O single Me Priorizar marca a estreia da artista na carreira musical
Trazendo para a música um diálogo entre uma mulher vítima de feminicídio e a sociedade culpada, que sustenta estruturalmente essa violência, a cantora e compositora Ally Dyla estreia seu primeiro single oficial nas plataformas digitais, Me Priorizar. A faixa já está disponível em todos os apps de música e conta com lyric video no YouTube.
O novo som é uma composição autoral de Ally. Me Priorizar, como o próprio nome diz, traz o dilema da mulher, muito em pauta nos dias de hoje, de se priorizar frente a tantas cobranças e imposições que são colocadas sobre elas, desde quando nascem. Dessa forma, carrega o questionamento, “será que me priorizar é tão fácil assim como me dizem?“.
A música escancara a culpa da sociedade na morte dessas mulheres e como ela tenta encobrir seu crime, sempre se escondendo atrás da imagem do agressor.
No Brasil, em média, sabe-se que 4 mulheres são mortas por dia, vítimas do feminicídio, mas o que ninguém debate é que o maior culpado por essas mortes não é o homem que desferiu o golpe final, mas sim a mão invisível da sociedade, que criou esses monstros e que continua a criá-los, geração após geração.
“Quando comecei a escrever ‘Me Priorizar’ peguei alguns acordes de uma música que estava ouvindo na época, Meu Pisêro, da Duda Beat, e surgiu na minha mente a frase ‘se me priorizar fosse fácil assim’. Sou uma pessoa muito reflexiva e vivo as causas que defendo diariamente, então sempre senti uma revolta imensa de como é possível que existam pessoas que consigam ver uma mulher sendo violentada e até mesmo assassinada e ainda por cima falar que ela ‘pediu’ por aquele fim. Comecei a escrever a música como um diálogo entre a mulher que sofre com a violência doméstica e a sociedade que a culpa todo o tempo de estar naquela situação, mas parei logo no primeiro refrão, porque na época eu não acreditava na ideia“, conta a cantora sobre a composição.
Ela ainda completa: “Tempos depois conheci meu produtor, Guilherme França, ele ouviu essa parte, curtiu bastante e pediu para que eu terminasse de escrever. Quando voltei para a letra, me veio aquela sensação de que essa história não deveria ter um final feliz, pois a maioria das mulheres que vivenciam essa violência não tem esse final. Com isso, na segunda parte, eu já inicio o diálogo mostrando como o discurso muda quando a mulher infelizmente é assassinada, ou seja, a gente não vê arrependimento por parte da sociedade, mas sim a tentativa de amenizar a situação e mostrar que na verdade sempre esteve ao lado da mulher, o que é uma grande mentira“.
Com Me Priorizar, Ally tenta abrir os olhos da sociedade para que cada um olhe para si e enxergue a parcela de culpa que lhe cabe no assassinato das mulheres vítimas do feminicídio. Ela também reforça o quanto quer ser voz para aquelas que foram silenciadas.
“Por meio da faixa Me Priorizar quero que as pessoas parem de fugir do que é real, mas ao mesmo tempo sintam esperança de que dá para mudar. Quero também tentar dar voz às milhares de mulheres silenciadas, que não tiveram ninguém que lutasse por elas. Quero que as mulheres se sintam enxergadas, abandonando esse sentimento de invisibilidade. Eu não sou só mais uma que vai utilizar a causa para ganhar visibilidade, vou ganhar visibilidade para que a causa seja vista“, declara a artista.
Lyric video
O lyric vídeo foi criado usando como base o conceito primordial de Me Priorizar, ou seja, é um grito silencioso por socorro, em que as mulheres vítimas do feminicídio não são ouvidas e logo mais enterradas junto às suas histórias.
“Tentamos mostrar o desenvolvimento da agressão até o momento em que de fato a mulher é assassinada. Ao longo do vídeo percebemos que a vítima vai se deteriorando aos poucos até de fato ser totalmente silenciada. Essa história não é sobre o agressor e sim sobre a mulher invisibilizada e a sociedade que desampara. Dessa forma, o foco total do lyric é na mulher e em seu sofrimento. Com isso, exploramos a dor desde seu momento mais reprimido ao momento mais grotesco“, conta Ally.
No audiovisual, os elementos como a terra e as flores trazem um ar fúnebre, remetendo de fato ao velório e a metáfora sobre o cuidado ser mais bem vindo após a morte que durante a trajetória em vida. “A moldura traz o aprisionamento da mulher em seu eterno sofrimento e a ideia de uma aparência que na prática não se sustenta“, ressalta a cantora.
Assista ao videoclipe:
A escolha do traje íntimo bege e não curvilíneo, traz a ideia de que a mulher é objetificada e reduzida a nada, mesmo que esteja usando aquilo que socialmente seria o sinônimo de não-sensual, além de reforçar que o foco é a mulher como ser.
A maquiagem base, traz um batom vermelho, sinônimo de força e poder, para mostrar que mesmo mulheres empoderadas estão sujeitas à violência doméstica. Por fim, percebe-se que ao longo do vídeo a maquiagem vai se desfazendo junto com a mulher, como se ela fosse deixando de existir como indivíduo e passar a ser apenas um corpo sem vida.
Sobre como vem sendo o feedback deste trabalho, ela finaliza: “Tem sido uma loucura. Nunca trabalhei tanto como agora e sei que é só o começo de uma longa jornada, mas extremamente animada com toda a receptividade do público. Estou readaptando muitas coisas na minha rotina, porque com o lançamento surge muito trabalho, como os conteúdos, todas as redes sociais, as entrevistas.”
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Texto revisado por Luiza Carvalho.