A impunidade masculina domina a indústria do entretenimento sul-coreano, protegendo artistas mesmo diante de acusações graves
A indústria do entretenimento sul-coreano sempre vendeu a ideia de que seus artistas são impecáveis, um reflexo da perfeição idealizada pela cultura local. No entanto, o escândalo recente de Kim Soo-hyun, acusado de aliciamento de menor e envolvimento na ruína de Kim Sae-ron, expôs novamente o lado sombrio dessa indústria. Apesar da gravidade das acusações, muitos fãs insistem em defendê-lo, enquanto mulheres na mesma indústria perdem tudo — e até a vida — por erros muito menores.

E esse não é um caso isolado. A história recente do entretenimento coreano está repleta de casos de assédio, abuso sexual, agressão e traição por parte de grandes estrelas, que raramente enfrentam consequências sérias. Em contrapartida, mulheres que sofrem ou cometem deslizes menores são alvo de boicotes severos e canceladas pelo público de forma quase definitiva.
Atores e cantores envolvidos em escândalos graves
O caso de Kim Soo-hyun é apenas um dos mais recentes em uma lista extensa de artistas sul-coreanos envolvidos em polêmicas sérias. A seguir, vamos relembrar outros casos emblemáticos da cultura de impunidade masculina na indústria.
Moon Taeil (NCT) e as acusações de agressão sexual
Em 2024, Moon Tae-il, integrante do NCT, foi acusado de agressão sexual. Sua agência, a SM Entertainment, suspendeu suas atividades e removeu seu nome de materiais promocionais, mas isso não impediu que muitos fãs insistissem em defendê-lo. Enquanto isso, vítimas que denunciam abusos continuam a ser desacreditadas e atacadas por um público que prefere ignorar as falhas de seus ídolos masculinos.

Seungri e o escândalo do Burning Sun
O caso de Seungri, ex-Big Bang, é um dos mais revoltantes da história do K-pop. Em 2019, foi revelado que ele estava envolvido no Burning Sun, um clube que servia como fachada para tráfico de mulheres, agressão sexual e corrupção policial. Seungri ajudava a intermediar encontros com prostitutas para investidores estrangeiros e encobria crimes ocorridos no local.
Apesar da gravidade do escândalo, ele foi condenado a apenas 18 meses de prisão e já está livre. Mais chocante ainda, muitos fãs continuam a pedir seu retorno à indústria, como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, cantoras e atrizes são canceladas e perseguidas.

Jung Joon-young e a sala do Telegram
Outro caso chocante foi o de Jung Joon-young, cantor e ex-astro de reality shows. Em 2019, ele foi preso por gravar e compartilhar vídeos de mulheres sendo abusadas sexualmente. Junto com ele, estavam outros artistas e empresários, incluindo Choi Jong-hoon, ex-integrante do F.T. Island.
Jung Joon-young foi condenado a seis anos de prisão, e Choi Jong-hoon recebeu uma pena menor. Mas, mesmo com provas concretas e testemunhos devastadores, ainda há fãs que minimizam suas ações e clamam pelo seu retorno.

Kim Seon-ho e o aborto forçado
Em 2021, Kim Seon-ho foi acusado por sua ex-namorada de manipulação emocional e de pressioná-la a fazer um aborto com promessas falsas de casamento. No início, ele perdeu contratos e foi afastado de alguns projetos, mas sua redenção veio rapidamente. Em menos de um ano, já estava de volta à televisão com grandes produções, enquanto sua ex-parceira seguiu sendo atacada e ridicularizada pelo público.

Mulheres perdem tudo — e, às vezes, até a vida
Enquanto homens continuam a ter espaço mesmo após acusações seríssimas, as mulheres enfrentam uma realidade cruel: qualquer deslize pode custar suas carreiras. E, em alguns casos, a própria vida.
Sulli, do f(x) e Goo Hara, do KARA — perseguidas até o fim
A misoginia enraizada na indústria teve consequências fatais para Sulli, ex-integrante do f(x), e Goo Hara, ex-KARA. Ambas enfrentaram perseguições cruéis da mídia e do público, resultando em tragédias irreversíveis.
- Sulli foi vítima de cyberbullying extremo por apoiar o feminismo e desafiar padrões conservadores, como postar fotos sem sutiã. Em 2019, tirou a própria vida após anos de ataques constantes.
- Goo Hara foi chantageada por um ex-namorado que vazou vídeos íntimos seus. Mesmo sendo a vítima, ela foi mais atacada do que o agressor. Após sua morte, o ex-namorado recebeu uma pena irrisória, mostrando a desigualdade de tratamento na Justiça coreana.

Por que os fãs continuam passando pano para homens problemáticos?
É assustador ver como muitas fãs brasileiras — especialmente as que se autointitulam dorameiras — estão passando pano para comportamentos inaceitáveis em qualquer língua e país. Se um ator é bonito e faz um papel romântico em um drama, parece que todas as denúncias contra ele se tornam irrelevantes para uma parte do público.
É hora de exigir responsabilidade!
O caso recente de Kim Soo-hyun reforça um padrão perigoso: homens na indústria do entretenimento coreano continuam a ser protegidos, mesmo quando enfrentam acusações gravíssimas, enquanto mulheres são canceladas.
Já passou da hora de exigir punições proporcionais e justas para todos os envolvidos em crimes e escândalos, independentemente do gênero. Passar pano para abusadores e criminosos apenas perpetua um sistema que favorece a impunidade e prejudica ainda mais as vítimas.
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Texto revisado por Cristiane Amarante