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Isa Guerra
Foto: divulgação/Isa Guerra

Entrevista exclusiva | Isa Guerra fala sobre compor para o K-pop, trabalhar com artistas coreanos e levar o Brasil pra dentro da música

Mineira que começou como fã conta ao Entretetizei como entrou na indústria sul-coreana, revela bastidores do processo de composição e compartilha os aprendizados da jornada

Você pode até ter começado a ouvir K-pop por causa de um vídeo de reação no YouTube, mas e se te contassem que uma das pessoas por trás de músicas de idols sul-coreanos também teve esse exato ponto de partida? Isa Guerra, mineira, artista e compositora, viu sua vida mudar ao mergulhar nesse universo colorido, intenso e estratégico da música coreana. O que começou como curiosidade de fã, virou um plano de carreira em plena pandemia — e, hoje, ela assina faixas que chegam a milhões de ouvintes do outro lado do mundo.

Isa Guerra
Foto: divulgação/Isa Guerra

Na entrevista a seguir, Isa abre o coração e o caderninho de anotações para contar como funciona o pitching de músicas no K-pop, o que diferencia uma boa demo de uma descartável, e como é compor em equipe com gente espalhada pelo globo. Com sinceridade, sensibilidade e aquela brasilidade no olhar, ela revela os bastidores de uma carreira que ainda está só começando — mas já tem muito o que ensinar. Confira: 

Entretetizei: Como foi o seu primeiro contato com a indústria do K-pop e como começou a compor para artistas sul-coreanos?

Isa Guerra: Meu primeiro contato com o K-pop aconteceu quando eu tinha mais ou menos 16 anos, através de um vídeo onde youtubers reagiam a MVs. Eu me lembro de ficar fascinada e começar a pesquisar mais e mais. Desde então, eu sempre acompanhei meus grupos preferidos, até que, durante a pandemia, me surgiu uma vontade imensa de entrar nesse mercado como compositora. Na época, eu estava querendo pausar a minha carreira como cantora pra poder me descobrir mais. Também me dedicava bastante a postar vídeos das minhas composições e, apesar de estar crescendo bastante, sentia que, daquela forma, não conseguia mostrar todo o potencial que eu acreditava existir em mim. Eu queria aprender mais e sair da minha zona de conforto, então decidi que, a partir daquele momento, iria começar a me dedicar 100% a compor pro mercado musical da Coreia do Sul.

E: Você percebe diferenças no processo de composição para o K-pop em comparação com outros estilos musicais?

IG: Com certeza. Acho que várias questões fazem o processo ser bem diferente. Sinto que, no K-pop, o compositor tem que saber equilibrar muito bem uma música dentro do que ela pede. É quase um trabalho intuitivo saber onde entra uma melodia, um rap, se a música está ficando fluida o suficiente pra que o ouvinte seja entretido o tempo todo e entender o que cada uma pede. Tudo é intencional e muito bem pensado. Sempre tentamos estar um passo à frente e imaginar: “O que esse grupo faria que seria uma evolução do seu último lançamento, mas que também não foge da sua identidade?”, O que ainda não foi feito?. Os conceitos têm que ser fortes e as demos têm que ser muito bem gravadas também, pra conseguirmos mostrar a ideia da forma mais próxima possível do produto final. Isso acaba exigindo que o compositor saiba o mínimo de partes mais técnicas, como, por exemplo, produção vocal. É realmente diferente de qualquer outro mercado em que eu trabalhei.

E: Como funciona o processo de pitching de músicas para grupos de K-pop? Você escreve já pensando em um artista específico ou adapta depois?

IG: Depende! Pode funcionar de várias formas. Muitas vezes, os grupos já têm alguma direção/referência em mente pro próximo comeback e fazemos as músicas de acordo. Mas acontece bastante de criarmos sem referências, pensando — ou não — em alguém específico. Já cheguei, por exemplo, a escrever sem pensar em algum artista, simplesmente porque tive uma ideia, e a música acabar indo pra alguém que eu nem esperava gravar algo naquele estilo!

E: Entre os artistas e grupos para os quais você escreveu, teve algum projeto que te marcou de forma especial?

IG: Sinceramente, acho que todos têm um lugar especial. Eu tento apreciar cada segundo de cada projeto porque me dediquei muito para poder fazer o que faço hoje. Se eu tivesse que mencionar um, provavelmente seria Dimension. Foi o meu primeiro lançamento depois de muitos meses trabalhando incansavelmente. Minha intuição me dizia que eu estava no caminho certo, mas quando a música finalmente saiu foi como uma comprovação além da minha cabeça de que todo o esforço seria compensado e que eu só precisava ter paciência. Todos são especiais e únicos, eu amo cada um.

E: Você já teve a chance de conhecer pessoalmente algum dos artistas que gravaram suas músicas?

IG: Alguns sim, mas não todos! Quero muito poder conhecer todos um dia, até porque as experiências que tive até hoje foram muito positivas.

E: Muitas músicas de K-pop envolvem equipes de compositores internacionais. Como é a dinâmica de trabalho nesse tipo de colaboração?

IG: A maioria das sessões de composição que participo quando não estou na Coreia são feitas online por Zoom. Cada integrante do meu time mora em um lugar diferente do mundo, então temos que conciliar os fusos horários de cada um pra conseguir compor. Dependendo da situação, até fazemos por WhatsApp mesmo, conversando e enviando ideias por mensagem.

E: O que você acha que diferencia uma boa música de K-pop? Existe algum elemento que considera essencial?

IG: Eu acredito que toda música tem seu toque especial, mas eu particularmente gosto muito de músicas que sabem balancear um tom mais agressivo com partes melódicas. Gosto bastante de ouvir e escrever as partes de rap também, então acabo me sentindo muito atraída por músicas com bons flows. Se o início da música é agressivo, o pré-refrão tem uma melodia crescente que faz arrepiar, pra depois entrar um bom gancho que explode e chega num clímax, é muito provável que essa música vai estar na minha playlist.

E: Você tem vontade de expandir seu trabalho dentro da indústria sul-coreana, talvez explorando outros papéis além da composição?

IG: Não é algo que penso no momento — talvez mais pra frente. Sigo tendo muito o que aprender e crescer como compositora dentro do K-pop. Acredito que a jornada ainda está no início, então minha vontade está em seguir melhorando e dar continuidade no que já venho fazendo. Também quero poder voltar a lançar meu próprio projeto como artista em breve. Meu foco são esses dois objetivos agora.

E: Qual foi a maior lição que aprendeu trabalhando como compositora no K-pop?

IG: Eu sinto que o K-pop foi muito importante no meu crescimento e amadurecimento como artista e pessoa. Sou bem imediatista, e minha jornada até então me ensinou sobre ter paciência pra colher os frutos que plantei. Também fico muito obcecada quando tenho algum objetivo, e sigo aprendendo a me dedicar bastante, mas sem me perder e esquecer de mim. Aprendi sobre ouvir mais, sabendo filtrar com respeito o que vai ou não me ajudar a conquistar o que quero. Estar trabalhando com uma cultura tão diferente também me fez admirar ainda mais minha própria cultura e amar a sensação de poder mostrar um pedacinho do Brasil por onde eu vou — seja no jeito de compor ou até mesmo me conectar com as pessoas.

 

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Texto revisado por Alexia Friedmann

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