook, Seung Eun Kim, Yi Yang, Atsuko Nishida, Moto Hagio, Kyoko Okazaki.

De filmes, Satoshi Kon, Bong Joon-ho, Takeshi Kitano, Edward Yang, Celine Song e Sylvia Chang.

De livros, Amiga Genial, de Elena Ferrante, Coelho Maldito, de Bora Chung, Aos Prantos no Mercado, de Michelle Zauner, e Peito e Ovos, de Mieko Kawakami.

E: Você considera sua arte uma forma de ativismo? Como suas criações abordam questões de identidade, memória e resistência?

I: Acredito que sim, mas não se resume somente a isso. Minha arte reflete obviamente meus pontos de vista políticos e busco transformação por meio dela, mas também acredito que é um meio de expressão e experimentação também. Meu trabalho autoral se conecta muito com meu resgate à minha própria ancestralidade, porém não se limita a isso. Desejo abordar diversos temas que me interessem em momentos distintos.

E: Como é o processo de criar uma capa de livro, desde o briefing inicial até a versão final?

I: Geralmente sou um dos últimos passos na cadeia do livro, pois o livro já se encontra praticamente pronto, traduzido e em processo de revisão, e é nesse ponto que  entro como capista. O briefing acompanha um resumo do livro e até mesmo caminhos possíveis de como retratá-lo, mas, sempre que possível, busco também fazer minha leitura do título a ser ilustrado para tirar minhas próprias conclusões. Então envolve bastante leitura, estudos e testes para poder chegar no resultado final, sempre em diálogo com a direção de arte ou os editores envolvidos no projeto.

 Ing Lee
Foto: divulgação/acervo pessoal

E: Como as diferentes formas de arte que você explora (ilustração, colagem, cerâmica, quadrinhos) se conectam e enriquecem seu processo criativo?

I: Acredito que cada linguagem representa momentos distintos de vida e, por mais que algumas eu nem faça mais (como a colagem), ainda são coisas que continuam presentes em meu repertório e na forma que interpreto as coisas. O pensamento da colagem transcende sua técnica e me confere um raciocínio de conectar diferentes pontos, abordagens e referências em meu trabalho. E isso acaba por enriquecer a minha produção, porque sempre vejo formas de transformar e traduzir diferentes técnicas para outra coisa nova. 

Acho que considero a pesquisa algo mais importante que a técnica utilizada em si, e  vejo isso como algo bastante consistente e me confere um maior amadurecimento sobre a forma como vejo as coisas.

E: O que mudou na sua visão artística depois da residência no programa Bolsa Pampulha, onde você pesquisou cerâmicas coreanas?

I: Creio que me fez pensar bastante sobre como lidar com a lentidão que a cerâmica confere em seu processo, diferente da instantaneidade do desenho digital. Para além disso, pude descobrir diversos aspectos da própria história da Coreia e conectar isso a outras produções, pois a cerâmica Celadon representa todo um período no qual ela se fez mais presente.

E: Como é o seu dia a dia de trabalho? Você segue uma rotina ou prefere deixar fluir mais livremente? 

Enquanto freelancer que trabalha full-time com trabalhos de ilustração e congêneres, costuma depender da demanda da semana. Gosto de me planejar semanalmente e não só por dia, e daí vai depender de variáveis como prazo, etapa de produção e afins. A área de criação é muito mais organizada e rotineira do que parece, a ponto de eu até saber identificar quando parar de produzir num dia porque percebo que cheguei num ponto de estagnação, onde fico tão bitolada e saturada com um trabalho, que preciso de um respiro — que pode ser simplesmente uma boa noite de sono e acordar com a cabeça mais leve no dia seguinte. Isso vale tanto para ilustrações quanto quadrinhos, tudo demanda planejamento e organização para surgir, porque se eu depender de apenas deixar as coisas fluírem naturalmente vou acabar procrastinando e perdendo o foco. 

Sei quais períodos sou mais produtiva, geralmente à tarde, então costumo deixar as manhãs para começar o dia de forma mais lenta e fazer coisas de casa ou me exercitar, responder e-mails…. Daí vou seguindo até o começo da noite e descanso. Já fui de virar noites, porém, no fim, mais me desgastava do que ajudava. Então me impor horários mais comerciais também me confere não só uma rotina mais saudável como também uma postura de seriedade com meus clientes.

E: Qual foi a inspiração para criar Ao meu eu criança? O que você queria passar com essa história?

I: Ao Meu Eu Criança é uma história que se passa em dois tempos, os personagens crianças e depois já adultos, e o que conecta estes dois períodos tão distintos é a nostalgia, com máquinas de venda que tinham bonecos de Pokémon (geralmente falsificados). É uma HQ curtinha, onde foquei mais nessa experimentação gráfica do formato de zine impresso em risografia e me propus a desenhar com a mão esquerda em algumas partes, para resgatar esse desenho mais infantil, dado que sou destra.

Meu objetivo era uma ode nostálgica que se conecta não somente com a minha infância como também com a de muitas outras pessoas que viveram os anos 90 e 2000 enquanto crianças.

E: João Pé-de-feijão revela muito sobre seu relacionamento com seu irmão caçula autista. Como foi transformar essa experiência pessoal em quadrinhos?

I: Foi algo sempre muito incentivado pela minha mãe. Ela quem me deu a ideia de fazer uma HQ em torno da história do meu irmão caçula, João, havia um bom tempo, mas decidi começar quando percebi que havia chegado a hora de me mudar para São Paulo e deixar minha família, que mora em Belo Horizonte. Então essa série surgiu justamente de um desejo de me despedir dessa proximidade cotidiana que eu não teria mais com meu irmãozinho após a mudança, como uma forma de homenagem às memórias que construímos juntos.

E: Que dica você daria para artistas que estão começando, especialmente no cenário independente? 

I: Eu diria que trabalhar com arte pode ser uma jornada solitária e difícil, então sempre que possível, busquem formas de trazer outras pessoas e até mesmo fazer parte de coletivos, pois creio que não devemos nos fechar numa bolha no nosso próprio mundinho e a arte não surge do vácuo, mas sim é um fruto de um indivíduo que convive em sociedade. Por meio das trocas e alianças, podemos fortalecer muito o nosso trabalho e fazer com que ele se comunique mais com as pessoas.

E: Você tem sido muito comentada por ilustrar capas de livros como Amêndoas, que até ganhou um cenário especial na Bienal de 2024. Como tem sido essa experiência de ver seu trabalho ganhando tanta visibilidade? 

I: Tem sido realmente muito gratificante me dar conta do meu crescimento profissional nesses últimos tempos e sempre acredito que o sucesso é algo que deve ser partilhado. Então, sempre que possível, espero trazer esperança e abrir portas para outras pessoas como eu e de outros grupos minoritários neste mercado, que, infelizmente, segue sendo tão excludente e de difícil inserção.

E: De todas as capas que você já ilustrou, qual é a sua preferida? E qual livro adoraria ilustrar no futuro?

Puxa, tem tantas… é que são livros sempre tão diferentes uns dos outros e cada um representa algo diferente pra mim, sabe? Mas se fosse escolher somente uma, eu diria que Aos Prantos no Mercado segue sendo minha favorita não somente por ser um dos meus livros favoritos, como também foi um dos primeiros livros que ilustrei a capa e sinto que eles marcaram muito a minha carreira.

Adoraria ilustrar algum livro da Elena Ferrante um dia, principalmente a tetralogia napolitana, da Han Kang e, caso algum dia venha ao Brasil, At the End of the Matinee de Keiichiro Hirano.

E: O que vem por aí? Pode dar uma pista dos próximos projetos? 

I: Irei lançar o quadrinho João Pé-de-Feijão no ano que vem pela VR Editora, o meu primeiro livro com uma editora!!!

E: Tem algum tema ou história que você ainda não explorou, mas gostaria muito de abordar? 

I: Enquanto quadrinista, gostaria muito de fazer algum projeto de apocalipse zumbi e terror psicológico. O segundo, inclusive, é outro projeto que tenho na manga e ainda preciso começar a roteirizar, mas já consegui uma parceria para a escrita e esperamos começar ainda este ano.

E: Você acabou de ganhar o prêmio Jovens Talentos na Bienal do Livro 2024. Como foi isso? O que esperar da sua ida à feira de Frankfurt?

Fiquei incrédula na hora que o prêmio foi anunciado, tanto que nem preparei discurso nenhum… mas considero uma grande vitória não somente para mim, como também para a classe dos trabalhadores criativos do mercado editorial. Em tempos tão estranhos onde esse tipo de trabalho anda sendo precarizado e substituído pela antiética inteligência artificial, como apontei em meu pitching defendendo minha candidatura entre os finalistas do prêmio para o júri. Espero que cada vez mais capistas ganhem espaço e sejam devidamente valorizados.

Com o prêmio, ganhei uma ida à Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, que foi uma viagem incrível! Ainda estou digerindo tudo o que aconteceu nesse período, mas posso dizer que sinto que voltei outra pessoa. Tive trocas maravilhosas e conheci muitas pessoas incríveis do mercado que, embora tenham atuações e backgrounds tão diferentes do meu, ainda nos conectamos muito e espero seguir alimentando aqui esses laços que conquistei por lá.

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Leia também: Exposição no Centro Cultural Coreano traz caricaturas de ícones brasileiros por artista sul-coreana

 

Texto revisado por Cristiane Amarante

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Entrevista exclusiva | Jung Eun Hye fala sobre sua arte e participação em K-drama

A artista e atriz sul-coreana esteve em São Paulo para abrir sua exposição Maravilhosa Graça em Todo o Globo

Em cartaz no Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB) desde o dia 13 de outubro, a exposição Maravilhosa Graça em Todo o Globo, da artista sul-coreana Jung Eun Hye, tem encantado o público com 70 caricaturas que vão de retratos intensos a homenagens a ícones brasileiros como Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Seu Jorge, Anitta, o chef Alex Atala e o grafiteiro Eduardo Kobra. Jung Eun Hye, que começou a se dedicar à pintura em 2016, é uma artista premiada com um olhar muito particular.

Jung Eun Hye
Foto: divulgação/KCCB

 Em uma entrevista exclusiva ao Entretetizei, a artista contou um pouco sobre sua trajetória no mundo da arte e sua atuação no K-drama Amor e Outros Dramas (2022), disponível na Netflix, que também a tornou conhecida fora da Ásia. Confira:

Entretetizei: Algumas de suas caricaturas retratam celebridades brasileiras. Qual foi a motivação para desenhar essas figuras e qual mensagem você gostaria de transmitir através de suas obras?

Jung Eun Hye: Antes de vir ao Brasil, eu não tinha nenhuma informação sobre as celebridades brasileiras. Por isso, selecionei algumas figuras através das recomendações do Centro Cultural Coreano. 

Desenho literalmente o que vejo e quero mostrar, através dos meus olhos, a singularidade e a beleza que cada uma dessas celebridades brasileiras possui.

E: Sua atuação em Amor e Outros Dramas foi um grande sucesso. Qual foi o significado dessa experiência para você e de que maneira interpretar um personagem querido pelo público te influenciou?

J: Após o drama, muitas pessoas começaram a me reconhecer e a elogiar tanto minha atuação quanto meus desenhos. Sentir esse carinho foi gratificante e me deixou orgulhosa do meu trabalho. 

Antes do drama, eu me preocupava bastante com os olhares estranhos das pessoas ao caminhar pela rua, almoçar em restaurantes ou usar transporte público. Agora, em qualquer lugar que vou, sou reconhecida, e as pessoas pedem para tirar fotos e me cumprimentam calorosamente. Muitas têm comparecido às minhas exposições para ver minhas obras, e algumas até têm encomendado desenhos.

Por isso, estou me dedicando ainda mais como artista. A fama traz algumas complicações (rs), mas, no geral, estou muito feliz com a situação.

E: Qual foi o maior desafio que você enfrentou em sua jornada artística e como conseguiu superá-lo?

J: Eu costumava capturar momentos em que encontrava pessoas para desenhar caricaturas, mas durante a pandemia, não pude me encontrar com ninguém, e esse foi o período mais difícil para mim. Sem a interação com as pessoas, comecei a regredir, assim como antes. Comecei a gaguejar, ranger os dentes e murmurar sozinha, enfrentando alucinações e vozes.

Nesse momento, meus pais e eu refletidos sobre como poderíamos nos reconectar, e decidimos tentar a comunicação por videochamada com pessoas ao redor do mundo. Foi assim que conheci o diretor artístico brasileiro Cleber Papa. Graças a essa conexão, fui convidada pelo Centro Cultural Coreano no Brasil a vir para o Brasil.

E: A arte é uma forma de expressar emoções e ideias para muitas pessoas. Quais emoções você espera que o público sinta ao apreciar suas caricaturas e retratos?

J: Comecei a desenhar caricaturas no Munhori River Market em 2016 e, desde então, já retratei 5 mil pessoas. Lembro de cada olhar caloroso que recebi delas. Aqueles olhares cheios de carinho, especialmente quando me pediam: “Desenhe-me bonito”, foram essenciais para me ajudar a superar minha ansiedade em relação aos olhares alheios e a crescer como artista. Acredito que todos esses 5 mil rostos são únicos, adoráveis e belos, e me dediquei a cada um deles com muito empenho. Na verdade, não existe um “rosto feio” no mundo.

E: Durante a exposição, você conduziu workshops. Quais sentimentos você vivenciou nos encontros com os participantes?

J: Foi uma experiência incrível! Ver pessoas tão diversas, com rostos e cores diferentes, se reunindo para desenhar juntas foi extremamente gratificante. Fiquei muito grata a todos os participantes que vieram me encontrar no Brasil. Foi surpreendente apreciar as obras únicas de cada um. Espero que, no futuro, haja mais oportunidades para que artistas coreanos e locais se conectem por meio da arte no Centro Cultural.

E: Muitas pessoas com deficiência podem hesitar em ingressar no mundo da arte devido aos preconceitos e barreiras que ainda persistem. Qual mensagem você gostaria de transmitir a essas pessoas, especialmente àquelas que desejam se expressar artisticamente?

J: Não tenham medo, apenas façam. Com o tempo, vocês ganharão confiança e melhorarão suas habilidades. Não se preocupem em ser perfeitos; simplesmente divirtam-se!

 

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Leia também: Exposição no Centro Cultural Coreano traz caricaturas de ícones brasileiros por artista sul-coreana

 

Texto revisado por Cristiane Amarante 

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