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A problemática por trás da trend do Studio Ghibli

A busca por perfeição pode acabar podando a criatividade e tirando um pouco do encanto da arte

Texto por Ana Caroline e Luana Esperatti

A ascensão da inteligência artificial na criação de textos, imagens e até músicas tem sido celebrada como um avanço tecnológico revolucionário. Ferramentas como ChatGPT e geradores de imagens prometem acesso rápido e fácil à produção artística, eliminando barreiras e democratizando a criatividade. 

No entanto, essa aparente revolução esconde um perigo sutil: a padronização do pensamento criativo e a desvalorização do trabalho humano. Em uma busca incessante por eficiência e perfeição, a arte se torna um produto automatizado, desprovido da essência imprevisível e subjetiva que caracteriza a verdadeira criatividade. 

Estamos presenciando uma era em que a arte não é mais fruto da emoção e da experiência, mas sim um reflexo calculado de padrões algorítmicos. Isso levanta uma questão crucial: estamos matando a criatividade ao tentar reproduzi-la artificialmente?

A falsa promessa da IA: criatividade sem esforço?

Nos últimos anos, a inteligência artificial se tornou a queridinha da internet quando o assunto é criação de conteúdo. Com poucos cliques e sem nenhum esforço, qualquer pessoa pode gerar um texto bem escrito ou uma ilustração no estilo de um artista famoso. Parece mágico, mas essa facilidade tem um preço alto: a morte do pensamento criativo e a substituição de artistas reais por um algoritmo que apenas recicla o que já existe.

O que antes exigia anos de prática e um olhar artístico único agora virou um processo instantâneo e impessoal. Ferramentas como ChatGPT, Midjourney e Stable Diffusion estão transformando arte e escrita em um produto descartável, feito para satisfazer o imediatismo das redes sociais. Mas será que vale a pena trocar criatividade por conveniência?

Ing Lee, artista visual, quadrinista e pesquisadora coreano-brasileira, alerta: “A IA precisa ser alimentada para continuar crescendo e gerando mais imagens, e o questionamento central é de onde vem esse banco de dados… Vários artigos e matérias atestam que esses modelos são treinados com conteúdos sem consentimento de seus autores, desde ilustrações, animações, músicas, livros e assim vai. As bases da IA são o plágio e trazem consigo práticas que beiram ao neocolonialismo, apropriando-se e destruindo tudo que há em seu caminho.”

O pior é que essa tendência está tornando as pessoas mais preguiçosas intelectualmente. Em vez de se esforçarem para aprender a desenhar ou aprimorar sua escrita, muitos simplesmente jogam uma ideia em um gerador de IA e aceitam o que vier. E aí está o grande problema: ao eliminar o processo criativo, estamos perdendo o que nos torna humanos.

A desvalorização dos artistas: “por que pagar se a IA faz de graça?”

Um dos efeitos mais cruéis dessa nova onda de inteligência artificial é a desvalorização do trabalho dos artistas. Quando qualquer um pode gerar uma “obra de arte” em segundos, muitos começam a questionar por que deveriam pagar por um trabalho feito à mão.

Isso já está acontecendo. Ilustradores estão perdendo oportunidades de trabalho porque clientes preferem uma imagem gerada por IA. Escritores veem seus textos sendo substituídos por respostas genéricas de um chatbot. A arte está se tornando um produto industrializado, sem alma e sem identidade.

Pior ainda, muitas dessas ferramentas são treinadas em obras de artistas reais, sem consentimento ou compensação. Ou seja, a IA não está criando nada novo — ela está apenas copiando e colando pedaços do trabalho alheio. 

O caso da atriz Scarlett Johansson ilustra bem essa problemática: após recusar uma proposta para conceder sua voz ao ChatGPT, a empresa gerou uma voz que remetia muito à sua. Ing Lee destaca: “Isso é de uma violência muito grande à autonomia, uma afronta diante de criadores que sempre se opuseram a esses tipos de tecnologia — assim como o Hayao Miyazaki já havia se posicionado em um de seus documentários, alegando que a inteligência artificial é uma afronta à vida.”

A IA tem substituído e precarizado vários setores criativos. “Meus colegas estão em absoluto pânico vendo suas demandas de trabalho diminuírem vertiginosamente e tendo até que mudar de área. Nossa classe artística já lidava com a desvalorização sistêmica de nosso labor, mas, com a IA, isso se intensificou assustadoramente a ponto das novas gerações se sentirem impelidas a abandonarem a arte por não verem mais um futuro onde possam trabalhar através de suas criações”, denuncia a artista.

A trend Ghibli e a superficialidade da arte feita por IA

A mais recente atualização criada pela OpenAI permite que os usuários gerem imagens, seguindo tudo o que o sistema já aprendeu na internet. Imagens de diferentes estilos são criadas após um simples comando, algo que rapidamente se tornou viral nas redes sociais, fazendo com que a plataforma ganhasse cerca de 1 milhão de novos usuários.

O estilo que mais tem sido replicado por aqueles que colocam suas fotos no sistema é do Studio Ghibli, algo que se transformou em uma trend, onde milhares de fotos já existentes são convertidas aos traços do renomado estúdio japonês.

Ghibli
Foto: reprodução/diario do nordeste

Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, não se pronunciou após tudo isso, mas já falava publicamente há anos sobre a IA, mesmo antes do ChatGPT existir,  demonstrando não ter intenção de utilizá-la em suas produções. Ao falar sobre animações 3D produzidas pela inteligência artificial em um documentário de 2016, Miyazaki disse:

“Não consigo assistir a essas coisas e achar interessante […]. Quem cria essas coisas não tem a mínima ideia do que é a dor. Estou completamente enojado. Se você realmente quer fazer coisas assustadoras, pode ir em frente e fazer. Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho. Sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida.”

O uso da IA para reprodução de trabalhos criativos vem crescendo juntamente com a popularização dessas ferramentas, algo que tem frustrado cada vez mais profissionais de artes visuais, assim como escritores, músicos e atores. É o que comenta a ilustradora Alexia Bonani

“Por um lado, muitas pessoas podem achar que essas ferramentas de IA estão popularizando e democratizando o acesso à arte, mas, para existir a arte, demanda a existência de um artista, alguém que possa transformar suas ideias com um olhar único para o mundo. Quando esses apps geram essas coisas, isso é perdido. Me sinto frustrada porque, desde que isso começou, é uma tecla que eu e muitos artistas batemos. Não estamos falando apenas da substituição da mão de obra artística, mas também sobre propriedade intelectual”.

Não podemos transferir essa responsabilidade para as pessoas que estão participando, e sim lembrar que são as empresas detentoras dessas ferramentas [(as responsáveis]”, diz também a ilustradora. Empresas como a OpenAI vêm enfrentando diversos processos por direitos autorais, além de inúmeras críticas. 

Ghibli
Foto: reprodução/revista o grito

Em 2024, mais de 10 mil profissionais entre atores e músicos assinaram uma carta aberta criticando o uso de obras criativas para treinar modelos de IA sem a devida autorização, violando os direitos autorais das obras, algo que também aconteceu com veículos de comunicação, como o New York Times, pelo mesmo motivo. As plataformas negaram as alegações, e, sobre isso, o ilustrador e professor dos cursos de comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB), Daniel Arcos, declara: 

“O debate ajuda a moldar o futuro, e o levante dos artistas lança um olhar, novamente, para a lei. Imagino um futuro onde a legislação seja a nossa principal proteção e que ela realmente funcione […]. Os artistas precisam ficar atentos. É comum no meio artístico a criação de obras inspiradas em temas e personagens de grandes empresas, como Marvel, DC Comics e Studio Ghibli. No entanto, de acordo com a Lei 9.610/98, essa prática não é permitida. Muitas dessas empresas costumam fazer “vista grossa”, intervindo apenas quando a obra do artista adquire características de produção em larga escala ou uso comercial significativo”.

As animações do Ghibli são conhecidas por sua riqueza de detalhes, pela expressividade dos personagens e pela sensibilidade emocional que só artistas de verdade conseguem transmitir. Mas, quando uma IA tenta recriar esse estilo, o resultado é uma casca vazia — algo bonito de longe, mas sem a alma e a profundidade das obras originais.

Ghibli
Foto: reprodução/ el output

As pessoas pedem essas imagens porque querem se ver dentro desse universo mágico, mas, no final, recebem um produto artificial e sem significado real. E o pior: ao invés de valorizar artistas que realmente dominam esse estilo, preferem um atalho rápido e sem esforço.

Essa tendência não só banaliza o trabalho de ilustradores reais, como também incentiva uma mentalidade de “tudo pronto e mastigado”, onde ninguém precisa desenvolver suas próprias habilidades ou criatividade.

Efeitos no audiovisual

O estilo de uma obra artística é sua identidade, algo que é construído durante anos. O Studio Ghibli, por exemplo, envolve um processo rigoroso e artesanal, com um foco enorme nos detalhes de cada produção. Cada história é desenvolvida diretamente nos storyboards, onde cena por cena é desenhada e, assim, a narrativa é montada visualmente.

Dessa forma, nasceram filmes aclamados pela crítica e pelo público, como A Viagem de Chihiro (2001), Meu Amigo Totoro (1988), O Castelo Animado (2004), Princesa Mononoke (1997) e um dos mais recentes, O Menino e a Garça (2023). O estúdio preserva as técnicas de animação tradicionais e a maior parte da produção é feita sem recursos como CGI, processo que demora meses ou até anos para ser finalizado.

Levando esse assunto também para o audiovisual, polêmicas recentes envolveram a inteligência artificial em filmes indicados ao Oscar deste ano. Títulos como Emília Pérez (2024) e O Brutalista (2024) receberam diversas críticas por usarem o recurso no tratamento das vozes dos atores, com o intuito de aperfeiçoar o sotaque ou a voz de determinados personagens, além de outros elementos. 

Ghibli
Foto: reprodução/cineweek

Sobre o assunto, profissionais do meio possuem opiniões diversas. Aqui também podemos ressaltar que as atualizações do ChatGPT permitem a reprodução de trailers utilizando estéticas de outras produções.

O cineasta Victor Buzzo expressa uma visão crítica sobre o impacto da inteligência artificial no setor:

“Eu acho que a inteligência artificial pode até ajudar, mas entre ajudar e atrapalhar, acho que ela mais atrapalha. Para mim, a parte em que realmente contribui é na pesquisa. Por exemplo, se estivermos fazendo um filme sobre alguém que já morreu ou uma figura notável do passado, ela pode ser útil nesse sentido”, opina.

Por outro lado, onde ela atrapalha é na criação de imagens que não existem. Agora, com essa polêmica do estúdio Ghibli, onde qualquer foto pode virar uma animação, vemos um trabalho que, antes, era feito manualmente por uma única pessoa, que dedicava muito tempo à pesquisa e ao desenvolvimento da sua arte. Isso deveria ser mais respeitado. Nesses casos, a inteligência artificial não só atrapalha, mas também desrespeita o artista.”

Gabriel Nakanishi, produtor audiovisual e cofundador da CRIAmov, tem uma perspectiva mais aberta sobre o uso da IA no setor:

“Acredito que o impacto desse tipo de tecnologia para os profissionais da área (audiovisual) é sim relevante, mas enxergo com bons olhos o movimento. Pois a IA precisa de um comando para funcionar, e o bom profissional será aquele que pensará bons prompts e usará a tecnologia a seu favor, ou melhor, a favor do mercado e da sociedade”.

O futuro das atualizações das plataformas de inteligência artificial é imprevisível, mas muitas pessoas enxergam como inevitável sua entrada definitiva em diversas profissões. Sobre essa inserção, Alexia deseja novas regulamentações:

“Não é justo que anos de estudo e trabalho sejam usurpados. Nós, enquanto artistas independentes, nos vemos forçados a postar na internet para alçar novas oportunidades e não temos o direito de escolher se nossas imagens serão usadas para alimentar esses sistemas ou não. A longo prazo, acredito que não há como fugir, então lutamos pela regulamentação dessas ferramentas, e, no fundo, gosto de acreditar que arte sem alma não se sustenta”, finaliza a ilustradora.

E, enquanto essa regulamentação não chega, Daniel oferece algumas dicas aos profissionais:

“Minha dica para todos os artistas é registrar as suas obras e seu estilo. O registro pode ser feito, por exemplo, no site da Câmara Brasileira do Livro, onde é possível catalogar obras, obter ISBNs e fichas catalográficas, entre outros serviços. Já o registro de estilo é mais desafiador, mas quem possui uma produção extensa pode comprovar autoria por meio de portfólios, redes sociais ou trabalhos realizados para pessoas e empresas”, recomenda o professor de comunicação.

Pessoas não são substituíveis: a IA deve servir, não tomar o lugar

A tecnologia deve ser uma ferramenta para potencializar o talento humano, não para eliminá-lo. A IA pode ser útil em diversas áreas, mas o problema começa quando ela passa de auxiliar a substituta. Criatividade não é só o resultado final — é o processo, a emoção, a experiência.

A ilustradora Ing Lee ressalta: “A arte sempre foi democrática. É possível criar usando papel, caneta, tinta, argila, câmeras ou até mesmo lixo, mofo e materiais totalmente impensáveis enquanto materiais artísticos. O que não é democrático é o acesso a ela, e não será a IA que irá possibilitar isto. Mas sim políticas de incentivo à cultura, venda de materiais artísticos mais acessíveis, ensino de arte gratuito e de qualidade, mais museus e exposições de livre entrada, incentivos para a população ler e assistir mais filmes… Para que o caminho da arte ainda possa ser a escolha para as pessoas que queiram viver de suas criações, e não apenas serem substituídas por máquinas incapazes de traduzir a alma e a subjetividade inerentemente humana.”

Antes de pedir para uma IA “fazer arte” por você, pergunte-se: será que queremos um mundo onde a criatividade morreu e tudo é apenas um reflexo genérico do que já existia? Ou será que ainda vale a pena valorizar o que nos torna verdadeiramente humanos?

 

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Leia também: Saúde mental no entretenimento asiático: por que precisamos falar sobre esse tabu?

Texto revisado por Bells Pontes

 

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Especial | Relembre 4 papéis marcantes interpretados por Deniz Baysal

A atriz e modelo turca completa 34 anos e para comemorar relembramos os papéis mais marcantes de sua carreira

Deniz Baysal, nascida no dia 5 de abril de 1991, em İzmir, Turquia, é uma atriz e modelo que chama atenção pela sua beleza e talento. Ela começou a estudar atuação no Teatro Municipal de sua cidade natal quando tinha apenas 10 anos. Sua estreia na televisão aconteceu na dizi Derin Sular (2011). 

Um dos reconhecimentos mais importantes de Baysal foi receber o prêmio de Melhor Atriz de TV no Turkey Youth Awards 2018. Conheça suas personagens:

Hazan Çamkıran Mrs. Fazilet and Her Daughters (Fazilet Hanım ve Kızları, 2017)
Deniz Baysal
Foto: reprodução/Dailymotion @fazilethanimvekizlari

Hazan é uma personagem que faz de tudo para proteger sua família da ganância da própria mãe. A personagem culpa a mãe pela morte súbita de seu pai. Ela acaba se envolvendo em um mal entendido e tem o seu caminho cruzado com Sinan Egemen e Yağız Egemen, dois irmãos de uma família rica e respeitada de Istambul com quem cria um triângulo amoroso. Ela vai além dos desejos superficiais das pessoas ao seu redor, sendo resiliente, honesta, autêntica, trabalhadora e determinada. 

Mine Milagre na Cela 7 (7. Koğuştaki Mucize, 2019)
Deniz Baysal
Foto: reprodução/Netflix

Mine é uma professora empática que desenvolve um papel muito importante na vida de sua aluna, Ova – filha de Memo, o protagonista da trama. Após a prisão de Memo, ela se torna uma espécie de anjo da guarda de Ova, sendo uma figura materna, protetora e carinhosa para a menina.

Zehra Balaban The Shadow Team (Teşkilat, 2021)
Deniz Baysal
Foto: reprodução/TRT 1

Zehra é uma agente especial da inteligência turca que abre mão de sua vida pessoal e é dada como morta, fazendo vários sacrifícios pessoais como deixar sua filha ao cuidado unicamente de seu ex-marido. Ela é determinada, forte, inteligente e astuta. 

Yasemin — Standing Together (Ne Gemiler Yaktım, 2023)
Deniz Baysal
Foto: reprodução/Dizilah

Yasemin é uma mãe solo, forte e determinada, que luta para garantir um futuro melhor para sua filha, enfrentando desafios financeiros com coragem. Seu caminho cruza com o de Fidan (Devrim Özkan), uma mãe que tenta escapar do marido abusivo. Unidas pelo destino e envolvidas em um crime, elas constroem uma amizade marcada por segredos, resiliência e cumplicidade.

 

Feliz aniversário, Deniz!

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Leia também: Especial | Özge Özpirinçci além de Bahar

 

Texto revisado por Alexia Friedmann

 

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Entrevista | Lola Fanucchi: paixão, resiliência e talento nos palcos e telas

Agora a atriz embarca em seu novo desafio, dar vida a Adrian Pennino em Rocky – O Musical

 

Lola Fanucchi construiu uma carreira marcada pelo talento e pela coragem de se reinventar. Nome conhecido nos palcos do teatro musical e no audiovisual brasileiro, a atriz participa de um dos papéis mais desafiadores de sua carreira: dar vida à icônica Adrian Pennino em Rocky – O Musical, que estreou no dia 14 de março no Teatro Santander, em São Paulo. Lola mergulhou na complexidade da personagem, trazendo uma interpretação que conversa com a versão original, mas carrega também suas próprias vivências.

Sua paixão pelos palcos começou cedo, mas a caminhada até o reconhecimento não foi fácil. Após passar por empregos fora do ramo artístico, optou por seguir sua vocação e se formou no Instituto de Artes da Unicamp. Desde então, participou de produções como In the Heights, Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812 e As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão.

Além do teatro, Lola também conquistou espaço no audiovisual. Sua estreia veio com a personagem Muna, na premiada novela Órfãos da Terra (2019). O sucesso na TV abriu portas para novos trabalhos, incluindo seu primeiro longa-metragem, Tudo Bem no Natal que Vem (2021), da Netflix, que alcançou milhões de espectadores ao redor do mundo.

Agora, a atriz encara um novo desafio com Rocky – O Musical, obra que celebra a resiliência das relações humanas. Entre ensaios e uma imersão na trajetória de Adrian, Lola emociona o público e reafirma seu compromisso com a arte. O entretê conversou com ela sobre sua trajetória, os desafios dessa nova personagem e os próximos passos de sua carreira. Confira: 

Entretetizei: Lola, você tem uma trajetória que vai do teatro musical ao audiovisual, com personagens como Adrian, em Rocky – O Musical, e Muna, em Órfãos da Terra. Como você descreveria a transição entre essas duas formas de arte, e quais os maiores desafios e aprendizados que cada uma delas trouxe para sua carreira?

Lola Fanucchi: Acho que a base do trabalho do ator para mim é a mesma e está muito conectada à verdade. Encontrar a verdade daquela personagem, da circunstância, da troca genuína com os parceiros de cena. Isso é imperativo para mim e eu mantenho independente se o trabalho é nos palcos ou nas telas. Mas claro que cada meio tem seus desafios e pede alguns ajustes técnicos para que a história funcione melhor ali. A novela especificamente tem um tempo muito ágil. Não existe quase tempo de preparação. É um trabalho insano de todas as áreas. 

Ao mesmo tempo, é muito prazeroso se manter tantos meses investigando e descobrindo uma personagem, com novas cenas que você ainda não leu, viradas surpreendentes. Existe um frescor para o público e também para nós intérpretes. Já o teatro proporciona um aprofundamento que o ensaio e a repetição trazem. Isso é incrivelmente desafiador também, porque temos que buscar a sensação de viver aquela cena pela primeira vez, mesmo já tendo repetido muitas vezes. Encontrar a verdade em todo momento cênico como se fosse a primeira vez é um desafio que sempre me mantém focada. 

Foto: divulgação/Lola Fanucchi

E: Adrian Pennino é uma personagem icônica, e sua interpretação traz novas nuances para essa figura tão conhecida. Como foi o processo de construção dessa personagem, e quais elementos você buscou para diferenciá-la da versão cinematográfica de Talia Shire?

LF: Eu amo esse processo da criação. Tenho muitas inspirações e busco misturá-las para criar algo interessante e não apenas uma cópia. Com certeza eu olho com muito respeito para a interpretação da Talia Shire. Acho que ela eternizou a personagem no filme e parte do meu trabalho é levar essa essência para os fãs da obra. Mas também busquei explorar outras referências, até porque nossos contextos são completamente distintos. Nossa produção foge do usual.

Estamos num espaço imersivo, com um palco estilo arena. Existe uma proximidade grande com o público. Tudo isso pede que seja criada uma nova versão da personagem até para a história manter seu impacto original que tocou tantos corações pelo mundo. Espero que o público goste dessa combinação de referências que vão desde patinadoras da época do filme, como Dorothy Hamill, até memórias mais pessoais minhas com minha mãe. Faço com muito amor e espero que a história da Adrian toque o público.

E: Sua trajetória pessoal é marcada por superação e coragem, e você já mencionou que se identifica com a força de Adrian. Como essa identificação pessoal influenciou sua atuação, e de que forma você acredita que sua história pode inspirar outras pessoas?

LF: Acho que existe um senso de empatia e profunda compreensão entre atriz e personagem. Não acho, de forma alguma, que é imperativo que o ator passe pelas mesmas situações que a personagem, mas algumas histórias ressoam mais que outras dentro de nós, né? Eu definitivamente não vivi as violências que Adrian experimentou na infância, mas acho que me conecto com ela na sensação de que podemos sempre construir um futuro inspirador, independente das dificuldades do nosso passado. Muitas vezes não controlamos as surpresas que a vida coloca no nosso caminho. Eu, por exemplo, perdi minha mãe muito cedo e não tive uma figura paterna presente. Mas, diante de situações desafiadoras, podemos tentar reagir da melhor forma, mantendo em mente a vida que desejamos construir para nós. Acho que se eu puder inspirar alguém nesse sentido, já ganhei muito. E acho que Adrian descobre exatamente isso durante a história que contamos. 

E: Rocky – O Musical é uma obra que celebra a resiliência e a autodescoberta. Em um momento em que tantas pessoas buscam força e esperança, qual a mensagem mais importante que você acredita que o público pode levar dessa produção?

LF: Acho que justamente é uma história que nos motiva a ter a coragem de ousar ir atrás da vida que nos inspira e não desistir dela jamais! Seja através de um sonho como o boxe, seja se permitindo viver um grande amor e construir uma nova noção de pertencimento no mundo. Não desista dessa vida que você sonha para você.

E: Você já trabalhou em projetos de grande sucesso, como Tudo Bem no Natal que Vem, da Netflix. Como é para você ver seu trabalho alcançar milhões de pessoas ao redor do mundo, e quais os próximos passos que você almeja em sua carreira no audiovisual?

LF: Sabe que até hoje eu não tenho muita compreensão do alcance? Rs! Acho que como vim do teatro e normalmente nosso público está no nosso campo de visão, é quase inimaginável para mim pensar que no mês de lançamento do filme ele foi visto por 26 milhões de pessoas. Que lá na Suíça alguém deu risada com a gente! Eu AMO fazer comédia. Gostaria muito de explorar mais esse gênero no audiovisual. Talvez uma personagem mais cômica em uma novela. Adoraria criar nesse campo enquanto estamos no ar porque a resposta do público é sempre muito imediata. Deve ser um trabalho muito prazeroso e, como ainda não experimentei, definitivamente está na lista das vontades futuras!

 

Foto: divulgação/Stephan Solon

E: Lola, acompanhamos a intensa mobilização do público brasileiro torcendo por Fernanda Torres no Oscar e o filme Ainda Estou Aqui (2024). Como artista, como você avalia esse movimento? Acredita que ele reflete uma mudança na forma como o público se conecta com o cinema nacional e seus artistas?

LF: Fico extremamente emocionada de ver essa “torcida” e mobilização se voltando também para o campo das artes. Normalmente vemos esse tipo de sentimento muito presente nos esportes, né? Mas só mostra que, como brasileiros, temos dentro de nós esse orgulho da nossa cultura! Isso é muito bonito, muito precioso. Para além das enxurradas de comentários em redes sociais apoiando a campanha do filme, o brasileiro encheu as salas dos cinemas. Prestigiou uma obra importantíssima que fala sobre um passado da nossa história. Acho muito emblemático e torço sim para que seja uma situação mais recorrente, porque quem ganha, no fim, é a cultura do país. 

E: Lola, em Órfãos da Terra você interpretou Muna, uma personagem que fazia parte do núcleo de refugiados sírios. A novela abordou um tema sensível e de grande relevância global. Como foi para você dar vida a esse personagem e representar essa realidade? Quais foram os seus principais aprendizados e desafios ao mergulhar em uma cultura tão diferente da sua, e como essa experiência impactou a sua visão sobre a questão dos refugiados?

LF: Olha, não é sempre na nossa carreira que conseguimos estar em projetos que trazem reflexões importantes e que casam com nossos valores pessoais. Então, quando me encontrei colaborando em algo como Órfãos da Terra, eu sabia que estava vivendo um momento especial da minha carreira. Além de ter sido minha estreia nas novelas, onde aprendi demais sobre o dia a dia num set, foi realmente uma obra desenvolvida com um cuidado absoluto. A Muna, na trama, não era uma refugiada, mas todos nós do elenco estávamos imersos no estudo desse tema e suas implicações. 

Ninguém que está em situação de refúgio deseja passar por aquilo. É uma realidade extremamente dura e traumática. Conversamos com muitos refugiados, tivemos a sorte de muitos colaborarem com suas histórias no processo da novela. Me sinto até hoje privilegiada por poder ter participado de um projeto que levou luz a esse tema com o alcance da TV aberta. Acho que a TV Globo foi muito corajosa em apostar naquela história e o reconhecimento veio com a boa aceitação do público e crítica. 

E: “Meu maior sonho é continuar”, você declarou recentemente. Olhando para trás, para sua trajetória, e para frente, para os projetos que ainda virão, qual o papel da arte na sua vida, e como você espera que ela continue a te transformar?

LF: A arte é o que trouxe sentido à minha vida. Digo isso como “consumidora” e também atriz. Foi nela e através dela que me entendi no mundo, escolhi minhas pessoas, refleti sobre quem sou e o que busco. Eu nem sei ser diferente, porque quando tentei não fez sentido. Rs! Com respeito, digo que os anos que passei trabalhando no corporativo foram para entender que a gente consegue calar o coração apenas por certo tempo. E o meu coração realmente pulsa arte. Nos dias felizes geralmente é ela que me faz sorrir e nos dias tristes é ela que me acolhe também. É difícil de explicar, soa intenso, e acho que (ainda bem) é. E que assim continue sendo! Rs!

 

Perguntas por: Sussuca Alencar


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Leia também: Entrevista | Carol Castro fala sobre o sucesso de Garota do Momento, sua paixão pela arte e relembra histórias da carreira

 

Texto revisado por Laura Maria Fernandes de Carvalho

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Notícias da semana no mundo turco — 31/3 a 4/4

Atualizamos você sobre tudo o que aconteceu no mundo turco nesta 1ª semana de abril

Por: Gabriella Emim, Nayara Alves e Shay Roiz

Novas produções turcas estão a todo vapor! A adaptação turca de King the Land (2023), Çift Kişilik Oda (tradução livre: Quarto Duplo), ganhou novos atores, enquanto a crise na Turquia impacta as escalações de elenco.

Confira os destaques da semana:

O ator Levent Ülgen agora interpreta Çetin na série Çift Kişilik Oda

A série começará as gravações após o Eid al-Fitr, e o elenco tem chamado bastante atenção. A entrada de Levent pode deixar a série ainda mais interessante.

Foto: reprodução/Birsen Altuntaş
Can Yaman faz espacate em uma apresentação no Rio

O ator, que estava no Brasil para cumprir os compromissos que ele tinha no Rio de Janeiro, surpreendeu a todos com um espacate, que tornou-se assunto entre os fãs e a mídia turca.

Foto: reprodução/Instagram @canyaman
Yiğit Özşener será o ator principal na série Karanlık Oda

O ator Yiğit Özşener assinou o contrato com a série Karanlık Oda, que está sendo produzida pela Ceylan Aypim. Yiğit interpretará o personagem Enis.

Foto: reprodução/Birsen Altuntaş
Burç Kümbetlioğlu assina dois projetos simultâneos

O ator Burç Kümbetlioğlu — intérprete de Boran em Distant City (Uzak Şehir, 2024) — assinou contrato para uma nova série e um longa-metragem simultaneamente. Ele fará parte do elenco de Çift Kişilik Oda (tradução livre: Quarto Duplo).

Foto: reprodução/Beyazperde
Aybüke Pusat é retirada de Teşkilat após se posicionar politicamente

A atriz Aybüke Pusat foi retirada do elenco da série Teşkilat (2021-presente) após apoiar publicamente as greves em seu país. A decisão acontece em meio a uma onda de protestos na Turquia, que ganhou força nos últimos dias após a prisão de Ekrem İmamoğlu, prefeito de Istambul e um dos principais nomes da oposição. A população tem ido às ruas, exigindo justiça e demonstrando apoio ao político, intensificando a tensão entre artistas, figuras públicas e o atual governo.

Foto: reprodução/Agos
O ator Boran Kuzum foi afastado de Bir Ruh Macerası

Após a TRT demitir Aybüke Pusat, o ator Boran Kuzum também foi afastado de um projeto da emissora por demonstrar apoio à atriz nas redes sociais.

Foto: reprodução/Filmmakers
Furkan Andıç foi removido do elenco de Muhabir

Outro ator que também foi expulso de uma produção foi o Furkan Andıç. A sua saída também ocorreu após prestar apoio à Aybüke Pusat em suas redes sociais.

Foto: reprodução/Birsen Altuntaş
Cem Yiğit Üzümoğlu, protagonista de Sakir Pasa Ailesi Mucizelerve Skandallar, foi detido ao apoiar os protestos

O ator foi detido como parte da investigação por apoiar o boicote. Os atores Taner Rumeli, Onur Saylak, Ahmet Mümtaz Taylan, Barış Atay e Kubilay Aka foram até o tribunal para aguardar a liberação do colega. Cem Yiğit Üzümoğlu está proibido de deixar o país.

Foto: reprodução/Haber 7
Yiğit Özşener irá dividir cenas com Uraz Kaygılaroğlu e Burcu Özberk em Karanlık Oda (Quarto Escuro)

O ator dará vida a Enis na nova série da Gain. As filmagens serão iniciadas no dia 17 de abril.

Foto: reprodução/NOW
Özge Özpirinçci completou 39 anos

A atriz que dá vida à Bahar, em Força de Mulher (2017), completou 39 anos na última terça (1).

Foto: reprodução/Instagram @ozpirincci
Eda Gürkaynak é confirmada no elenco da adaptação turca de Sorriso Real

A atriz se juntou a Çift Kişilik Oda (tradução livre: Quarto Duplo), estrelada por Ulaş Tuna Astepe e Devrim Özkan. As gravações foram iniciadas nesta quinta (3).

Foto: reprodução/Onedio
As gravações de Bir Ruh Masalı foram iniciadas

A gravação da série documental que conta a história da famosa roteirista turca Ayşe Şasa finalmente foi iniciada. Deniz Baysal interpretará Ayşe.

Foto: reprodução/Türkiye Gazetesi
Rüzgârlı Pazar ganhou dois novos atores

Os atores Uğur Aslan e Sude Zülal Güler agora fazem parte do elenco de Rüzgârlı Pazar. A série é da TRT e contará com 8 episódios. Uğur Aslan estará interpretando Recep, e Sude Zülal Güler interpretará Büşra.

Foto: reprodução/Birsen Altuntaş
Piyasa será encerrada no 6° episódio

A dizi que foi produzida pela Pastel Film e transmitida no Kanal D será encerrada no 6° episódio. O último episódio vai ser exibido hoje às 20h.

Foto: divulgação/Kanal D
Başak Gümülcinelioğlu foi retirada da série Muhabir por boicote

A atriz que interpreta a personagem Duygu teve que se retirar da série Muhabir, após ter compartilhado as fotos da sua colega Aybüke Pusat para prestar seu apoio.

Foto: reprodução/Instagram @Başak Gümülcinelioğlu

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Leia também: Notícias da semana no mundo turco — 24/3 a 28/3

Texto revisado por Bells Pontes

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