A atriz, escritora e diretora fala sobre seus projetos atuais e futuros, além de momentos importantes dos seus 21 anos de carreira
Isis Pessino é uma artista multitalentosa que vem se destacando tanto na atuação quanto na direção. No cinema, ela pode ser vista em As Polacas, longa que estreiou em 12 de dezembro, no qual interpreta Helena, uma polonesa traficada e submetida à prostituição no Brasil – baseado em acontecimentos reais.
A atriz também tem papel importante no aguardado A Vida de Cada Um, que chega aos cinemas em 2025, dirigido por Murilo Salles, ao lado de Bianca Comparato, Caco Ciocler e Ivan Mendes.
Com uma carreira que soma 21 anos, Isis já foi vista em produções como Deus Salve o Rei e Amor de Mãe, além de ter participado da série Fim e do filme Domingo à Noite, contracenando com grandes nomes, como Marieta Severo e Zécarlos Machado.
Já sua trajetória no teatro inclui várias montagens de sucesso, e em 2024, ela se firmou também como diretora, estreando com a peça Ensaio Ir Embora, que teve duas temporadas lotadas no Rio e deve retornar aos palcos em 2025. Também no próximo ano, ela dirigirá Circo da Palhaça Socorro!, um solo que aborda maternidade e humor através da palhaçaria.
Além da atuação e direção, Isis é escritora, com um livro de poesias lançado em 2019, e planeja seu primeiro romance para 2025. A atriz tem se aprofundado em seus estudos na área de Estética e Teoria do Teatro, mostrando um compromisso constante com seu desenvolvimento artístico em diversas frentes.
E para saber mais sobre todas essas vertentes da atriz, confira a entrevista que ela concedeu ao Entretê:
Entretetizei: Você vive Helena, uma polonesa traficada no filme As Polacas. Como foi o processo de imersão para interpretar uma personagem tão complexa e que passa por situações tão difíceis? Como você se preparou emocionalmente para lidar com o peso dessa história durante as gravações?
Isis Pessino: Nós tivemos duas semanas de preparação muito intensas, esse momento fez com que surgissem laços fortes entre as mulheres do elenco. Um ambiente de afeto é fundamental para estar confortável em cena e poder se entregar. A Helena é uma personagem muito densa, para mim ela é a personificação de toda aquela dor das polacas… então, com um contraponto, busquei explorar pontos de luz dentro dessa dor, tentei dar um brilho no olhar dela, criando uma personagem mais complexa. Eu não levo personagem para casa, não acredito nisso, sinto prazer em entregar um bom trabalho para contar uma história que acho importante de ser contada, me agarro a isso.
E: O que você espera que o público leve consigo após assistir As Polacas? O que o filme pode trazer de reflexão para as pessoas?
IP: Espero que a gente possa refletir sobre a formação estrutural do nosso país, e como isso faz parte do nosso presente. Parece óbvio, mas não é. Tendemos a achar que nossos hábitos e configurações sociais são algo “natural”, mas tudo isso é parte de um processo histórico. Espero que o filme faça as pessoas saírem com vontade de derrubar o patriarcado (Risos). Também espero que as pessoas pesquisem mais e se inspirem na Sociedade da Verdade, uma organização que luta pelo direitos das mulheres submetidas à prostituição.
E: Com 27 anos e já uma trajetória de 21 anos de carreira, qual é a principal lição que você aprendeu ao longo desse tempo no meio artístico?
IP: Foram muitos aprendizados importantes, poderia ficar horas falando sobre isso. Mas hoje acho que vou falar que é importante ter um plano B, se você não é de família rica, como é meu caso. É uma profissão muito inconstante, às vezes estou cheia de trabalho como atriz, outras vezes fica aquele marasmo. Quando digo plano B, pode ser uma outra carreira, mas também uma outra função dentro do meio artístico mesmo. O mais legal de crescer sendo atriz é que fui aos poucos entendendo o quanto a profissão é complexa e grande. Hoje também sou diretora e estou construindo uma carreira acadêmica estudando Estética e Teoria do Teatro.
E: Você já passou por papéis muito distintos em sua carreira, como em Deus Salve o Rei, Amor de Mãe e Fim. Como é a escolha desses personagens e qual te marcou mais?
IP: Com certeza a personagem que me marcou mais foi a Ísis, de Deus Salve o Rei. Primeiro, porque ela é minha xará, só temos a diferença do acento no i (Risos). Ela foi minha primeira personagem na TV, foi uma personagem com um arco interessante, primeiro foi vilã e depois teve sua redenção de forma trágica. Aprendi muito dentro e fora de cena nesse processo. Tive oportunidade de contracenar com grandes atores, como Marina Ruy Barbosa, que é muito dedicada e generosa, e também com o Pascoal da Conceição que trabalhou muitos anos com o Teatro Oficina, dirigido pelo Zé Celso, entre tantos outros grandes artistas que sou fã.
E: Como você vê a evolução de seu trabalho na TV e no teatro? Existe algum tipo de papel que você ainda gostaria de interpretar?
IP: Sou muito nova, tem milhares de personagens que ainda quero fazer! Sinto que minha evolução no trabalho sempre se deu de forma muito natural, sempre gostei de estudar. Acho muito importante saber onde estou me inserindo na profissão, sabe? Tudo o que veio antes de mim. Com certeza minha formação acadêmica me torna uma atriz mais consciente e mais flexível em cena. Estou animada com os próximos trabalhos que virão. Eu adoraria explorar alguma personagem dentro do universo de Marguerite Duras, estou doida nela agora.
E: Como foi sua estreia como diretora de teatro com a peça Ensaio Ir Embora? Quais desafios você enfrentou ao comandar uma produção?
IP: Foi maravilhoso! O Grupo Chão me convidou para dirigir a peça, e eu fiquei muito feliz com a proposta. Tínhamos pouco tempo para ensaiar, foi um desafio incrível de viver, mas foi uma peça feita com muito desejo e tivemos duas temporadas de sucesso. Teatro é muito coletivo, então acho que o maior desafio na direção é fazer a condução e entrelaçamento de todas as funções envolvidas na peça. A parte criativa, ali na hora do ensaio, dá trabalho, cansa, mas me preenche de uma forma que eu nem sabia que era possível. É muito prazeroso.
E: Sabemos que você está planejando lançar seu primeiro romance em 2025. O que os leitores podem esperar dessa nova obra? Como é o processo de escrita para você?
IP: O livro é um romance bem experimental. Estou há alguns anos trabalhando nesse projeto que é uma pesquisa de linguagem, um laboratório mesmo. Meu processo de escrita é diferente dependendo do que estou escrevendo. Tem textos que precisam ser mais intuitivos, outros mais técnicos, mais programados. Para meu próximo livro acho que pude experimentar de tudo um pouco: escrevi assim, assado, apaguei, escrevi pelo avesso, e até quando não escrevia, escrevi. Tenho muito carinho pelo livro e pelos momentos que vivi com ele. Agora vai pro mundo.
E: Com tantos projetos em andamento, quais são seus maiores objetivos a longo prazo na carreira?
IP: São muitos sonhos e objetivos. Um grande sonho é poder participar de um coletivo artístico que se viabilize financeiramente e que esteja a serviço da transformação social. E, um objetivo é poder fazer o que eu amo até ficar velhinha, ter uma vida digna e deixar alguma contribuição positiva para a profissão.
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Texto revisado por Angela Maziero Santana