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Asiáticos não são todos iguais: vamos parar de generalizar e enxergar as diferenças

Reduzir a Ásia a um tudo igual é fechar os olhos para um continente com culturas fascinantes e distintas

A cultura asiática está em alta. A força do K-pop, a popularidade dos dramas e o sucesso de filmes coreanos e japoneses vêm conquistando o Ocidente. Mas junto com essa visibilidade, surgiu uma visão distorcida de que asiático é tudo igual. Esse pensamento ignora a diversidade de um continente com milhares de anos de história e identidade. A ideia de que todos os asiáticos compartilham da mesma cultura ou aparência reforça estereótipos racistas. Bora explorar o quanto isso é prejudicial e por que é essencial enxergar e celebrar as diferenças entre cada país asiático:

A visão ocidental e o efeito pan-asiático que nivela tudo por baixo

Primeiro, vamos falar sobre o efeito pan-asiático. Esse termo descreve a tendência ocidental de enxergar a Ásia como um único bloco homogêneo, sem diferenciar países, culturas e histórias. Para muitos ocidentais, basta que algo venha da Ásia para ser visto como exótico ou representante da cultura asiática. Isso é problemático porque ignora que Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia, Vietnã e outros países têm identidades e valores únicos. Reduzir todos os asiáticos a uma única categoria cultural apaga a complexidade que torna cada uma dessas culturas especial.

Esse efeito pan-asiático é alimentado pela falta de educação sobre a Ásia e por uma mídia que reforça esses estereótipos. Quantas vezes já vimos personagens asiáticos em filmes ocidentais sem uma história própria ou interpretados por atores de outras nacionalidades? Isso cria uma imagem superficial e equivocada.

No entretenimento, é comum ver produções coreanas, japonesas e chinesas sendo agrupadas como conteúdo asiático sem distinção, o que resulta numa visão empobrecida da Ásia e ignora até as rivalidades históricas e dinâmicas culturais de cada país.

Essa visão também ignora as tensões políticas e culturais que existem entre países asiáticos. Japão e Coreia, por exemplo, têm uma relação marcada por séculos de conflitos históricos, que ainda afetam como os dois povos se enxergam e interagem. China e Taiwan vivem uma tensão política complexa, muitas vezes ignorada pelo Ocidente. Tratar esses países como uma unidade é desrespeitoso, pois apaga essas histórias e contribui para uma compreensão rasa das particularidades asiáticas.

A diversidade linguística como expressão cultural

A diversidade linguística asiática é um exemplo claro de como cada país tem sua própria identidade. Muitos no Ocidente nem sabem que existem dezenas de línguas na China, incluindo o mandarim e vários dialetos regionais. E a escrita? Enquanto o Ocidente tem um único alfabeto, países como Japão e Coreia têm sistemas complexos com significados culturais únicos.

No Japão, há três sistemas de escrita – hiragana, katakana e kanji – que refletem tanto a história quanto influências culturais. Na Coreia, o alfabeto hangul é um símbolo de orgulho, criado para facilitar a alfabetização e afirmar a identidade única do país.

Ainda assim, muitos acham que asiático é tudo igual e se referem a qualquer idioma asiático como chinês ou japonês, ignorando que a língua é uma das expressões mais profundas de uma cultura. A língua molda a forma como as pessoas pensam e se relacionam.

Na Coreia, por exemplo, existe uma hierarquia na linguagem que reflete respeito aos mais velhos e à estrutura social. No Japão, a comunicação é polida e indireta, refletindo a importância da harmonia e do respeito mútuo. Ver a Ásia como um todo homogêneo é ignorar essa riqueza e perder a chance de conhecer um mundo de valores e perspectivas únicos.

K-pop, doramas e animes: um festival de diferenças ignoradas

O entretenimento asiático é um dos exemplos mais claros de como cada país se expressa de maneira única. Embora K-pop, doramas e animes tenham conquistado fãs no mundo todo, ainda existe uma visão de que “é tudo a mesma coisa”.

Quem conhece esses universos sabe que o K-pop é muito mais do que música – é um fenômeno cultural sul-coreano com coreografias elaboradas, um sistema de treinamento intenso e uma estética visual profundamente ligada à cultura local.

Já os doramas japoneses têm uma abordagem bem diferente dos dramas coreanos, com histórias mais contidas e que lidam com questões sociais de forma introspectiva. Enquanto isso, os dramas coreanos são conhecidos por serem intensamente emocionais, focados no romance e no melodrama, atraindo um público apaixonado. Ignorar essas diferenças é desrespeitar o trabalho que cada país coloca em suas produções, tratando tudo como produto asiático e apagando o que cada uma tem de único.

E o que dizer dos animes, uma forma de expressão genuinamente japonesa com raízes na cultura pop do país? Anime não é apenas animação; é um reflexo das tradições, lendas e espiritualidade do Japão. Colocar tudo isso no mesmo saco é nivelar por baixo e desrespeitar o que cada país asiático tem de mais autêntico.

Asiáticos no cinema ocidental: os estereótipos que reforçam o apagamento

Quando o assunto é representatividade no cinema ocidental, os asiáticos geralmente não têm o espaço que merecem, e, quando têm, são retratados de maneira rasa ou estereotipada. Quantas vezes já vimos um personagem asiático em Hollywood que não fosse o gênio nerd ou o lutador de artes marciais? Esse tipo de representação cria uma imagem limitadora e, na maioria das vezes, nem leva em conta a nacionalidade do personagem.

Esse apagamento se estende aos temas e histórias dos personagens asiáticos, que raramente ganham profundidade. Mesmo com avanços em filmes como Parasita (2019) e Minari (2020), que trouxeram histórias autênticas sobre coreanos, a indústria ainda tem muito o que mudar. A falta de personagens asiáticos com narrativas complexas reflete uma visão ocidental que generaliza e homogeneiza a Ásia.

A experiência de asiáticos no Ocidente: identidade apagada e preconceito diário

Para quem é asiático e vive no Ocidente, o impacto desse estereótipo de tudo igual é sentido diariamente. Pessoas de ascendência asiática são frequentemente confundidas umas com as outras, como se o Ocidente não se importasse em diferenciar um japonês de um chinês ou um coreano. Essa visão simplista pode parecer inofensiva, mas é desumanizadora.

Além disso, há um impacto direto no sentido de pertencimento. Muitos asiáticos no Ocidente se sentem pressionados a escolher entre suas raízes culturais e a assimilação em uma sociedade que os vê como diferentes. Isso cria um dilema de identidade e pertencimento, em que a tentativa de ser ocidental nunca é suficiente.

Vamos parar de achar que asiático é tudo igual e começar a respeitar a riqueza de cada cultura. A Ásia é um continente fascinante, com identidades únicas e histórias complexas que merecem ser ouvidas e compreendidas. Respeitar essas diferenças é o primeiro passo para construir um mundo mais inclusivo e inteligente!

 

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Texto revisado por Alexia Friedmann

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K-dramas, beleza irreal e autoestima: o impacto dos padrões coreanos na vida de quem assiste

Como a imagem dos protagonistas nos K-dramas afeta quem assiste e a pressão estética intensa que ela impõe

Com a explosão da popularidade dos K-dramas, milhões de pessoas se apaixonaram por essas produções que misturam cultura, romance e uma estética deslumbrante. No entanto, à medida que esses dramas conquistam o mundo, uma questão relevante surge: o impacto dos padrões de beleza quase inatingíveis que eles exibem. 

A aparência dos protagonistas, muitas vezes impecável e fora da realidade, é central nas tramas, abordando temas como transformações físicas, inseguranças e jornadas de autoaceitação. Para alguns, essas histórias são inspiradoras; para outros, podem representar uma fonte de pressão e até de insegurança.

“Como ator, gosto de explorar séries que normalmente não assistiria. Foi assim que descobri o mundo dos K-dramas, com histórias e atuações que me fascinaram. Além das tramas envolventes, aprecio a maneira como eles exaltam a cultura coreana em detalhes como culinária, dança e esportes.” – Bruno Rodriguez, ator.

A Coreia do Sul é conhecida por seus padrões estéticos elevados, e essa realidade é refletida de forma intensa nos K-dramas. Protagonistas com pele impecável, corpos esguios e rostos simétricos dominam as telas. 

Em produções como Beleza Verdadeira (True Beauty, 2020) e Minha Identidade é Beleza de Gangnam (My ID is Gangnam Beauty, 2018), vemos personagens que enfrentam inseguranças profundas e passam por transformações para se aproximar desses ideais, reforçando expectativas de que apenas quem atingir tal perfeição será aceito e feliz.

A beleza quase impossível: como os padrões coreanos dominaram os K-dramas

Na Coreia do Sul, a estética é uma obsessão, e isso é refletido nos dramas. O país abriga uma das maiores indústrias de beleza do mundo, e o desejo de alcançar a aparência perfeita é quase uma norma social. 

Nos K-dramas, frequentemente vemos protagonistas que passam por transformações físicas, sugerindo que a conquista de uma “beleza ideal” traz uma vida mais feliz e bem-sucedida.

“Percebo, principalmente em séries que retratam adolescentes, uma valorização da perfeição e a presença de temas como bullying intenso. Ao assistir A Lição (The Glory, 2022), vi uma representação do bullying que parecia exagerada, mas, em Beleza Verdadeira, percebi que essa temática é comum nos K-dramas e reflete uma realidade mais intensa do que eu imaginava.”  – Bruno Rodriguez, ator.

Dramas como Beleza Verdadeira trazem essa transformação estética como uma redenção para os personagens. Ju-kyung, a protagonista, aprende a usar maquiagem para esconder suas inseguranças e passa de comum a uma jovem que se encaixa no padrão de beleza. 

K-drama
Foto: reprodução/Viki

Embora o drama tente falar de autoaceitação, a mensagem de que a beleza é uma ferramenta poderosa permanece, o que pode provocar insegurança em quem já lida com questões de autoestima.

Transformações que desafiam a realidade

As mudanças físicas nos personagens dos K-dramas, geralmente apresentadas como soluções rápidas e milagrosas, geram um ideal de beleza inalcançável. Em Minha Identidade é Beleza de Gangnam, Kang Mi-rae decide fazer uma cirurgia plástica para escapar do bullying. 

Embora o drama explore os dilemas psicológicos de Mi-rae após a cirurgia, a narrativa mostra como a beleza é tratada como chave para aceitação social, ainda que as inseguranças persistam.

K-drama
Foto: reprodução/Soompi

Essas narrativas podem, ao mesmo tempo, gerar empatia e causar desconforto. A beleza ideal representada nas telas reforça a ideia de que o sucesso e a aceitação estão diretamente ligados ao cumprimento de padrões estéticos, criando, para o público, uma divisão entre fantasia e realidade.

“A representação do ‘rosto perfeito’ e a forma como isso afeta a autoestima dos jovens me incomoda. Assistindo, percebi o quanto eu, sendo negro, me senti automaticamente excluído desse padrão inatingível. Fiquei imaginando: será que, pela minha cor e gênero, eu estaria tão distante do ideal de beleza coreano que nem seria alvo de comparação?”  – Bruno Rodriguez, ator.

Beleza e valor pessoal: quando os K-dramas acertam

Apesar da pressão estética, alguns K-dramas desafiam os padrões ao mostrar personagens fora do estereótipo coreano. 

Em Fada do Levantamento de Peso Kim Bok-joo (Weightlifting Fairy Kim Bok-joo, 2016), a protagonista é uma jovem levantadora de peso, com um corpo forte e personalidade vibrante. O drama foca nas suas inseguranças e na busca por se valorizar, incentivando o público a reconhecer qualidades além da aparência.

Essas representações oferecem uma visão mais saudável e inclusiva. Para muitos, personagens como Bok-joo representam uma quebra dos estereótipos e mostram que é possível encontrar amor e sucesso sem precisar se transformar fisicamente.

O impacto na autoestima do público

Para fãs de K-dramas, as mensagens de beleza e aparência podem ter efeitos variados. Muitos se identificam com as lutas dos personagens, enquanto outros sentem a pressão de alcançar o visual impecável das estrelas. Esses dramas, embora cativantes, influenciam a maneira como o público percebe a própria imagem, especialmente em uma era em que redes sociais intensificam a obsessão pela estética.

Consumir essas histórias com uma visão crítica é fundamental, especialmente para o público jovem, que já enfrenta a pressão estética em outras esferas. A Coreia do Sul, ao exportar sua cultura através dos K-dramas, leva esses ideais estéticos para um público global, tornando essencial lembrar que essa perfeição é uma construção.

A beleza como escolha, e não como regra

Os K-dramas estão gradualmente incluindo mais diversidade em suas representações de beleza, com personagens autênticos que desafiam os padrões estéticos tradicionais. 

Aproveitar essas histórias como entretenimento, sem se deixar envolver pela pressão estética que elas carregam, é uma forma de manter o equilíbrio. Reconhecer que a beleza retratada nos K-dramas é geralmente uma fantasia pode ajudar o público a assistir com um olhar mais crítico.

Essas histórias nos lembram que a transformação real começa de dentro. Ser feliz consigo mesmo é um processo que vai além da aparência, e os K-dramas podem evoluir para celebrar essa diversidade.

A visão de uma psicóloga sobre os padrões de beleza nos K-dramas e seu impacto psicológico

“Como psicóloga e criadora de conteúdo, observo nas redes sociais o impacto que a exposição constante a padrões estéticos irreais têm na autoestima e na percepção de valor próprio. A linha entre se inspirar e se comparar é tênue e, ao cruzá-la, podemos cair em uma insatisfação que gera outros sofrimentos.

 

Assistir a K-dramas é encantador, mas tentar trazer esses ideais para nossa realidade pode nos prejudicar. Por trás da imagem perfeita, há produção, maquiagem, dietas, edições e filtros. Essa “perfeição” não é real, e, ao nos compararmos, sentimos que precisamos nos adaptar.

 

Essa comparação constante gera um ciclo de autocrítica que afeta nossa autoestima. O que começa como um desejo de “melhorar” evolui para uma sensação de inadequação. Perseguindo um padrão inalcançável, esquecemos nossa autenticidade e o que é único em nós.

 

Eu mesma vivo esse ambiente e sei como é fácil cair nessa armadilha. Por isso, sempre falo sobre autoaceitação e a importância de nos valorizarmos. Ninguém é impecável o tempo todo, e está tudo bem. Precisamos diferenciar entretenimento da realidade, consumindo esses conteúdos sem sacrificar o amor-próprio.

 

Após anos estudando o tema, aprendi que nossa autoestima cresce quando aceitamos nossas características reais. Isso não significa abandonar o autocuidado, mas fazê-lo por respeito a quem somos, e não para atingir um ideal inalcançável. Ao nos libertarmos da comparação, fortalecemos nossa autoestima, que passa a depender de nosso próprio reconhecimento.

 

Minha orientação é: consuma seus conteúdos favoritos com leveza e consciência. Inspire-se no estilo que admira, mas lembre-se de que seu valor está em ser verdadeiramente você.” – Juliana Capel, psicóloga especialista em Psicologia Positiva.

Autoestima em tempos de K-dramas

Os K-dramas refletem tanto os sonhos quanto as inseguranças da sociedade. Para o público ocidental, é importante manter uma perspectiva saudável e lembrar que a beleza vista nas telas é apenas uma parte das histórias. Embora muitos K-dramas continuem promovendo uma estética idealizada, há uma crescente demanda por personagens que espelhem a diversidade e a realidade de quem assiste.

 

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Leia mais: De comédia a thriller, confira as séries asiáticas que estreiam em novembro

 

Texto revisado por Bells Pontes

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Beleza Especiais Notícias

Inclusão na beleza: quando todas as peles serão realmente representadas?

Recentemente, a marca Mascavo foi criticada por ignorar peles escuras – um erro que outras marcas também vivem repetindo. Até quando o mercado vai ignorar essa necessidade?

A inclusão na maquiagem já deveria ser algo básico, mas, para muitas marcas, ainda está longe de ser uma realidade. Recentemente a Mascavo, uma marca nacional de cosméticos, se meteu numa baita polêmica ao lançar uma linha de produtos (bronzer, blush e contorno) com pouquíssimos tons para peles mais escuras. Mesmo falando que corretivos e bases para peles mais escuras serão lançadas mais pra frente, a resposta foi imediata e negativa, reacendendo aquele debate: por que a indústria da beleza continua sendo tão limitada quando o assunto é diversidade? A Mascavo não está sozinha – muitas outras marcas já passaram pelo mesmo problema, e a pergunta que fica é: até quando essa exclusão vai continuar?

Por que a inclusão na maquiagem importa TANTO?

Maquiagem não é só um produto de consumo – para muita gente, é uma ferramenta poderosa de autoestima, expressão e pertencimento. Ela permite que as pessoas se sintam bem e confortáveis na própria pele. Então, quando uma marca não oferece uma paleta ampla de tons, ela manda uma mensagem clara: certas belezas são menos importantes. Em vez de abraçar a diversidade dos consumidores, elas reforçam aquela velha ideia de que só algumas peles merecem atenção.

Quando a Fenty Beauty chegou em 2017 com 40 tons de base, foi um divisor de águas. Rihanna mostrou que dá pra fazer produtos inclusivos e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro com isso. A linha foi um sucesso estrondoso e virou referência, mostrando que as pessoas querem – e esperam – paletas completas, acessíveis e inclusivas. Desde então, o público ficou mais exigente e não aceita menos do que um verdadeiro compromisso com a diversidade.

A importância de investir em tons diversos se a sua intenção é entrar para o mercado global

Para marcas que desejam crescer em âmbito mundial, investir em uma gama de tons que abranja todas as peles é mais que uma estratégia, é uma necessidade. Um exemplo notável é a Tirtir, uma marca sul-coreana que ampliou suas opções de tons em bases cushion, incluindo tonalidades mais escuras para atender ao público internacional. Isso é particularmente significativo, pois a Coreia do Sul tem uma população majoritariamente amarela (96%), e, portanto, a marca não tinha essa obrigação. Ainda assim, ao entender a importância de se adaptar ao público global, a Tirtir mostrou compromisso com a diversidade.

Agora, é difícil entender por que marcas brasileiras, como a Mascavo, ainda não abraçaram essa realidade. Em um país onde 56% da população é negra, a oferta de uma gama diversificada deveria ser um requisito básico, não uma exceção. Marcas que ignoram esse aspecto acabam reforçando barreiras culturais e se distanciando de um público que busca representatividade e inclusão em produtos que deveriam ser acessíveis a todos.

@iamirellaa

Bronzer da Mascavo em pele negra 🤎🤨 eu já sabia que como BRONZER ele não funcionaria na minha pele, mas com o video da #marisaad falando que em “fototipos mais escuros” traria uma cintilância resolvi testar com vocês. O que acharam? #mascavo #pelenegra #iamirella

♬ som original – Mirella Qualha

Os erros que a indústria não para de repetir

Infelizmente, o caso da Mascavo não é novidade. Em 2017, a Tarte Cosmetics lançou sua base Shape Tape com uma gama tão limitada de tons que praticamente ignorava as peles negras. O público reagiu com indignação, e isso abriu uma conversa sobre colorismo e falta de sensibilidade racial no mercado da beleza. A Tarte até tentou se redimir lançando mais tons depois, mas o dano já estava feito – e ficou aquele gosto amargo de que a marca só acordou porque foi pressionada.

Outro exemplo foi a Beauty Blender, famosa pelas esponjinhas de maquiagem, que entrou no mercado de bases em 2018. O problema? A paleta de cores deixou muito a desejar, especialmente para tons escuros. A reação negativa foi imediata, e o público se decepcionou ao ver que uma marca tão popular não se preocupou em ser realmente inclusiva desde o início.

Esses casos mostram que o problema não é só um erro isolado aqui e ali, mas um padrão de exclusão. .

Por que essas falhas continuam acontecendo?

Essas escorregadas vão além da falta de planejamento. Na raiz do problema, está a ausência de diversidade dentro das próprias equipes que criam os produtos. Se a criação é feita apenas por pessoas que não vivenciam a experiência de uma pele mais escura, fica difícil o produto final ser inclusivo. E, sem essa representatividade nas decisões, as marcas continuam ignorando as nuances e necessidades de uma boa parte do público.

Outro ponto é o foco exagerado no lucro. Muitas empresas preferem cortar custos a investir numa paleta completa de cores e , ao fazerem isso, mostram falta de visão: num mercado cada vez mais consciente, essas marcas perdem relevância e, eventualmente, espaço para concorrentes que realmente se preocupam com todos os seus consumidores.

Karen Bachini, uma influencer que está há anos no mercado da beleza e que recentemente lançou sua marca de maquiagem com uma cartela ampla de bases, publicou uma carta aberta à Mascavo:

Vale lembrar que Bianca Andrade (Boca Rosa) também lançou 50 tons de bases!

O que os consumidores esperam (e exigem) hoje?

O consumidor de hoje não é mais passivo. Ele quer campanhas que realmente celebrem a diversidade e produtos que atendam a todos os tons de pele. Não basta responder com uma “linha mais completa” depois de uma crise; as pessoas percebem quando uma marca só está reagindo para evitar problemas, em vez de se comprometer de verdade com a inclusão.

Marcas que querem se manter relevantes precisam entender que a inclusão deve estar presente desde o desenvolvimento do produto até as campanhas de marketing. Isso também envolve escutar diferentes perspectivas e necessidades, trazendo diversidade em todas as etapas.

A exclusão de um grupo de consumidores não cabe mais na indústria de hoje. A maquiagem, enquanto expressão de beleza e individualidade, precisa ser acessível e inclusiva para todos. E as marcas que ainda não entenderam isso estão prestes a ficar para trás num mercado onde autenticidade, ética e representatividade são essenciais.

Assim, a pergunta que fica é: até quando a inclusão vai ser vista como um extra? Porque, enquanto essa resposta não vier, são os consumidores que vão ditar as novas regras – escolhendo marcas que realmente celebrem a beleza em todas as suas formas e tons.

 

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Texto revisado por Layanne Rezende

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Entrevista exclusiva | Ing Lee fala sobre a arte de resgatar raízes e emoções em quadrinhos

Descubra como a quadrinista mineira une sua vivência pessoal e herança cultural em obras que tocam o coração e desafiam as convenções artísticas

Já parou para admirar uma ilustração e se deixou levar pela emoção que vem do peso cultural e da atenção aos detalhes? Um ótimo exemplo disso é a Ing Lee e suas obras impressionantes. 

Formada em Artes Visuais pela UFMG, Ing Lee é uma artista plástica, ilustradora e quadrinista mineira surda oralizada que vem ganhando destaque no cenário indie dos quadrinhos brasileiros desde 2018. O que mais me encanta em seu trabalho é como ela brinca com contrastes e justaposições de cores, transformando cada página em um convite irresistível para os leitores. Sua sensibilidade ao explorar temas como memória e identidade, especialmente no contexto do Leste Asiático, faz de cada quadrinho uma experiência emocional única.

Nascida de ascendência norte-coreana e sem uma comunidade para se conectar plenamente, Ing está em uma jornada de resgate de suas raízes e da rica história político-cultural das Coreias. Suas criações falam sobre memórias e identidades, trazendo referências que vão desde as artes de propaganda até o cinema coreano. No ano passado, ela lançou histórias em quadrinhos sobre os 60 anos da imigração coreana no Brasil e João Pé-de-Feijão, uma obra que retrata sua relação com o irmão caçula autista.

 Ing Lee
Foto: divulgação/acervo pessoal

Em entrevista ao Entretetizei, a artista incrível contou um pouco mais sobre seu processo criativo e suas fontes de inspiração. Confira:

Entretetizei: Quando você percebeu que queria seguir carreira nas artes visuais? Como foi o começo no cenário indie dos quadrinhos? 

Ing Lee: Foi de última hora, após fazer um ano de cursinho cogitando prestar para Medicina. Ao final do cursinho, gostei tanto da didática dos professores que achei que seria uma boa ideia tentar uma licenciatura e, no caso, tentei Artes Visuais em algumas faculdades de Belo Horizonte. Acabei passando, mas não fui pra licenciatura porque lá percebi que não gostava muito das matérias (hehe). Entrei em 2014 no curso de Artes Visuais da UFMG e fiz a habilitação em Desenho.

Em 2016, comecei a participar de feiras gráficas da minha cidade (BH) puramente por curiosidade e vontade de publicar uma zine em risografia, e fui bastante surpreendida. Gostei muito e passei a me inscrever para diversas feiras em outras cidades, principalmente em São Paulo, onde eu também acabei fazendo diversas amizades por conta dos grupos de militância asiático-brasileira que estavam começando a fervilhar nessa mesma época. Co-fundei o Selo Pólvora em 2018, coletivo asiático-brasileiro feminista que contava com membros mulheres e pessoas não-binárias de diversas ascendências asiáticas, desde coreana, chinesa, japonesa a sírio-libanesa. 

Neste mesmo ano, participei de uma residência artística bem breve, chamada Laboratório de Quadrinhos Potenciais, organizada pelo FIQ, em Belo Horizonte, junto de outros artistas locais. 

Acredito que ter participado deste programa me deu um impulso muito grande para começar a criar HQs e desde então não parei. Cheguei a fazer publicações coletivas e a minha primeira obra de HQ solo foi publicada pela revista Piauí, em novembro de 2019. 

E: Como sua vivência como surda oralizada influencia suas escolhas artísticas e a forma como você conta histórias e transmite emoções nas suas obras? 

I: Hmm, não sei dizer direito isso. Mas tenho uma grande preocupação com a questão de acessibilidade e inclusão nesse meio, então acredito que se canaliza mais pela forma como tento transmitir meu conhecimento adquirido e formar novos profissionais na área através de meus cursos, workshops e palestras.

E: Como as culturas brasileira e coreana se misturam na sua arte?

I: A parte coreana, pra mim, por muito tempo se definia pela falta. Fui criada longe de minha comunidade e raízes, e isso me deixava sempre em conflito, de modo que eu tentava buscar entender melhor minha ancestralidade procurando mais referências coreanas, seja na arte ou de forma mais geral, em outras expressões culturais como cinema e também entender sua história, sociedade, etc. Isso me trouxe a diversos coletivos asiático-brasileiros, com os quais tive trocas incríveis e enriquecedoras, e me influenciou bastante a querer continuar produzindo coisas em prol de minha comunidade — seja enquanto representação ou resgate histórico mesmo, como fiz em meu trabalho de webtiras sobre a imigração coreana no Brasil.

E: Quem são suas maiores influências? Autores, artistas, filmes, estilos… o que molda seu trabalho?

I: De artistas, Taiyo Matsumoto, Keum Suk Gendry-Kim, Asano Inio, Manshen Lo, Deb Lee, Nam June Paik, Ai Yazawa, Rutu Modan, Alison Bechdel, Hiroshi Nagai, Jee Ook, Seung Eun Kim, Yi Yang, Atsuko Nishida, Moto Hagio, Kyoko Okazaki.

De filmes, Satoshi Kon, Bong Joon-ho, Takeshi Kitano, Edward Yang, Celine Song e Sylvia Chang.

De livros, Amiga Genial, de Elena Ferrante, Coelho Maldito, de Bora Chung, Aos Prantos no Mercado, de Michelle Zauner, e Peito e Ovos, de Mieko Kawakami.

E: Você considera sua arte uma forma de ativismo? Como suas criações abordam questões de identidade, memória e resistência?

I: Acredito que sim, mas não se resume somente a isso. Minha arte reflete obviamente meus pontos de vista políticos e busco transformação por meio dela, mas também acredito que é um meio de expressão e experimentação também. Meu trabalho autoral se conecta muito com meu resgate à minha própria ancestralidade, porém não se limita a isso. Desejo abordar diversos temas que me interessem em momentos distintos.

E: Como é o processo de criar uma capa de livro, desde o briefing inicial até a versão final?

I: Geralmente sou um dos últimos passos na cadeia do livro, pois o livro já se encontra praticamente pronto, traduzido e em processo de revisão, e é nesse ponto que  entro como capista. O briefing acompanha um resumo do livro e até mesmo caminhos possíveis de como retratá-lo, mas, sempre que possível, busco também fazer minha leitura do título a ser ilustrado para tirar minhas próprias conclusões. Então envolve bastante leitura, estudos e testes para poder chegar no resultado final, sempre em diálogo com a direção de arte ou os editores envolvidos no projeto.

 Ing Lee
Foto: divulgação/acervo pessoal

E: Como as diferentes formas de arte que você explora (ilustração, colagem, cerâmica, quadrinhos) se conectam e enriquecem seu processo criativo?

I: Acredito que cada linguagem representa momentos distintos de vida e, por mais que algumas eu nem faça mais (como a colagem), ainda são coisas que continuam presentes em meu repertório e na forma que interpreto as coisas. O pensamento da colagem transcende sua técnica e me confere um raciocínio de conectar diferentes pontos, abordagens e referências em meu trabalho. E isso acaba por enriquecer a minha produção, porque sempre vejo formas de transformar e traduzir diferentes técnicas para outra coisa nova. 

Acho que considero a pesquisa algo mais importante que a técnica utilizada em si, e  vejo isso como algo bastante consistente e me confere um maior amadurecimento sobre a forma como vejo as coisas.

E: O que mudou na sua visão artística depois da residência no programa Bolsa Pampulha, onde você pesquisou cerâmicas coreanas?

I: Creio que me fez pensar bastante sobre como lidar com a lentidão que a cerâmica confere em seu processo, diferente da instantaneidade do desenho digital. Para além disso, pude descobrir diversos aspectos da própria história da Coreia e conectar isso a outras produções, pois a cerâmica Celadon representa todo um período no qual ela se fez mais presente.

E: Como é o seu dia a dia de trabalho? Você segue uma rotina ou prefere deixar fluir mais livremente? 

Enquanto freelancer que trabalha full-time com trabalhos de ilustração e congêneres, costuma depender da demanda da semana. Gosto de me planejar semanalmente e não só por dia, e daí vai depender de variáveis como prazo, etapa de produção e afins. A área de criação é muito mais organizada e rotineira do que parece, a ponto de eu até saber identificar quando parar de produzir num dia porque percebo que cheguei num ponto de estagnação, onde fico tão bitolada e saturada com um trabalho, que preciso de um respiro — que pode ser simplesmente uma boa noite de sono e acordar com a cabeça mais leve no dia seguinte. Isso vale tanto para ilustrações quanto quadrinhos, tudo demanda planejamento e organização para surgir, porque se eu depender de apenas deixar as coisas fluírem naturalmente vou acabar procrastinando e perdendo o foco. 

Sei quais períodos sou mais produtiva, geralmente à tarde, então costumo deixar as manhãs para começar o dia de forma mais lenta e fazer coisas de casa ou me exercitar, responder e-mails…. Daí vou seguindo até o começo da noite e descanso. Já fui de virar noites, porém, no fim, mais me desgastava do que ajudava. Então me impor horários mais comerciais também me confere não só uma rotina mais saudável como também uma postura de seriedade com meus clientes.

E: Qual foi a inspiração para criar Ao meu eu criança? O que você queria passar com essa história?

I: Ao Meu Eu Criança é uma história que se passa em dois tempos, os personagens crianças e depois já adultos, e o que conecta estes dois períodos tão distintos é a nostalgia, com máquinas de venda que tinham bonecos de Pokémon (geralmente falsificados). É uma HQ curtinha, onde foquei mais nessa experimentação gráfica do formato de zine impresso em risografia e me propus a desenhar com a mão esquerda em algumas partes, para resgatar esse desenho mais infantil, dado que sou destra.

Meu objetivo era uma ode nostálgica que se conecta não somente com a minha infância como também com a de muitas outras pessoas que viveram os anos 90 e 2000 enquanto crianças.

E: João Pé-de-feijão revela muito sobre seu relacionamento com seu irmão caçula autista. Como foi transformar essa experiência pessoal em quadrinhos?

I: Foi algo sempre muito incentivado pela minha mãe. Ela quem me deu a ideia de fazer uma HQ em torno da história do meu irmão caçula, João, havia um bom tempo, mas decidi começar quando percebi que havia chegado a hora de me mudar para São Paulo e deixar minha família, que mora em Belo Horizonte. Então essa série surgiu justamente de um desejo de me despedir dessa proximidade cotidiana que eu não teria mais com meu irmãozinho após a mudança, como uma forma de homenagem às memórias que construímos juntos.

E: Que dica você daria para artistas que estão começando, especialmente no cenário independente? 

I: Eu diria que trabalhar com arte pode ser uma jornada solitária e difícil, então sempre que possível, busquem formas de trazer outras pessoas e até mesmo fazer parte de coletivos, pois creio que não devemos nos fechar numa bolha no nosso próprio mundinho e a arte não surge do vácuo, mas sim é um fruto de um indivíduo que convive em sociedade. Por meio das trocas e alianças, podemos fortalecer muito o nosso trabalho e fazer com que ele se comunique mais com as pessoas.

E: Você tem sido muito comentada por ilustrar capas de livros como Amêndoas, que até ganhou um cenário especial na Bienal de 2024. Como tem sido essa experiência de ver seu trabalho ganhando tanta visibilidade? 

I: Tem sido realmente muito gratificante me dar conta do meu crescimento profissional nesses últimos tempos e sempre acredito que o sucesso é algo que deve ser partilhado. Então, sempre que possível, espero trazer esperança e abrir portas para outras pessoas como eu e de outros grupos minoritários neste mercado, que, infelizmente, segue sendo tão excludente e de difícil inserção.

E: De todas as capas que você já ilustrou, qual é a sua preferida? E qual livro adoraria ilustrar no futuro?

Puxa, tem tantas… é que são livros sempre tão diferentes uns dos outros e cada um representa algo diferente pra mim, sabe? Mas se fosse escolher somente uma, eu diria que Aos Prantos no Mercado segue sendo minha favorita não somente por ser um dos meus livros favoritos, como também foi um dos primeiros livros que ilustrei a capa e sinto que eles marcaram muito a minha carreira.

Adoraria ilustrar algum livro da Elena Ferrante um dia, principalmente a tetralogia napolitana, da Han Kang e, caso algum dia venha ao Brasil, At the End of the Matinee de Keiichiro Hirano.

E: O que vem por aí? Pode dar uma pista dos próximos projetos? 

I: Irei lançar o quadrinho João Pé-de-Feijão no ano que vem pela VR Editora, o meu primeiro livro com uma editora!!!

E: Tem algum tema ou história que você ainda não explorou, mas gostaria muito de abordar? 

I: Enquanto quadrinista, gostaria muito de fazer algum projeto de apocalipse zumbi e terror psicológico. O segundo, inclusive, é outro projeto que tenho na manga e ainda preciso começar a roteirizar, mas já consegui uma parceria para a escrita e esperamos começar ainda este ano.

E: Você acabou de ganhar o prêmio Jovens Talentos na Bienal do Livro 2024. Como foi isso? O que esperar da sua ida à feira de Frankfurt?

Fiquei incrédula na hora que o prêmio foi anunciado, tanto que nem preparei discurso nenhum… mas considero uma grande vitória não somente para mim, como também para a classe dos trabalhadores criativos do mercado editorial. Em tempos tão estranhos onde esse tipo de trabalho anda sendo precarizado e substituído pela antiética inteligência artificial, como apontei em meu pitching defendendo minha candidatura entre os finalistas do prêmio para o júri. Espero que cada vez mais capistas ganhem espaço e sejam devidamente valorizados.

Com o prêmio, ganhei uma ida à Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, que foi uma viagem incrível! Ainda estou digerindo tudo o que aconteceu nesse período, mas posso dizer que sinto que voltei outra pessoa. Tive trocas maravilhosas e conheci muitas pessoas incríveis do mercado que, embora tenham atuações e backgrounds tão diferentes do meu, ainda nos conectamos muito e espero seguir alimentando aqui esses laços que conquistei por lá.

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Texto revisado por Cristiane Amarante

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Entrevista exclusiva | Jung Eun Hye fala sobre sua arte e participação em K-drama

A artista e atriz sul-coreana esteve em São Paulo para abrir sua exposição Maravilhosa Graça em Todo o Globo

Em cartaz no Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB) desde o dia 13 de outubro, a exposição Maravilhosa Graça em Todo o Globo, da artista sul-coreana Jung Eun Hye, tem encantado o público com 70 caricaturas que vão de retratos intensos a homenagens a ícones brasileiros como Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Seu Jorge, Anitta, o chef Alex Atala e o grafiteiro Eduardo Kobra. Jung Eun Hye, que começou a se dedicar à pintura em 2016, é uma artista premiada com um olhar muito particular.

Jung Eun Hye
Foto: divulgação/KCCB

 Em uma entrevista exclusiva ao Entretetizei, a artista contou um pouco sobre sua trajetória no mundo da arte e sua atuação no K-drama Amor e Outros Dramas (2022), disponível na Netflix, que também a tornou conhecida fora da Ásia. Confira:

Entretetizei: Algumas de suas caricaturas retratam celebridades brasileiras. Qual foi a motivação para desenhar essas figuras e qual mensagem você gostaria de transmitir através de suas obras?

Jung Eun Hye: Antes de vir ao Brasil, eu não tinha nenhuma informação sobre as celebridades brasileiras. Por isso, selecionei algumas figuras através das recomendações do Centro Cultural Coreano. 

Desenho literalmente o que vejo e quero mostrar, através dos meus olhos, a singularidade e a beleza que cada uma dessas celebridades brasileiras possui.

E: Sua atuação em Amor e Outros Dramas foi um grande sucesso. Qual foi o significado dessa experiência para você e de que maneira interpretar um personagem querido pelo público te influenciou?

J: Após o drama, muitas pessoas começaram a me reconhecer e a elogiar tanto minha atuação quanto meus desenhos. Sentir esse carinho foi gratificante e me deixou orgulhosa do meu trabalho. 

Antes do drama, eu me preocupava bastante com os olhares estranhos das pessoas ao caminhar pela rua, almoçar em restaurantes ou usar transporte público. Agora, em qualquer lugar que vou, sou reconhecida, e as pessoas pedem para tirar fotos e me cumprimentam calorosamente. Muitas têm comparecido às minhas exposições para ver minhas obras, e algumas até têm encomendado desenhos.

Por isso, estou me dedicando ainda mais como artista. A fama traz algumas complicações (rs), mas, no geral, estou muito feliz com a situação.

E: Qual foi o maior desafio que você enfrentou em sua jornada artística e como conseguiu superá-lo?

J: Eu costumava capturar momentos em que encontrava pessoas para desenhar caricaturas, mas durante a pandemia, não pude me encontrar com ninguém, e esse foi o período mais difícil para mim. Sem a interação com as pessoas, comecei a regredir, assim como antes. Comecei a gaguejar, ranger os dentes e murmurar sozinha, enfrentando alucinações e vozes.

Nesse momento, meus pais e eu refletidos sobre como poderíamos nos reconectar, e decidimos tentar a comunicação por videochamada com pessoas ao redor do mundo. Foi assim que conheci o diretor artístico brasileiro Cleber Papa. Graças a essa conexão, fui convidada pelo Centro Cultural Coreano no Brasil a vir para o Brasil.

E: A arte é uma forma de expressar emoções e ideias para muitas pessoas. Quais emoções você espera que o público sinta ao apreciar suas caricaturas e retratos?

J: Comecei a desenhar caricaturas no Munhori River Market em 2016 e, desde então, já retratei 5 mil pessoas. Lembro de cada olhar caloroso que recebi delas. Aqueles olhares cheios de carinho, especialmente quando me pediam: “Desenhe-me bonito”, foram essenciais para me ajudar a superar minha ansiedade em relação aos olhares alheios e a crescer como artista. Acredito que todos esses 5 mil rostos são únicos, adoráveis e belos, e me dediquei a cada um deles com muito empenho. Na verdade, não existe um “rosto feio” no mundo.

E: Durante a exposição, você conduziu workshops. Quais sentimentos você vivenciou nos encontros com os participantes?

J: Foi uma experiência incrível! Ver pessoas tão diversas, com rostos e cores diferentes, se reunindo para desenhar juntas foi extremamente gratificante. Fiquei muito grata a todos os participantes que vieram me encontrar no Brasil. Foi surpreendente apreciar as obras únicas de cada um. Espero que, no futuro, haja mais oportunidades para que artistas coreanos e locais se conectem por meio da arte no Centro Cultural.

E: Muitas pessoas com deficiência podem hesitar em ingressar no mundo da arte devido aos preconceitos e barreiras que ainda persistem. Qual mensagem você gostaria de transmitir a essas pessoas, especialmente àquelas que desejam se expressar artisticamente?

J: Não tenham medo, apenas façam. Com o tempo, vocês ganharão confiança e melhorarão suas habilidades. Não se preocupem em ser perfeitos; simplesmente divirtam-se!

 

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Texto revisado por Cristiane Amarante 

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Halloween | 5 contos de terror asiáticos que vão te dar medo de verdade

Essas histórias são tão assustadoras que superam qualquer filme de terror

Quando chega o Halloween, muita gente quer assistir filmes de terror, mas já conhece clássicos asiáticos como O Chamado (1998) e O Grito (2004). Só que o que pouca gente sabe é que a Ásia tem várias lendas e contos bem mais sinistros, que quase ninguém ouve falar. E se você acha que essas histórias são menos assustadoras, se prepare! 

Separamos 5 contos de terror asiáticos pouco conhecidos que vão te deixar sem dormir. Confira:

Ubume – Japão

A lenda da Ubume é assustadora de um jeito triste. Ela é o espírito de uma mulher que morreu durante o parto ou logo depois de ter seu bebê. À noite, ela aparece vagando, sempre com o bebê nos braços, pedindo para alguém segurar a criança. Mas quem aceita acaba descobrindo que o bebê fica cada vez mais pesado até esmagar a pessoa! A Ubume não está só em busca de ajuda – o que ela quer é vingança, e sua dor a transforma em um espírito perigoso.

lendas de terror asiáticas
Foto: reprodução/amino

O que torna essa história ainda mais assustadora é que ela lida com emoções muito profundas, como o desespero e o luto. A Ubume simboliza a dor de uma mãe que perdeu tudo, e agora sua alma cheia de tristeza busca qualquer um para punir. Dá pra imaginar o medo de encontrar uma figura dessas andando pela noite, com uma aparência calma, mas uma intenção mortal.

The Krasue – Tailândia

A Krasue é um dos espíritos mais bizarros e aterrorizantes do folclore tailandês, mas muita gente nem conhece essa história. Durante o dia, a Krasue vive como uma mulher normal, mas quando anoitece, sua cabeça se separa do corpo e flutua por aí com os órgãos internos pendurados, procurando sangue e vísceras para se alimentar. É uma imagem de arrepiar, e ainda mais assustadora quando você descobre que ela prefere atacar mulheres grávidas.

lendas de terror asiáticas
Foto: reprodução/amino

A Krasue é o tipo de espírito que te faz pensar duas vezes antes de sair à noite. Ela se move em silêncio, e muita gente no interior da Tailândia acredita que espinhos ao redor da casa podem mantê-la longe. Mesmo que pareça uma lenda distante, imaginar essa cabeça flutuante passando pela sua janela é algo que com certeza vai mexer com o seu sono.

Noppera-bō – Japão

O Noppera-bō não é um espírito violento, mas é um dos mais perturbadores. Ele parece uma pessoa normal até que, de repente, seu rosto simplesmente desaparece, ficando totalmente liso, sem olhos, boca ou nariz. Você pode estar falando com alguém, e quando menos espera, o rosto da pessoa some! Apesar de não machucar suas vítimas, o terror psicológico que o Noppera-bō provoca é o que realmente deixa marcas.

lendas de terror asiáticas
Foto: reprodução/amino

Esse tipo de encontro é tão perturbador porque brinca com a nossa percepção de realidade. Imagine estar em um lugar deserto e, de repente, a pessoa ao seu lado se transforma em uma figura sem rosto. É um medo silencioso, mas que pode te perseguir por muito tempo depois.

Phi Tai Hong – Tailândia

Na Tailândia, o espírito Phi Tai Hong é temido por causa de sua sede de vingança. Ele surge quando alguém morre de forma violenta ou trágica, como em assassinatos ou acidentes. Sem ter como descansar em paz, o espírito fica preso no lugar onde morreu e começa a assombrar os vivos. As pessoas acreditam que o Phi Tai Hong pode trazer azar e até causar mortes de quem cruza seu caminho.

lendas de terror asiáticas
Foto: reprodução/thailand insider

Essa lenda é tão forte que existem rituais específicos para acalmar esses espíritos. Afinal, ninguém quer atrair a ira de um Phi Tai Hong. A simples ideia de um espírito furioso, que se alimenta de má sorte e está sempre pronto para atacar, já faz qualquer um pensar duas vezes antes de passar por lugares conhecidos por tragédias.

Jiangshi – China

O Jiangshi é como um vampiro no folclore chinês, mas ele se move de um jeito diferente: pulando! Ele é um cadáver reanimado que suga a energia vital das pessoas, em vez de sangue. O jeito esquisito de se movimentar – pulando com os braços esticados – pode até parecer engraçado à primeira vista, mas quando você percebe que ele não para até pegar sua vítima, o medo toma conta.

lendas de terror asiáticas
Foto: reprodução/mayoot

Na cultura chinesa, existem formas de se proteger do Jiangshi, como espalhar grãos de arroz ao redor do caixão ou usar espelhos. Mas o que realmente assusta é a persistência desse espírito. Quem cruza seu caminho dificilmente escapa, e a lenda diz que, uma vez que ele te segue, ele não para até te pegar. Imagine estar sendo perseguido por algo que nem a morte conseguiu parar!

 

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Texto revisado por Alexia Friedmann

 

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K-pop | Até quando a cultura do shipp é aceitável?

As narrativas criadas pelos fãs às vezes ultrapassam o limite da fantasia e impactam diretamente na vida dos idols

A cultura do shipp se tornou um dos pilares da fanbase de K-pop. Para quem não está familiarizado, shippar é quando fãs torcem por um relacionamento — romântico ou não — entre duas pessoas, sejam elas personagens fictícios, artistas ou até completos desconhecidos. No K-pop, essa prática ganhou proporções gigantescas, envolvendo idols e alimentando discussões que vão do amor inocente ao limite da privacidade.

Mas até que ponto essa cultura é aceitável?

O que é shippar, no fim das contas?

No começo, o ato de shippar era só uma brincadeira entre os fandoms, uma coisa leve e descontraída. Uma troca de olhares num programa de TV, uma interação fofa nos bastidores, e pronto, virava motivo para os fãs criarem histórias imaginárias sobre os idols. Em teoria, isso não prejudicava ninguém.

Só que no K-pop, onde a relação entre ídolos e fãs é muito próxima, o que começou como brincadeira inofensiva passou dos limites rápido. Muita gente acredita que as próprias empresas de entretenimento incentivam esses shippers moments como estratégia de marketing, criando quase um dorama entre os membros dos grupos pra manter os fãs engajados. Mas o problema aparece quando os shippers começam a levar isso a sério demais.

Shipps polêmicos e fanwars

Se tem uma coisa que dá polêmica no K-pop, são os shipps. Um dos maiores exemplos acontece no BTS, com os famosos Taekook (Jungkook e V – Taehyung) e Jikook (Jimin e Jungkook). Esses shipps geram discussões há anos e viram verdadeiras guerras nas redes sociais. A rivalidade entre os fãs que defendem esses casais imaginários — ou que são contra eles — já resultou em várias fanwars (guerra de fãs) e até ataques pessoais, tanto entre os fãs quanto direcionados aos próprios idols.

Para alguns, shippar os amigos é só uma forma fofa de demonstrar carinho. Mas para outros, isso vira fonte de especulação e obsessão. Tem quem passe horas analisando qualquer interação entre eles pra tentar provar o romance que criaram na cabeça, mesmo que os próprios idols neguem. Vídeos, fotos e momentos de fanservice acabam virando munição para essas discussões sem fim.

Outro exemplo é com o grupo EXO, com shipps como Chanbaek (Chanyeol e Baekhyun) e Kaisoo (Kai e D.O), que também geraram polêmicas e discussões tóxicas. O problema é que, às vezes, os fãs não se limitam aos idols, atacando suas famílias e amigos próximos. Esse comportamento coloca em risco a segurança e o bem-estar dos artistas.

E não para por aí. Grupos como Stray Kids, com o shipp Hyunlix (Hyunjin e Felix), e TXT, com Yeonbin (Yeonjun e Soobin), também sofrem com essas divisões nos fandoms. E, claro, os girl groups também não escapam. Jenlisa (Jennie e Lisa) do BLACKPINK e 2Yeon (Nayeon e Jeongyeon) do TWICE são shipps que sempre causam discussões acaloradas nas redes sociais.

Fanservice: amorzinho ou estratégia?

O fanservice — aquelas interações fofas e calculadas entre os idols — também tem uma grande parcela de culpa nisso. Muitas vezes, são as próprias empresas que incentivam os idols a terem esse tipo de comportamento, sabendo que isso vai agradar e alimentar a imaginação dos fãs. Mas o problema é quando o fanservice vira desculpa para os shippers forçarem narrativas que os próprios idols não querem carregar.

Quando o shipp vira obsessão

As fanwars que surgem por conta dos shipps podem parecer só brigas online, mas o impacto é muito mais profundo. Esses idols vivem sob um nível de controle que poucos de nós conseguimos imaginar. A pressão para agir de determinada forma, evitar certas interações ou não alimentar especulações exageradas acaba interferindo até nas amizades reais deles. Isso resulta em boicotes, ameaças de fãs e, em alguns casos, até situações perigosas.

Em 2021, por exemplo, Chanyeol, do EXO, foi alvo de rumores pesados sobre sua vida pessoal, e muitos acreditam que a toxicidade dentro do fandom contribuiu pra isso. Além disso, a saúde mental dos idols fica seriamente afetada. Fãs criam expectativas e fantasias irreais que podem gerar desconforto enorme para os artistas, que já vivem sob muita pressão numa indústria supercompetitiva. Com esses shipps ganhando mais força, o peso emocional sobre os idols só aumenta.

Fanwars e toxicidade nas redes

Tudo bem que shippar faz parte do fandom, mas as fanwars estão longe de algo saudável. Nos fóruns e redes sociais, as brigas entre os fãs que defendem casais diferentes tomam proporções gigantescas. Grupos de fãs atacam uns aos outros, espalham boatos e, nos piores casos, até invadem a privacidade dos idols e das pessoas próximas a eles.

Dentro do fandom do BTS, por exemplo, Taekookers e Jikookers vivem em pé de guerra, criando uma rivalidade que divide os fãs do grupo. Essa briga mancha a imagem do grupo e acaba afastando gente que só quer aproveitar a música sem toda essa bagunça.

E o problema é o mesmo em outros fandoms. No Stray Kids, Hyunlix vira motivo de treta, assim como Yeonbin no TXT. No fim das contas, essas fanwars esgotam a energia de quem só quer curtir o talento dos idols sem entrar em discussões sem sentido.

Onde acaba a brincadeira e começa a invasão?

A linha entre brincadeira e invasão de privacidade é muito tênue. De um lado, shippar pode ser uma forma de se divertir e se conectar com o fandom. Mas de outro, quando os fãs começam a acreditar que o shipp é real, a pressão sobre os idols só aumenta.

Com as redes sociais, a privacidade já é um luxo para esses artistas, e o impacto da cultura do shipp só piora isso. Quando os idols precisam evitar interações públicas para não alimentar especulações, é um sinal claro de que a coisa saiu do controle.

O papel do fandom

Os fãs têm um papel importante nesse cenário. São eles que apoiam seus idols, mas também são eles que podem pressioná-los demais. O ideal é ter bom senso e respeitar os limites, lembrando que idols são seres humanos que têm o direito de viver suas vidas sem a interferência constante de quem quer ver um shipp se realizar.

No K-pop, é normal ver interações fofas e amizades próximas entre os membros dos grupos. É isso que dá aquele toque especial que os fãs amam. Mas o respeito e a empatia precisam vir primeiro. Ser fã é, acima de tudo, torcer pela felicidade do ídolo, não tentar moldar essa felicidade de acordo com os próprios desejos.

Quando é hora de parar?

Ninguém está dizendo que shippar é ruim ou que não dá pra achar fofas as interações entre os idols. O K-pop, com sua cultura de fanservice, naturalmente alimenta essas fantasias. Mas é importante lembrar que existe uma diferença entre ficção e realidade. Idols são pessoas de verdade, com vidas fora das câmeras, e enquanto o shipp for só uma brincadeira saudável, tá tudo certo.

Mas se isso começa a interferir na vida pessoal dos artistas, gerar fanwars ou criar situações de estresse, é hora de repensar os limites. A privacidade e o bem-estar dos idols devem sempre vir em primeiro lugar.

Se o objetivo é apoiar nossos ídolos, respeitar suas escolhas e limites é o primeiro passo. Afinal, ser fã é muito mais do que criar fantasias — é entender, apoiar e torcer pela felicidade deles, do jeito que eles escolherem viver.

 

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Leia também: Síndrome de Vira-lata | Por que os fãs coreanos boicotam tanto os grupos de K-pop?

 

Texto revisado por Cristiane Amarante

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Crítica | Paul McCartney jamais será apenas uma fase

Com 82 anos e ainda dominando os palcos, o eterno Beatle entrega shows emocionantes e visualmente impressionantes, cativando públicos de todas as idades com clássicos atemporais e uma produção impecável

Paul McCartney passou por São Paulo e Florianópolis na última semana, provando, mais uma vez, que sua música é eterna. Aos 82 anos, o músico continua a se apresentar com uma energia que desafia o tempo, entregando um show impecável, repleto de emoção e com momentos que fizeram o público vibrar. Mesmo sem grandes inovações no repertório, o espetáculo é envolvente do início ao fim, e quem esperava algo mais do mesmo foi surpreendido pela entrega e paixão de McCartney.

Paul McCartney
Foto: divulgação/@marcoshermes

Um dos aspectos mais notáveis dessa turnê é como Paul consegue manter uma performance vocal consistente. Sua voz, apesar de não ter a mesma potência de décadas atrás, continua emocionando, especialmente em canções mais lentas como Blackbird e My Valentine. McCartney ajusta as músicas para sua atual tessitura vocal de maneira inteligente, e isso permite que ele mantenha a qualidade musical sem perder a força emocional. É impressionante ver como ele navega entre músicas mais suaves e faixas mais explosivas, com a mesma energia e presença de palco.

O show também conta com momentos de pura interação com o público. Em várias ocasiões, McCartney faz pausas para conversar com a plateia, arrancando risos e aplausos ao se arriscar em algumas frases em português. Esse tipo de conexão cria uma atmosfera ainda mais calorosa, fazendo com que os espectadores sintam que estão participando de algo pessoal, mesmo em meio a um estádio lotado. O público responde com uma empolgação quase adolescente, seja nos gritos a cada clássico dos Beatles ou nos coros emocionados em músicas como Hey Jude.

E quando se trata de carisma, não é apenas Paul que brilha. Sua banda é uma extensão da energia vibrante que ele traz ao palco. Abe Laboriel Jr., na bateria, é um espetáculo à parte, entregando batidas poderosas que conduzem o ritmo com maestria, enquanto Brian Ray e Rusty Anderson, nas guitarras, criam uma sonoridade consistente que ecoa perfeitamente os grandes sucessos do passado. Juntos, eles têm uma química que faz com que o show flua de maneira suave e intensa ao mesmo tempo, elevando a experiência sonora para o público.

Paul McCartney
Foto: divulgação/@marcoshermes

Um dos momentos marcantes dessa turnê foi a inclusão de Now and Then, a última música dos Beatles, no setlist, que tocou fundo nos corações dos fãs. A música, porém, é apenas um detalhe em um show recheado de hits como Hey Jude, Let It Be e, claro, Live and Let Die, que levou a plateia ao delírio com explosões de fogos de artifício e um show pirotécnico de tirar o fôlego. As luzes, sincronizadas com precisão a cada nota, fizeram dessa uma das apresentações mais visualmente impactantes da turnê, criando cenários que iam do intimista ao grandioso.

A produção de palco é um espetáculo à parte. Os jogos de luzes, que dançam junto com as melodias, são cuidadosamente planejados, elevando o impacto de cada música. E, quando Live and Let Die começa, o show atinge outro nível. As explosões, os fogos e o barulho ensurdecedor do palco transformam o estádio em um mar de vibrações e pura adrenalina. É um daqueles momentos em que o público se rende completamente à grandiosidade do espetáculo.

Paul McCartney
Foto: divulgação/@marcoshermes

Aos 82 anos, Paul McCartney prova que idade é apenas um número. Ele impressiona com sua presença de palco, voz e paixão pela música. Mesmo sem grandes surpresas no setlist, McCartney oferece uma experiência emocional e visualmente rica que transcende o tempo. Seus shows celebram a música que uniu gerações, e sua performance deixa claro que, enquanto estiver no palco, sua arte jamais será uma fase.

Seja pelos clássicos que definiram o rock ou pela produção impecável que transforma cada música em um evento inesquecível, McCartney permanece atemporal, entregando uma experiência que toca a alma e fica no coração.

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Texto revisado por Alexia Friedmann

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Síndrome de Vira-lata | Por que os fãs coreanos boicotam tanto os grupos de K-pop?

O nacionalismo, a busca pela perfeição e o medo de fragilizar a imagem do país estão entre os principais motivos, mas será que isso revela uma Síndrome de Vira-lata na Coreia?

A cultura do K-pop é repleta de paixão e devoção, mas também apresenta um lado sombrio: a prática frequente de boicotes entre os fãs. 

Apesar de serem conhecidos por seu apoio fervoroso, os fãs coreanos muitas vezes se tornam os principais críticos de seus idols, punindo-os ao menor deslize. Esse comportamento reflete uma dinâmica complexa que envolve orgulho nacional, pressão por perfeição e, em muitos casos, insegurança cultural. A pergunta que se impõe é: o que leva esses fãs a boicotarem aqueles que, supostamente, admiram?

Esse fenômeno é multifacetado e revela uma relação intrincada entre a cultura pop coreana e a identidade nacional. Em um contexto onde o K-pop se tornou um símbolo global da Coreia do Sul, a responsabilidade que os fãs sentem em proteger essa imagem pode levar a ações extremas. 

Mas será que essa pressão para manter a pureza do K-pop não acaba gerando mais mal do que bem, não apenas para os idols, mas também para a própria cultura que se busca preservar?

 O nacionalismo no K-pop: fãs coreanos como guardiões da cultura

O K-pop é uma das maiores fontes de orgulho nacional da Coreia do Sul, criando uma forte conexão entre os fãs coreanos e a imagem de seus idols. 

Para muitos, os artistas do K-pop representam a cultura coreana no mundo, funcionando como embaixadores culturais. Por isso, quando um idol se envolve em uma polêmica ou comete um erro, os fãs sentem que isso também mancha a reputação do país. O boicote, nesses casos, é visto como uma forma de proteger a indústria e o que ela simboliza.

No entanto, esse senso de proteção pode se tornar uma faca de dois gumes. Ao exigir padrões impossíveis de perfeição, os próprios fãs acabam sufocando a liberdade de expressão e a individualidade dos artistas. Isso prejudica tanto o desenvolvimento pessoal dos idols quanto a diversidade dentro da indústria. Afinal, a cultura coreana não deveria ser representada apenas pela perfeição, mas também pela capacidade de se reinventar e de lidar com desafios.

K-pop
Famosa black ocean de k-fans em show de k-pop | Foto: reprodução/soompi

Ser guardião da cultura é importante, mas até que ponto essa proteção extrema não se transforma em uma forma de censura? Os idols, como seres humanos, cometem erros, e isso deveria ser encarado como uma oportunidade de aprendizado, não como um motivo para punição imediata. 

O nacionalismo é vital para manter viva a identidade cultural, mas os boicotes não são o caminho certo para resolver esses problemas.

Além disso, o K-pop, como produto cultural global, está sob constante observação do público internacional. Quando os fãs coreanos boicotam seus próprios artistas, isso também afeta a forma como o K-pop é visto no exterior, criando uma imagem de uma indústria rígida e punitiva, que não permite falhas. Isso pode enfraquecer o orgulho que os fãs tentam proteger.

Cultura da perfeição: por que o menor deslize é imperdoável?

Na sociedade coreana, a busca pela perfeição é uma característica marcante, e, no K-pop, essa demanda é ainda mais intensa. Os idols são moldados para serem exemplos de trabalho árduo, conduta impecável e aparência perfeita. Qualquer falha – mesmo que pequena – pode ser vista como uma ameaça a essa imagem idealizada, gerando reações exageradas e, muitas vezes, cruéis por parte dos fãs. 

Essa cultura de perfeição coloca uma pressão absurda nos artistas, que se veem obrigados a manter uma fachada inatingível. Essa exigência excessiva não é saudável nem para os idols, nem para os fãs. A ideia de que um erro deve ser punido com um boicote ignora a realidade de que todos cometem erros e que o crescimento pessoal e profissional vem da capacidade de superá-los.

Ao invés de apoiar os idols em momentos difíceis, os fãs que os boicotam estão contribuindo para a criação de um ambiente tóxico, onde qualquer deslize pode destruir uma carreira inteira.

Essa cultura cria um ciclo de medo, onde os idols têm receio de serem autênticos e os fãs têm medo de verem seus ídolos falharem. Isso sufoca a criatividade e a liberdade de expressão, transformando o K-pop em uma máquina de produzir perfeição artificial, em vez de promover a evolução artística e pessoal. Quando os fãs boicotam seus próprios artistas, eles estão, na verdade, perpetuando um sistema que não permite o crescimento e o aprendizado por meio dos erros.

O K-pop é uma indústria que cresceu graças à sua capacidade de conectar pessoas ao redor do mundo com músicas e performances cativantes. Mas essa conexão emocional perde sua força quando os fãs se tornam algozes, prontos para punir ao invés de apoiar. Ser fã não significa ignorar erros, mas sim oferecer suporte para que os artistas aprendam com eles e continuem a evoluir.

Casos de boicotes por relacionamentos: Baekhyun & Taeyeon, Jennie & Kai, HyunA & DAWN

Exemplos de boicotes devido a relacionamentos amorosos incluem os casos de Baekhyun (EXO) e Taeyeon (Girls’ Generation), Jennie (BLACKPINK) e Kai (EXO), e HyunA e DAWN. 

Baekhyun e Taeyeon, em 2014, enfrentaram uma onda de críticas e boicotes após confirmarem seu relacionamento, com muitos fãs se sentindo traídos. O mesmo ocorreu com Jennie e Kai, em 2019, onde os fãs criticaram a falta de foco na carreira, resultando em uma pressão imensa sobre os dois artistas.

O caso de HyunA e DAWN foi ainda mais grave. O casal, ao tornar público seu relacionamento, enfrentou uma reação negativa tão forte que ambos foram afastados da Cube Entertainment, mostrando como a pressão dos fãs pode ter consequências reais na vida e carreira dos idols. 

Esse padrão reflete uma mentalidade de que os idols devem se abster de vida pessoal para preservar a imagem que os fãs têm deles, algo que sufoca a autenticidade e o crescimento pessoal dos artistas.

A Síndrome de Vira-lata dos fãs coreanos

A Síndrome de Vira-lata é um conceito que descreve o complexo de inferioridade de uma cultura em relação a outras, e, no caso do K-pop, o boicote pode ser um reflexo disso. 

Quando os fãs coreanos exigem perfeição absoluta de seus idols, talvez estejam, de certa forma, tentando garantir que o K-pop continue sendo visto como um produto impecável no cenário global. Mas essa necessidade de perfeição pode, na verdade, revelar uma insegurança em relação ao real valor do K-pop e sua força cultural.

Essa insegurança leva à prática de boicotes, como se os erros dos idols pudessem ameaçar o prestígio da Coreia do Sul no mundo. Mas o que os fãs talvez não percebam é que a cultura forte e vibrante de um país não depende da perfeição de seus representantes, mas sim da sua capacidade de abraçar a diversidade e de crescer a partir das falhas. 

Ao insistir em punir qualquer deslize, os fãs estão, na verdade, contribuindo para a criação de um ambiente de repressão, onde não há espaço para autenticidade e evolução. Os idols não são máquinas perfeitas, e o K-pop só tem a perder quando os artistas são impedidos de serem humanos. 

O caso de Seunghan (ex-RIIZE)

Um exemplo recente e emblemático da cultura de boicotes no K-pop é o caso de Seunghan, ex-integrante do grupo RIIZE. Após o vazamento de fotos comprometedoras, os fãs coreanos rapidamente organizaram um boicote pedindo sua saída do grupo, o que acabou acontecendo após meses de afastamento. 

Esse episódio é mais uma prova de como um único erro pode custar a carreira de um idol, mesmo que ele esteja apenas no início de sua trajetória.

K-pop
‘Fãs’ enviam corroa fúnebre pedindo a saída de Seunghan do RIIZE | Foto: reprodução/soompi

Se os fãs realmente se preocupam com o bem-estar dos idols e com o futuro do K-pop, é hora de repensar essa cultura de boicotes.O K-pop só tem a ganhar quando os artistas se sentem seguros para serem humanos, autênticos e imperfeitos.

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Leia também: 10 vezes que a SM foi a pior empresa de K-pop

 

Texto revisado por Bells Pontes

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Festival HYBE desembarca na Cinépolis com shows imperdíveis de BTS, SEVENTEEN, TXT e outros grupos

Hybe Cine Fest chega exclusivamente aos cinemas Cinépolis em toda a América Latina, de 14 a 20 de novembro!

Prepare-se para uma imersão no universo do K-pop! De 14 a 20 de novembro, o Hybe Cine Fest chega exclusivamente aos 56 cinemas Cinépolis de todo o Brasil, com apresentações épicas de BTS, SEVENTEEN, TXT, ENHYPEN e outros ícones. É a chance de viver as performances e se conectar com seu fandom favorito. 

Promoção especial para fãs

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K-pop nas telonas

Mais que cinema, o festival será um ponto de encontro para ARMYs, CARATs, MOAs, ENGENEs e todos os fandoms apaixonados. É a sua chance de sentir a energia do K-pop como nunca antes.

Hybe
Foto: divulgação/TZM
Confira os destaques do Hybe Cine Fest in Latam: uma semana de K-pop nas telonas da Cinépolis!

BTS MAP OF THE SOUL ON

Reviva o icônico show online de outubro de 2020, onde o BTS reuniu ARMYs do mundo todo com músicas dos álbuns MAP OF THE SOUL: PERSONA e MAP OF THE SOUL: 7. Prepare-se para uma experiência visual e sonora única no cinema.

SEVENTEEN WORLD TOUR [BE THE SUN]
O SEVENTEEN traz a energia de sua turnê mundial BE THE SUN, com shows eletrizantes em palcos icônicos, como o Tokyo Dome e a Philippine Arena. Agora, essa experiência memorável chega à Cinépolis.

TOMORROW X TOGETHER WORLD TOUR [ACT: SWEET MIRAGE]
MOAs poderão reviver a segunda turnê mundial do TXT, ACT: SWEET MIRAGE, uma mistura de emoção e criatividade que dominou 2023. Um show doce e intenso nas telas da Cinépolis.

ENHYPEN WORLD TOUR [FATE]
Para os fãs de ENHYPEN, a turnê FATE promete trazer a potência das coreografias e vozes do grupo, que conquistou o mundo do K-pop, agora em formato cinematográfico.

2023 Weverse Con Festival
Em junho, estrelas da Hybe como ZICO, TXT, ENHYPEN, LE SSERAFIM e BOYNEXTDOOR se uniram no 2023 Weverse Con Festival. Agora, o evento chega ao cinema, para você aproveitar cada performance em alta definição.

HYBE CINEMA NORAEBANG
Pronto para cantar junto com seus idols? O HYBE CINEMA NORAEBANG traz uma experiência interativa inspirada nos famosos noraebangs coreanos, onde você pode soltar a voz com hits de SEVENTEEN, TXT, ENHYPEN e mais, transformando o cinema numa verdadeira festa K-pop!

Quem ai vai correndo garantir os ingressos? Conte pra gente e nos siga nas redes sociais do Entretetizei — Facebook, Instagram e X — para mais novidades sobre a cultura asiática.

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