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Por que problematizam o ato feminino de ser fã?

Da Beatlemania ao K-pop, a sociedade insiste em subestimar as mulheres

Muitas vezes, interesses que atraem principalmente o público feminino, como boy bands, atores ou séries, são vistos como fúteis ou imaturos. Existe uma tendência a desmerecer esses gostos quando comparados com os interesses masculinos, que costumam ser considerados mais sérios, como esportes ou filmes de super-heróis.

Quando mulheres são fãs apaixonadas, muitos apontam esse sentimento como histeria ou obsessão, apresentando de forma equivocada a ideia de que as mulheres são emocionalmente instáveis ou dramáticas. Enquanto isso, o mesmo comportamento entre homens quando são fãs de algo, como o amor a um time de futebol, ao Neymar, jogos de videogame ou super-heróis, raramente é visto da mesma forma. 

Controle social

Durante o sucesso dos Beatles, a forma como as fãs, principalmente mulheres, demonstraram seu amor pela banda foi duramente criticada. A mídia descrevia essas mulheres como irracionais e emocionadas demais, além de reduzi-las a episódios de histeria. Isso desvalorizava a paixão dessas jovens e transformava a admiração por essa que foi uma das maiores bandas de todos os tempos em algo superficial.

Foto: reprodução/WhizzPast

Até os dias atuais, a sociedade tenta controlar a forma como as mulheres expressam suas emoções e interesses. Indústrias como a da música ou do cinema se beneficiam do apoio das fãs, mas, ao mesmo tempo, acabam as subestimando ou ridicularizando. Isso reflete a visão de que os interesses femininos têm menor valor cultural ou econômico.

As fãs da saga Crepúsculo, por exemplo, foram alvo de muitas críticas e piadas, especialmente por começarem a admirar tanto os personagens dos livros quanto os atores que participaram da adaptação para o cinema. A obra foi constantemente criticada pela qualidade literária e pela narrativa de vampiros e lobisomens e, com isso, suas fãs (em grande parte adolescentes) foram estereotipadas como fúteis por gostarem da história.

Desvalorização dos interesses femininos

Boybands como Backstreet Boys, NSYNC, Jonas Brothers, One Direction e BTS conquistaram milhões de fãs, em grande parte mulheres. Esse fenômeno foi e ainda é motivo de piada, e as fãs são vistas como obsessivas ou ingênuas. O que acaba acontecendo na grande maioria dos casos é que, quando aquele artista tem um número maior de fãs mulheres, imediatamente o trabalho dele passa a ser visto como ruim. 

O que se reflete na sociedade é um prejulgamento, que coloca o gosto feminino em um patamar inferior, como se as mulheres não possuíssem senso crítico ou capacidade de diferenciar o que é bom do que é ruim – algo que é relativo para cada um – e a partir do momento em que percebem que a base de fãs daquela banda é feminina, tudo muda. 

O mesmo acontece com cantores como Harry Styles, Justin Bieber, Taylor Swift e diversos outros, que fazem enorme sucesso ao redor do mundo, mas por possuírem um fandom majoritariamente feminino, têm seu trabalho diminuído ou desvalorizado.

A sociedade, muitas vezes, trata os interesses culturais das mulheres com um viés de gênero, duvidando de sua qualidade, questionando se elas apenas acham aquele artista atraente e reforçando estereótipos que diminuem suas experiências e emoções.

Foto: reprodução/CNN
Ameaças e ridicularização

Recentemente, a cantora Taylor Swift cancelou as apresentações da The Eras Tour que faria em Viena, na Áustria, por conta de uma ameaça terrorista. Um jovem –  que seguia as ideologias do Estado Islâmico –  planejava um atentado por considerá-las “infiéis”, segundo informações da Bloomberg. 

Muitas vezes, as fãs recebem ameaças ou são ridicularizadas por pessoas que as enxergam apenas como fanáticas ou imaturas demais. Por mais que o fanatismo – mesmo que em doses menores – seja criticado, isso não acontece da mesma forma com homens que, por exemplo, acompanham todos os jogos do seu time e choram quando ele perde. Ser fã de algo ou alguém se torna aceitável somente se a base de fãs é, em sua maioria, masculina.

Outro exemplo recente dessa percepção social foi o sucesso do filme Barbie (2023), que levou milhares de mulheres, que cresceram brincando com a boneca, aos cinemas. Seguindo a temática do filme, muitas escolheram looks cor de rosa para a ocasião, algo que virou piada para alguns: “Como essa mulher pode vir ao cinema de rosa assistir a um filme da Barbie? Quanta imaturidade.”

O mesmo aconteceu com as fãs da banda RBD que usavam roupas que faziam referência ao uniforme usado pelos personagens na novela, para os shows da turnê mais recente da banda.

No entanto, como vemos com frequência nos diversos lançamentos de filmes da Marvel ou DC, que conta com um público consideravelmente masculino, muitos vão aos cinemas com a camiseta de algum super-herói ou até mesmo usam a peça no dia a dia, mas não viram alvo de piadas por isso. 

São inúmeros os casos de problematização em torno da mulher ser fã, e a diferença em como os gêneros são tratados diante disso é inegável, algo que acontece até mesmo quando os gostos das mulheres envolvem coisas vistas como masculinas.

No entanto, o público feminino continua movimentando o mercado literário, musical e cinematográfico de maneira muito significativa, e não se deixam abalar por essa desvalorização. Então, as filas dos shows, os looks seguindo a temática da produção e a paixão pelos protagonistas do filme ou da série vão continuar!

 

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Texto revisado por Kalylle Isse

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