Entrevistamos Jessica Tseang, que participou de painéis da SDCC, falando sobre diversidade, amizade e a importância da voz
Jessica Tseang é uma criadora de histórias em quadrinhos e comunicadora da cultura pop, nascida e criada nos Estados Unidos. Ela já foi convidada diversas vezes para ser moderadora de painéis na San Diego Comic Con (SDCC) e, neste ano, fez um lindo painel com a presença do cantor Taboo, do Black Eyed Peas. O Entretê teve a honra de conversar com a Jessica, para nosso quadro no YouTube, Te Entrevistei.
Confira abaixo as partes mais importantes da nossa entrevista com Jessica Tseang!
Entretetizei: Nos conte um pouco sobre você, sua história e sua carreira.
Jessica Tseang: [..] Eu nasci e fui criada nos Estados Unidos, mas minha mãe queria que eu assistisse muitos programas de TV americanos como Vila Sésamo, Lamb Chop, Muppets, para que assim eu pudesse aprender inglês antes de ir para o jardim de infância. […] Então comecei a assistir Batman, a versão dos anos 60 com Adam West. […] Achei ele muito inteligente e astuto, então, eu contei para minha mãe sobre esse personagem do Batman que eu tinha visto na TV e minha mãe […] me contou que aquele personagem não era originalmente um personagem de televisão, mas sim um personagem de quadrinhos. Então ela tirou um tempo para me levar à biblioteca e às livrarias locais para dar uma olhada e também comprar quadrinhos do Batman para ela ler eles para mim, então essa é minha primeira incursão nos quadrinhos do Batman. Eu tinha 3 anos e, a partir daí, meu amor por quadrinhos cresceu para IDW e Image […] e obviamente a Marvel. Enquanto eu crescia tudo o que eu tinha era a DC e a Marvel e todos os outros quadrinhos.
A partir daí, eu meio que me apaixonei por essa mídia, eu realmente adorei Comics porque eles oferecem algo que nenhuma outra mídia oferece, que é uma combinação de imagens e palavras, mas mais em um formato de romance. […] E aí, quando fui para a faculdade, aqui na minha universidade (eu fui para a faculdade Big Ten), eles tinham muitos quadrinhos e aulas de histórias em quadrinhos que você pode assistir. […] Aqui eu aprendi mais do ponto de vista acadêmico, porque eu não sou uma artista talentosa, então eu não consigo desenhar quadrinhos e escrever é completamente diferente para mim. Eu queria estudar história dos quadrinhos.[…] Fui a vários eventos que eram baseados em quadrinhos para conhecer escritores, criadores e artistas que eu lia desde que era jovem. E também o que é realmente importante para se estabelecer como um historiador de quadrinhos é saber todas as facetas do que são os quadrinhos e meio que escolher em que área você quer se especializar. Então o que eu queria fazer era conhecer os quadrinhos internacionalmente, não apenas na América. Aqui nós temos um ponto de vista muito ocidental do que são quadrinhos. Mas tem mangá, no Japão temos ManHua. Temos a China, Taiwan e Hong Kong, assim como os quadrinhos sul-americanos, os europeus, temos Judge Dredd do Reino Unido, Dylan o cão, Tintin. Eles são internacionais, então é realmente importante não apenas aprender. Para mim, pessoalmente, é quase a história do mundo, mas é a história do mundo em quadrinhos. E com o nascimento da internet, agora podemos escrever em muitos blogs e realizar muitas pesquisas, fazer artigos, entrevistar muitas pessoas […] A partir desse ponto, eu recebi a oportunidade de começar a moderar painéis de história dos quadrinhos e da cultura pop e chamar meus próprios convidados. E em em um mundo onde as pessoas rebatem a sua opinião muito rápido, se você não é um bom moderador e parece que não sabe de história, quadrinhos ou televisão, fica muito evidente, e as pessoas vão falar diretamente para você, vão falar a um dos organizadores, ou o público irá tweetar. Mas sobre isso eu sempre tive um feedback positivo e sempre senti que tudo que eu aprendi e amei dentro e fora dos quadrinhos é legítimo e, senti claro, que eu entendo sobre e sei o que estou fazendo.
E: Você falou sobre o início da internet. Então você como uma criadora, como você pensa sobre a dificuldade de criar algo 100% novo? Porque tudo que você vê na internet está sempre relacionado ou está em outra coisa que você já viu, como uma referência, certo? Então, como você se sente sobre isso?
JT: Você sabe, Mark Waid que escreveu […] Kingdom Come e ele escreve uma das melhores séries do Capitão América. Mark Wright é um escritor incrível, ele tem uma longa história na história dos quadrinhos da Marvel e da DC também. Mark Waid me disse uma vez: […] “cada origem, cada história, talvez que você pense para um personagem pode já ter sido feita, mas tudo é sobre o quão bem você pode fazê-lo, seu próprio Spin e sua própria opinião sobre ele”, por exemplo, com o Superman. Sabemos que há muitas histórias sobre um Alien que vive na Terra, que cresce para ser um herói que ama a humanidade, mas não é necessariamente sobre esses elementos, é sobre como você conta essa história e o que a tornará sua e diferente. Eu acho que o que é realmente incrível, como você disse, com o nascimento da internet. É como um criador. Você pode criar algo. Esse é o seu e de lá porque a internet é de domínio público. Você pode pesquisar para ver se há algo semelhante ao seu […]. Qual é a sua opinião e sua rotação, e seu gancho nisso, que torna sua história um pouco diferente de outra versão que já está. […] A base de muitas comédias românticas e a base de muitos filmes de ação são realmente iguais. Tem um, dois, três atos, mas é como é feito e como é contado que é o mais importante.
E: Nesses dois anos de San Diego Comic Con on-line, você teve dois painéis. […] Como é para você participar da Comic Con?
JT: É uma grande honra. É uma grande benção fazer parte da Comic-Con por muitos anos. […] A Comic Con geralmente te aborda com uma proposta com a ideia de painel que você quer falar sobre, algo que você sente que os fãs realmente adorariam ouvir. Quando você envia essa proposta não significa que você terá o painel automaticamente. Então, a equipe da Comic Con tem que aprovar, e escolher você. Eles têm milhares de inscrições incríveis. […] Então ser escolhido ou considerado é uma grande honra, uma benção. E depois disso você tem muito tempo pra montar no painel. O do ano passado e deste ano, obviamente, pensados virtualmente, nós pré gravamos, editamos, enviamos e colocamos on-line. […] Eu realmente, aprecio o pessoal da Comic Con por pensar que as minhas ideias e tópicos são bons para serem escolhidos.
E: Seus painéis da SDCC são sobre representação. Em 2020, amizade feminina, com Sailor Moon e neste ano sobre nativos americanos com Taboo. Porque é importante para você falar sobre essas coisas em um evento tão grande como a Comic Con?
17:20 – 21:53 J: […] Por um longo tempo quadrinhos foram vistos mais como algo dos meninos e que mulheres não liam quadrinhos, o que não é necessariamente verdade, porque quadrinhos vêm em vários tópicos diferentes e gêneros. Você tem romance, ficção científica, aventura, fantasia. Pode ser para qualquer um, em qualquer idade. E com o passar do tempo a Comic Con de San Diego cresceu de apenas quadrinhos, eles incluíram televisão, filmes, animações, animes, brinquedos, videogames. Mas o estigma para as mulheres continua lá: “não existem muitas mulheres que curtem Star Wars ou videogames”, e isso simplesmente não é verdade. Sailor Moon, se você está falando sobre o painel, algo foi realmente importante, porque aquele painel, e todas as mulheres que deram voz aos personagens lá, também deram voz aos personagens que o criador original fez. Então o mangá/anime foi um elenco feminino, e elas eram realmente amigas que se amavam e se preocupavam umas com as outras. Não era mesquinho, não eram mulheres brigando, manipulando umas às outras, ou sendo sorrateiras que é sempre o estereótipo do que as mulheres são. Quando na verdade mulheres têm realmente amizades muito próximas. E foi realmente importante. É por isso que Sailor Moon tem sido tão importante por tantos anos, é porque é realmente uma ótima retratação de amizade feminina ou como amizade deveria ser. Porque eu sei que existem telespectadores masculinos que também amam Sailor Moon. Então Sailor Moon é realmente importante porque é um anime pioneiro em ressaltar a amizade mostradas nessa mídia específica. […] Eu sinto que foi muito importante ter representatividade para as vozes femininas e amizade feminina. E para os nativos americanos, com Taboo do Black Eyed Peas, foi realmente maravilhosa aquela entrevista, porque nativos americanos foram, por um longo tempo vistos, pelo menos aqui nos Estados Unidos, estereotipados, sabe, eram vistos como selvagens, com longos cabelos, com roupas indígenas, usando força bruta. Nós temos um jogo aqui nos Estados Unidos chamado Caubóis e Índios, onde os caubóis são sempre os caras bons e estão sempre antagonizando ou brigando com os nativos americanos, e nós queríamos mostrar os nativo americanos como um grupo pequeno, porém íntimo aqui nos Estados Unidos, e eles continuam aqui, e eles deveriam ser representados porque eles foram as primeiras pessoas aqui nos Estados Unidos.
Então levou um tempo, mas Hollywood e a indústria cinematográfica lançam mais shows que mostram o lado positivo deles. Recentemente temos Reservation Dogs, acredito que já tenha saído. Também temos Waterford Walls, realmente um ótimo show, que mostra que os nativos americanos são muito diversos na forma como pensam, mas ainda assim são uma comunidade bem próxima. E Taboo foi maravilhoso, agora ele está escrevendo para alguns personagens nativo americanos, e outros personagens populares aqui da Marvel, que nós sabemos que é um grande estúdio, e uma grande editora de quadrinhos. Então ele é uma ótima frente, um ótimo representante para os nativos americanos, ele estava lá protestando na Dakota type line aqui nos Estados Unidos. Na verdade ele tinha acabado de lutar contra um câncer, tinha sobrevivido, e já foi diretamente protestar, isso é realmente incrível, ele é o seu próprio super herói, ele tem sua própria origem e jornada, e agora ele está escrevendo para a Marvel. Então ele é uma voz, e um pilar para a comunidade, eu realmente senti que ele, junto com outros, seriam ótimas pessoas para entrevistar ao longo do tempo e falar sobre como agora os nativos americanos podem ser mais representados de forma mais positiva, em um tom mais positivo e realmente contar a sua história, porque no passado suas histórias foram contadas do ponto de vista de outras pessoas, mas agora eles podem contar suas próprias histórias.
E: No painel nativos americanos você falou com o Taboo, que é um grande nome na música, por causa do Black Eyed Peas. Vamos imaginar que mais pessoas como ele falassem sobre representação, as pessoas são realmente engajadas nas mais diversas causas. Nesse caso, como você acha que seria a indústria do entretenimento?
JT: […] Eu acho que ele é uma grande ajuda e um grande apoio porque o que eu percebi sobre os Black Eyed Peas quando comecei a ouvir sua música anos atrás, porque eles estão por aí há muito tempo, e seus prêmios ganhos nacionalmente e internacionalmente, a primeira coisa que percebi sobre o grupo deles é que eles são multiétnicos. […] Eles eram realmente diferentes e também vinham de lugares diferentes. […] Comecei a fazer mais pesquisas e descobri que Taboo é o nativo americano, Apl.de.ap é das Filipinas. Temos Will.i.am, naquela época tínhamos Fergie. Ela tinha um passado diferente e foi muito interessante porque, assim como o Taboo disse no painel, é um mosaico ou um vitral. […] Culturas diferentes, se unindo e representando. […] Acredito que o que ele [Taboo] fala também se refletirá na indústria do entretenimento, porque sabemos que muitas pessoas querem que o Oscar seja muito mais diversificado. E quando você tem pessoas como Taboo que falam sobre isso, temos outros atores e talentos que falam sobre precisarmos de mais diversidade. […] Eu acredito que quando temos pessoas com plataformas muito grandes, falamos do que precisamos, como já falamos, a internet tem uma grande voz, muitas pessoas apoiarão isso e estarão por trás disso e retuitarão ou falarão sobre isso, ou tentarão fazer petições online e escreverem por e-mail. Portanto, acho que todos os que têm voz online são bons contadores. Será algo grande, porque assim eles podem defender os valores que desejam, e que querem ver refletido na indústria do entretenimento.
E: Você falou sobre Oscar. Quando Parasita ganhou, o Brasil inteiro comemorou. […] Não foram brasileiros, mas é diferente, não é americano. É uma chance para outros países tornarem-se vencedores do Oscar.
JT: Sim, tudo o que precisamos é um avanço para mostrar o encorajamento de que se pode acontecer uma vez, pode acontecer novamente no futuro, porque o Oscar é o que todos querem ganhar, o que todo cineasta e todo estúdio querem ter, mas há tantos filmes incríveis na Itália, Brasil, Austrália, Índia, Japão que eu realmente sinto que poderia ter uma chance, como você sabe, o melhor filme daqui do Oscar, seja falado em inglês ou legendado em inglês. Isso realmente mostra que há uma chance. Quando eu vi Pantera Negra, por exemplo, em escala menor, eu sabia que com o sucesso do Pantera Negra, ele lidera o caminho para filmes como Shang-Chi, […] e outros filmes onde nossa cultura lidera a diversidade. Então, em uma escala maior, com a vitória do Parasita, existe uma chance, eu acredito no futuro de outros filmes, talvez como um filme brasileiro possa ganhar o Oscar um dia, como a melhor fotografia e quando houver várias categorias, isso seria incrível.
A entrevista na íntegra, você pode conferir no vídeo abaixo:
Agora queremos saber de você. Gostou de conhecer um pouquinho mais sobre a Jessica Tseang? Por aqui não vemos a hora de conversar com ela de novo e acompanhar os próximos passos dela. Comente com a gente em nossas redes sociais Insta, Face e Twitter e fique por dentro de tudo do mundo do entretenimento!
*Crédito da foto de destaque: divulgação