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Resenha | Um Crush para o Natal: um clichê romântico nada romântico

Um Crush para o Natal é o primeiro filme gay natalino no catálogo da Netflix e é uma graça 

Um Crush para o Natal é a nova estreia natalina da Netflix, e dessa vez a aposta é sobre um casal gay, o que o torna o primeiro filme de romance gay de natal. Mas a produção não é apenas isso! A narrativa é um clichê romântico que consegue fugir do clichê sobre casais gays.

Contando a história do Peter (Michael Urie), a trama fala sobre como ele sempre está sozinho, especialmente no natal, e como isso deixa a sua família preocupada de que ele passe o resto da vida sem um amor. Mas nesse natal era para ser diferente, porque ele tinha um namorado.

Seu melhor amigo, Nick (Philemon Chambers), pega seu namorado na mentira e conta ao Peter sobre isso, o que cancela os planos de casal feliz nas festas de natal, e meio desesperado para que sua família o deixe em paz, Peter pede ao Nick para fingir ser seu namorado durante o natal.

Parece um plano terrível, e de fato é, mas tudo corre de uma forma surpreendente e a gente ri e se apaixona por eles dois, além de se apaixonar pela família do Peter.

Um clichê romântico

Foto: divulgação

Como dá para imaginar, Um Crush para o Natal usa do clichê do casal para as festas de fim de ano para nos apresentar um casal irresistível, e funciona. Peter e Nick são feitos um para o outro e desde o começo do filme a gente se apaixona pela química deles, por sua amizade e seu companheirismo, e rezamos para que eles percebam o quanto se amam.

O fato de eles morarem juntos em Los Angeles, dividindo as contas enquanto tentam encontrar um amor para si mesmos, só deixa tudo ainda mais interessante!

A proposta do namoro de mentira é velha, a gente já faz as contas de quantos erros isso pode causar, mas na verdade as coisas tomam um rumo surpreendente e o plano que torna outros filmes geniais e incríveis (como A Proposta e Um Match Surpresa), nesse se torna apenas fofo e inesperado. 

Um não clichê gay

Foto: divulgação

Quando pensamos em produções LGBTQIA+, pensamos em complicações familiares e complexos sociais. Assim como pensamos em melhores amigas mulheres na equação e em como vai ter drama sobre sexualidade, mas não em Um Crush para o Natal.

A família do Peter é carinhosa, amiga e o apoia, e passam todo o tempo desejando que ele se case e seja feliz com a pessoa que escolher para si. Suas irmãs o apoiam, seus sobrinhos crianças entendem a homossexualidade com naturalidade (ainda bem), seus cunhados realmente gostam dele, seu pai conspira a favor dele e Nick, sua mãe tenta a todo custo o unir a alguém e suas sobrinhas adolescentes são os cupidos perfeitos para o tio que tanto amam. Existe uma cumplicidade amorosa na relação familiar, não temos que lidar com a dor de homofobia em cena e podemos nos divertir com cenas fofas e engraçadas sem querer chorar por medo, dor e preocupação.

As amizades também são exclusivamente gays, o que torna o filme ainda mais diferenciado em uma realidade na cultura pop, já que os amigos gays são sempre segunda trama ou, se são responsáveis pelo protagonismo, sempre existem em um universo feminino.

Existe muita leveza na trama, e o nosso sonho de relações homoafetivas naturalizadas e abraçadas é atendido, e isso nos faz ver uma luz no fim do túnel e a possibilidade de não ter mais tanto preconceito em famílias heteronormativas

Todo o resto

Foto: divulgação

A gente ama um clichê e já deixamos claro que isso tem de sobra, mas também temos uma entrega maior do que essa em cena.

Com uma química linda, Peter e Nick formam um par apaixonante e querido, e ficamos esperando por mais e mais cenas entre eles, desejando que sintam aquela química toda que nós estamos vendo do outro lado da tela.

A dinâmica familiar também convence, reunindo um elenco inesperado como Kathy Najimy, Barry Bostwick, Jennifer Coolidge e Jennifer Robertson. Quem imaginaria que carreiras tão distintas se encontrariam em uma comédia romântica tão clichê? Menos pela Jennifer Coolidge, claro, porque ela é a rainha coadjuvante de comédias românticas.

Os cenários também são incríveis, apesar da simplicidade que aparentam. A casa da família de Peter é aconchegante, o pequeno teatro local é charmoso e as ruas são uma graça à parte, que apesar de serem pouco exploradas pelo roteiro, abraçam nossos corações carentes de paisagens de cidades pequenas.

O final é delicado, e segue uma estrutura leve e graciosa, sem escândalos sobre o casal: esse é um filme sem dramas, o que já é mais do que suficiente para nos conquistar. Nada de triângulo amoroso (só é triângulo se existem chances de amor com a segunda opção), nada de relacionamento frustrado que devastou o protagonista e nada de indecisão permanente entre o casal. Só é lindo e suave!

Passar a época do natal com um filme tão bom é de encher os olhos.

Agora que você já sabe a nossa opinião sobre esse filme tão lindo, vem contar pra gente as suas impressões sobre ele também! Estamos esperando por você nas redes sociais:  Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Latinizei | Victoria Santa Cruz: Cumanana e Me Gritaron Negra, a pele da preta no feminismo

Victoria Santa Cruz foi uma figura de destaque em vários cenários da cultura e fez história no feminismo preto, além de escrever Me Gritaron Negra

O Latinizei de hoje traz para o centro dos holofotes a figura imperiosa de Victoria Santa Cruz, uma mulher preta, nascida e criada no Peru, e responsável por abalar toda uma cena cultural e reconhecida pelo seu cabelo black power que exibia como uma coroa.

Victoria Santa Cruz foi poeta, estilista, coreógrafa e folclorista, ativista dos direitos femininos e forte na luta pelos direitos de igualdade racial e educação. Ela também é a primeira peruana da nossa lista no Latinizei, e como responsável por abrir as portas desse país tão histórico, chega ao quadro quebrando tudo que se pode esperar de uma mulher latina, e conquista espaço em nossos corações.

Partiu conversar sobre esse ícone peruano!

Arte que vem de berço

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Victoria Eugenia Santa Cruz Gamarra nasceu em La Victoria, em Lima, no Peru, no dia 27 de outubro de 1922. Vindo de família artista, com pai dramaturgo e mãe dançarina, conhecida de forma artística como Victoria Santa Cruz, a latina de hoje encontrou seu lugar de fala também nas artes e muito cedo conheceu os palcos pelo olhar da família e pelo seu próprio.

Além de seus pais, sua família moldou – por gerações e gerações -, a visão da cultura afroperuana, reunindo membros da família que atuavam como poetas, pintores e músicos.

O avô materno de Victoria Santa Cruz era um ator famoso, e sua mãe conseguiu reconhecimento como dançarina de marinera, uma dança típica do Peru, que reúne origens africanas, indígenas e espanholas. Foi nessa época que Victoria começou a apreciar a dança, e passou a ver na arte do movimento do corpo uma forma de liberdade e expressão social, em especial para as culturas africanas, que sempre foram marginalizadas e feridas pelos pensamentos colonizadores.

O trauma causado na infância, quando uma menina branca se recusou a brincar com ela, empurrou Victoria Santa Cruz ainda mais para o cenário artístico e cultural, e foi nessa fase que ela buscou inspiração para seu poema mais famoso, do qual vamos falar logo mais. Mas vale lembrar que foi na sua infância que Victoria começou a se enxergar como um corpo destoante de seu grupo de amigos, e isso a puxou para as matrizes de sua pele, além de estimular nela o conceito e o entendimento de uma solidão exclusiva de mulheres pretas, que nem sempre é no sentido romântico.

Cumanana

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No ano de 1958, Victoria Santa Cruz se uniu ao irmão mais novo, Nicomedes Santa Cruz, e formou o grupo de teatro Cumanana.

A companhia foi a primeira de teatro negro no Peru, e tinha como foco principal (em seus primeiros anos) a recuperação do repertório cultural de culturas africanas. A ideia era dar espaço para a comunidade preta e jovem um lugar onde encontrar sua ancestralidade e suas raízes, onde pudessem se expressar de forma livre por meio do  teatro e revitalizar a cultura preta.

O Peru também foi um país marcado pela escravidão preta, por colonização exploratória (no caso deles pela Espanha) e pela desumanização e afastamento dos povos africanos de suas origens, então os irmãos Santa Cruz se voltaram contra o padrão branco e lutaram contra a desigualdade social e cultural, mas era Victoria quem mais se destacava entre os dois.

Defensora ferrenha da necessidade de espaços que elevassem a autoestima negra, Victoria Santa Cruz ensinava sobre a experiência de ser preta no Peru. Além de reforçar a capacidade feminina em espaços de liderança e se destacar como uma das primeiras mulheres pretas latino-americanas a focar em seus conhecimentos em tantas áreas diferentes que se complementavam.

Aliás, vamos ressaltar que o nome Cumanana não foi uma escolha aleatória. Esse é nome de um tipo de música originário do Peru, e em 2004 o estilo musical Cumanana foi declarado como patrimônio cultural da nação, o que apenas reforça que escolher esse nome para a companhia de teatro era uma premonição da importância que o país veria futuramente nesse estilo tão pessoal de criar arte.

Paris e Peru

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Depois do grande sucesso que a sua companhia de teatro alcançou, Victoria Santa Cruz conseguiu uma bolsa de estudos para ir à França, aprender design de figurino e direção coreográfica em Paris, para passar adiante os seus conhecimentos e enriquecer mais a cultura local.

Voltando quase no fim dos anos 1960, Victoria se estabeleceu na capital peruana de vez e voltou a se reunir com parte do elenco original do grupo Cumanana, então formou o grupo Teatro y Danzas Negras del Perú (por volta de 1967, mais especificamente), focada em unir apenas pessoas pretas, tal como seu primeiro projeto teatral.

A única exigência de Victoria Santa Cruz era que seus alunos/companheiros de elenco tivessem ritmo refinado, que fossem capazes de acompanhar sua batuta e que seguissem assim, amando essa arte.

A ideia era usar a arte como um meio de comunicação, e cantar, dançar e tocar eram um rio limpo e fluido para Victoria Santa Cruz, e ela queria seguir nadando nessas águas, e junto consigo queria levar histórias e corpos pretos, e femininos.

“Ao transformar o que se faz e se transformar junto, o artesão se torna um artesão, preparando seu caminho e, longe de ficar preso na forma, o que é apenas um meio, conseguirá adquirir o nível de consciência que transforma – e preserva -, no homem de conhecimento, o artista”, era o que afirmava sobre seus métodos de ensino.

Ativista preta 

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Victoria Santa Cruz usava o espaço da sua companhia de teatro para ensinar seus alunos não só arte como cultura africana, além de reforçar que corpos e consciências pretas deveriam se unir em um só ser, unificando a história da África dentro do conceito peruano.

“O negro, para encontrar um lugar, precisa ter consciência de como ser útil para si e para a sociedade. Deve conhecer seu próprio valor como ser humano, com direitos e deveres que lhe convém por ter nascido assim. Para se achar, a arte é o meio mais correto, foi o que Victoria afirmou sobre sua forma de passar o entendimento artístico dentro da cena preta local.

Foi, então, entre os anos 1973 e 1982, que Victoria Santa Cruz assumiu a direção do Conjunto Nacional de Folklore, tomando partido no desenvolvimento de pesquisas e direção de repertórios folclóricos, unindo danças tradicionais e cultura africana em projetos lindos, o que carregou o nome da nova companhia que dirigia, e o seu próprio, para o mundo. 

Nessa experiência, Victoria Santa Cruz viajou por todo o Peru, reunindo nomes de mestres da cultura tradicional de seu povo, para transformar músicas e danças africanas em algo mais, de acordo com cada território porque passou.

Escritora e poeta

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Victoria Santa Cruz colecionou prêmios e convites para trabalhos únicos, fez parte de diversas companhias de teatro e de dança e trabalhou ao lado de Peter Brook, o famoso diretor de teatro.

Isso tudo a levou para os Estados Unidos, onde trabalhou como professora catedrática na Universidade Carnegie Mellon entre 1982 e 1999. Por lá ela aumentou seu repertório e treinou ainda mais seu método de ritmo, e uniu todas essas experiências e reflexões sobre arte no livro Ritmo: el eterno organizador.

Apesar de ser pouco reconhecida, a obra é forte e empodera raciocínios culturais sobre a origem preta, aumenta o interesse pela vivência latino-americana de Victoria como mulher preta e estabelece conceitos sobre a arte.

Mas essa não tinha sido a primeira experiência de Victoria Santa Cruz com a arte da escrita!

Autora do poema Me Gritaron Negra, Victoria Santa Cruz expõe o racismo e a descoberta da pele retinta em uma sociedade feita para agradar e abraçar corpos brancos e masculinos.

O poema relata uma experiência traumática vivida por Victoria Santa Cruz ainda na infância, quando uma colega a acusou de ser preta, e como isso a fez notar o impacto da sua ancestralidade africana. Os versos criticam, de forma até um pouco violenta, as questões sociais e políticas que afugentam e excluem os povos pretos na América Latina, especialmente se forem corpos femininos.

Esse poema é visceral, e fala muito sobre a Victoria criança, que sentiu o peso do mundo nas costas, mas com a experiência da dor racista de uma Victoria já adulta, e faz muito mais sentido ser lembrado como um momento da sua maturidade do que da sua infância traumatizada por um país colonizado e desumano.

Na história

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Victoria Santa Cruz resiste como parte de uma cultura latina que é esquecida e abandonada, e prova que existe mais na força feminina latino-americana do que se pode imaginar a princípio.

Em 2014, depois de uma vida inteira dedicada ao estudo dos corpos e da dança,  de muito ativismo em prol dos povos pretos e da cultura afroperuana, Victoria Santa Cruz faleceu, no dia 30 de agosto por problemas de saúde vindos da idade avançada. Ela tinha 91 anos e já de volta dos Estados Unidos, morava na capital peruana, e vivia longe das grandes demonstrações públicas de arte.

Seu nome resiste como porta voz de mulheres pretas e latino-americanas, como um símbolo de força e conquistas, muito pelo seu ativismo em relação a sua cultura e ao seu sexo, afinal, Victoria Santa Cruz era orgulhosa de ser mulher e se garantia como força e destaque onde quer que estivesse, mesmo ainda na sua juventude.

Tentar resgatar a memória e a biografia desse ícone ainda é um trabalho em processo e merece toda a atenção do mundo, além da óbvia urgência. Deixar que sua história se apague, é como deixar toda uma cultura morrer lentamente.

 Agora que já te contamos um pouco mais sobre esse símbolo de força feminina, preta e latina, queremos saber se você já tinha ouvido falar sobre Victoria Santa Cruz. Vamos conversar nas nossas redes sociais: Twitter, Insta e Face. E acompanhe tudo sobre o universo do entretenimento!.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Entretenimento Música Notícias

MPB Espírita: novo EP de Erick Roza conta com participação de Marcelo Souza

Cantor Erick Roza lança EP chamado MPB Espírita e grava parceria com o pai, o ex-Polegar Marcelo Souza

Erick Roza lançou seu novo EP, intitulado MPB Espírita, nas plataformas digitais e dá preferência para canções com sentimentos e mensagens boas e encorajadoras. Marcelo Souza, ex-Polegar, faz participação na faixa Senhor, Senhor! do filho, também cantor, Erick Roza. Como integrante de um dos maiores fenômenos musicais dos anos 80 e 90 ‒ o grupo Polegar ‒, Marcelo Souza trilhou espaço para uma das vozes mais notáveis do cenário pop atual, já que compartilha com o filho o amor pela música.

Foto: divulgação/Júlia Diniz

Rick Roza conta com mais de 319 mil ouvintes mensais no Spotify e coleciona músicas inspiradoras e delicadas, como Duas Metades (presente no novo EP) e o single Sensível Demais, com participação de Jorge Vercillo.

O nome do EP vem da crença pessoal de Erick, que pratica o espiritismo e incentiva jovens a seguirem o seu caminho, por meio do seu canal no YouTube, o Jovem Espírita.

Eu venho imaginando lançar algo como esse EP desde quando comecei a minha carreira. É algo que venho planejando e projetando há anos, para falar a verdade. É uma grande realização poder finalmente lançar. Ele por inteiro traz aquilo que sempre carreguei dentro de mim. Busco sempre trazer aquilo que eu acredito no espiritismo para as minhas músicas. O processo de criação desse projeto foi escolher exatamente faixas que conversassem exatamente com aquilo que eu acredito dentro da doutrina. Lançar esse EP está sendo uma das grandes realizações da minha carreira”, afirma Erick.

Foto: divulgação/Beatriz Person

Corre no Spotify, ouça as músicas de Erick Roza e vem contar pra gente se você também amou as faixas do paulista. Estamos te esperando nas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação/Beatriz Person

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Cinema Entretenimento Resenhas

Resenha | Shiva Baby: o efeito do caos e a revolta de ser impotente

Shiva Baby é um filme sobre o impacto de se viver o caos e gera estranhamento e sensação de impotência

Shiva Baby está disponível no MUBI e fala sobre uma universitária chamada Danielle (Rachel Sennott), que tem usado de suas próprias formas para conseguir dinheiro e viver uma vida o mais independente possível dos pais.

Em um dia em que ela está com seu parceiro, sua mãe telefona para chamá-la para um shivá, que é o período de sete dias de luto que os judeus mantêm quando perdem um ente querido. Nesse shivá em especial, Danielle tem que passar um dia inteiro em uma casa com os pais complexos, a ex-namorada da escola, o novo parceiro (que é casado, e isso nem é spoiler) e muitas senhoras dispostas a opinar sobre seu corpo e seus hábitos.

O filme passa por emoções variadas e consome pouco mais de uma hora de nosso tempo, explanando a sensação de caos.

Caos, caos e caos

Foto: divulgação

Se tem uma coisa que Shiva Baby faz bem é explorar o caos. Muito além da visão de caos que o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum), de Jurassic Park (1993), consideraria uma curiosidade dos efeitos do caos, a diretora Emma Seligman aprofundou o impacto dessa questão na pele de Danielle.

Com uma relação já caótica com os pais, que se dividem entre um pai distraído e inocentemente inconveniente e uma mãe implicante e perfeccionista, Danielle ainda acaba descobrindo que o homem com quem se relaciona é casado e tem uma filha pequena que nunca para de chorar. E se isso já não fosse o suficiente, a ex-namorada de Danielle também está no shivá e tudo vai crescendo mais e mais com cada pequena interação dos personagens.

Trabalhando o efeito do caos com bastante cuidado e perfeição, a narrativa se complica a cada segundo e ficamos com os nervos tensos a cada nova cena. A direção de fotografia também usa de cores mais quentes em momentos de desespero emocional de Danielle, com luzes mais fortes ou focos mais fechados, causando certa claustrofobia emocional.

Socialmente falando

Foto: divulgação

Shiva Baby tem representatividade, e não é pouca. Com uma protagonista judia, bissexual, vegetariana e feminista, os assuntos de debate nunca terminam.

Danielle é o tipo de protagonista irresistível e, apesar de ser uma trama que causa estranhamento e certo incômodo, ficamos com os olhos presos nas ações dela para os próximos momentos.

A parte curiosa da história é que a protagonista quase não tem tempo para falar, mas existe um grande debate ao redor da imagem dela, e coisas como sua bissexualidade são debatidas de forma aberta na família, como se isso fosse apenas uma fase, e isso causa a sensação de toda uma sociedade doente por um sistema heteronormativo.

O filme tem classificação indicativa para maiores de 16 anos, e por isso usa esse espaço de diálogo com o público jovem para acolher e abraçar narrativas que fazem todo o sentido com a sociedade de agora, usando pontes delicadas e sutis. A estreia de Emma Seligman é irresistível só por tomar o cuidado de debater esse tipo de assunto dentro do universo judaico, já que essa discussão quase não acontece no grande círculo social que tem religiões menos tradicionais e ortodoxas.

Temos uma Coppola!

Foto: divulgação

A direção feminina ainda é um debate que Hollywood não está completamente pronta para ter, mas Sofia Coppola foi uma das primeiras mulheres a girar essa roda da fortuna e ter grande destaque. E podemos esperar o mesmo de Emma Seligman.

Vamos repetir para ficar gravado: Shiva Baby é uma estreia irresistível! E como tal, catapulta a diretora para o patamar de diretoras como Sofia Coppola e Greta Gerwing.

Seligman tem uma delicadeza incrível e brinca com as cenas de tédio tal como Sofia Coppola, usando da inércia em diversos momentos, para, então, empurrar o público para momentos desesperadores – tal como Coppola fez muito bem em Maria Antonieta e Gerwing tem feito em seus filmes.

Colocar uma protagonista feminina no centro de uma narrativa tão intensa, e de forma anônima (afinal, Danielle não é uma rainha francesa ou uma personagem de um livro da época da Guerra de Secessão), já diz muito sobre o que podemos esperar de futuras produções da diretora.

No fim das contas, a gente adora um bom filme feito por mulheres, sobre mulheres e para mulheres. As narrativas femininas se conectam e aprendemos mais sobre nós do que sobre Danielle e seu convívio familiar e social.

Agora vamos conversar mais sobre esse tipo de filme! Quais outras mulheres você curte na direção de filmes? Vamos conversar lá nas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Dia Internacional das Pessoas com Deficiência: infinitos filmes que não te deixam esquecer da data

Hoje, dia 3 de dezembro, comemoramos o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, e para celebrar essas histórias incríveis, reunimos algumas produções para aquecer o seu coração

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é comemorado no dia 3 de dezembro, e nos últimos anos temos sentido que a lembrança da celebração sai da bolha de realidade de quem enfrenta esse preconceito todos os dias e fica mais forte (ainda bem!), entre a sociedade de um modo geral.

Na esperança de lembrarmos dessas histórias tão importantes, e que são quase sempre esquecidas nas grandes produções, reunimos uma coleção imperdível de títulos que merecem a sua atenção nesta data – e depois dela também.

Procurando Nemo (2003)

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Começando de forma bem leve, vamos falar sobre Procurando Nemo, que é uma animação da Pixar e tem uma narrativa linda de amor incondicional, maturidade e aceitação, além de falar sobre luto de forma cuidadosa para as crianças.

No longa, Marlin é um pai superprotetor que está tentando soltar as rédeas com o único filho, Nemo. A condição de medo de Marlin se deve ao fato de Nemo ser o único sobrevivente entre seus filhos, que sofreram com o sistema de cadeia alimentar e foram comidos por um tubarão, junto com a mãe, antes mesmo de saírem de seus ovinhos.

Sobreviver deixou Nemo com uma barbatana menor do que a outra, mas não tirou dele sua força de vontade e espírito aventureiro, mas seu pai não entende isso. Quando Nemo é sequestrado por mergulhadores e levado para o mundo da superfície, Marlin embarca no mar aberto para encontrar o filho e trazê-lo de volta.

Com uma narrativa linda, muitas reflexões importantes e debates familiares, Procurando Nemo dá espaço e representatividade para pessoas com deficiência, e ensina as crianças sobre inclusão e capacidade. Além de ser colorido e instrutivo sobre o fundo do mar.

Procurando Dory (2016)

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Não podemos falar sobre Procurando Nemo e não falar sobre Dory, a peixinha azul que sofre de perda de memória recente e que se torna amiga de Marlin durante sua busca por Nemo. E anos depois do lançamento de Procurando Nemo, finalmente vimos a vida de Dory ganhar espaço – em uma narrativa tão comovente quanto a de Nemo e Marlin.

Em Procurando Dory, a peixinha se perde da sua nova casa (o coral que Marlin e Nemo moram) e vai em alto mar até um aquário local.

Nesse novo cenário, Dory reencontra seus pais e conhece novos personagens, além de aprender mais sobre o seu processo pessoal sobre sua deficiência.

No longa, além de conhecermos mais sobre Dory, descobrimos a existência de Destiny, a tubarão-baleia que tem problemas com o seu nado, e Bailey, um adorável baleia beluga que tem problemas com seu sonar biológico (que é a forma de comunicação dessa espécie).

A representatividade do filme aborda temas que podem ser interpretados como cerebrais (pela perda de memória recente da Dory), auditivos (como Bailey) e físicos de coordenação motora e equilíbrio (Destiny provavelmente tem diagnóstico de paralisia cerebral).

O Estranho Mundo de Jack (1993)

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Vamos seguir o fluxo de falar sobre animações e comentar sobre O Estranho Mundo de Jack, que segue sendo mencionado aqui no Entretetizei como um filme perfeito. A direção de Henry Selick, somado ao roteiro de Tim Burton, rendeu um filme cheio de reflexões e representatividades (e quem sabe a gente não fala sobre isso logo mais por aqui?), incluindo as pessoas com deficiência.

Sally, a adorável paixonite de Jack, é uma boneca meio Frankenstein feita de retalhos de tecido, e foi construída pelo dr. Finklestein, um gênio da ciência e um cadeirante.

A representação de pessoas com deficiência no papel do único personagem realmente inteligente é um ponto de partida para lembrar o público, estruturalmente capacitista, que ter uma deficiência não quer que a pessoa seja incapaz ou frágil. É um tapa na cara de quem tem preconceito com pessoas com deficiência. A delicadeza dessa representação é linda!

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

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E para seguir com tema representatividade delicada, decidimos falar sobre O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que se diverte com as representações de pessoas com deficiência, e logicamente não poderia ficar de fora da nossa lista.

O filme francês conta sobre Amélie (Audrey Tautou), uma mulher que ama as pequenas delicadezas da vida e que se diverte observando os detalhes das coisas ao seu redor, sempre notando tudo com um olhar mágico e amoroso. E como tal, Amélie ama a ideia de viver uma vida ajudando as pessoas e melhorando seus dias.

Com um roteiro tão apaixonante e detalhista, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain dá um show de representações de pessoas com deficiência, como madame Suzanne (Claire Maurier), a chefe de Amélie, que sofreu um acidente envolvendo um cavalo e se tornou uma pessoa com dificuldade de mobilidade. Ou o sr. Dufayel (Serge Merlin), seu vizinho idoso e rabugento que tem um diagnóstico de ossos de vidro. O jovem Lucien (Jamel Debbouze), ajudante da mercearia da rua de Amélie, que nasceu sem um braço e demonstra em cena como a acessibilidade é importante. E ainda temos um personagem passageiro na tela, que tem deficiência visual e é o primeiro que Amélie ajuda na trama. É um espetáculo de representações!

Margarita com Canudinho (2014)

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Narrativas delicadas e que debatem bem histórias de representatividade são mais e mais frequentes nos dias de hoje, e como tal temos o tocante Margarita com Canudinho, que fala sobre uma menina diagnosticada com paralisia cerebral e que tem vários tipos de limitações sociais por culpa de espaços que não são inclusivos. No entanto, ela passa por cima de todos os preconceitos clichês e consegue uma namorada, faz intercâmbio e faz faculdade.

A história conversa com o público sobre paralisia cerebral e deficiência visual (a namorada da protagonista é deficiente visual), mas também usa seu espaço para debater sobre feminismo, luto, amadurecimento e bissexualidade. E tudo isso acontecendo entre a Índia (olha mais uma representação aqui!) e os EUA.

Assistimos e nos emocionamos, e desejamos tudo de melhor para a protagonista Laila, interpretada de forma genial por Kalki Koechlin. E também precisamos falar que a direção do filme é feminina, e ficou nas mãos de Shonali Bose, o que reforça ainda mais o espaço feminino na direção de bons filmes, e a gente ama!

Edward Mãos de Tesoura (1990)

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A gente segue a lista falando sobre jovens com deficiência, e ainda traz Tim Burton de volta, porque se tem uma coisa que esse homem ama fazer é falar sobre representação de pessoas esquecidas pelo grande público. E Edward Mãos de Tesoura talvez seja seu maior exemplo nesse sentido.

Todo mundo já conhece a história do pobre Edward (Johnny Depp), um jovem meio Frankenstein (Tim Burton ama essa ideia!) que estava quase pronto quando seu inventor faleceu. A única coisa que Edward não tem e que o deixou permanentemente diferente das outras pessoas da cidade onde mora foram suas mãos, que ficaram como eternas tesouras, já que no dia em que ele ganharia suas mãos seu criador faleceu.

Com uma narrativa linda sobre falta de acessibilidade, superação e perdas, Edward Mãos de Tesoura une a representatividade e a maldade social que se forma ao redor de pessoas inocentes, além de questionar o público sobre o raciocínio antiquado de que crianças com deficiência não podem viver em sociedade e devem ser excluídas e afastadas do mundo.

Edward se mostra uma pessoa inteligente e observadora, além de sensível, e faz quem assiste lembrar que o amor não liga para corpos considerados perfeitos. Winona Ryder brilhou ao assumir o papel da mocinha apaixonada e inclusiva!

Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993)

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Já que mencionamos Johnny Depp como uma pessoa com deficiência agorinha, vamos partir para o filme em que ele se tornou o guardião legal de um jovem com deficiência, e ainda mantemos o tema no cenário juvenil.

Gilbert Grape é o irmão mais velho do jovem Arnie (Leonardo DiCaprio), que foi diagnosticado com autismo e passa todo o seu tempo em cena dando um show de atuação.

A discussão do filme segue sobre maturidade e responsabilidades, além de falar sobre família, amor e inclusão de crianças com deficiência em um cenário interiorano e solitário. Também fala sobre a solidão das pessoas com deficiência e de como elas podem ser esquecidas e inferiorizadas, além de mal compreendidas, por todos os círculos sociais, incluindo suas famílias.

Com atuações impecáveis (DiCaprio merecia um Oscar por esse filme!) e um roteiro que nos tira lágrimas, Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador fala sobre espaços e vozes silenciadas, e relembra ao público aquelas narrativas que Hollywood gosta de ignorar.

O Corcunda de Notre Dame (1996)

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Adaptação do livro homônimo, escrito por Victor Hugo, O Corcunda de Notre Dame recobra uma infância de filmes da Disney e nos lembra que a representatividade foi tão forte já na nossa primeira infância, que ser uma geração questionadora e inclusiva era inevitável.

Quasimodo é um jovem com deficiência, que tem uma enorme corcunda e ainda é descrito com algum tipo de deficiência no rosto, que não sabemos qual é, mas que o torna um monstro aos olhos de pessoas preconceituosas. Por causa disso, Frollo, um dos líderes locais, acaba levando Quasimodo ainda bebê para a catedral de Notre Dame, e lá o deixa viver entre as torres, longe do mundo, das pessoas e apenas na companhia de gárgulas e sinos.

Debatendo também a representatividade cigana e a perseguição racial, O Corcunda de Notre Dame é um filme delicado e sensível, perfeito para explicar sobre inclusão para crianças, além de promover a igualdade e abraçar todos os corpos e narrativas.

Extraordinário (2017)

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Ainda no tema de crianças com deficiência e de discussões sobre isso com o público infantil, temos o maravilhoso Extraordinário.

Além de reunir um elenco imperdível, como Julia Roberts e Jacob Tremblay, o filme adapta a história do livro de mesmo nome, escrito por R.J. Palacio. Extraordinário prova que tem tudo a ver com o título que lhe foi dado e conta a história de Auggie, um menino que nasceu com uma doença rara que o faz ter um rosto diferente do comum, o que causa estranhamento inicial nas pessoas ao seu redor.

Falando sobre amizade, inclusão, adaptação e superação, a história ensina as crianças que tudo é uma questão de aprendizado e que a inclusão deve ser ensinada na infância, e que preconceitos são mesmo um problema social, mas podemos vencer essa barreira ensinando as novas gerações sobre vozes e corpos diferentes, além de espaço e igualdade.

Os Fantasmas de Scrooge (2009)

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Crianças com deficiência e natal são uma junção que Tim Burton ama, mas também comove o impecável Jim Carrey, sem dúvidas. O ator estrelou a adaptação mais recente de Os Fantasmas de Scrooge, conto de natal escrito por Charles Dickens.

Se você ainda não conhece a história, a gente te conta!

Scrooge é um senhor avarento e ranzinza, que só quer saber de fazer contas e acumular fortuna, enquanto ignora e repudia o espírito de natal e se recusa a participar das alegrias das pessoas ao seu redor, mas tudo muda quando seu ex-sócio volta em espírito para lhe mostrar como a vida das pessoas pode ser mágica nessa época do ano.

O velho Scrooge aprende sobre traumas de infância, relembra dores sofridas nessa época do ano e entende que riquezas de verdade são pessoas e sentimentos. E com uma representatividade linda, temos o pequeno Tiny, que tem uma deficiência em sua perna e sérios problemas de saúde, além de viver em uma casa muito humilde e não ter recursos para cuidar da saúde.

Star Wars (1977 – 2019)

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Vamos falar mais sobre Extraordinário?! A história preferida de Auggie é Star Wars, e provavelmente essa não foi uma escolha aleatória da autora, já que a série de filmes aborda o tema de pessoas com deficiência com grande representatividade.

Apesar de a Disney ter adquirido os direitos da franquia e ter explorado melhor o tema de pessoas com deficiência, os filmes originais, idealizados por George Lucas, já tinham falado sobre isso em 1977.

Darth Vader é um ícone da cultura pop e também é uma pessoa com deficiência. Com dificuldades de falar e respiração, obrigado a viver sob uma máscara protetora e completamente impedido de mostrar aos mundos sua face cheia de queimaduras (ainda mais complicadas que as de Clarice Lispector).

Além de Darth Vader, também temos a presença de Luke Skywalker (Mark Hamill), que perde uma de suas mãos em um dos filmes e então ganha uma prótese robótica. E mesmo a gente vendo que Darth Vader só se tornou uma pessoa deficiente por ter seguido o lado errado da força, temos uma representatividade descarada e muito bem-vinda, ainda mais quando somada a perda da mão de Luke.

Aliás, menção honrosa ao Rabicho (Timothy Spall), da série de livros e filmes de Harry Potter, porque ele perde uma mão também, e então recebe uma prótese. A gente carece de respeito da autora por igualdade de gêneros por parte da J.K. Rowling, mas recebe representatividade de pessoas com deficiência… Vai entender essa galera preconceituosa! Talvez a Hermione tenha mesmo escrito os livros.

Quatro Casamentos e Um Funeral (1994)

Foto: divulgação

E para fechar a nossa (não tão) pequena lista de filmes infinitos, escolhemos escrever sobre uma comédia romântica irresistível.

Quatro Casamentos e Um Funeral conta sobre o casal formado pelo inglês Charles (Hugh Grant) e a estadunidense Carrie (Andie MacDowell). O filme segue contando sobre como eles se conhecem, se envolvem e se apaixonam, e explora relações, sentimentos conflituosos, medos e desejos de matrimônio e responsabilidade emocional.

E também fala sobre representatividade de pessoas com deficiência.

O irmão de Charles é deficiente auditivo, e o filme cuida para deixar claro que isso não o impede de encontrar o amor, e o faz se casar antes mesmo que o próprio irmão, o que é ainda mais delicado e apaixonante.

Irresistível, delicado e significativo, Quatro Casamentos e Um Funeral demonstra inclusão e respeito para as pessoas com deficiência, e nos faz chorar e suspirar no meio do caminho, então a gente ama.

A gente sabe que existem milhares de outros filmes que falam sobre esse tema e que não mencionamos aqui, então a gente quer testar a sua memória, e para isso te esperamos lá nas redes sociais – Twitter, Insta e Face – para falar mais sobre esse tema.

Dica: tem um com o Adam Sandler e mais um com o Hugh Grant!

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Cinema Entretenimento

Encanto: todos os motivos para você assistir esse filme e se apaixonar perdidamente

Encanto é o novo filme da Disney e a gente não poderia deixar de te estimular a correr agora para o cinema para assistir a essa maravilhosidade

A gente sabe que Encanto tem sido um tema recorrente aqui, mas nunca vamos parar de exaltar a graça que é ter um filme desses prestigiando a América Latina. E para animar ainda mais o hype do filme, decidimos reunir razões para você querer correr para o cinema mais próximo.

Disney

Foto: divulgação/Disney

A Disney é a marca registrada das nossas infâncias e agora chega aos cinemas com Encanto, 60ª animação do estúdio. O filme segue os altos padrões da Disney, com cores vibrantes, excelência animada e uma história para aquecer o coração.

Este é mais um filme da Disney, e a perfeição em detalhes é garantida!

Mirabel, a protagonista

Foto: divulgação/Disney

Mirabel é uma das primeiras protagonistas do estúdio a sair do padrão europeu, com pele muito clara e corpo magrinho, e ainda traz o acréscimo do óculos de grau. Ter uma protagonista tão perto da nossa realidade latina nos faz conectar instantaneamente com ela, e sentir empatia no mesmo momento que a vemos em cena.

Colômbia!

Foto: divulgação/Disney

A equipe responsável pelo longa veio até a América Latina, passou um tempo na Colômbia, e depois de pesquisar muito sobre a culinária local, os hábitos e as roupas, desenvolveu o filme.

Ou seja: o roteiro está repleto de representatividade latina!

Representatividade preta

Foto: divulgação/Disney

E se vamos falar sobre representatividade Latina, por que não falar sobre a representatividade preta?

Maribel tem parentes pretos de pele retinta e a gente ama essa ideia. Mesmo que o protagonismo não seja deles, já nos animamos com a ideia, afinal, o último filme da Disney a ter personagens pretos foi A Princesa e o Sapo (2009).

Músicas imperdíveis

Foto: divulgação/Disney

Com toda a trilha sonora assinada pelo ator e cantor Lin Manuel Miranda (Hamilton), o filme apresenta muitas músicas para cantarmos juntos, e lógico que tem danças ainda mais especiais.

Aliás, a trilha sonora de Encanto, totalmente em português, já está no Spotify.

Relações familiares

Foto: divulgação/Disney

Estamos em um momento do mundo em que as relações familiares foram testadas de todas as formas possíveis, com a pandemia nos obrigando a ficar em casa e passarmos mais tempo com aquelas pessoas que geralmente víamos só nos fins de semana. Com tantas feridas familiares abertas, Encanto chega aos cinemas para falar sobre amor e união familiar, além de debater sobre todos os tipos de relações.

Nossa família também

Foto: divulgação/Mais Goiás

E se estamos falando de família, temos que reforçar que a família Madrigal é como a nossa, apesar dos seus poderes mágicos.

Entre os familiares de Mirabel, temos o primo que é apaixonado por animais, a irmã bonita, uma avó matriarca e alguém que ainda não encontrou seu ponto forte.

Jornada do herói

Foto: divulgação/Disney

Mirabel tem muitas inseguranças sobre não ter um poder como o resto de sua família, e por si essa sinopse já promete uma linda jornada de autoconhecimento.

Mas muito mais do que isso, Encanto nos apresenta mesmo uma linda jornada do herói, com todas as complicações emocionais que se pode esperar.

Dublagens nacionais

Foto: divulgação/Disney

Encanto conta com a dublagem nacional da atriz e cantora Jeniffer Nascimento como Dolores, do ator Filipe Bragança como Camilo e do cantor sertanejo Felipe Araújo como Mariano. Além disso, Felipe Araújo interpreta a canção dos créditos do filme.

As vozes nacionais também ficam por conta de Mari Evangelista, Márcia Fernandes, Sérgio Rufino, Claudio Galvan, Lara Suleiman, Andrezza Massei, Veridiana Benassi, Larissa Cardoso, Roberto Rocha e Lucas Kumode.

Maluma

Foto: divulgação/Disney

Para quem curte assistir animações em seus idiomas originais, pode apreciar a voz de Maluma em inglês e em espanhol, já que ele dublou em ambos áudios.

É representação latina em cena e em sotaque,  a gente ama, e o nosso perfeccionismo agradece.

Foto: divulgação/Disney

Você acha que a gente esqueceu algum motivo para assistir esse filme? Vem contar pra gente lá nas nossas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação/Disney

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Entretenimento Resenhas

Resenha | Hometown Cha-Cha-Cha: para chorar e amar

Hometown Cha-Cha-Cha é um dos dramas mais populares da Netflix e já tem resenha para aquecer seu coração

Hometown Cha-Cha-Cha tem uma história leve, sobre uma dentista de Seul que abandona a capital e passa a viver em uma cidade litorânea, depois de brigar com sua antiga chefe no consultório em que trabalhava.

Nesse novo lugar, disposta a ser exatamente quem é, a Dentista passa a conviver e conhecer os moradores com mais intimidade, e pouco a pouco vai perdendo seu jeito quieto e sua postura superior, e encontra na nova cidade um lar que não esperava achar em nenhum outro lugar. E também encontrou lá o Sr. Hong, um morador local que é responsável por um dos grandes mistérios da cidade.

O drama é comovente, delicado e apaixonante, e não poupa o público de lágrimas, sorrisos e suspiros. Não tem como não amar!

Romance, romance e romance

Foto: divulgação

Hometown Cha-Cha-Cha é aquele tipo de comédia romântica que a gente ama, com casal em estilo cão e gato, paisagens lindas, tensão romântica explodindo e romances secundários que nos fazem suspirar tanto quanto o casal principal.

Com uma narrativa que envolve mistério e (por que não?) destino, vemos a Dentista e o Sr. Hong lutarem como gato e rato por suas posições, com sentimentos controversos sobre o estilo de vida do outro, sem nunca encontrar um equilíbrio. A união do par vai nascendo aos poucos, e a gente, como público, delira com essa construção.

Os dois são pessoas de temperamentos fortes e expressam isso de formas inusitadas e parecidas, mas evitam ao máximo esconder o sentimento que sentem.

Se a gente já fica completamente delirante por dramas mais curtinhos, imagina por essa maravilhosidade de 16 episódios que a Netflix nos presenteou.

É de tirar o fôlego!

A cidade pequena

Foto: divulgação

Cada personagem de Hometown Cha-Cha-Cha é uma curiosidade extra, e todos são muito bem desenvolvidos. E aqui a gente puxa um saco para o trio de senhoras da cidade, que são um charme à parte e nos fazem apaixonar ainda mais pelos idosos ao nosso próprio redor.

O olhar do roteiro foi muito sensível com cada história que se propôs a contar, e a gente fica sempre esperando por mais cenas no café local ou na prefeitura, e torcemos pelos casais que nascem ao redor. E é curioso que dê tão certo, porque quando a Dentista chega à cidade, muitos conflitos já estão formados naquele ambiente, com histórias que parecem sem respostas e com personalidades que soam estridentes e confusas.

Claro que o lugar escolhido para as gravações também ajuda muito, e ficamos completamente sem ar com cada cena na praia, no farol da cidade ou nas pontes que ligam o litoral com a capital coreana. Então pode confiar: Hometown Cha-Cha-Cha é um deleite para os olhos e para o coração.

Amarradinho

Foto: divulgação

A gente sabe que é difícil conciliar muitas histórias diferentes em pouco tempo de tela, e dá um certo medo esperar pelo final porque é inevitável se questionar se vai mesmo dar para amarrar todas as histórias. E dá perfeitamente.

Experienciar essa sensação de medo de não dar tempo já tinha sido sentida por cada dorameira que se propôs a assistir Loucos um pelo Outro (também da Netflix), mas aqui fica ainda mais forte, porque acontecem coisas demais durante os episódios, e ainda temos que lidar com o sentimento profundo, justo no penúltimo, de que coisas estão em aberto demais. Mas com perseverança, esperança e a noção que Netflix e produções asiáticas não decepcionam, nos faz simplesmente seguir e assistir até o último segundo do episódio final com água nos olhos e ansiedade no peito.

Existem muitas narrativas importantes na trama, como a relação da cultura interiorana com a homossexualidade, a luta geracional causada pelas novas modas, o impacto da música e da carreira em diferentes pessoas, e os amores não compreendidos, além de traumas e abandonos emocionais.

É de chorar, mas é de chorar para o bem, a gente promete!

Agora é a sua vez de compartilhar suas impressões sobre esse drama imperdível. Estamos te esperando lá nas redes sociais do Entretê: Twitter, Insta e Face. Vem papear com a gente!

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Cinema Entretenimento Música Resenhas

Resenha | GRACINHA: Manu Gavassi comprova sua excelência em mais um projeto

Álbum visual de Manu Gavassi, GRACINHA, reforça a beleza interior da artista e afasta seus medos de forma potente e conceitual

GRACINHA, de Manu Gavassi, é uma aposta curiosa em uma carreira fásica. E o mais importante desse projeto é que tudo surgiu por meio de uma música, a homônima GRACINHA, que tem como centro da letra uma protagonista em uma viagem de autoconhecimento e descoberta bruta.

Ver as fases de Manu Gavassi, tendo sido a geração da revista Capricho e a geração que a viu cantar fino sobre amores complicados demais para uma paulistana sonhadora, nos torna a geração perfeita para apreciar o álbum visual e aplaudir de pé.

A sinopse de GRACINHA é a carreira de Manu Gavassi, preto no branco. Desde  uma aposta juvenil em um palco enfeitado para receber suas histórias até uma maturidade focada em rir de si mesma e brincar de casinha com seus próprios conceitos, Manu  continua em busca de melhorar seu autoconhecimento.

GRACINHA é um álbum visual cru, sincero e belo, com a excelência que Manu sempre esteve disposta a apresentar ao público, e revitaliza uma cena feminina que a cultura pop nacional ainda não aprendeu a consumir sem impactos.

A moda

Foto: divulgação

Vamos começar dizendo que o cenário já é uma viagem ao passado, o que reforça as escolhas de figurinos de todo o elenco. E não à toa, podemos afirmar. No palco do Teatro de Ouro Preto, em Minas Gerais, que por acaso é o teatro mais antigo ainda em funcionamento na América Latina, Manu Gavassi dá vida a sua carreira de novo, mas em mutação.

Mas Ouro Preto não é a única história contada em cena – além da trama da autodescoberta, claro.

Repito: como a geração que a viu abrir as asas na época da revista Capricho, somos tendenciosas a analisar a carreira de Manu Gavassi como um eterno desfile de moda. Planos Impossíveis já tinha sido a primeira demonstração de que Manu Gavassi é um ícone fashion, entre todas as outras coisas que ela também é. E apesar de nem todas as modas de 10 anos atrás serem assim tão realistas nos dias de hoje, quando Manu surgiu com seu headband, seu arco de laço imenso e saia de tule com coturno, todas nós sonhamos em ser um pouco como ela: ousadas e estilosas.

E agora ela traz de volta sua essência na moda que já tinha surgido com força na época do BBB, mas se replica em massa nas câmeras de GRACINHA. Com cores mais claras para demonstrar submissão e delicadeza, e cores mais fortes para debater sobre os medos e o luto de existir dentro de uma personagem que está sempre fadada a morrer para se reinventar, Manu Gavassi revive também a nossa memória afetiva sobre sua força na cena fashion de toda uma geração. E claro, conta uma história com os figurinos, tão emocionante quanto a contada em cena.

Representatividade histórica

Foto: divulgação

A cidade de Ouro Preto é uma das cidades mais escravocratas do Brasil, e não é comum se pensar em colocar essa história tão íntima de Manu Gavassi nesse ambiente. Não apenas por ser paulistana e branca, mas porque remexer o peso histórico de lugares como Ouro Pretopode soar vão e irresponsável, quase impróprio.

E é nesse impacto estrutural que o conceito de Manu Gavassi se apresenta novato e limpo. Reafirmando a força preta naquele cenário, a história deixa claro que existe uma hierarquia preta que comanda aquele espaço, e nada mais justo.

É arrepiante o peso de termos uma figura preta e feminina tomando as rédeas da situação e escolhendo a hora exata em que o show deveria começar, como a rainha da sua terra, que honra seu povo e sua cultura ferida pelos anos de escravidão. Anna Luiah foi a escolha perfeita, sem dúvida.

GRACINHA abraça seu cenário e sua história dentro desse lugar, e presenteia representatividade, liberdade, e revida os senhores de engenho com figuras pretas em destaque, comandando as terras em que um dia foram escravizados. É de chorar e arrepiar!

O abraço da cultura preta local, com um elenco que apostou com força em representatividade, temos uma história de paixões que são imensuráveis, e apreciar Ícaro Silva tomando o papel de galã que sempre foi de direito da sua raça nos faz questionar qual foi o momento que a história decidiu continuar se esquecendo dessa beleza tão exclusiva dos descendentes de países africanos.

Arte em essência

Foto: divulgação

Reavaliando sua própria trajetória na indústria do entretenimento, Manu Gavassi vive a vida de GRACINHA, alguém que teme abandonar sua consolidação como bailarina submissa dentro do cenário artístico, mas que é muito mais do que podemos refletir por fora.

A beleza graciosa das sequências são cruas ao ponto de entendermos toda a história sem que uma palavra seja dita. Nós sentimos os pesos e as dores de GRACINHA, levantamos os olhos para não chorar com a sua inicial dor em não poder se recriar, de não poder deixar os sonhos de outras pessoas em virtude dos seus. E que peso emocional causaria isso se não a arte em sua essência mais pura?

Quando, na música Áudio de Desculpas (lançada quase um ano antes do projeto GRACINHA existir, e não tendo nada a ver com a ideia dessa nova fase), Manu disse que é difícil viver sem ela, a afirmação foi certeira. Quem somos nós sem a arte impecável e inominável de Manu Gavassi?

Inclusive, a estética de unir moda única, peso emocional e cenários históricos já veio da música Áudio de Desculpas, quando Manu Gavassi regressava de uma era mais pop na sua carreira e enfrentava seus demônios pessoais com uma forma de arte irreverente e singular.

E você, o que achou do álbum visual que a Manu Gavassi decidiu nos dar? Vem conversar sobre isso com a gente lá nas nossas redes sociais – Twitter, Insta e Face -, e se você ainda não assistiu, corre para apreciar essa obra prima na única plataforma digital que permite que contos de fadas sejam sempre contados de forma tão apaixonada: a Disney+.

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Entretenimento Latinizei

Latinizei | Clarice Lispector: as faces da ucraniana, indizível e centenária

No dia 10 de dezembro de 2021, Clarice Lispector completaria 101 anos e, sendo indispensável e insubstituível para a literatura mundial, conquistou espaço no Latinizei

ALERTA DE GATILHO: VIOLÊNCIA SEXUAL/ISTS/ANTISSEMITISMO/DEPRESSÃO

Estamos dentro de um apocalipse emocional nesses dois últimos anos, vivendo de sentimentos que não sabemos decifrar e dores que não podemos nomear, e como pessoas feridas: sentimos. Seria impossível sentir alguma coisa sem nome e não nos lembrarmos de Clarice Lispector, que foi escritora, jornalista e, antes de tudo isso, sentimentalista.

Essa mulher, que em breve completaria 101 anos de idade, foi alguém de alma intensa e olhar misterioso, e que roubou nossos corações ainda no berço – ou já maduros, caso você que está lendo isso seja uma alma mais antiga.

Clarice Lispector foi um trovão seco em meio a um mundo com chuviscos de verão e, inevitavelmente, estaria aqui no Latinizei em algum momento, colaborando com a nossa galeria de mulheres memoráveis.

Hoje abrimos as cortinas do palco para Clarice Lispector, a mulher que foi tudo, inclusive a matriz das escritoras brasileiras.

Nascida para salvar

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Nascida em 1920, na Ucrânia, Clarice Lispector poderia ser vetada no contexto intenso do Latinizei, que se propõe a reunir e experienciar mulheres latinas de uma forma crua, com base em suas histórias de vida e artes fortes. No entanto, por ser Clarice Lispector, ela é indispensável para esse espaço tão nosso: feminino e latino.

A escritora deu as caras no mundo, pela primeira vez, em uma pequena cidade ucraniana, mas não foi em paz familiar. Como você deve ter imaginado pelas contas históricas que fez, 1920 era um ano de guerras, fome e perseguições

Para entender como a criança nascida Chaya Pinkhasovna Lispector se tornou Clarice, temos que compreender que a perseguição aos judeus não é um crime exclusivo do antissemitismo nazista. E, nas terras do inverno, a família Lispector fugia desse sentimento carregado de rancor infundado contra o povo judeu, e tentava alcançar a liberdade.

Sua mãe, tendo sido violada durante as diversas invasões que aconteceram ao redor do mundo nos anos da Primeira Guerra Mundial, e tendo contraído sífilis desse abuso, deu à luz a Chaya, a terceira filha da família. Ao nascer, a menina Chaya, ganhou o peso de ser a criança que salvaria a vida de sua mãe. Já que, naquela época, o Leste Europeu alimentava o mito de que uma criança nascida de uma mãe infectada por uma doença venérea, seria capaz de salvar a vida da genitora. Obviamente, sabemos que isso não é possível, e depois de tanto fugirem e de terem passado pela Moldávia e pela Romênia, e finalmente se estabelecerem em Maceió, aqui no Brasil, a mãe de Clarice Lispector faleceu quando a filha caçula estava com dez anos.

Eis a primeira culpa que Clarice tomou para seus ombros: a origem carregada de dor e a perda da mãe por não ser a criança que a salvou da doença.

Em solo brasileiro e com esse enredo, já nascia a nossa Clarice Lispector, que seguia a ordem da família e era batizada novamente, abandonando o nome de berço, e se tornando Clarice.

Mais rica do que os ricos

Foto: divulgação

Vinda de uma origem humilde, o pai de Clarice Lispector batalhava todos os dias para poder sustentar a família e, quando chegou ao Rio de Janeiro, manteve vivo o sonho de mostrar ao mundo o grande valor das filhas, e com isso as incentivou a continuar seus estudos muito além do recomendado às mulheres naquele tempo.

É importante pensar que esse era o meio do século XX, com guerras assolando o mundo, ditaduras crescendo (em especial na América Latina), o antissemitismo sendo bem visto e a posição das mulheres ainda sendo tida como desimportante perante a sociedade. Mas Clarice e suas irmãs foram longe e ultrapassaram as barreiras financeiras, o que fez com que Clarice Lispector entrasse para a Faculdade de Direito da Universidade do Brasil.

O peso de ser Clarice Lispector dobrou sobre seus ombros, já que nesse momento de sua vida, a jovem Clarice se viu entre uma sociedade de classe mais alta que a sua, completamente elitista, branca (não havia nenhum outro judeu entre os alunos) e masculina (só haviam três mulheres em toda a faculdade).

Ter feito direito foi uma sombra em sua vida, porque ninguém pensa em Clarice como uma mulher das leis ‒ mesmo que provavelmente ela teria sido uma advogada imbatível. Os passos de Lispector no Rio de Janeiro pendiam muito mais para ser uma escritora do que uma senhora do direito.

Leitora voraz, Clarice Lispector conheceu e leu autores brasileiros e estrangeiros, como Machado de Assis e Fiódor Dostoiévski, assim como a brilhante romancista e tradutora brasileira, Rachel de Queiroz.

Nesse período, Clarice já corria entre jornais locais, apresentando e exibindo sua genialidade, ainda de forma tímida. Foi apenas em maio de 1940, com 19 anos, que ela começou a ganhar a verdadeira notoriedade que havia nascido para ter.

O Triunfo foi sua primeira obra conhecida, e emoldurou a morte prematura do pai, três meses depois da publicação.

Sendo órfã aos 20 anos, Clarice Lispector se viu ainda mais solitária, mas seguiu escrevendo. Com 21 anos, publicou Perto do Coração Selvagem, a obra que lhe rendeu o prêmio Graça Aranha de melhor romance.

Solidão feminina e latina

Foto: divulgação

Ainda como estudante de direito, Clarice Lispector conheceu o católico e futuro diplomata  Maury Gurgel Valente, com quem se casou em 1943. Temos que destacar aqui, como uma pequena nota no texto que, naquela época, o catolicismo não era usual entre o povo brasileiro.

Sendo esposa, Clarice partiu do Brasil com o marido para a Europa e se instalou em Nápoles, em 1944, onde se voluntariou para ser ajudante hospitalar. Por lá se responsabilizou em ajudar os brasileiros que lutavam na Segunda Guerra Mundial e chegavam feridos.

De Nápoles, Clarice e Maury seguiram para o resto da Europa, dando idas e vindas entre a Inglaterra e a França, e em 1946 ela publicou seu segundo romance: O Lustre. Com uma vida de cinco anos viajando sem parar entre os dois países, Clarice Lispector era um destaque brasileiro que pisava e bebia das inspirações parisienses, e refletia sua arte de forma única, mesmo em um ambiente tão marcado pelo peso de artistas fortes, como a Geração Perdida, que fez história na cultura mundial quando viviam uma vida boêmia na cidade luz, vinte anos antes. Finalmente se instalando em Berna (cidade Suíça), Clarice Lispector deu à luz ao filho Pedro.

Mas ela não se sentia completa longe do Brasil, e o papel de esposa de diplomata, silenciosa e escritora não lhe deixava feliz. A saudade de casa, da família e da sua origem étnica, a puxavam de volta para o nosso espaço tão tropical e acolhedor, e como mulher latina que era, sendo presa em um casamento que amordaçava seu amor pela escrita (vale lembrar que apesar de escrever nesse período e de ter a facilidade de não precisar trabalhar em nada mais porque seu marido a tinha colocado em uma posição social confortável, Clarice não exercia o jornalismo, que era sua paixão, e não publicava nada, além do seu romance de 1946), Clarice Lispector começou a ter sintomas depressivos mais intensos.

Na América errada e na América certa

Foto: divulgação

Já dedicada a escrever sobre o cotidiano feminino, a fúria do sentir e abordando temas como maternidade e existência feminina, usando da influência judaica do pai e alimentando sua sensação de não pertencimento, Clarice Lispector foi desenvolvendo um jeito único de escrever e de refletir sentimentos.

Então, pronta para descobrir novas faces de si mesma, Clarice se mudou com a família para os Estados Unidos, no início dos anos 1950. Nessa época, Clarice Lispector teve a publicação de A Cidade Sitiada (1949) e Alguns Contos (1952), que reunia uma coletânea de contos, e ainda do lado errado da bússola das Américas, Clarice dá à luz ao seu segundo filho, Paulo, em 1953.

No ano seguinte, seu primeiro romance (Perto do Coração Selvagem) foi traduzido para o francês pela primeira vez, e ainda teve a publicação com uma arte de Henri Matisse na capa.

E foi do lado errado das Américas que, em 1959, Clarice Lispector se divorciou do marido e finalmente voltou ao Brasil, indo direto ao Rio de Janeiro. De volta ao Rio, ela retomou sua paixão pelo jornalismo, e usou disso como sua fonte de sustento para ser independente.

A prova de que o Brasil era a sua América certa veio com o crescimento massivo de sua obra nos anos que se seguiram. Em 1960 ela publicou a obra Laços de Família, que foi abraçado e abençoado pela crítica, e que reúne contos cheios de acidez pessoal e de escrita intensa. No ano seguinte, Clarice Lispector voltou a brilhar, com o romance A Maçã no Escuro, que foi tão bem recebido que se tornou uma popular peça de teatro, daquele tipo que orgulharia o lado militante pelas artes que Pagu tinha.

Em 1963 veio o seu ápice na escrita, com o romance A Paixão Segundo G.H., que fala sobre como o cotidiano banal pode ser revolucionário, mesmo que seja repulsivo o momento que inspirou tal anarquia pessoal. E seria para menos? Esse livro relaciona a capacidade de uma barata em mudar os rumos de uma alma feminina.

O Brasil era a América certa de Clarice Lispector, e a mais óbvia paixão da autora pelo nosso pequeno mundo colorido se mostrou vivo nos seus artigos para o Jornal do Brasil, no fim dos anos 1960, quando escrevia sobre si de forma íntima e relatava sua existência no cotidiano da vida brasileira, mas sempre com delicadeza e com distanciamento de temas polêmicos. Foi nesse momento de sua carreira que seu nome ficou mais popular, apesar de seu reconhecimento como autora já ser mundial.

Um cigarro aceso

Foto: divulgação

Em 1966, por um acidente do destino, Clarice Lispector pegou no sono com um cigarro aceso, e as consequências foram devastadoras. Seu quarto ficou completamente destruído e a própria Clarice sofreu queimaduras seríssimas, sendo internada e tratada, mas ficando com permanentes manchas em grande parte de seu corpo, graças às diversas queimaduras que teve. Sua mão direita quase foi amputada nos dias que se seguiram, e por conta disso ficou permanentemente com a mobilidade e rapidez da mão direita afetada.

Ter passado por mais esse trauma fez com que Clarice Lispector se tornasse ainda mais solene e reclusa, afinal o acidente aumentou suas crises de ansiedade e intensificou sua tendência depressiva, causando ainda mais peso na sua escrita já intensa.

Vale lembrar que esse foi seu último grande acidente do destino antes das cortinas se fecharem, mas seu último livro ainda não tinha sido publicado.

O aclamado A Hora da Estrela, de 1977, veio no momento exato de sua vida, depois de anos (entre 1960 e 1970) escrevendo livros infantis e traduzindo obras estrangeiras, além de palestras que deu em universidades brasileiras. Apesar do impacto que a obra teve ao ser publicada, não teve nenhum glamour na sua escrita. A Hora da Estrela foi produzido em versos de cheques, papéis soltos e maços de cigarro, e faz uma análise ‒ provavelmente autobiográfica, como toda a sua obra ‒ do próprio passado da autora, quando migrou do Nordeste para o Rio de Janeiro.

Em 9 de dezembro de 1977, literalmente na véspera de seu aniversário de 57 anos, Clarice Lispector fechou as cortinas do seu grande palco, por culpa de um câncer, enquanto estava internada.

Seu enterro foi mais um mito da sua trajetória, já que Clarice Lispector foi enterrada com tradicionalismo ortodoxo judaico, envolvida em linho branco, e com o nome de batismo na lápide.

Ao lembrar de Lispector

Foto: divulgação

Clarice Lispector foi multifacetada, como autora, como mulher imigrante (tanto quando chegou no Brasil, e também depois como brasileira que não se encaixava em outras terras), como figura feminina dentro do judaísmo, como representante das consequências de uma saúde mental instável e como mulher solitária em seu casamento. Ela foi o palco de grandes tragédias, mas também foi a criação de grandes histórias, e todas nós, mulheres brasileiras, artistas, escritoras, jornalistas, mães e religiosas (seja na fé que for), temos uma pitada lispectoriana em nós. E como não ter, pergunto a você?

No seu pós vida temos que ressaltar o impacto de sua capacidade como linguista, já que falava português, inglês, francês e iídiche (língua judaica, que mistura idiomas).

Também precisamos lembrar da razão de Clarice Lispector ter se tornado uma aluna de direito. Apesar de não ter sido a advogada que poderia ser, todos a sua volta entenderam a escolha na época, afinal ela era reconhecida, desde a infância, por ser uma questionadora dos limites de direitos. Além disso, o trauma da memória emocional do pai ter sido preso durante a perseguição antissemita que sofreram no país natal, a transformou em uma mulher que queria revolucionar o sistema presidiário feminino.

Reconhecida como a autora do indizível, Clarice Lispector presenteia o leitor, em cada uma de suas obras, com observações profundas de momentos corriqueiros, dando olhos infantis e curiosos, que vivenciam experiências pela primeira vez, a adultos catárticos.

Se faltam palavras para descrever a Clarice mãe, a foto inicial do nosso texto te abraça com a delicadeza de ser uma mulher apaixonada pelos seus filhos, mas de silenciá-los do público pois não amava a ideia de autora e mãe se misturando e deixando frestas para invasão curiosa dos leitores. Em tempos de Instagram, Clarice Lispector provavelmente seria reclusa virtual, mas foi, sem dúvida alguma, a grande precursora da mãe que coloca o computador (a máquina de escrever, em seu tempo) no colo, na sala, junto de suas crianças, para admirar sua força e leveza, enquanto os deixa interromper suas fúrias de escrita.

Sem saber como nos despedir da memória que é ler ela a cada novo ciclo e nova obra que descobrimos, entendemos que Clarice Lispector não foi apenas singular: ela foi um movimento artístico inteiro.

O nosso Latinizei não precisa terminar por aqui! Nós estamos lá nas redes sociais – Twitter, Insta e Face -, ansiosas para conversar ainda mais sobre essa figura monumental e indispensável. Vem papear com a gente!

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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Cinema Entretenimento Notícias

Hayao Miyazaki: diretor abandona a aposentadoria para lançar novo filme

O produtor e diretor cinematográfico japonês, Hayao Miyazaki, decidiu que a aposentadoria poderia ser deixada de lado se fosse para lançar mais um filme de boa qualidade

Hayao Miyazaki é um dos sócios e fundadores do Studio Ghibli, que é a marca responsável por filmes como A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado e Meu Amigo Totoro, todos eles dirigidos pelo próprio Miyazaki.

Nossas expectativas já estavam altas quando, em 2020, o Studio Ghibli afirmou que estava com dois novos projetos em andamento, e que Hayao Miyazaki estava a frente do filme How Do You Live? (traduzido para o inglês, do título original Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka).

Foto: divulgação/Studio Ghibli

Quando a notícia foi dada, há um ano atrás, era esperado que os projetos fossem lançados em 2020, antes dos Jogos Olímpicos de Verão, em Tóquio. Mas com todas as reviravoltas que a covid-19 causou no último ano, a data de lançamento foi atrasada para 2021 ou 2022.

Mas agora, depois de uma entrevista que Hayao Miyazaki deu para o New York Times, mais informações sobre o longa-metragem foram descobertas. Entre elas, que a obra How Do You Live? é inspirada em um romance de 1937, escrito por Genzaburō Yoshino.

Como todos os tipos de filmes que Hayao Miyazaki assina a direção, How Do You Live? trata sobre temas profundos e sociais, discutindo assuntos como luto, novas adaptações e vida em sociedade.

Foto: divulgação

Na última entrevista que Miyazaki deu sobre o tema, ele foi perguntado sobre como vive ‒ por causa do título do filme, que na tradução livre para o português seria: como você vive? ‒, e, sendo a pessoa direta e prática que sempre se mostrou ser em suas entrevistas anteriores, respondeu: “Estou fazendo esse filme porque não tenho essa resposta”.

A equipe do Entretetizei já está empolgada com essa nova produção, e estamos esperando  ansiosamente por um 2022 com lançamentos de Hayao Miyazaki nos cinemas. E você, também não vê a hora? Vamos conversar sobre isso lá nas nossas redes sociais: Twitter, Insta e Face.

*Crédito da foto de destaque: divulgação

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